Não a deixarei ir
Não a deixarei ir
Por: Taynara Isaura
Capítulo 1

20 anos atrás

Estou sobre a grama chorando enquanto os garotos mais velhos riem de mim e rasgam meu lindo gorro que mamãe me deu. Não consigo reagir as implicações dos meus mal feitores que continuam a zombar de mim e me chutarem, sou muito fraca e covarde e por isso continuo chorando.

_ Ei vocês!- alguém grita de longe- Deixem ela em paz idiotas!

Os garotos param de me bater e prestam atenção em um garoto que está gritando.

_ O que está procurando aqui O'Connel? De o fora antes que eu lhe dê uma surra- o líder do grupinho fala para o garoto que tira a mochila que tinha nas costas e pega um taco de beisebol de dentro dela.

_ Eu disse pra deixa-la em paz, Roger- o garoto diz e joga a mochila no chão- Pena que não me ouviu.

O garoto levanta seu taco e vai em direção aos outros que correm desesperados gritando.

_Você vai ver só O'Connel, eu vou te pegar! Vamos embora!- Roger corre junto com seu grupinho.

Eu ainda estou  na mesma posição quando o garoto vem até mim e estende sua mão, eu a pego e ele me ajuda a levantar. Passo as mãos pelo meu casaco tirando a sujeira e a grama que se prendeu a mim.

_Eles rasgaram seu gorro, sinto muito- ele me estende os farrapos que eram o meu querido gorrinho- mas acho que não vão te incomodar mais ou vou atrás deles de novo, aliás me chamo Hugo O'Connel,  é um prazer te conhecer...- ele me olha esperando que eu diga meu nome.

_Alyssa Campebel- eu pego o gorro de sua mão- Obrigada por me salvar de Roger.

_ Sem problemas Alyssa- ele sorri para mim- minha mãe diz que não se deve implicar com ninguém,  principalmente com uma garota bonita.

Minhas bochechas começam a esquentar com o elogiou repentino e eu sorriu de volta para Hugo.

_ Vamos, eu vou levar você até a sua casa- ele vai até sua mochila guardando o taco e a colocando nas costa em seguida- só para garantir que vai ficar segura.

_Obri...gada Hugo- eu abaixo os olhos- mas eu não quero atrapalhar você.

_ Não vai me atrapalhar em nada, e minha mãe disse que isso é ser cavalheiro, eu vou ser um grande cavaleiro um dia- ele pega na minha mão- Vamos Alyssa!

E nós corremos em direção a cidade.

Atualmente

_Alyssa você não pode negar uma oportunidade dessas!- Minha empresária diz olhando séria pra mim- deixe logo de lado essa sua birra com o Sr.Ramirez e aceite o trabalho.

_ Eu não vou ser modelo daquele ser repugnante e machista, Carmen- olho ainda mais séria que ela- e eu não considero assédio uma birra, jamais vou me associar com ele e sua marca.

_Alyssa, por favor, nós estamos falando de uma campanha de 200 mil dólares- Carmen segura meus ombros- pense direito, são 200 mil!

Olho sorrindo para ela que tem um fiapo de esperança no olhar, pegos suas mãos e tirando elas de meus ombros digo:

_ Nem se ele me oferecesse o dobro eu não aceitaria- o fiapo de esperança morre- eu não faço isso só pelo dinheiro, eu amo meu trabalho Carmen, e tenho princípios. Aceitar esse trabalho vai contra eles.

Ela suspira derrotada e sai para atender o telefone que começou a tocar. Sozinha na minha sala penso na minha carreira e em tudo que já passei, tantas humilhações e "portas na cara" que não consigo nem contar, eu batalhei muito para chegar onde estou hoje e jamais desperdiçaria meu esforço trabalhando para aquele crápula.

Para a mídia o Sr.Ramirez é um grande, generoso e gentil empresário, dono de uma elegante marca de lingeries, mas na verdade ele não passa de um assediador nojento. Eu descobri isso na primeira e última vez que fotografei para sua marca, ele invadiu meu camarim durante o intervalo e tentou me agarrar, mas para o azar dele fiz aulas de defesa pessoal, o nocauteie e fui embora, depois liguei para meu advogado e o processei. Desde então não aceito nenhum trabalho que ele esteja relacionado e estranhamente sua marca sempre me manda propostas com valores cada vez maiores, e essa perseguição já está me aborrecendo.

Algumas horas depois, ouço batidas na porta e vejo Joana, minha governanta, indo atender, logo em seguida passos e um falatório vem do corredor e chegam até minha sala. O crápula adentra enfurecido o recinto sendo seguido por Joana.

_ Você não vai recusar essa oferta!- ele diz com sua voz horrorosa de velho fumante prestes a ter um câncer- Não tem essa opção!

_ HAHAHAHAHA!- rio com escárnio- Quem é você para decidir o que eu faço? Eu nunca aceitarei trabalhar com você, seu velho nojento! Agora saia da minha casa ou eu vou chamar a polícia!

O velho asqueroso não se abala com minhas palavras,  pelo contrário, ele assume uma expressão de que tinha exatamente o que queria.

_ Essa é uma ótima ideia- ele senta em uma de minhas poltronas- eu gostaria de ver você explicar para eles como você matou e sumiu com o corpo de Loren Aguileira.

_ O QUE?! EU NUNCA FIZ ISSO!- digo surpresa e sem acreditar

_ Minha querida Alyssa- Ele acende um cigarro fedorento e tira um envelope de dentro do paletó brega dele- não é isso que esses papéis dizem.

Ele me estende o envelope e eu o pego e vejo seu conteúdo. São várias fotos minhas com uma adolescente,  e depoimentos de pessoas que eu nunca vi na vida e muitos outros papéis que eu não entendo.

_ Eu não conheço essa garota, nunca a vi antes- jogo os papéis sobre a mesa de centro- Claramente são falsos, você é tão patético e asqueroso que nem ameaçar alguém você consegue, de o fora da minha casa antes que eu te acuse de invasão de domicílio.

Ramirez pega seu cigarro e o apaga no braço da poltrona fazendo um buraco no couro. Ele junta suas mãos sobre o colo e com seu sorriso presunçoso ele tira outro papel do paletó e uma caneta.

_ Minha acusação pode ser falsa, mas essas provas não são querida- ele coloca a folha sobre a mesinha- e mesmo que você prove que é inocente,  sua imagem ficará destruída, nenhuma marca ou agência vai querer contratar uma modelo acusada de assassinato, você vai cair, a menos que assine isso e trabalhe para mim exclusivamente e sem exigências- ele se levanta arrumando as abotoaduras feias igual o resto de sua roupa- Não precisa me responder agora, te darei duas semanas para decidir e pode ficar com essas cópias, elas podem te ajudar na sua decisão.

O monstro Ramirez vai embora e eu desabo no sofá, sinto meu peito doer e minha respiração pesada, Joana que estava apenas vendo tudo abismada corre em meu socorro.

Estou perdida! Como posso sair dessa?

Como escolher entre trair meu caráter ou perder minha carreira e minha liberdade?

Como esse velho nojento pode ser tão baixo e por quê? Por que essa obsessão por mim?

Essas dúvidas invadem minha mente como balas e respirar fica cada vez mas difícil, sinto a dor aumentar mais e mais dilacerando meu ser, não a suporto e caiu na inconsciência.

Escuto ruídos que pouco a pouco vão se tornando claros, reconheço a voz de Carmen e Joana, elas parecem estar discutindo.

_Ela não pode fazer uma coisa dessas- Diz a voz que parece ser Joana- A menina Alyssa jamais se perdoaria em aceitar esse acordo horrível!

_ Mas a carreira dela irá pelo ralo!- dessa vez parecer Carmen quem fala- Todo os esforços de anos serão jogados ao vento! Aquele crápula nojento! Como sairemos dessa?

Lentamente abro os olhos e uma luz forte me faz piscar algumas vezes, minha visão vai ficando nítida e percebo que estou em um hospital. Carmen é a primeira a perceber que acordei.

_ Oh Alyssa, que bom que acordou!- ela segura minha mão- Fiquei tão preocupada quando Joana me ligou, como está se sentindo?

Eu me sento na maca com o auxílio de Carmen, passo as mãos no rosto me lembrando de tudo o que ocorreu até eu desmaiar e procuro por uma saída dessa situação.

_ O que eu faço?- sussurro para mim- Como eu saio dessa?- Olho para Carmen e Joana- O que eu devo fazer? Como... como eu...- minha voz embarga e as lágrimas começam a cair- Como eu posso escolher entre as coisas que mais me orgulho?

Elas vêem até mim e me abraçam enquanto eu choro copiosamente. Estava tudo tão bem, finalmente estava bem, minha vida, minha carreira e de repente tudo caiu por terra e estou novamente no fundo do poço e dessa vez sem esperanças de subir.

Minha bolha de sofrimento explode quando um celular tocando é estendido para mim, olho confusa para ele e vejo o nome que me era muito distante brilhando.

_ Atenta querida- Joana que até então só estava observando se aproxima e segura meu ombro- Deve ter um motivo muito importante para ela te ligar, talvez seja até a resposta que estava procurando.

Relutante pego o telefone e aceito a chamada, alguns segundos se passam, eu respiro fundo e tomo coragem para encarar o que eu havia adiado por anos.

_ Alô- respiro mais uma vez- Tudo bem, Mãe?

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