A noite estava fria, o vento forte fazia com que as folhas das árvores balançam violentamente, indicando que certamente uma chuva intensa começaria a cair a qualquer minuto. Embora a temperatura estivesse baixa, frio era o que eu menos sentia naquele momento, haja vista que eu não parava um minuto sequer, pois me desdobrava entre colocar champagne nas luxuosas taças de cristal e arrumar os quitutes sofisticados na bandeja, a fim de que todos fossem levados dali pelos garçons e garçonetes contratados para aquele típico evento da classe alta. Olhei aquela cozinha abarrotada de pessoas que corriam de um lado para o outro, todas focadas em fazer o seu trabalho da maneira mais impecável possível, levando em conta que aquela era mais uma das tantas exímias festas da brilhante e popular família Carter, conhecida por sua tradição no ramo de advocacia, onde Kyara e Henrico Carter formavam o casal mais prestigiado nesta área.Kyara é a advogada mais influente na área de Direito de Família, on
“Pensei que tivesse se perdido pelos cômodos.” minha mãe comentou em um tom brincalhão.“Fiquei procurando as coisas, tive que ir até a despensa” respondi “O que eu faço agora?” indaguei olhando em volta.“Por enquanto nada, filha. Pode descansar. Se eu precisar de algo, te chamo” ela preparava alguns quitutes que pareciam maravilhosos. Eu peguei um e recebi um olhar repreendedor. Ri e olhei pela janela, percebendo que, como previsto, uma chuva tórrida começava a cair.De longe, ouvia-se a melodia suave de alguma canção. Fui à sala de jantar e me aproximei cuidadosamente da porta que dava para a enorme sala de estar, onde a festa acontecia. Tentei ficar o mais escondida possível, dado que não desejava parecer curiosa ou intrometida. Eu apenas gostava de apreciar o ambiente e as sempre lindas decorações que eram criadas. Diversas pessoas encontravam-se distribuídas por ali, todas em seus trajes luxuosos, rindo e conversando, como no mais perfeito comercial de leite em pó. Os garçons c
O domingo amanheceu ensolarado, embora a temperatura não estivesse alta. O céu estava limpo e extremamente azul, nem parecendo que uma forte chuva caíra na noite anterior. Eu brincava com Bento no gramado descampado há horas, já me sentia cansada e com dor nas pernas – sedentarismo mandou olá, Helena – não vendo um mísero sinal de exaustão no pastor alemão, que procurava a bolinha que eu acabara de jogar. A casa estava vazia, pois, mais cedo, todos foram tomar café da manhã fora e acompanhar o senhor Henrico ao aeroporto, pois ele viajaria dali a poucas horas.— Não, Bento! Na lama não. - corri para tentar alcançá-lo e impedi-lo de ir para o jardim, caso contrário, o estrago seria muito feio. —BENTO, VOCÊ QUER ME VER MORTA? VOLTA AQ… - ia terminar de gritar pelo cão que corria feliz em direção ao seu destino proibido, até que tropecei nos meus pés, caindo igual abacate cai do pé. Como em um passo mágica, Bento parou imediatamente de correr e olhou para trás, e acredite, se cachorr
John’s POV— Esse relatório está incompleto, Thompson! - Chamei a atenção de um dos advogados do escritório pela milésima vez. Meu pai deixava os documentos de diversos casos sob minha responsabilidade sempre que ele viajava, o que eu sabia que gerava inúmeros comentários sobre eu ter preferência ou abusar do poder, já que era filho do dono. Não me importava com isso, afinal, eu era realmente muito bom no que fazia, e, conhecendo o meu pai – que venerava seu trabalho como um bom workaholic* – ele não me deixaria no comando de nada caso soubesse que eu não possuía competência para tal. Eu também tinha consciência de que todos – senão a maioria – das pessoas me denegriram pelas minhas costas por eu repreendê-los. Bom, se você percebe que algo está errado, ou extremamente longe do seu melhor, você toma as devidas providências, não é mesmo? O mais interessante de tudo é que essas mesmas pessoas que me criticam em minha ausência, puxem meu saco quando estou presente. Incoerente? Eu sei
John’s POVEu elaborava a tese de defesa do meu cliente estudando minuciosamente todos os argumentos que poderiam ser utilizados a fim de conseguir sua absolvição. Este seria o meu primeiro caso com cobertura da mídia, e isso estava me deixando um tanto quanto nervoso, afinal, a acusação leva uma vantagem muito grande, visto que é mais fácil acusar do que defender. Lee Feldmann era empresário e havia sido acusado de assassinar o banqueiro Mason Zummack, mas estava bem nítido que por trás disso havia alguém querendo incriminá-lo por meio de uma falsa acusação, e eu não permitiria que uma condenação injusta levasse um inocente para a cadeia. Eu havia conseguido uma revogação da sua prisão preventiva, porém, ele ficaria em prisão domiciliar até o dia do julgamento. Larguei os papéis sob a mesa por alguns segundos e apoiei os cotovelos nela. Massageei as têmporas e soltei um suspiro cansado, repassando tudo o que me fora dito a respeito do dia do assassinato de Mason.O crime ocorreu em u
— Oi, mãe. - depositei um beijo em seu rosto e sentei-me no sofá a sua frente.— Oi, filho. Chegou agora? - perguntou, me observando por cima do livro.— Agora a pouco. - respondi, jogando a cabeça no encosto do sofá e afrouxando a gravata que parecia querer me sufocar. — e você? Chegou do escritório há muito tempo?—Sim, cheguei há algumas horas.— Não está se esforçando demais, certo? O doutor deu ordens claras para você se cansar o mínimo possível.- a adverti me referindo aos seus desmaios recorrentes. — Eu estou bem, filho. Ficaria pior estando em casa sem fazer nada. Agora me responda... O que você estava falando com a filha da Mary?- levantei a cabeça e a olhei sem entender. Como ela havia visto? Eu não me importava que ela visse, não tinha nada a esconder, porém, chamar a minha atenção por algo tão banal me parecia bem incoerente.— Fui buscar o Bento que estava com ela. - continuei a encarando curioso e meio incerto sobre a sua pergunta repentina.— Hm. Desde quando vocês co
Direcionei-me à minha casa extremamente desanimada e frustrada, amaldiçoando Bryan por ter acabado com o meu bom humor, além de ter criado todo esse drama desnecessário quando tudo o que ele deveria fazer era fingir que eu não existo, tal como já havia feito tantas outras vezes. Joguei a minha bolsa em um canto da sala e pulei no sofá, fechando os olhos e sentindo o meu corpo relaxar, apesar da minha cabeça me torturar com uma dor desagradável. De repente me recordei do dia em que Bryan falara comigo pela primeira vez.FLASHBACKEncarava esgotada a terceira página de exercícios de matemática, sentindo o meu pulso doer de tanto escrever, anotar e apagar. Estava sentada em uma pequena mesinha que eu havia colocado na varanda para que estudar nos dias quentes ficasse mais agradável. Havia passado a tarde toda estudando, o último ano do colégio estava extremamente puxado e eu fazia o máximo para conseguir absorver todas as matérias, haja vista que tudo o que eu desejava era entrar na facu
John’s POVEu me sentia extremamente sem paciência.O que era para ser um dia agradável na companhia dos meus amigos acabou se transformando em um stress que poderia – e deveria – ser evitado, se não fosse Bryan e a sua infantilidade. Falar daquela forma com a Helena foi desprezível, ela havia ficado desestruturada e eu me incomodei com o pesar em suas feições enquanto ouvira as provocações do meu amigo, por isso, decidi intervir, embora tenha sido tarde demais levando em conta o tapa que a garota deu nele. Para ser sincero, fiquei admirado com a sua coragem em falar daquela forma tão confiante.Geralmente eu presenciava as provocações de Bryan direcionadas a ela, que sempre rebatia dignamente, e tudo o que eu fazia era observar o seu posicionamento diante do comportamento imaturo do meu amigo – comportamento este que eu reprovava plenamente – Eu já pensei em repreendê-lo diversas vezes, entretanto, Helena habitualmente tomava as rédeas da situação e se defendia muito bem, era interes