Cassie praticamente fingia que não me conhecia e me ignorava todas as vezes em que eu tentava falar com ela. Era surreal. Ela tinha o direito de ficar brava, eu não podia mudar isso, entretanto, aquela atitude birrenta excedia todos os limites. Estava encostado na sacada de vidro e imaginei que a minha expressão não era das melhores, pois o Paolo vinha me perguntar se estava tudo bem de cinco em cinco minutos, mesmo eu afirmando em todas elas. Avistei Cassie chegando perto de mim e a acompanhei com o olhar conforme ela se aproximava.- Vou embora com a Suzi e dormirei na casa dela – avisou como se não fosse nada demais me lançando um sorriso petulante.Dei uma risada de escárnio e a olhei incrédulo.- Você não está falando sério.- Pode apostar que eu estou – retrucou com o sorriso perdurando em seu rosto.- Mas que caralho, Cassie! Para com essa merda, já deu. Olha só o que você está fazendo – disse, tentando controlar o tom de voz, embora soubesse que a minha expressão esbanjava irr
- Eu sei que não é da minha conta, mas não acho uma boa ideia você voltar para casa dirigindo – ele desviou a atenção da vista à frente e me fitou, fazendo com que o seu olhar encontrasse com o meu, que o encarava. A meia luz iluminava o seu rosto, os seus olhos opacos pareciam querer desvendar os meus através da ausência de som. Por alguns instantes eu me senti desconcertada, a sua análise curiosa e silenciosa fez algo se desorganizar dentro de mim e eu queria muito que, seja lá o que fosse, parasse imediatamente. Como em um lampejo John voltou a se concentrar no horizonte de prédio e luzes, quebrando aquele estranho contato visual. Eu pisquei algumas vezes também voltando à realidade e sentindo o meu rosto esquentar.- Vou pedir um táxi e amanhã venho buscar o carro – respondeu a minha pergunta anterior, tomando o último gole da água que eu havia lhe trazido.Eu assenti silenciosamente e resolvi que era hora de sair dali e procurar pela Sophie, apesar de ter uma noção sobre onde – e
Passei as mãos no rosto e bufei, cansado. Sentei-me em uma das poltronas que ali ficavam e eu acendi um cigarro, tragando-o como se o ato tivesse a capacidade de fazer sumir a tal sensação esquisita.Permaneci mirando o nada por não sei quanto tempo, contudo, despertei ao ver Helena sair com um saco preto em mãos, o deixando dentro do compartimento fixado à parte mais afastada da casa. De longe, enxerguei Bento correr até ela, que se abaixou para brincar com o cão saltitante. O Pastor Alemão ergueu a cabeça e detectou a minha presença mais afastada, iniciando uma onda de latidos enérgicos que obrigou Helena a seguir o som agudo à procura do que o deixava tão agitado, logo me alcançando com o seu olhar. Ao contrário do que lhe era usual, a garota não sorriu ou acenou. Ela simplesmente voltou a prestar atenção no Bento como se nem houvesse me visto, me ignorando prontamente. Tal atitude não era normal, o que me motivou a levantar-me e rumar ao lugar em que Helena e o meu cachorro se en
A noite estava fria, o vento forte fazia com que as folhas das árvores balançam violentamente, indicando que certamente uma chuva intensa começaria a cair a qualquer minuto. Embora a temperatura estivesse baixa, frio era o que eu menos sentia naquele momento, haja vista que eu não parava um minuto sequer, pois me desdobrava entre colocar champagne nas luxuosas taças de cristal e arrumar os quitutes sofisticados na bandeja, a fim de que todos fossem levados dali pelos garçons e garçonetes contratados para aquele típico evento da classe alta. Olhei aquela cozinha abarrotada de pessoas que corriam de um lado para o outro, todas focadas em fazer o seu trabalho da maneira mais impecável possível, levando em conta que aquela era mais uma das tantas exímias festas da brilhante e popular família Carter, conhecida por sua tradição no ramo de advocacia, onde Kyara e Henrico Carter formavam o casal mais prestigiado nesta área.Kyara é a advogada mais influente na área de Direito de Família, on
“Pensei que tivesse se perdido pelos cômodos.” minha mãe comentou em um tom brincalhão.“Fiquei procurando as coisas, tive que ir até a despensa” respondi “O que eu faço agora?” indaguei olhando em volta.“Por enquanto nada, filha. Pode descansar. Se eu precisar de algo, te chamo” ela preparava alguns quitutes que pareciam maravilhosos. Eu peguei um e recebi um olhar repreendedor. Ri e olhei pela janela, percebendo que, como previsto, uma chuva tórrida começava a cair.De longe, ouvia-se a melodia suave de alguma canção. Fui à sala de jantar e me aproximei cuidadosamente da porta que dava para a enorme sala de estar, onde a festa acontecia. Tentei ficar o mais escondida possível, dado que não desejava parecer curiosa ou intrometida. Eu apenas gostava de apreciar o ambiente e as sempre lindas decorações que eram criadas. Diversas pessoas encontravam-se distribuídas por ali, todas em seus trajes luxuosos, rindo e conversando, como no mais perfeito comercial de leite em pó. Os garçons c
O domingo amanheceu ensolarado, embora a temperatura não estivesse alta. O céu estava limpo e extremamente azul, nem parecendo que uma forte chuva caíra na noite anterior. Eu brincava com Bento no gramado descampado há horas, já me sentia cansada e com dor nas pernas – sedentarismo mandou olá, Helena – não vendo um mísero sinal de exaustão no pastor alemão, que procurava a bolinha que eu acabara de jogar. A casa estava vazia, pois, mais cedo, todos foram tomar café da manhã fora e acompanhar o senhor Henrico ao aeroporto, pois ele viajaria dali a poucas horas.— Não, Bento! Na lama não. - corri para tentar alcançá-lo e impedi-lo de ir para o jardim, caso contrário, o estrago seria muito feio. —BENTO, VOCÊ QUER ME VER MORTA? VOLTA AQ… - ia terminar de gritar pelo cão que corria feliz em direção ao seu destino proibido, até que tropecei nos meus pés, caindo igual abacate cai do pé. Como em um passo mágica, Bento parou imediatamente de correr e olhou para trás, e acredite, se cachorr
John’s POV— Esse relatório está incompleto, Thompson! - Chamei a atenção de um dos advogados do escritório pela milésima vez. Meu pai deixava os documentos de diversos casos sob minha responsabilidade sempre que ele viajava, o que eu sabia que gerava inúmeros comentários sobre eu ter preferência ou abusar do poder, já que era filho do dono. Não me importava com isso, afinal, eu era realmente muito bom no que fazia, e, conhecendo o meu pai – que venerava seu trabalho como um bom workaholic* – ele não me deixaria no comando de nada caso soubesse que eu não possuía competência para tal. Eu também tinha consciência de que todos – senão a maioria – das pessoas me denegriram pelas minhas costas por eu repreendê-los. Bom, se você percebe que algo está errado, ou extremamente longe do seu melhor, você toma as devidas providências, não é mesmo? O mais interessante de tudo é que essas mesmas pessoas que me criticam em minha ausência, puxem meu saco quando estou presente. Incoerente? Eu sei
John’s POVEu elaborava a tese de defesa do meu cliente estudando minuciosamente todos os argumentos que poderiam ser utilizados a fim de conseguir sua absolvição. Este seria o meu primeiro caso com cobertura da mídia, e isso estava me deixando um tanto quanto nervoso, afinal, a acusação leva uma vantagem muito grande, visto que é mais fácil acusar do que defender. Lee Feldmann era empresário e havia sido acusado de assassinar o banqueiro Mason Zummack, mas estava bem nítido que por trás disso havia alguém querendo incriminá-lo por meio de uma falsa acusação, e eu não permitiria que uma condenação injusta levasse um inocente para a cadeia. Eu havia conseguido uma revogação da sua prisão preventiva, porém, ele ficaria em prisão domiciliar até o dia do julgamento. Larguei os papéis sob a mesa por alguns segundos e apoiei os cotovelos nela. Massageei as têmporas e soltei um suspiro cansado, repassando tudo o que me fora dito a respeito do dia do assassinato de Mason.O crime ocorreu em u