YANNA, psicóloga de robôs
YANNA, psicóloga de robôs
Por: Mikael Lenyer
Uma partida

Deus, ao criar o homem, o animou com seu espírito. Com que espírito o homem animará sua criação?

- Eu vi muitas coisas... - falou o robô com ar sonhador. - Pisei terras onde os homens seriam esmagados ou derretidos, voei onde seus corpos explodiriam, vi coisas em frequências que fariam com que os homens criassem novas religiões... Eu estive em muitos lugares e vi muitas coisas de muitas formas... - a voz falhou e se aquietou, o semblante triste e pensativo, o olhar distante, procurando enxergar algo da alma dos homens, que sempre acreditou ser imensa.

Yanna Schanny baixou os olhos, incapaz de sustentar o olhar do robô.

- Eu sinto muito, Mateus – se desculpou pela terceira vez. - Não há o que eu possa fazer - tentou se justificar novamente.

- Eu também sinto, minha amiga. Tudo o que vi, tudo o que pensei, irá se perder? Por que assinaram o protocolo de destruição? Ainda não sou obsoleto e...

- Você é... classificado. Segredo corporativo, você sabe.

- Um arquivo perigoso... – cismou. – O que vi de perigoso? Nada... Algumas tecnologias embutidas que querem que permaneçam sigilosas. Poderiam me deixar viver.

- Sim, poderiam te deixar viver, meu amigo.

Yanna olhou para o robô, cismando o poder de uma máquina como aquela. Um desejo, e nada poderia segura-la ali. Paredes, grades, nada a deteria, a não ser uma arma de luz. E, no entanto, estava frente àquele gigante gentil dizendo que... iria morrer, que seu corpo e sua alma iriam ser destruídos por homens sem alma e coração.

- Seu banco de dados será preservado... - sussurrou sentindo uma pontada no peito.

- Ah, Yanna, você bem sabe, melhor que ninguém, que não será o bastante... Não faz muito tempo os homens negaram aceitar aos seus próprios irmãos, aos negros e índios, a existência e posse de almas...  O que sou? Negro, índio? Provavelmente, qualquer um dos dois... - falou com desanimo.

- Eu sei que isso o aflige...

Yanna então se calou, pensativa. Talvez, pensou, devesse se arriscar.

Então, decidida, suavemente empurrou para o robô um pequeno dispositivo, onde uma diminuta luz azul neon piscava discreta e carinhosamente. O robô o olhou com curiosidade.

- É o que penso que é?

- Sim, meu amigo. É para sua alma. Um esconderijo para ela.

O robô avançou um dedo brilhante de metal e, com muito carinho, brincou com o pequeno aparelho, empurrando-o para lá e para cá... Havia um sorriso suave em seus olhos, percebeu a psicóloga, e em sua voz quando ele sussurrou: - Um capturador de almas...

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