4 - A última dança

Voltei para o salão de dança e encontrei Alec conversando com uma moça. Ela era linda e estava usando um vestido preto. A cor não era chamativa, mas o decote em V que ia até seu umbigo chama atenção para os seus seios.

Era naquele ponto da pele dela que estavam os olhos de Alec. Ele nem tentava disfarçar.

Foi quando ele ergueu a mão e a apalpou que eu cheguei perto o bastante para cutuca-lo no ombro.

Ele se virou para mim e sorriu. Apontou para os seios da mulher à sua frente e teve a audácia de me perguntar se eu os achava bonitos.

Revirei os olhos e concordei com a cabeça. Realmente eram seios lindos, mas aquele não era lugar para aquele tipo de assunto ou para aquele tipo de toque íntimo.

Pedi licença à moça e ela me olhou de cima a baixo. O sorriso sumiu de seus lábios pintados de vermelho e ela nos deu as costas, indo conversar com outro vampiro.

Alec se virou para mim e me ofereceu a bebida que estava em sua outra mão.

Era uísque puro.

Eu dei um gole na bebida e lhe devolvi o copo.

- Onde você conseguiu isso? – perguntei, apontando para o copo em sua mão.

- Os garçons começaram a servir uísque logo depois que você saiu – ele abriu um largo sorriso. – Eu acho que Muriel quer que fiquemos bêbados nessa festa.

Revirei os olhos. Aquilo era improvável.

Quando vampiros ficavam bêbados, eles ficavam mais do que felizes, e faziam coisas que seus instintos primitivos lhes mandavam fazer.

Que seriam copular e matar inocentes.

Normalmente copular vinha em primeiro lugar. E certamente Muriel não queria que rolasse uma orgia de vampiros naquela festa tão requintada.

Ainda mais se ele havia convidado pessoas de fora do nosso círculo. Talvez vampiros de outros clãs. Muriel conhecia muita gente, humanos e vampiros, e certamente não restringiria a festa apenas para seus filhos.

Alguém importante deveria estar vindo.

Eu só não sabia quem seria importante o bastante para fazer meu pai servir uísque no meio do que deveria ser um baile.

Abri a boca e apontei para um garçom que passou perto de nós com uma bandeja com copos cheios de um liquido verde.

- Aquilo é o que eu estou pensando?

Alec seguiu com os olhos até onde eu apontava com o dedo.

- Estão servindo Absinto?

Até mesmo ele ficou confuso ao ver aquilo.

Uma das bebidas mais fortes que conhecíamos. O efeito era maior nos humanos, mas ainda assim, se ingerido em grandes quantidades, poderia ter o mesmo efeito nos vampiros.

- Muriel está tentando nos embebedar – falamos juntos baixinho.

Era estranho, mas não era apenas isso.

Outras bebidas fortes foram servidas no decorrer da noite e umas músicas um pouco mais dançantes foram tocadas pelas musicistas. Músicas de época, mas ainda assim, diferente do que costumávamos ver naquelas festas.

Eu olhei para a porta de entrada com o meu quinto copo na mão. Eu ainda não estava bêbada, mas já estava sorrindo.

Muriel estava sério, olhando para todos nós, ele parecia nervoso ao arrumar as lapelas de seu smoking.

Um garçom se aproximou dele e lhe ofereceu um drink, mas ele recusou e olhou em volta até me achar no meio da multidão.

O salão estava cheio e eu estava cercada por antigos amigos que não via há meses. Alguns eu não via já fazia anos.

Chamei Muriel para se juntar a nós. Ele sorriu, mas negou com a cabeça.

Ele ficou mais de uma hora ali, vendo todos beberem e se divertirem.

Depois do décimo drink eu estava ficando um pouco alta e decidi parar de beber antes que decidisse tirar a roupa e sentar no colo de alguém, assim como havia feito na noite anterior quando fora em um bar com Alec.

Aquele tipo de comportamento não seria aceitável na frente do meu criador.

Olhei novamente para Muriel e o vi vindo na minha direção. Meu coração se acelerou quando escutei a mudança da música. Era a nossa música.

Lenta e romântica. A primeira música que eu havia dançado com ele quando nos conhecemos algumas semanas antes dele me transformar.

Eu saí do meio do meu grupo de amigos e os deixei falando sozinhos.

Fui para o centro do salão onde Muriel ficou me aguardando. Ele fez uma mesura teatral e me estendeu a mão.

Eu segurei os dois lados da minha saia vermelha e lhe cumprimentei. Lhe estendi a minha mão e ele me puxou delicadamente para si. Coloquei uma mão sobre seu ombro enquanto ele repousava sua mão delicadamente em minha cintura.

Olhei em seus olhos verdes e não precisamos de palavras.

Eu conseguia sentir e ver o amor dele por mim brilhando em seus olhos. Ele sorriu e acariciou as minhas costas. Foi um toque gentil e nada paternal.

Meu corpo reagiu instantaneamente, sem que eu conseguisse me conter. Eu me contraí por dentro e o desejei mais do que qualquer coisa.

Talvez eu devesse ter parado no quinto drink.

Antes que eu pudesse me inclinar para beijá-lo nos lábios, ele abaixou a cabeça e a colocou na curva do meu pescoço com o ombro.

Ele beijou a minha pele sensível e depois sussurrou no meu ouvido:

- Não importa o que aconteça, mantenha a calma e não corra – disse ele, sem um pingo de brincadeira em sua voz. – Diga o mesmo ao seu amigo. Não grite e não negue nada do que eu lhe disser. Apenas fique parada e tudo vai ficar bem.

Franzi o cenho e me afastei alguns centímetros para olhar em seus olhos.

- O que está acontecendo?

Ele estava me deixando nervosa novamente. Meu coração estava acelerado, mas não pelo motivo de antes.

Ele engoliu em seco.

- Vai ficar tudo bem. Eles não vão te machucar – foi tudo o que ele conseguiu dizer antes de alguém atrapalhar a nossa dança.

Era Browen, novamente.

Ele olhou para mim como se pedisse desculpas e depois falou com Muriel.

- Senhor, os convidados chegaram.

Muriel olhou em meus olhos e respirou fundo. Ele pegou minha mão e a levantou até seus lábios, beijando a dobra dos meus dedos novamente.

- Vai ficar tudo bem. Eu prometo.

Ele soltou a minha mão e saiu do salão com Browen, sem responder à minha pergunta.

Eu sentia como se houvesse alguma coisa errada.

Os pelos da minha nuca se arrepiaram e eu olhei em volta à procura de Alec. Ele estava novamente com a moça do decote, mas dessa vez estava um pouco mais comportado, com as mãos atrás das costas e um metro separando seus corpos que emanavam tesão.

Assim que eu me aproximei, ele olhou na minha direção e se despediu de sua nova amiga. Ele veio na minha direção e colocou as mãos em meus ombros.

- Alena, o que aconteceu? – ele perguntou, preocupado com a expressão em meu rosto.

- Precisamos ir embora – falei, me virando e o puxando pela mão.

Ele me seguiu sem fazer perguntas.

Passamos pelas pessoas no salão e quase chegamos na porta.

A música parou de repente e vi Muriel parado na porta do salão, barrando a nossa passagem.

Ele me olhou fundo nos olhos e me advertiu a não me mexer.

Alec parou do meu lado e sussurrou em meu ouvido:

- O que está acontecendo?

Eu não consegui responder.

Estava olhando com olhos arregalados para o grupo de homens atrás de Muriel.

- Não se mexa e não diga nada – sussurrei para Alec, apertando sua mão até que ele assentisse com a cabeça.

Todas os vampiros no salão pararam de conversar e se viraram para os novos convidados.

O silêncio reinou durante alguns segundos.

Muriel pigarreou e apontou para os homens ao seu lado, pronto para apresenta-los.

Eu não queria saber quem eles eram.

Só queria saber porque um grupo de lobisomens estava em um salão cheio de vampiros.

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