Procurado vivo ou morto

II

Procurado vivo ou morto

(Wanted dead or alive - Bon Jovi)

Suava muito na cama com a garota morena. Segurando suas ancas alvas, as estocadas eram firmes e grosseiras. Eu não ia parar até me satisfazer. Laís, minha ex-secretária da empresa, gemia alto, gritava meu nome, se desmanchava debaixo do meu corpo. A lascívia da sua voz me tornava ainda mais bruto. Despejei nela toda a minha frustração daquele domingo maldito na delegacia enquanto a mão direita estalava alto nas nádegas cada vez mais vermelhas. Os cabelos grudavam no meu rosto e pescoço mas chacoalhavam junto com o movimento sexual do meu corpo. Aquele quarto cheirava a sexo e perfume caro.

— Me bate, Vi!

Ela gritava, pedia, urrava e quando recebia as palmadas mal podia esperar para pedir mais. O corpo dela era lindo. Ela tinha uma anca perfeita, cabia direitinho nas minhas mãos, eu podia apertar o osso do quadril com meus dedos e puxar sua cintura e corpo todo de encontro a meu membro. Laís puxava o lençol branco com ambas as mãos como se quisesse se segurar em alguma coisa para não ser arremessada longe. Algumas vezes ela tentava olhar para trás para ver o que eu fazia mas então eu segurava seus cabelos negros com uma das mãos. Era a ordem para que ficasse quietinha, do jeito que eu gostava até o fim. Ela podia e devia gritar de prazer mas tinha ficar parada naquela posição até que seu ex-chefe gozasse.

Era do jeito que eu gostava das coisas, sob meu comando, sob meu corpo.

— Ah Vitor... eu vou!

— Então vai! Para mim, goza!

Senti suas pernas tremerem, vi as mãos apertarem ainda mais o lençol, ouvi sua respiração mais presa e pesada. Ela me apertou. Por dentro. Eu não sabia como fazia aquilo mas era gostoso. Levei a mão até suas costas, espalmada, esperei que parasse de tremer e gemer. Assim que parou, eu a virei de frente para mim.

— Vem cá...

Puxei sua mão com delicadeza a forçando a ficar de joelhos. Ela já sabia. Era como eu podia gozar. Não confiava em nenhuma mulher que pudesse engravidar de mim. Segurei sua cabeça com delicadeza e a deixei livre para que abrisse a boca e sorvesse o meu líquido ou simplesmente se deixasse molhar. Fechei os olhos e gemi baixo, mais como um grunhido abafado. Uma sensação de libertação e alívio veio logo. Laís abriu a boca e sorveu parte do líquido que ela chamava de precioso. Ela sempre queria me agradar, uma vez que eu achava aquilo muito pervertido e delicioso. Logo em seguida eu deitei do lado, na cama. Deixei meu pesado corpo pender sobre o lençol da cama do motel. Entretanto ela não parou. A morena veio me beijar com o meu gosto e eu gostava daquilo. Depois ela desceu os beijos pelo meu pescoço e peito suados. Laís delizou a lingua até o abdome e depois voltava.

— Já falei que você está ainda mais forte malhando?

Fiz apenas que sim com a cabeça, fechando os olhos e levando o braço para apoiar na testa. Ela deitou a cabeça no meu peito e ficou assim por algum tempo.

Eu sempre recorria às mulheres quando estava assustado ou com raiva. Naquele domingo estava me sentindo ambos. Bill ia se operar e aquele maldito clube estava me irritando. Porque aqueles idiotas simplesmente não nos deixavam seguir a vida em paz? Se eu não gostava de alguém, rumava para longe mas eles não. Eles implicavam, irritavam, perturbavam tentando que eu perdesse a cabeça. Eles me conheciam muito bem e sabiam que bastava um estopim para eu voltar a ser o selvagem inconsequente que já tinha sido. Apenas esperavam por uma brecha para ferrar minha vida. Eu precisava me manter firme e sereno. Bill esperava isso de mim, minha família precisava disso de mim.

— No que está pensando, amor?

Amor... Ela sentia amor por mim? Devia ser apenas luxúria. Era o que devia ser mas as mulheres confundem tudo. Elas fazem na mente uma salada de sexo com sentimentos, batem no liquidificador e saem distribuindo em bandeja de prata aos incautos que aquilo é amor.

— Só pensando.

Ela ergueu a cabeça para me olhar nos olhos mas não a olhei.

— No que?

— Laís, isso sempre acontece, venho ficar um pouco com você e ai você estraga tudo me perguntando coisas da vida. Eu vim aqui para esquecer.

Ela se sentou magoada.

— Eu sempre me preocupo com você. Isso é uma coisa que você escolhe não entender. Porque você escolhe mulher, escolhe que horas pensa nas coisas e escolhe ferrar meus sentimentos!

— E que mal há nisso?!

Eu me levantei, já tinha quebrado o clima gostoso, eu já estava impaciente.

— Agora então vai embora, como sempre faz quando alguém se preocupa com você.

Vesti a calça e decidi dar uma chance de conversar com ela.

— O problema, Laís, é que ninguém pode me ajudar. Eu tenho que resolver coisas que ninguém pode resolver por mim.

— Mas pode te dar um ombro amigo. — Ela continuou.

— Eu só conheci um ombro amigo na minha vida. — Lembrei de Simone — O resto precisa saber que eu sei lidar com tudo de ruim e ainda sorrir e acenar como uma miss. — Usei de ironia.

— Você está errado, Vitor.

— É, eu estou sempre errado. Preciso ir. — Comecei a calçar a bota ainda sentado na cama.

Ela se aproximou e senti deslizar a mão pelas minhas costas. Fechei os olhos.

— Vitor, me deixa entrar.

— Não tem nada aqui dentro.

Ela se conformou e ouvi os barulhos em sua bolsa. Ela começava a se vestir. Olhei o relógio de pulso, marcava vinte e uma horas. Voltei a pensar no assunto da namorada fake. Evitaria muitas dores de cabeça.

Fomos para o carro na garagem do motel. Laís cruzou os braços sentada no banco do carona. Daquela vez escolhi meu Audi para levá-la ao motel. Liguei Kiss no som do carro bem alto. Evitaria qualquer tentativa dela de iniciar uma nova conversa na qual eu não estaria interessado. Eu nunca tinha mentido para ela. Laís era minha secretária há 3 anos atrás mas nosso envolvimento foi demais para ela até pedir demissão e uma carta de recomendação. Ela teve que escolher entre trabalhar na AF  e continuar me vendo. Era claro que escolheu a segunda opção abandonando assim o seu emprego e com uma carta de recomendação invejável que escrevi, arrumou logo outro. E desde então ela sempre soube que seria somente aquilo. Laís estava tentando namorar outro cara mas sempre me ligava ou mandava mensagem para transar comigo. Aparentemente nenhum outro a supria como eu ou o seu fetiche com o milionário despojado se sobrepunha sempre a um namoro convencional.

Quando parei na porta de sua casa, ela me olhou finalmente. Baixei o volume do som e a olhei.

— Eu não sou um ogro, eu sei que você quer me ajudar, mas a verdade é que você já ajuda muito apenas de estar comigo nesses momentos.

— Isso é muito muito menos do que eu sonho.

— Mas é o que eu posso dar.

— Me dá um beijo então?

Aproximei meu rosto, desviando o corpo para o lado, ainda preso ao cinto de segurança e a beijei. Demoradamente. A mão dela tocou meu rosto e desceu pelo meu peito. Então ela se afastou vagarosamente me olhando nos olhos.

— Me liga?

— Ligo.

Então ela abriu a porta e se foi. Dei partida no Audi voltando a aumentar o volume de Kiss. Lembrei que Bill costumava dizer que eu era muito novo para ser fã do kiss. Eu sempre refutava dizendo que ouvia de tudo por causa do meu pai. Aquilo me fez relembrar que ele iria ser operado e minha preocupação com aquilo. Ao chegar em casa, joguei as chaves do carro sobre o criado mudo e fui para um banho demorado. O dia seguinte seria cheio. Todas as segundas-feiras eram dias chatos e cheios de problemas. Em clima de muito silêncio fui para a cozinha, cigarro pendurado nos lábios, busquei algo para comer. Ao abrir a geladeira só havia besteira, minha nossa, eu precisava de uma cozinheira. Uma senhora de preferência, casada e cheia de netos. Deixei um recado para a secretária ler assim que chegasse ao trabalho. Carolina tinha ficado no lugar de Laís mas eu me assegurei de que ela fosse casada. Não que isso impedisse de acontecer alguma coisa porque quando eu bebia só Jesus para me fazer calar a boca mas talvez, só talvez, ela sentisse respeito pelo marido.

Fiz um sanduíche e liguei a tv para relaxar. O meu celular parecia estar em um grupo de w******p, daqueles que o grupo não pára de postar e a gente silencia para não ser perturbado. Porém eu não estava em nenhum grupo e as notificações chegavam de todos e para tudo. Resolvi silenciar e ver uma série. Acabei adormecendo no sofá mesmo.

Quando acordei notei que estive de boca aberta boa parte do tempo porque estava babando. Olhei o relógio, o meu celular já ia tocar. Era sete horas da manhã e meu corpo já tinha se acostumado a acordar cedo. Desliguei a tv no controle remoto e fui para o quarto me arrumar. Aquele era um dia em que eu não estava com vontade de usar terno. Vesti apenas uma calça social, sapatos pretos e uma camisa branca arregaçada nas mangas, cuidadosamente colocada para dentro da calça preta. Eu parecia, em alguns dias, estar ligado apenas no piloto automático. Fui para o carro, cumprimentei o porteiro do condomínio e fui embora.

Carolina veio ao meu encontro já no elevador. Ela parecia farejar minha presença. A moça abriu um largo sorriso como se não fosse segunda-feira.

— Bom dia, senhor Vitor.

— Bom dia.

— Eu vi seu recado sobre a cozinheira ontem a noite.

Continuei andando até minha sala.

— Você devia ficar com seu marido aos domingos.

— Mas eu fico atenta caso o senhor precise de alguma coisa.

Ela entrou atrás de mim depois que eu cumprimentei todos em suas mesas apenas com um aceno de cabeça.

— E achou alguma coisa?

— Achei sim, ela vai a sua casa hoje a noite.

— Á noite?

— Sim, ela ainda está em um restaurante trabalhando e se conseguir o emprego, ela vai sair, parece estar insatisfeita.

— Perfeito. Diga a ela dezenove  horas.

— Certo.

Ela saiu da sala e eu ativei as notificações do celular novamente. Olhei um monte de mensagens, respondi algumas e me preparei para o dia cheio que teria. Bem, finalmente eu teria uma cozinheira e comeria comida decente de novo.

E melhor de tudo, seria uma senhora idosa nada interessada em um empresário de vinte e oito anos.

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