#Madalena
Como se forma a esperança? Quer dizer, como ela se torna tão essencial na vida do ser humano? Dizem que a 'esperança é a ultima que morre', talvez seja porque ela só pode deixar de existir quando não existir mais vida.
Então, se há vida, há esperança.
Sorriu ao pendurar o ultimo enfeite da nossa árvore de natal. Ela não é dessas enormes dos filmes e nem tão ostentadora, mas não deixa de ser encantadora por isso. Observo como as luzes ressaltam ainda mais os pequenos enfeites e vejo a estrela brilhando no topo.
Estrelas.
Existe essa outra coisa sobre mim: eu adoro as estrelas.
Lembro de quando era criança e meus pais e eu costumávamos observar o céu estrelado nas noites de verão brasileira.
Espetaculares.
Essa paixão herdei do meu pai. Ele era apaixonado pelos astros em geral, e sempre me dizia que cada estrela era um pequeno universo particular brilhante, e mais, que algumas mesmo depois de mortas continuavam a brilhar, inclusive quando o céu estava escuro e tempestuoso.
Gosto de pensar nos meus pais como essas estrelas que teimam em brilhar lá em cima, cuidando de nós,
De mim.
Um jeito fofo de negar a finitude da vida. Respiro fundo e espanto esses pensamentos depreciativos. Sigo para a cozinha para ver se precisam de ajuda com a ceia, estão todos bem arrumados para nossa celebração. Lembrei-me do conde, gostaria que estivesse aqui conosco, não gosto de imaginá-lo sozinho nessa noite.
Alguns minutos depois e estamos todos sentados na grande mesa organizada na sala de jantar dos funcionários, a mesa farta e o sorriso no rosto de quase todos faz meu coração aquecer em agradecimento.
_ Bom, está na hora do agradecimento. _ disse a senhora Robinson, que para ocasião deixou de lado seu uniforme azul escuro e usava um delicado vestido branco com pequenos bordados coloridos, meiga e elegante como ela. _ gostaria que você fizesse a prece, Lena. Nada disso seria possível sem você. _ ela disse sorrindo carinhosamente para mim.
_ Tudo bem, _ disse meio sem jeito e estende a mão para dona Catarina que tinha abandonado o seu habitual avental e parecia ainda mais encantadora em um vestido delicado azul celeste. _ Gostaria de agradecer a Deus, porque ele cuidou de nós durante todo esse ano. Pela força dada para enfrentarmos os desafios e a esperança de um amanhã melhor. Agradeço pelos amigos que aqui encontrei e pela oportunidade de continuar vivendo, lutando e sendo feliz. Que Ele continue conosco. _ terminei a oração com uma lágrima de agradecimento a rolar pelo meu rosto.
O resto da noite passou entre risos, abraços e afetos. Mesmo a Juliene, que sempre foi tão distante, pareceu se diverti um pouco e no final de tudo, pela primeira vez em anos, eu me senti em casa.
****
Era muito tarde da noite. Depois do pequeno recital que seu André e eu fizemos com as velhas canções natalinas, todos resolveram ir dormir.
Bom, todos menos eu.
Eu precisava vê-lo! Eu não sei explicar ao certo, mais sinto que preciso fazer algo a respeito. Por isso, pego meu robe e o pequeno embrulho azul e sigo para a cozinha. A escuridão ainda se faz presente, mas já decorei o caminho. Não demorou muito para que ele chegasse ao cômodo, como se estivesse a minha espera.
_ Feliz natal, conde! _ disse me aproximando lentamente daquela figura envolta a escuridão e estende o pequeno embrulho em sua direção. _ Não é nada muito fino ou caro, mas tem um significado importante.
Ele pareceu surpreso com a minha atitude e eu não poderia culpá-lo, afinal nem eu mesma estava entendendo a minha atitude.
Ou não queria pensar muito a respeito, eu acho.
Ele desembrulhou a pequena escultura e eu respirei fundo para criar coragem para pronunciar minhas próximas palavras.
_ É uma fênix. Dizem que elas ressurgem ainda mais belas depois do fogo. _ disse em um fôlego só.
_ Eu não sou uma fênix! – ele exclamou com uma mistura de dor e raiva. _ só tenho as cinzas.
Me aproximei mais e não puder conter o impulso de tocá-lo. Minha respiração estava irregular, as batidas do meu coração aceleraram a medida que senti o calor que emanava dele.
_ A fênix tem que queimar completamente para ressurge, conde. _ disse baixinho _ quando nova outra vez, o fogo não mais as assustam.
Senti sua respiração acelerar. Seus braços antes quietos tomaram lugar em minha cintura robusta. Não tive tempo para pensar sobre o que ia acontecer.
Só senti.
Senti quando seus lábios tocaram os meus pela primeira vez e a sensação indescritível de estar completa. De ter encontrado o meu lugar no mundo, o meu lugar com o misterioso conde. Seus lábios, a principio delicado, ganharam urgência e senti quando a sua boca desvendou a minha. Minhas mãos percorreram seu peitoral forte.
Éramos um, naquele instante.
Quando a respiração foi indispensável, nossos lábios se afastaram. Juro que meu coração batia tão forte que suspeitava que ele pudesse ouvir.
_ Você é meu anjo, Madalena. _ ele sussurrou com a voz rouca em meu ouvido. _ meu milagre de natal.
Sorri.
Descobriria um tempo depois que seria qualquer coisa por ele.
Até mesmo um milagre!