Ressurgindo das cinzas

# Conde William

Observo mais uma vez o meu inimigo a debochar de mim. Ele que tem o poder de destruir qualquer esperança que possa teimar em surgir no meu amargurado coração. O que vejo refletido me lembra o porquê decide me isolar do mundo.

Lembra-me de que não sou mais o que um dia fui.

Observo as cicatrizes que marcam todo o lado esquerdo do meu rosto, a minha orelha e parte do meu pescoço. Os seus aspectos enrugados e avermelhados lembram-me do porque me chamam de desfigurado.

De monstro.

Talvez porque eu realmente tenha me tornado um.

Não só por fora, sinto-me um monstro dentro da minha alma escura.

Como alguém que foi condenado a viver para sempre na escuridão, às vezes acredito que ter sobrevivido ao incêndio foi a minha maldição particular. Está vivo para sentir o quão doloroso foi perder tudo o que fazia ter sentido a minha vida, o desejo de viver.

Amaldiçôo aquele dia. Perde tudo o que tinha por uma mulher que se mostrou igual ou pior a uma prostituta sem caráter, a leidy Letícia não passava de uma interesseira que soube me enganar o suficientemente para brigar com o meu melhor amigo por causa dela.

Se eu tivesse ouvido o que John me falou sobre ela...

Se eu tivesse desconfiado da pureza dos seus sentimentos...

Se!

É algo que vai me perseguir enquanto eu viver. Eu fui um idiota! Eu me deixei ficar cego pelo amor que ia achava senti por ela, eu me neguei a ouvi a verdade.

A acreditar no que estava a minha frente.

Depois do acidente ela mostrou quem realmente era. Sem qualquer remoço ou piedade, deixou claro sua total aversão ao desfigurado noivo. Segundo a mesma, 'nem o título de condessa valia o esforço de viver ao lado de um desfigurado'.

Rio amargo com essas malditas lembranças. Meses de recuperação, um estrago permanente na minha perna que me faz mancar e senti dores até hoje, cirurgias para tentar reconstruir a face, poucos resultados...

A dor.

A depressão.

A solidão.

Afastei-me de todos os que ousaram permanecer ao meu lado. Minha velha avó, não tive qualquer vontade de ver a dor em seu rosto amoroso, sendo ela a minha única família depois que meus pais morreram. E o John...

Eu o culpei pelo acidente. Culpei por ter me condenado a essa vida. Culpei por tudo. Não queria mais vê-lo e depois de muito recusar ele acabou acatando minha vontade.

No fundo eu sabia que ele não teve culpa alguma. Ele tentou me alertar e arriscou a sua vida para me salvar do fogo. Mas, eu precisava de alguém para culpar.

Precisava de um bode expiratório para jogar uma culpa que é exclusivamente minha.

Porra!

Arremesso o espelho na parede e suspiro ao vê-lo se transformar em um monte de cacos. É assim que me sinto, um monte de cacos. Há muito tempo não me impunha ver o que me tronei refletido, mas precisava me lembrar do que sou para evitar que a chama da esperança invadisse meu coração.

Uma esperança trazida por ela.

É impossível evitar um sorriso quando me lembro da mulher de pouco mais de um metro e meio que me enfrentou como uma verdadeira guerreira.

Corajosa, admito.

Ainda posso senti o cheiro de rosas que brota de seus cabelos da primeira vez que nos encontramos. Uma estranha que atraiu a minha atenção e não pude evitar observá-la nos dias seguintes, tão espontânea e delicada.

Quando a vê rodopiando pelo salão, tive uma imensa vontade de tomá-la em meus braços e conduzir aquela dança. E quando sua voz doce invadiu meus ouvidos, senti uma paz inundar meu velho coração amargurado.

Tão doce e delicada como ela.

Respiro fundo tentando esquecer qualquer pensamento sobre ela. Não posso cair na mesma armadilha duas vezes.

Não vou!

#Madalena

É véspera de natal. Parece que o dia, mesmo frio, aquece nosso coração com esperança e amor. Pulo da cama pronta para terminar as minhas tarefas o quanto antes e ir a cidade para comprar alguns enfeites para a árvore de natal, alguns presentes e ver minha louca amiga Bella, tudo isso só é possível porque recebemos um ótimo bônus de natal.

Mas uma surpresa do conde.

Falando nele, ainda não o encontrei depois que me deixou o livro e o bilhete. Queria perguntar o que ele queria dizer com tudo o que disse, o que queria de mim?!

Respiro fundo e aperto meu casaco ao ir em direção a cozinha. Dona Catarina está terminando de por o café da manhã, soube que o conde sempre come no quarto e que apenas a senhora Robinson tem autorização de levar o seu café.

_ Animada para o grande dia, querida? _ perguntou o seu André que tinha aquele jeito paternal tão encantador.

_ Muito, quase não dormi de ansiedade. _ respondi sorrindo.

_ Todos nós estamos, menina. _ disse dona Catarina, _ faz muito tempo desde a última comemoração.

Observei a Juliene silenciosa no canto. Ela parecia um bicho acuado, como se a simples ideia de socializar conosco a deixasse assustada. Algo que eu gostaria de poder ajudar, se ela permitisse.

A manhã passou rapidamente e no meio da tarde seu André se ofereceu para me levar até a cidade junto com dona Marta para as ultimas compras. Aproveitei a oportunidade para encontrar a doida da Bella, estava com saudades dela.

_ Meu Deus do céu, você está inteira! _ ela exclamou eufórica atraindo a atenção de algumas pessoas ao nosso redor. _ tive tanto medo de te perder, amiga.

Em resposta a sua preocupação exagerada, a puxei para um abraço apertado.

_ Como pode ver, estou muito bem, obrigada. _ disse enquanto entravamos em uma loja.

_ Isso sim é um milagre de natal. Como conseguiu sobreviver na casa do monstro? _ ela perguntou mostrando curiosidade e, de repente, me senti incomodada com esse tipo de comentário sobre o conde.

_ Ele não é um monstro! _ eu disse convicta e vê ela suspender uma sobrancelha em resposta.

_ E como pode ter tanta certeza, amiga? _ ela perguntou enquanto olhava um vestido azul celeste na vitrine.

_ Porque as coisas não são como dizem, talvez ele só não queira ficar perto de pessoas que o julga. Mas vamos mudar de assunto, preciso que me ajude com essa lista...

Não quis continuar o assunto. Parecia ser algo intimo demais para se tratar ali na rua do comércio. Além do mais, não sei o que ela diria se soubesse que apenas talvez eu esteja encantada com o misterioso conde.

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