Eu odeio esse unicórnio irritante

- Olívia, você já viu o seu resultado? – Aileen me perguntou mas eu nem cheguei a responder, minha ressaca está me matando e eu não consigo pensar em absolutamente nada, acordei meio dia e tive que sair correndo e tudo pra quê? Para a merda da aula com o unicórnio maldito, e o professor nojento ainda me fez o favor de me deixar do lado de fora por que eu cheguei atrasada, caramba fala sério eu vim correndo! E pra melhorar minha vida ainda tem o Théo, eu não sei quantas mensagens ele já deixou na minha caixa postal, essa merda sabe que eu estou no colégio e fica me mandando mensagem, eu quase fui expulsa da sala por estar usando o celular muitas vezes, por mais idiota que eu pareça eu ainda sou uma das melhores alunas isso só serve para me deixar increncada. 

Bem eu nem falei com ele antes de vir para o colégio, ou respondi as mensagens... Mas caramba, depois de tudo eu só não me sinto à vontade, eu ainda estou com vergonha de ter forçado as coisas á esse nivel, se eu tivesse só aceitado que ele não me queria… Nada disso teria acontecido, então como eu fui a babaca da história eu vou só colocar a culpa em cima da bebida, quando eu fui para casa buscar o meu uniforme e alguns livros, ele estava mal, bem aparentemente mal, eu pude ver os rastros de lágrimas e ele ainda estava jogado no sofá provavelmente ficou me esperando até cair, eu to tentando passar por isso, mas, sério eu pensei que depois de ontem ficaria mais fácil, mas que droga, isso é muito difícil agora eu não consigo mais parar de pensar nele, eu estou chateada claro, triste também, mas não consigo esquecê-lo mesmo querendo, não é como se fosse alguém que eu nunca mais precise olhar, ele é alguém que eu vou sempre ter perto, minha única família, mesmo que aparentemente não sejamos irmãos de sangue...

Eu nem quero pensar no que vai acontecer na próxima vez que a gente se encontrar, eu… Estou com vergonha, eu praticamente me joguei em cima dele e… Eu acho que nunca mais vou conseguir olhar na cara dele sem sentir vergonha disso. E... Só espero que o Kris me deixe ficar la mais uns dias, ele está agindo como um verdadeiro herói, fazendo minha comida, me ligando para saber se eu estou bem, sendo idiota, é como um brilho de luz nesse momento, eu só acho meio estranho ele agir assim com uma pessoa que ele conheceu a menos de 24 horas...

Droga, eu mesma se for seguir minha lógica sou uma louca, de aceitar ficar na casa de alguém que eu não conheço direito, e eu nem percebi que estava voando enquanto a Aileen espera uma resposta minha.

- Não. O que foi? – eu tentei parecer o mais interessada possível mas eu acho que ela percebeu minha completa falta de interesse, afinal meu almoço permanece quase intocado mesmo que eu esteja sentada nessa mesa a mais de meia hora, eu estou aqui mais tudo na minha cabeça estava voltada para o Théo, simples assim e em como eu posso me livrar desse sentimento. Dói tanto...

As lembranças ficam voltando, tanto de quando éramos mais jovens, quanto das memórias do dia de ontem e da nossa discussão... Eu fui infantil, eu fugi e o machuquei... Eu falei e fiz coisas que não devia, não vou ser mais infantil ainda e culpar a bebida, por que eu estava lúcida, bem acho que estava lúcida, eu... Eu não sei se me arrependo ou não, eu fiz o que queria fazer e falei o que quis, sempre soube que o resultado seria esse... Só... Só está sendo difícil.

- Eu falei você pegou o projeto com o Senhor Václav – ela revirou os olhos e eu automaticamente abri os olhos em espanto e completo horror, minha cabeça completamente vazia dos meus pensamentos, não Deus, por favor, não todos menos ele, qualquer coisa menos isso, por favor... – Não adianta nada você fazer esses olhos, eles não vão te trocar de dupla por que seu tema é o mais difícil, ninguém vai aceitar trocar com você nem mesmo uma das fãs do professor, é suicídio.

- Oh senhor, qual o tema? – eu olhei para ela em desespero

- A relação dos sentimentos em tratamentos de doenças consideradas perigosas, todo o estudo dos sentimentos e das substâncias que o organismo libera assim como hormônios e tals, também a análise de pelo menos três doenças e resultados prévios... Coisas assim, pelo menos foi o que eu entendi, ele passou quase 10 minutos falando desse tema – eu gemi em frustração o tipo de merda que demora tempo e exige aulas e mais aulas – Aileen me diz por que minha vida é assim? Enh? Porque eu não peguei um estudo teórico realmente comprovável? Um que seja só um trabalho escrito complicado?  

- Ah, não é o fim do mundo – ela riu um pouco do meu desespero, eu também sei que não é o fim do mundo mais qual é eu sou dramática fazer o que? – Você poderia estar presa com ele no TCC e no estágio também – ela começou a rir – Oh, é mesmo, toma cuidado com as fãs dele ou você vai acabar sem o cabelo se elas pelo menos sonharem que vocês estão mais próximos do que deveriam. – Caramba eu nem tinha pensado nisso, às vezes essas gurias daqui agem como se ele fosse uma espécie em extinção é sério. Eu me lembro da época que o Théo era muito famoso e algumas das fãs loucas dele tentaram invadir a casa dos nossos pais, nesse dia o Théo gritou como uma menininha pensando que era um ladrão, foi muito engraçado apesar do susto.

Théo... Chega de pensar nele, Olívia, se controla mulher.

- Ah, eu preciso de sorvete. – virei minha cabeça inconscientemente para o outro lado do refeitório, só pra o professor “perfeito” vir em minha direção sorrindo, ah não, eu fiquei até tarde para evitar que alguém encontrasse comigo e com a Aileen conversando, e justamente hoje ele encontra a gente? Não mesmo, eu fingi que não vi e arrumei minhas coisas o mais rápido possível pelo menos eu ainda estava tentando fazer parecer normal e falei um pouco alto para que ele pudesse ouvir de onde ele estava - Aileen, vou ao banheiro. – não é possível que ele me siga até lá né? 

Eu só fui até o banheiro como havia dito, lavei meu rosto, arrumei minha maquiagem borrada, meu reflexo no espelho me lembra do quão estranha eu sou... Talvez eu deva cortar o cabelo... Como meu cabelo está muito liso minhas orelhas de elfo aparecem mais do que deveriam, eu... Eu sou “bonita” eu tenho olhos bonitos, um rosto bonito, um sorriso bonito, um corpo bonito, eu sou alta, mas como nada é perfeito eu nasci com orelhas de elfo e às vezes um sorriso de psicopata... Quando eu era mais nova e sofria bullying eu era realmente estranha, eu admito, mas agora... Ah, além de eu ter ficado magra do nada e muito mais alta, eu fiquei mais branca, bom pelo menos foi o que a mãe e o Théo diziam, eu lembro que a mãe dizia que era por que eu parei de pegar sol, eu acho besteira... Ou talvez seja isso mesmo. Eu passei bastante tempo ensaiando com o Brian para as competições de dança que a gente entrava o tempo todo. 

...Brian... Talvez seja a hora de eu começar a não fugir dos meus problemas.

No meu celular mais e mais mensagens do Théo, eu não perdi meu tempo olhando através delas eu só liguei pra ele e o que? Ele não atendeu, aff. Bem, eu suponho que esteja dormindo ou tomando banho... Eu só queria avisar que estava indo para casa... Eu quero resolver tudo.

Eu não sei quanto tempo eu passei no banheiro mais com certeza foi mais que 15 minutos só espero que...

- Professor Václav – vai assustar os outros pra longe de mim, que merda! Como ele apareceu assim? E agora vai ficar me encarando? Não, não Olívia agradável seja agradável, você não pode deixar tão na cara que está fuzilando ele com os olhos... 

- Olívia eu estou particularmente interessado no seu projeto, eu quero poder analisar bem de perto as suas conclusões, este foi meu tema na dissertação e eu fiz diversas análises, meus professores na faculdade me ajudaram muito e eu queria poder te ajudar também, eu sei que pode parecer muito complicado mais os assuntos se ligam e acaba se tornando mais fácil de compreender... – e o demônio bobo começa a falar. Não senhor, não mereço isso. Será que ele conseguiu perceber que eu não estou prestando atenção?

- Professor Václav, eu não pude estudar nem pesquisar nada a respeito do meu tema, agradeço a sua assessoria, mas no momento eu gostaria de ter uma base um estudo um pouco mais direcionado, antes de termos qualquer abordamento... – eu falei rápido e caminhando em direção á saída, ele continuou me acompanhando, será que ele não percebe que eu quero distância? Sério? Eu já estou quase fugindo do colégio. E o pior já está anoitecendo se ele faz alguma coisa de ruim comigo nem vão reparar a minha falta nessa escuridão do estacionamento, não você sabe bater e gritar nada vai acontecer e se... Por que eu estou pensando que ele poderia me atacar no estacionamento? Droga eu estou assistindo televisão demais... Ele não é tão idiota assim, eu vi em algum lugar que quando vão sequestrar meninas eles procuram lugares desertos, e eu sei que mesmo que o estacionamento daqui seja escuro tem câmeras.

- Então podemos nos reunir no final do horário na sexta feira para discutirmos isso, eu não quero que seu trabalho seja feito em cima da hora eu acho que quanto mais cedo começarmos melhor. – ele falou como se fosse à coisa mais normal do mundo e eu quase gritei em desespero, eu acho que minha incredulidade ficou bem a mostra já que ele parou subitamente no meio do estacionamento do colégio. 

- Professor – eu quase gemi em desespero – o Senhor com certeza deve ser uma pessoa ocupada, não se preocupe comigo, eu posso estudar e pedir sua ajuda quando houver problemas ou dúvidas... Eu realmente não quero incomodar. – eu falei com um sorriso falsamente doce, por dentro eu queria vomitar só na ideia de ter que passar muito tempo próximo dele, eu odeio fingir ser boazinha, realmente não tem coisa que eu mais odeie do que me forçar a ser boa com alguém que eu não fui com a cara.

- Olívia Rzaev – ele falou subitamente meu nome completo seriamente, e com certeza não é o ar bobo alegre normal dele que ele está sendo utilizado, eu fiquei surpresa, ele está um pouco assustador agora. – Eu sei o que você está fazendo. Se afasta da minha presença como se eu fosse uma praga, uma doença. E eu não gosto disso. – ele disse a última parte pausadamente, e eu não fiquei com medo eu sei me defender embora a voz dele tenha saído nesse tom mais grave para me assustar, mas querido ai que você se engana, eu não me assustaria com isso.

Isso me lembra de quando os garotos e as meninas da minha antiga escola gostavam de me perturbar... Bem, isso foi antes de eu dar o troco á todos... Eu não sou uma garotinha... E eu sempre soube que esse ar doce e meigo não passa de mentira, os olhos dele são desinteressados, ele finge isso, no fundo ele não passa de mais um desses professores pervertidos ou pior, malucos, ninfomaníacos e sadomasoquista, esquizofrênico sei lá. Ele é estranho e eu nunca comprei a sua merda.

- Então está mostrando sua verdadeira cor – minha ironia pingava, eu tenho esse mau hábito, quando eu finjo eu sou uma boa atriz mas quando minha máscara cai eu não consigo ter nenhum pingo de respeito, que eu deveria ter. Uma vez que ele já sabe que eu não o suporto não preciso mais mentir, eu não preciso fingir – Professor Václav, uma vez que você reconhece que sua presença não é apreciada, poderei dar seguimento ao meu projeto com o mínimo da sua ministração correto? – eu dei um sorriso de canto, enquanto ele me olhava espantado, eu acho que ele queria que eu me sentisse menor ou amedrontada com as palavras dele, se engana meu bem.

- Você é a melhor aluna do meu curso, então por quê? Eu tenho certeza de que nunca fiz nada que pudesse causar esse tipo de reação em um aluno. – ele perguntou não mais raivoso, era quase como se ele estivesse triste com o que eu disse ou magoado. – eu não entendo... Agorinha ele queria me deixar amedrontada, agora ele reage como se eu tivesse lhe jogado uma pedra ou coisa assim.

- Eu simplesmente não gosto da sua pessoa. Simples, enquanto eu puder manter o mínimo do nosso contato possível, minimizando-os, há apenas dúvidas comuns de sala de aula melhor para mim. Eu não sou como essas garotas, eu não quero um professor na minha cola, eu não quero ser sua amiga. – eu disse me virando para ir embora finalmente, só me faltava mais essa para completar o meu dia, ele já tá uma porcaria eu não... Eu não deveria ter dito isso, mas, eu estou cansada, o problema é dele, quem mandou ele tentar vir falar comigo, ele viu que eu não queria conversa, o azar dele foi ter me pego em um dia pior que todos os outros.

- Não me trate assim, uma vez que nunca lhe fiz nada, eu sou seu professor e mereço respeito – ele levantou a voz de novo, e eu quase bufei, ele ainda não entendeu que o simples fato dele respirar o mesmo ar de um ambiente em que eu esteja já me deixa irritada? Eu fingi que não ouvi e continuei fazendo o meu caminho.

- Você não vai escapar de mim, Olívia! – ele gritou frustrado comigo, é só eu que acho que ele tá de TPM e está descontando em mim?

- Olha Luciel, dentro do colégio lhe devo respeito de um aluno, do lado de fora desses muros, você só é mais um cara velho, que eu não ligo a mínima. – eu tenho que dizer o prazer de dizer a palavra ‘velho’ na cara dele foi... Foi totalmente fantástico. Mesmo que eu saiba que a nossa diferença de idade não deve ser nem de 10 anos, ele deve estar na faixa dos 25 anos no máximo - Não tenho nada haver com sua vida pessoal ou profissional. Me deixe em paz okay? – eu bufei finalmente e me virei para falar encarando-o – Olha... Não leva para o lado pessoal, não sabe, eu não gosto da sua cara, fim. Não faça essa cara eu estou sendo sincera aqui, coisa que falta em você colega. Eu estou cansada, tenho meus problemas, agora não tente me puxar para dentro da sua falsa bolha rosa de alegria, não quero ser sua amiga, ter que ser uma aluna já é o suficiente. Quer saber, a sua falsa bondade me dá nojo, ela irrita, eu tenho raiva de olhar para o seu teatrinho... Eu sei que você não é aquilo que mostra a todos. – terminei ácida mas ao mesmo tempo verdadeira, eu não usei sarcasmo ou ironia é só o que eu sinto, um pouco exagerado pela minha raiva da... Vida.

- O que... Como você se tornou assim, Olívia? – ele me deu um olhar que agora sim eu tenho certeza que é tristeza, aquilo foi uma lágrima? Ele se virou para voltar pro colégio, e eu só bufei, afinal depois desse choque de realidade talvez ele pare de tentar me tornar mais uma das suas alunas idiotas e apaixonadas... Mas por que eu me sinto uma idiota? Uma grande idiota? Ah merda, a culpa foi dele.

Meu telefone tocou subitamente e eu vi o identificador: Théo

- Alô? – eu atendi – Théo, aconteceu alguma coisa? 

- Olívia~ Onde você está? – a voz dele estava rouca como se ele tivesse acabado de acordar

- Saindo do colégio. – eu ouvi uma fungada, ele tá chorando?

- Trás Bubble Tea – e desligou na minha cara, que raios foi isso?

Leia este capítulo gratuitamente no aplicativo >

Capítulos relacionados

Último capítulo