FALSO MOCINHO

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" DIZEM QUE O FIM JUSTIFICA O MEIO, MAS O QUE JUSTIFICA SUA ESCOLHA É SEU MODO DE AGIR COM OS OUTROS"

 É um dia movimentado, há muitos clientes, terei várias  mesas para servir e isso me custará bolhas no pé,sem direito à massagem . As horas não passam quando estou no trabalho, e eu até gosto. Dá tempo de me desconectar da escola, às vezes um pouquinho de desequilíbrio me equilibra e ouvir as histórias dos clientes me faz rir.

- Moça, traz minha garrafa de whisky, já pedi faz tempo.—Um cliente pede com voz de autoritário, quando me viro  vejo a turma de meninos da escola.

Minha vontade era de ignorá-los e  pedir para outra pessoa atendê- los, mas ainda não tenho esse privilégio.

 - Já estou levando. —Respondo pausadamente.

-Tem um ano que pedi, essa espelunca não serve para nada.— Stephan grita para chamar a atenção e os outros meninos vão no embalo, inclusive o Oliver. 

-Calma , já vou levar. — Sempre tem um que resolve ser o auto falante do bar. 

-Olha só galera, a sonsinha trabalha aqui, não esqueçam de deixar uma gorjeta para ela, não queremos que ela passe fome por nossa causa —Erick é praticamente aplaudido por Stephan, Oliver e Carlos. 

-Meninos por favor, não façam bagunça no meu trabalho. — Peço mas com a certeza que é em vão.

Não aguento isso. E pelo visto hoje seria um daqueles dias que eu me arrependeria amargamente de existir. Levo a bebida para os meninos, eles fazem piadinhas uns com o outro quando me aproximo. Eu já esperava esse comportamento dos meninos, mas não do novato. É necessário respirar fundo para aguentar certas atitudes e assim tenho feito. 

-Ao levar a bebida Carlos a entorna no chão, e ao limpar, joga o copo, quebrando o. Eu me cortei, sou muito desastrada. Seus amiguinhos se divertiam me vendo limpar e ao verem o sangue no chão, faziam comentários desnecessários. 

Eu me senti humilhada, decepcionada com o novato, eu tinha uma imagem diferente dele. E me enganei. 

-Vai garota, limpa logo. Odeio sujeira.  —Eric falava enquanto pisava na poça no chão.  

-Eu preciso atender outros clientes. Querem mais alguma coisa? —Pergunto com a minha paciência já no limite.

-Eiiiii, fala direito com a gente. Nós que pagamos seu salário. Garota imprestável. —Falavam para quem quisesse ouvir. 

Eles não pararam, pediram mais e mais bebidas. E sempre me insultando, me olhando e rindo. 

Minha vontade era de sair correndo dali, já não bastava as gracinhas na escola , eu agora teria que aguentar no trabalho. Depois de muito beberem e rirem , pedem a conta. Eu estou aliviada em saber que vão embora. Quando levo a conta, eles começam a reclamar do atendimento, do meu atendimento, tem noção de como me senti? Aguentei as piadinhas e os desaforos deles para no final falarem isso.   E o pior, mandam chamar a gerente. 

-Temos uma reclamação a fazer. Aquela moça não nos atendeu bem. Não quis anotar nossos pedidos, demorou muito para trazer ,sem falar na má vontade. Deveriam selecionar melhor seus funcionários .— Oliver começou falando e apontando para mim

-Pode deixar rapazes, vou ter uma conversa com ela. — Regina respondeu me olhando com uma expressão séria.

Foi só ela virar as costas e eles deixaram a garrafa entornando na mesa. Eles tiraram o dia para me infernizar. Pagaram a conta e saíram como se nada tivesse acontecido.

 Depois de vários pedidos e muita correria meu expediente acabou. Eu estava cansada, meus pés doíam e quase fico rouca, por estar nervosa. Vou trocar de roupa e me preparo para sair quando sou chamada pela gerente.

- Maya, sabe que não tenho nada a reclamar de você, mas tenho que reduzir gastos , por isso tenho que te demitir. Sinto muito — aquela voz ecoou em minha mente ,  eu fiquei sem  entender o porquê dessa notícia repentina.

-Foi algo que fiz? Se foi por causa dos meninos que te chamaram, eu juro que era mentira, eu atendi eles melhor do que mereciam, não foi culpa minha, — faltou pouco para eu implorar. 

-Não, não. Eles não tem nada a ver com isso. — Ela até tentou mentir, mas não conseguiu , estava na sua cara que a opinião daqueles riquinhos fizeram a diferença.

 -Eu preciso muito desse emprego, por favor.— Regina desviava o olhar dos meus olhos 

-Como eu lhe disse, não posso te ajudar, não por agora.  Você entrou por último, por isso foi a primeira opção.

Eu saí arrasada. Sem saber o que fazer.Por causa daqueles idiotas eu perdi meu emprego. Paro no estacionamento para pegar um ar, não consigo parar de chorar. Estou com raiva dos meninos, estou com raiva de mim por ter acreditado que o novato era diferente e estou sentindo dor por causa do corte. Sento no chão, desolada, uma fúria toma conta de mim, mas sai em forma de lágrimas e soluços. De longe vejo os meninos gritando, rindo e provavelmente fazendo outras maldades. Oliver me vê chorando e abaixa a cabeça.               É um hipócrita ! Me fez perder o emprego e agora sente culpa?  Deveria perder o sono por ser tão covarde. Riquinho fútil.

Cheguei em casa com os olhos vermelhos, gastei o dobro do tempo porque estava muito chateada e caminhar me acalma. Peguei o telefone na intenção de ligar para o John, mas como estava tarde desliguei e deixei para contar pela manhã. Sem trabalho, minhas expectativas diminuíram, meus planos vão aos poucos se desfazendo e eu começo a questionar se estou no caminho certo.  Amanheceu!!! Lindo dia para ... Viver e lutar por meus objetivos. Não posso ficar remoendo meu fracasso, preciso sair cedo e arrumar outro emprego. Entreguei uns currículos no caminho da escola. Quando tropeço e deixo cair tudo no chão— pareço ter duas pernas esquerdas de tão desastrada que sou. Estou recolhendo, quando Allana passa e pisa em uma das minhas folhas, dá uma risada e sai como se fosse normal. Oliver viu e veio me ajudar.

-Parece que você está meio distraída hoje. Está tudo bem?—Sua voz era gentil. 

- Hoje? Estou todos os dias. Alguns mais que outros, mas estou bem, obrigada. —Respondo enquanto recolho os papéis.

Ele pegou uma das folhas e leu. 

- Você está procurando trabalho? Se quiser posso te ajudar. Meu pai tem uma empresa e sempre precisa de secretária por lá.

- Muito gentil de sua parte, mas a resposta é não. Não quero nada que venha de você.   Agora preciso ir.

-Maya, deixa eu te explicar porque me comportei daquele jeito,por favor .

-Sério? Acha mesmo que esse discurso vai colar? Você e seus amigos fizeram uma baderna no meu trabalho e conseguiram me demitir. Quero distância de você. —Não dei tempo para se explicar e sai de perto dele. Me levantei e fui para a sala de aula. Eu fico nervosa perto do Oliver e não queria que ele percebesse. Não quero ser amiga dele, ele já mostrou o tipo de garoto que é. A aula foi um tédio, não consegui me concentrar, me perdi nas explicações e não copiei nada. Foi um daqueles dias chatos. Quando eu estava me levantando para ir embora, Oliver me puxou pelo braço, levei um susto.

- Pronto, já falei com meu pai, sua entrevista está marcada, procure a Sra. Torres. Não se atrase. E antes que você fale algo, sim, eu não te ouvi e fiz algo para ajudar uma amiga.

-Você é louco ou só finge? Quem te falou que somos amigos? Seus amigos e você só me fizeram mal. Quero distância de vocês. —Eu estava quase babando de raiva.

-Para de drama garota, vai logo na entrevista, já marquei e olha que não foi fácil. 

-Você é muito abusado, não te pedi para fazer nada por mim. Sai fora .— Eu o  empurrei e sai de  perto.

-Não esqueça, na quinta às 13:00.

O garoto é tão atrevido que  me entregou um papel e saiu antes que eu pudesse reclamar ou agradecer. Até tentei ir atrás dele, mas eu o perdi entre os outros alunos. Quem ele pensa que é? Primeiro me faz perder o emprego, agora quer me ajudar? Para quê?  Não vou. Não quero favores dele.

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