Mãos Dadas

— Eu... Olha ... — Gabriel tentava falar que aquela era a segunda vez que beijava alguém na vida, mas se lembrou que já tinha contado vantagens a noite então desistiu de continuar.

— Eu sou engenheiro, pego alguns projetos aleatórios da Sians, e tenho uma outra profissão, mas essa é segredo, por fim tenho moradia estável na capital, mas nunca fico em casa por causa das obras, a Sians me tira o coro, quando não estou trabalhando estou sempre fazendo trilhas e acampando, a natureza me faz bem... Acho que isso é o básico... — A naturalidade com que Henry mentia chegava a ser assustadora.

— Eu... Sou representante de venda pela imobiliária Dam, e trabalhava no escritório da Reiar, eu era secretário e fazia alguns serviços no RH quando era necessário... — Pelo menos nessa parte Gabriel não precisava mentir, ele fazia esses serviços de fato.

— Uma criança crescida... Teve que amadurecer muito rápido Gabriel...

— Sim, mas eu até gosto, meio que me sinto útil, embora as vezes queira me isolar das pessoas, não sou muito de visitar meus vizinhos, ontem acabei ficando pro jantar, mas eu sempre procuro voltar pra casa ainda na luz do dia.

Henry sentia as mãos de Gabriel encolhidas dentro do abraço, sentia o calor do hálito do mais novo quando falava contra seu peito, e sabia o quanto o garoto era carente e estava se fazendo de forte.

— Eu... Posso ser injusto com você agora, tenho 35 anos e basicamente sei o que está sentindo, tenho mais experiência de vida, e não é só a vergonha e o constrangimento, tem mais coisa aí...

— Poderia parar de ler minhas atitudes... E sim é injusto demais você conseguir ler meus movimentos... — Gabriel pediu afinal suas mentiras colavam com todos, mas ali parecia ser diferente.

— A gente se desentendeu ontem brevemente, não vamos fazer isso hoje... Pode ser? — Gabriel baixou um pouco a guarda e tentou controlar seus instintos naturais.

— Você é um pouco autoritário sabia?

— Vou me controlar na sua presença... E acho que preciso estar na obra em duas horas...— Gabriel dizia pensativo enquanto abraçava o mais novo, se a sirene não tocasse novamente ele pularia a janela e iria sair daquele quarto de qualquer forma.

— Só podemos sair lá fora depois que a sirene tocar, e eles só fazem isso quando acham o animal que fugiu... E eu nem sei o que aconteceu...

— Meus parceiros de equipe estão a dez minutos daqui, talvez eles saibam mais a respeito, vou m****r uma mensagem perguntando.

— Mande depois ... Não quero sair daqui agora... — Gabriel pedia um pouco mais de atenção, se sentia realmente carente.

— Hmm, mas Sinto a necessidade de ir ao banheiro também, como vamos fazer? — Henry falou divertido.

—Hn... Olhando por esse ângulo...

Henry se afastou lentamente do mais novo e lhe deu outro beijo.

— Você parece que... Bom eu vou ter que tecer esse comentário... Me parece carente e eu adoraria te mimar...

Gabriel olhou totalmente sem graça e sorriu de volta em resposta.

Henry se levantou e foi ao banheiro, lá mandou mensagem avisando que mandaria mensagens mas que tinha alguém do lado e que era para terem cuidado nas respostas, apagou as mensagens e depois de um tempo voltou ao quarto com o garoto.

Gabriel se levantou também e foi direto para um armário que era a dispensa dos quartos, lá pegou o que precisava para fazer um café e logo ligou a cafeteira, deixou a mesma cumprindo seu papel e foi para o banheiro.

Henry ficou pensativo olhando para o café caindo em gotas grossas dentro da jarra de vidro.

Nem notou Quando o Garoto loiro voltava amarrado os cabelos em um coque no topo de sua cabeça.

Henry pegou uma caneca e Gabriel também ambos se serviram e olhavam para o amanhecer através da janela da casa quando viram a casa dos vizinhos mais próximos rodeada por carros da polícia e com uma ambulância na frente da casa.

— Que merda... não é lá que seus parceiros de equipe estão? — Perguntou o loiro.

— Não, eles estão na outra que fica ao lado... Acho que medi o tempo errado são 15 minutos... — Henry respondia olhando fixamente para a casa ao longe. — “Droga já começou” — Pensou rapidamente.

— A sirene ainda não tocou, o animal não foi encontrado e pela movimentação teve vítima fatal, vou avisar Norberto... — Gabriel comentou distraído.

O loiro foi até o telefone na parede e discou para o outro cômodo.

— Bom dia Norb, vítima fatal na casa dos Valen, pegou alguma coisa no rádio? — Perguntou o loiro de forma direta.

— Bom dia, não lembramos de trazer o rádio aqui pra cima, e pelo celular estão cobrindo os fatos, como sabe que foi fatal? — sua voz tinha uma entonação preocupada. — “ Então já começou” — pensou o homem do outro lado da linha.

— Foi assim ano passado, as viaturas e a ambulância e da janela da pra ver que não estão fazendo buscas e sim apenas parados ali...

— Vou ligar para os Duck, eles moram mais perto dos Valen vão saber informar melhor. — O senhor Clan, comentou, mas não faria ligação alguma.

Gabriel colocou o telefone na parede novamente e ficou ali se perguntando como isso teria acontecido.

— Os Valen são cuidadosos, eles entram em casa as 17 horas, e só saem pela manhã, para o trabalho na cidade, eles levam a sério o toque de recolher aqui dentro da reserva. — Falou Gabriel novamente encarando a janela.

— Vou perguntar aos meus companheiros...—

Henry pegou o celular e mandou uma mensagem diretamente para Jonas.

— " Como estão as coisas?"

— " Um homem na casa dos 60 anos, arranhões no corpo, marcas de garras, lobos é a aposta dos policiais, estamos em um quarto no segundo andar, mas conseguimos escutar esse detalhe..."

— " Me mantenha informado e avise que estamos acuados na reserva."

— " Já fizemos isso"

Gabriel notou nas mensagens que a pessoa que respondia Henry, estava dando ao mesmo uma importância relevante, mas não comentou nada. Voltou a olhar a situação de longe pela janela.

Henry logo se aproximou e o abraçou pelas costas, sentiu o mais novo estremecer.

— Calma... — Sussurrou contra o ouvido do mais novo.

— Eu tenho uma dúvida... O que está acontecendo aqui? — Gabriel estava totalmente sem graça ao falar, tinha de fato deixado se levar pela carência e tinha gostado.

— Bom a gente ficou... Eu acredito que podemos estar nos conhecendo... mas isso pode evoluir... Depende do que você quer também, ou vai me deixar comandar você... — Henry tinha a voz um pouco rouca e ao mesmo tempo suave, Gabriel ficou completamente abobado diante da situação.

— Eu... Não sei como funciona essas coisas direito...

— Eu te ensino aos poucos... — falou o ruivo roçando a ponta do nariz no pescoço do mais novo e o abraçando um pouco mais forte, apenas para colar os corpos.

Gabriel não sabia o que pensar exatamente daquele momento, até que os pensamentos do loiro são interrompidos pelo barulho da sirene, mas não era uma normal era uma que indicava que os guardas iriam de casa em casa para dar instruções.

Imediatamente os dois afastaram o móvel da frente da porta e se encontraram no corredor com Ana e Norberto, ficaram ali aguardo um guarda vir falar com eles.

Logo escutaram um sino, era o aviso para saírem do abrigo e receber as instruções.

— Pessoal, toque de recolher, as dezessete horas todos dentro de casa e que bom te encontrar aqui Gabriel, sua reforma e dedetização vai ter que esperar um pouco, não achamos o animal que causou a morte do senhor Flin Valen, encontramos uma matilha inteira de lobos que se mataram entre eles e uma fêmea viva, muito machucada, acreditamos que foi a única a entrar no cio na temporada e os machos ficaram loucos, é a melhor hipótese até agora, mas pela contagem falta um macho aqui da reserva. — Explicou o guarda olhando diretamente pra Henry, e em seguida desviou o olhar aos outros.

— Que achem logo o animal, minha casa não está em condições de ser habitável... — Gabriel falou irritado.

— E ninguém sai sozinho da reserva, saiam em duplas, pelo menos até investigarmos tudo e sem especulação, sabemos que vocês tem rádios amadores e capitam nossos sinais... Mas sem especulação. — Advertiu o outro guarda.

— E nas propriedades de vocês também, andem em duplas, se um estiver na cozinha o outro também deve estar e sempre com o dispositivo de alarme junto a vocês, Norberto, abra o celeiro, precisamos averiguar.

Norberto levou os dois guardas até o local Henry chamou os dois parceiros que estavam mais próximo para virem até onde ele estava.

— Droga... O ruim de morar sozinho é ter que esperar um guarda vir pra me levar em casa...— Falou Gabriel e antes mesmo de começar a se stressar um dos guardas retornava e logo o acompanhou até sua casa para que ele pudesse pegar suas coisas, como uma muda de roupas, dinheiro e seu notebook.

Próximo a casa de Norberto estava já Henry com seus dois companheiros de equipe.

— Chefia... — Jonas vinha rindo debochado.

—Estamos ferrados e mal pagos aqui, os guardas vão ajudar no disfarce, mas vamos ter que tomar mais cuidado e eu acredito estar impossibilitado de fazer minhas atividades noturna. — Explicou Henry para um de seus companheiros que vinha a ser Jonas

— Merda... Por que cargas d'água não vai sair a noite? — Perguntou Eduard indignado.

— O garoto entrou no caminho ontem, era pra eu estar no celeiro quando a sirene tocou, e depois... Parece que o casal vai querer que a gente fique lá com eles em segurança, estou encrencado e vão ter que investigar sem mim. — Explicava Henry já irritado.

— Também entramos pelo cano... — Jonas dizia cruzando os braços.

— A família não quer presenciar a nossa morte, falaram que a cidade era mais segura e tudo mais... — Eduard explicava como tinham sido colocados na rua naquela manhã.

— Foi uma desova, o senhor Valen não morreu aqui... Acredito nisso — Henry comentou.

— O pior é que as ordens era pra esse lugar... — murmurou Eduard

— O Klaus falou com vocês, O desgraçado fez uma denuncia anônima, mandou um bilhete avisando que atacaria na reserva, Mesma forma de agir, mas desta vez ele disse que era a ultima vez e que depois daqui nunca mais ouviríamos falar dele. — A voz de Henry agora era de dar medo, a entonação era de ameaça.

— Falamos mais tarde o loirinho tá voltando...— Jonas avisou

— Pelo menos uma coisa boa nesse fim de mundo. — Comentou o ruivo ao se aproximar de Gabriel.

— O chefe se apaixonou... Jonas estamos órfãos... — Brincou Eduard, pois ele sabia que Henry sempre achava uma distração em todas as missões.

— Cala boca Eduard, vai deixar meu... Futuro namorado sem graça... — pronunciou as palavras olhando diretamente para Gabriel.

O loiro escutou a última parte da conversa e não se atreveu a se aproximar.

E logo eles escutaram a Dona da casa chamar.

— Venham, tomem um café da manhã reforçado com a gente. — Gritou Ana da varanda.

Os três acompanhados por Norberto foram para a casa, os guardas já tinham partido e agora o clima entre Gabriel e Henry estava meio estranho, Gabriel tinha escutado e estava envergonhado, Henry ria de canto, os outros dois olhavam curiosos para o loiro.

O silêncio parecia que iria prevalecer até que que Norberto abre a boca.

— Olha... O celeiro ainda está disponível, se os Duck pediram pra vocês dois irem pra cidade e os dois aqui vão ficar no andar de cima, acho que podem ficar no celeiro, não é seguro, para nenhum de nós, mas a fêmea já foi separada e está no veterinário, o lobo não vai atacar novamente, mas ele pode acabar aparecendo por aqui guiado pelo cheiro de comida das casas...

— A gente aceita, daqui até a obra são dez minutos de carro, se a gente for para o centro, vamos perder uma meia hora... Sem contar o gasto. — Explicava Eduard.

— Cara, Você só pensa em economizar? — provocou Jonas apontando uma colher para o mais velho.

— Claro...

Enquanto os outros conversavam, Henry por baixo da mesa segurou a mão de Gabriel que ficou com o rosto em chamas.

O loiro não falou nada, mas ficou ali e devolvia o aperto nas mãos de Henry que riu um pouco da situação.

Após o café da manhã eles foram para o carro de Henry, e o dono do carro levou Gabriel para o lado de trás da casa.

— Bom dia e cuidado loirinho. — Sussurrou o ruivo dando um selinho em Gabriel.

— Seja mais discreto por favor, eu não saio com uma placa na cabeça avisando que sou gay.— Gabriel estava mais sem graça do que o normal, até sentir Henry o puxar pela cintura e colar os corpos.

— Só se vive uma vez loirinho.... — Falou enquanto acabava com o restante do fôlego de Gabriel, durante aquele beijo, ele podia jurar que suas pernas ficaram bambas, seu coração acelerou de uma maneira que jamais havia sentido, um nó de formou em sua garganta, o frio na barriga e a sensação de que sua vida poderia acabar ali mesmo.

Henry se soltou do loiro e saiu na direção do carro colocando o óculos escuros no rosto.

Uma vez dentro do carro deu partida e seguiram para a estrada que ligava até o canteiro de obras, ainda dentro do carro Eduard e Jonas iam colocando suas fardas.

— Eu vou manter o disfarce, mas vou até lá investigar com vocês. — Avisava Henry indicando que não iria colocar sua farda.

Gabriel escorregou pela parede assim que Henry saiu e se sentou na grama, olhava pro nada, suas pernas pareciam que nunca mais recuperaram a força, seu coração estava socando violentamente sua caixa torácica, o frio na barriga que estava constante, era só pensar no beijo e já sentia aquilo, não era seu primeiro beijo, mas aquele havia marcado o loiro, as sensações ainda mais fortes do que quando estava sendo devorado com luxúria pela boca de Henry.

Demorou uns 20 minutos ali até se recuperar, logo deu a volta na casa entrando pelos fundos

— Gabriel, pensei que estava no quarto...— Ana comentava lavando as louças do café.

— Estava lá fora, é apenas um lobo, e deve estar machucado, e Norberto? — Perguntou enquanto começava a ajudar Ana com a louça.

— Ele está no andar de cima abastecendo as coisas, e depois é bom vocês irem juntos até o celeiro e trocar os lençóis e limpar os dois quartos.

— Não precisa pedir duas vezes...

E no mais a rotina da casa era das mais básicas possíveis, Gabriel ficou a maioria do dia no andar de cima negociando imóveis, e tentando se esquecer do beijo.

Ele não ia nem ao menos querer descer pra jantar quando Henry chegasse estava morto de vergonha, porém naquela noite Gabriel ligou avisando que ficariam mais tempo no canteiro de obras por isso dormiriam em um hotel no centro.

Henry tinha ligado para o fixo da família, e Gabriel ficou um pouco chateado com aquilo, mas acabou se animando novamente com o clima animado de Ana e Norberto.

Leia este capítulo gratuitamente no aplicativo >

Capítulos relacionados

Último capítulo