EmmaCortar o cabelo não é igual arrancar um braço ou uma perna, mas cortá-lo parecia doer como se eu estivesse perdendo um membro importante do meu corpo. Eu sabia que ele crescia, que se eu tivesse sorte de viver por mais um ano, ele estaria grande, novamente, tão bonito quanto agora, mas ver a tesoura cortando minhas mechas e, logo em seguida, a máquina passando pelo meu couro cabeludo me fez derramar lágrimas.Ninguém deveria ser obrigado a rapar a cabeça, mas a doença não deixaria nenhum único fio sobrar e eu não suportaria ver meu cabelo cair lentamente sem que eu pudesse fazer nada. Eu tentei ser forte, enxergar o lado positivo, aquele onde havia esperança de vê-lo crescer como uma planta, mas foi inevitável a dor que senti.Quando olhei para o espelho, vi o reflexo do Gregory logo atrás de mim. Seus olhos brilhavam com uma tristeza profunda, mas ele ensaiou um sorriso para tentar demonstrar que estava tudo bem. Nunca imaginei me sentir mal por ver Gregory sofrer, ainda mais sa
Emma.A doença havia dado uma trégua.Eu e Gregory não falamos mais no assunto da doença pelos dias em que ficamos na Espanha. Tudo estava tão perfeito que eu não queria voltar para casa, para aquela realidade onde tinha Mason, Edward, Ayla e tantas outras pessoas que eu não queria mais ver.Eu estava abraçada com ele na cama, ouvindo seu coração bater, quando o celular dele vibrou ao lado. Gregory não se mexeu. Ele dormia tão profundamente que, nem mesmo se tivesse barulho, ele se levantaria para atender. Estiquei o braço e peguei o aparelho. Na aba de notificação havia uma mensagem do advogado de Gregory dizendo que ele precisava voltar para assinar os documentos.Gregory se moveu, coloquei imediatamente o celular de volta. Nós não tínhamos o hábito de mexer nas coisas do outro. Gregory não olhava meu celular e eu não olhava o dele. Em tempo atrás, eu nem ousaria tocar naquele aparelho. Lembro-me de Gregory sempre o manter longe do meu alcance enquanto trocava mensagens íntimas com
GregoryEu ainda não conseguia acreditar que a herança pela qual lutei tanto finalmente era minha. A mensagem que recebi naquela manhã dizia que eu precisava assinar os documentos e tudo o que o meu avô me negou seria passado para mim.Olhei para Emma e senti que nada mais parecia fazer sentido. Eu trocaria tudo o que eu havia conquistado para salvar a vida dela. Mesmo que eu tenha lutado bravamente por aquele dinheiro, se Emma não estivesse comigo para desfrutar desses benefícios, nada valeria a pena.Ela me perguntou se havia algum problema, covardemente neguei qualquer informação. Eu ainda procurava uma maneira de contar para Emma toda a verdade, até que encontrasse essa solução. Eu seguia mentindo, enganando-a, sabendo que, quando Emma soubesse, jamais me perdoaria.Qualquer um entenderia que eu havia usado ela e a doença para conseguir a bondade de Helena, mas eu não havia pedido nenhuma vez para o testamento ser alterado. Helena fazia isso mais pela minha mulher do que por mim,
Gregory— As câmeras foram instaladas, senhor — o chefe de segurança entrou no meu escritório para concluir sua tarefa.— Todas, você tem certeza? — eu olhei em seus olhos, investigando-o. Eu não podia deixar nada passar.— Certeza, senhor. Se alguém entrar na mansão, saberemos.Nem mesmo assim eu me sentia seguro ou tranquilo. Agora que toda a herança do meu avô havia sido dada a mim, eu podia imaginar a fúria dentro de Edward. O objetivo dele sempre foi me destruir, antes mesmo de nosso avô perecer. Agora que o jogo virava e a situação parecia favorável a mim, Edward não ficaria parado observando eu vencer.— Ótimo! — eu peguei minha maleta sobre a mesa, dei uma última olhada em minha aparência refletida no espelho, percebendo que eu estava pronto para ir assumir o meu lugar.Estranhamente, eu não estava feliz como imaginei que ficaria. A sensação de estar enganando a Emma queimava dentro de mim. Eu já havia aprendido da maneira mais cruel o preço pago pelas escolhas erradas que faz
Eu consegui ver a hora exata em que correram para socorrer Helena, para levá-la até o hospital. Se a intenção de Edward era causar o caos, ele havia conseguido. Abandonei tudo para acompanhá-la. Em outros tempos, eu não importaria em deixá-la em um hospital sob os cuidados de qualquer pessoa que não fosse eu, mas agora eu me importava. Helena era o único familiar vivo que eu tinha.Única porque para mim, Edward não era nada. Ele nasceu para tornar a minha vida insuportável e estava conseguindo. Ele só descansaria quando tirasse tudo de mim e um pouco mais. Eu tentei esquecer toda a confusão e ajudar Helena. Eu sabia que minha presença só implicaria na piora da sua saúde, mas eu não podia deixá-la sozinha nesse momento.Quando entrei na ambulância, ela olhou para os meus olhos e disse, com a voz embargada:— Eu desconfiava que você e a Emma não se amavam de verdade.— Vamos deixar essa conversa para depois — eu virei o rosto contra o dela —, precisa se concentrar na sua saúde agora.—
Eu vivia horas de dor e tristeza, enquanto velava o corpo da minha mãe e sepultava-o ao lado de seus irmãos. Encarei a lapide recem posta e deixei o desespero tomando conta de mim. Um resmungo de protesto rasgava minha garganta, enquanto eu voltava para casa, sozinha. Eu teria que enfrentar meu inferno, sem ninguém que pudesse me defender do meu padrasto. — Ao menos a senhora está livre daquele monstro, mãe – murmurei enquanto enxugava as lágrimas insistirem em cair do meu rosto – eu vou ter que aprender a viver sozinha e enfrentar o castigo que a senhora deixou para mim. Passos apressados vieram em minha direção, assim que me aproximei da casa. Girei o pescoço rapidamente e meu coração disparou quando eu avistei alguns homens caminhando em minha direção. Eu conhecia bem um daqueles rostos e não gostei de vê-lo ali. — Mason – minha voz escapou em um sussurro no mesmo momento em que eu me erguia lentamente para olhar em seus olhos. Ele se aproximando cada vez mais – o que diabos es
De repente, eu estava sozinha naquele quarto com mais perguntas do que respostas. Deixei uma lagrima escorrer pelos meus olhos e logo me vi desesperada para fugir dali. Como eu poderia estar casada com um homem que eu não conhecia? Eu jamais aceitaria essa situação em minha vida. Decidi que não podia permitir que a consumação acontecesse, afinal eu não suportaria que nenhum homem me tocasse outra vez. Enxuguei o rosto e, quando me levantei, percebi vestir roupas novas e limpas. Me assustei ao me deparar com o reflexo do meu rosto no espelho. Meu nariz estava vermelho e todo inchaço sobressaia até em um dos meus olhos. Eu mal me lembrava do que havia acontecido, certamente Mason me bateu com tanta força que desmaiei. Com cuidado, caminhei até a porta, torcendo para que ela não estivesse trancada. A brisa noturna acariciou meu rosto quando eu a abrir. Saí silenciosamente do quarto, me deslizando pelo corredor largo e pouco iluminado. Eu não fazia ideia para onde eu estava indo, aque
Os dias se arrastavam enquanto eu passava a maioria do tempo trancada no quarto. O único rosto familiar que eu via era o de Samantha, que aparecia às vezes ao dia para trazer meu alimento. Outras vezes, uma empregada mais nova vinha em seu lugar, mas ela não dizia nada e nem sequer olhava em meus olhos. Entrava, deixava a comida posta sobre a mesa e saía em seguida. Os hematomas em meu rosto estavam quase sarados, o que me deixava bastante apreensiva. Eu presumia que, assim que eu melhorasse, Gregory entraria por aquela porta e exigiria que eu cumprisse meu papel de esposa. Eu ainda considerava a atitude dele em não me procurar mais bastante estranha. Desde aquela noite em que ele me pegou em fuga, nunca mais o encontrei. Em algumas noites, eu ouvia sua voz e seus passos descendo as escadas. Depois, eu ia para a janela e o via entrar em um carro e sair às pressas. Às vezes, Gregory voltava de madrugada ou apenas no dia seguinte. A vida daquele homem era um mistério para mim. Porém