Capítulo 4

13 anos atrás

_ Vamos ver, entre cookes e cupcake, o que você prefere- eu pergunto a Hugo que pensa enquanto come uma pipoca- anda não é tão difícil!

_ Claro que é! – ele diz com a boca cheia- se forem os da Tia Rose é  impossível decidir entre eles!

_ Está bem, não são os da minha mãe, são os da padaria, então, cookies ou cupcake?- pego mais pipoca

_ Cookies, sem dúvida- ele come mais um pouco – mas por favor, não coloque a comida da Tia Rose no jogo, eu teria um treco se tivesse que decidir o que é mais gostoso.- nós rimos.

Hugo e eu estamos acampando no meu quintal. Sei que parece bobo, mas só assim para que minha mãe concordasse ,”Você  não vai passar a noite no meio do mato Alyssa!” foi o que ela me disse, mas Hugo teve a brilhante ideia de ficarmos no quintal, não seria no “meio do mato" mas também não seria dentro de casa. Agora estamos deitados em um pano sobre a grama, comendo e rindo como dois bobões.

_Eu gosto muito de fazer essas coisas com você, Aly- Hugo diz de repente olhando para o céu eu me viro para ele- Esse momentos são a melhor parte do meu dia- ele vira seu rosto para mim e sorri.

_ Eu também gosto- sorrio também- estar com você é como se todas as outras coisas sumisse, como se eu fosse para outra realidade.

Nós ficamos em silêncio apenas olhando um para o outro, eu não sei no que ele estava pensando, mas eu só conseguia pensar na minha sorte em ter ele na minha vida.

_ Aly, me promete uma coisa?- eu faço que sim com a cabeça- Por favor, nunca me deixe, eu não saberia o que fazer sem você.

_ Eu prometo Hugo.- ele me puxa para um abraço de lado e nós ficamos assim vendo as estrelas.

Atualmente

O sol nascia por entre os arranha céus de Los Angeles quando eu cheguei no ponto de ônibus, eu seguiria para o sul por 2 horas até chegar em Sant Louise, minha cidade natal. Joana e Alice queriam vir até aqui comigo mas Alice tinha escola e Joana tinha que procurar outro trabalho. Nos despedimos no apartamento, cada uma chorando mais que a outra e eu prometendo que mandaria notícias quando fosse seguro. Eu me sentia triste de deixar tudo assim, mesmo que essa seja minha única opção, mas essa ainda era uma parte da minha vida e eu amava o que fazia, as passarelas, as fotos, os comerciais,  o reconhecimento, tudo isso era o meu sonho, e foi arrancado de mim, eu  estava em luto. O ônibus para S.Louise chegou rápido, antes de entrar, olhei uma última vez para os prédios cinzas relembrando do que vivi ali, cada memória como se fosse de uma outra vida, e de certa maneira era. Enxuguei a  lágrima solitária que descia pela minha bochecha e entrei no ônibus.

A viagem passou rápido, dormi por uma parte do caminho, mas a ansiedade de voltar depois de tanto tempo não permitiu que eu descansa-se muito, minha mente se juntava a minha inquietação e criavam inúmeras paranoias. Eu imaginava como as pessoas iriam reagir a minha chegada, será que me apoiariam ou jugariam? E as pessoas que eu conheci na infância, será que ainda permaneciam na cidade? Ou como eu todas saíram?  Mas uma pessoa não me saia da mente, na verdade, ele nunca saiu de lá. Mesmo com todas as garrafas de whisky e vodka que eu bebi, a imagem dele, de seus olhos triste e molhados, me dando as costas e partindo, essa imagem foi minha única  companheira em inúmeras noites de choro.

O ônibus faz uma parada em um posto movimentado de caminhões e ali a última parte do meu plano e completada, pego meu celular e procuro o número da minha mãe salvando em um outro antigo que Alice me deu. Depois tiro o chip e o quebro em mil pedaços, nem um milagre poderia trazer ele de volta, vou até um dos caminhões e o prendo na carroceria, se alguém tenta-se rastrear iria para bem longe de mim. Eu volto para o ônibus, sento na minha poltrona e suspiro aliviada, Alyssa Maken agora não passa de uma lembrança.

Desço do ônibus e já avisto minha mãe acenando para mim como uma louca, Dona Roselind é sem dúvidas uma pessoa animada. Ela veio correndo até mim e me abraça forte eu retribuo, eu não tinha noção do quanto eu sentia sua falta até aquele momento.

_Obrigada Deus!- ela dizia ainda me abraçando- Finalmente meu bebê está em casa!- ela me solta e beija minha bochecha- eu senti tanta saudade minha filha, estou tão feliz que voltou- seus olhos brilhando por conta das lágrimas que caíam devagar.

_ Eu também estou feliz de ter voltado- enxugo suas lágrimas- senti tanto a sua falta mãe- nos abraçamos mais uma vez.

_ Muito bem- minha mãe diz quando nos separamos- vamos pra casa, fiz sua torta favorita- ela pega uma das minhas malas- Vai ficar tudo bem agora- ela sorri com amor para mim.

Levamos as malas até a caminhonete velha que minha mãe tem desde os 16 anos, eu insisti para que ela comprasse outro carro, mas segundo ela “Era uma relíquia e sua companheira de vida". O caminho para casa foi extremamente agradável, mamãe me contou as coisas importantes  que ocorreram depois que fui embora, a cidade não muito diferente do que quando parti, trazia lembranças  da minha infância e dele.

_ E ele, mãe- ela troca a marcha da caminhonete e me olha rápido- ainda está na cidade?

_ Ele nunca quis sair- ela dá de ombros- muitos foram embora, mas ele não, dizia que não podia- ela me olha novamente- eu nunca entendi muito bem o que aconteceu entre vocês dois, eram tão unidos e de repente, puff!- ela sinaliza com as mãos no volante.

_ No momento eu também não entendi- digo para mamãe e olho para janela- mas me arrependo muito de ter deixado as coisas daquele jeito- ela pega minha mão, os olhos ainda na estrada.

_ Talvez agora seja a chance de resolver isso- ela faz um carinho na minha mão e depois solta- uma coisa que eu aprendi nessa vida é que o tempo e saudade curam muitas mágoas- ela sorri e eu apenas me viro novamente para janela pensando, talvez mamãe tenha razão.

Minha antiga casa ainda era como eu me lembrava, as mesmas cores, o mesmo quintal, o banco, agora um pouco velho, só uma coisa diferente, um banco balanço pendia na área. A decoração do interior da casa tinha mudado, mas algumas coisas ainda permaneciam no lugar, como o abajur horrível que minha mãe amava e eu sempre quis atiçar fogo nele. Levei minhas coisas para meu antigo quarto que estava exatamente como eu deixei, olhei para aquelas paredes tão nostálgicas, os posters de bandas, as luzinhas penduradas na cabeceira da cama, os tons pastéis do papel de parede, cada canto daquele quarto gritava recordações.

Desci as escadas e ouvi vozes vindo da cozinha, lá minha mãe e uma garotinha de uns 4 anos conversavam animadas olhando uma revista. A garotinha assim que me viu parou de falar e me olhou como se tentasse lembrar de mim.

_ É a menina da foto, tia?- pergunta baixinho para minha mãe

_ É sim – minha mãe diz também baixinho- só que ela está mais velha do que na foto- a garotinha faz uma cara de entendimento

Ela desce do banco em que está, vem até mim e me estende a mãozinha- Eu sou Isabelle, mas todos me chamam de Bella, é um prazer te conhecer- ela sorri, os olhinhos sendo apertados pelas bochechas rosadas.

_ Eu sou Alyssa- aperto sua mão- alguns me chamam de Aly, é um prazer conhecer você também, Isabelle- sorrio de volta.

_Você gosta de moda?- ela pergunta me olhando curiosa

_ Eu amo moda- seus olhos brilham- eu trabalho...- para lembrando de minha situação-... trabalhava com isso.

_ Nossa!- ela bate as mãos em animação- isso parece tão legal!- ela pega minha mão me guiando até a revista sobre a mesa- eu também amo moda, olha só minha revista.

Eu conhecia bem a revista que ela me mostrava, eu estava nela. Foi um de meus últimos trabalhos, sinto a sensação de aperto no peito quando lembro que eu não faria mais isso, não apareceria em revistas e comerciais.  Isabelle olha concentrada para cada modelo na revista, tanto que ela nem percebe quando minha mãe deixa um pedaço de torta ao seu lado e me chama para sala.

_ Onde você achou ela?- sento na poltrona e como um pedaço de torta- isso está  uma delícia, que saudade!

_ Eu cuido dela desde o ano passado- mamãe diz e come um pedaço da torta- E obrigada, fiz especialmente para você.

_ Essa menina é um amor, e o interesse que ela tem por moda é tão adorável- digo olhando para a menininha que devorava a torta com ardor.

_Ela me lembra um pouco  você – mamãe põem o prato vazio sobre a mesinha de centro- você também era louca por revistas de moda, ficava ansiosa sempre que eu trazia uma nova.

_ É mesmo- rio com mamãe- acho que ainda tenho todas elas guardadas.- mamãe concorda enquanto ri.

O dia passou bem rápido,  eu e Bella, como ela pediu que eu a chamasse, brincamos e conversamos muito sobre moda, seu conhecimento sobre o assunto é surpreendente. Quando a tarde já caia, a campainha tocou, Bella ao ouvir corre para abrir a porta e pula na pessoa que está lá fora, eu me levanto e vou atrás dela. Quando chego na porta não consigo esconder minha expressão de surpresa e ele também não.

_ Alyssa?- sua voz sai como em um ruído

_ Papai, ela é menina da foto- Bella se segura mais no pescoço dele- você lembra dela?

_ Sim filha, eu nunca esqueci- ele diz olhando para mim que permaneço sem ação.

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