Chapter 3

O domingo amanheceu ensolarado, embora a temperatura não estivesse alta. 

O céu estava limpo e extremamente azul, nem parecendo que uma forte chuva caíra na noite anterior. 

Eu brincava com Bento no gramado descampado há horas, já me sentia cansada e com dor nas pernas – sedentarismo mandou olá, Helena – não vendo um mísero sinal de exaustão no pastor alemão, que procurava a bolinha que eu acabara de jogar. 

A casa estava vazia, pois, mais cedo, todos foram tomar café da manhã fora e acompanhar o senhor Henrico ao aeroporto, pois ele viajaria dali a poucas horas.

— Não, Bento! Na lama não. - corri para tentar alcançá-lo e impedi-lo de ir para o jardim, caso contrário, o estrago seria muito feio. —BENTO, VOCÊ QUER ME VER MORTA? VOLTA AQ… - ia terminar de gritar pelo cão que corria feliz em direção ao seu destino proibido, até que tropecei nos meus pés, caindo igual abacate cai do pé. 

Como em um passo mágica, Bento parou imediatamente de correr e olhou para trás, e acredite, se cachorro desse risada, ele estaria rindo. Eu estava estatelada no chão sentindo as minhas roupas sujas com a grama ainda úmida da noite de ontem. 

O cão veio em minha direção, sentando-se na minha frente, e eu bufei, visto que ele finalmente parou de correr, mas eu precisei levar um tombo feio para que isso acontecesse.

—Está satisfeito? Hoje o Taz-Mania* possuiu você ou coisa do tipo? - E lá estava eu, batendo papo com um cachorro que me observava como se eu fosse louca, enquanto permanecia jogada na grama, bem do jeito que caí. — Até que é gostoso ficar deitada aqui, sabe? Acho que dá pra te entender. - Virei de barriga pra cima, me rendendo, já que as minhas roupas estavam sujas de qualquer forma, e encarei o céu límpido. Bento deitou-se ao meu lado e eu comecei a acariciá-lo. Não sei por quanto tempo fiquei daquela forma, me sentindo totalmente relaxada, porém, despertei subitamente ao ouvir aquela voz grave, que parecia estar perto demais.

— Bento! - Chamou, atraindo a atenção do cachorro que levantou a cabeça com as orelhas arqueadas. Ergui-me rapidamente, passando as mãos na minha roupa repleta de grama, um tanto quanto atordoada. 

John estava com uma roupa de corrida e a coleira do Bento em mãos, alternando o seu olhar entre mim e o cão, já posto de pé ao meu lado. 

Ele fez o típico cumprimento acenando a cabeça e eu lhe respondi com um sorriso, já saindo dali quando repentinamente senti um tranco no meu corpo e mais uma vez o baque do chão. 

Bento pulou em mim, me levando a cair de bunda, começando a me farejar e intercalando o ato com lambidas frenéticas no meu rosto. O que tinha dado naquele cachorro? Eu fui pega totalmente de surpresa e só conseguia tapar o rosto e rir, tentando me levantar e me liberar do cão eufórico.

— Bento, para! - John falava e tentava, com dificuldade, afastá-lo. 

Vendo que seu cachorro não pararia tão cedo, ele veio por trás de mim, passando seus braços por debaixo dos meus e me levantando de uma vez só e, no ato, as minhas costas bateram contra o seu peitoral, nos fazendo cambalear um pouco para trás. Como se percebesse o meu embaraço, Bento parou com a exaltação e passou a me encarar a mim e John, que me soltou delicadamente, indo colocar a coleira nele. Passei a mão nos meus cabelos na tentativa de ajustá-los um pouco, ainda atônita.

— O que te deu, hein, cara? - John perguntou para o cão, que fingia que nem era com ele e pousou seus olhos em mim. — Ele machucou você? - questionou, me analisando, e eu neguei.

— Não, ele só está um pouco agitado hoje. - Respondi e ele concordou com um maneio de cabeça.

—Vou cansá-lo mais um pouco, então.- Deu um singelo sorriso ladino. —Tem grama no seu rosto.- Avisou e saiu com um Bento saltitante. Eu dei um sobressalto, passando as mãos nas bochechas rapidamente, já vendo os dois se afastarem e John começar o seu cooper com o pastor alemão. E novamente a cena de comercial estava lá.

Voltei para casa e encontrei minha mãe estudando algumas receitas de bolo, que era o que ela mais gostava de fazer.

— Que bom que você está em casa. - Comemorei ao vê-la sentada lendo.

— Consegui terminar tudo mais cedo. - sorriu satisfeita. — o que aconteceu com você? Está toda suja de grama e terra.- disse, me analisando.

— O Bento estava feliz demais e me fez ir de encontro com o chão duas vezes.- ri, indo em direção ao banheiro, afinal, precisava urgentemente de um banho.

**

Assim como o domingo chegou rápido, passou na mesma proporção. A segunda-feira iniciou-se preguiçosa como de costume, e a cafeína era o que me mantinha desperta àquela manhã. 

Estávamos na última aula e aguardávamos o professor chegar, durante esse tempo eu conversava com Sophie, minha melhor amiga e colega de sala. Nós nos conhecemos no primeiro dia de aula da faculdade, não nos desgrudando desde então. 

Ela era uma pessoa incrível. Embora tenha a mesma condição financeira de John e a maioria das pessoas que eu conhecia, Sophie nunca torceu o nariz ou me tratou com indiferença por saber que a minha classe social estava muito abaixo da dela. Parece absurdo ficar feliz por algo que deveria ser normal – saber lidar com diferenças, principalmente diferenças sociais – no entanto, pode acreditar... Não é.

— Como foi a festa dos Carter? Ontem a Cassie postou essa foto com o John. - Sophie questionou, levantando o celular para que eu visse a fotografia dos dois abraçados. 

Cheguei à conclusão de que ele deveria sorrir mais, uma vez que ele ficava ainda mais bonito enquanto sorria. Torci o nariz e dei de ombros.

— Foi como todas as outras festas, inclusive a parte em que o Bryan aparece e tenta me irritar de alguma forma.- falei e vi a feição da minha amiga se transformar de calma, para raivosa. Ela detestava o Bryan e eu não a culpava.

— O que aquele traste fez dessa vez?

— Ele apareceu perguntando se eu estava aproveitando a festa, todo cínico. Eu dei uma resposta ignorante e ele começou com aquele papinho de que a presença dele me afeta. - Fiz uma cara de desgosto e Sophie me acompanhou.

—E o que você disse?

—Mantive a pose e basicamente respondi que não me afetava e que eu não perdia tempo com o que nada me acrescentava.

— Amiga, que baita frase efeito. Adorei!- ela exclamou, batendo palminhas. Ri e continuei.

— Eu quero distância do Bryan. - falei, soando firme. —A parte de mim que se afetava por ele desapareceu, tudo o que eu sinto é desprezo. -finalizei, sentindo a tão conhecida mágoa ressoar pela minha voz. Sophie sorriu em compreensão e colocou a mão por cima da minha, acariciando-a.

—Está certíssima, Lena. Estou orgulhosa de você! - disse sorrindo e eu sorri de volta em agradecimento.

O professor entrou na sala e todos ficaram em silêncio. – finalmente – dando início a tão esperada última aula.

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