Chapter 5

John’s POV

Eu elaborava a tese de defesa do meu cliente estudando minuciosamente todos os argumentos que poderiam ser utilizados a fim de conseguir sua absolvição. Este seria o meu primeiro caso com cobertura da mídia, e isso estava me deixando um tanto quanto nervoso, afinal, a acusação leva uma vantagem muito grande, visto que é mais fácil acusar do que defender. Lee Feldmann era empresário e havia sido acusado de assassinar o banqueiro Mason Zummack, mas estava bem nítido que por trás disso havia alguém querendo incriminá-lo por meio de uma falsa acusação, e eu não permitiria que uma condenação injusta levasse um inocente para a cadeia. Eu havia conseguido uma revogação da sua prisão preventiva, porém, ele ficaria em prisão domiciliar até o dia do julgamento. Larguei os papéis sob a mesa por alguns segundos e apoiei os cotovelos nela. Massageei as têmporas e soltei um suspiro cansado, repassando tudo o que me fora dito a respeito do dia do assassinato de Mason.

O crime ocorreu em um sítio afastado da cidade, onde acontecia uma festa que reunia diversos empresários extremamente bem sucedidos. Todos foram interrogados e nada que eu pudesse usar a meu favor foi dito, o que só me deixava cada vez mais nervoso, pois encontraram a arma do crime no estofado do carro do meu cliente. 

As câmeras, que seriam de extrema ajuda, pararam de funcionar no início do evento, só deixando pior o que já estava ruim. O culpado estava presente naquela noite e era um dos empresários convidados, e eu, com certeza, iria pegá-lo. 

Encontrava-me focado neste caso desde o momento em que pisei no escritório hoje mais cedo, logo após deixar Helena na faculdade. A cena que eu presenciei esta manhã saindo do condomínio só não foi mais engraçada, porque a situação da garota era realmente de dar pena. 

Ela corria totalmente atrapalhada conforme a forte carga d’água caía e fazia o seu guarda-chuva tornar-se inútil, os seus livros escorregaram de sua mão e eu podia apostar que aquela bolsa despencaria no chão a qualquer instante. 

Pressupus que Helena perdera a hora, o que só confirmou a minha suspeita ao ver a sua cara de sono ao me encarar com o semblante repleto de confusão. Comovido pelo que avistei, ofereci uma carona a ela, que, para minha surpresa, relutou em aceitar. Seu embaraço estava evidente na forma como fixou o olhar na janela e só o desfez para mexer em suas unhas, claramente sem jeito por estar ali comigo. Eu não a condenava, a sua atitude era plenamente cabível levando em conta que a nossa socialização era um tanto quanto limitada. Cassie desmascara novamente seu almoço comigo, pois hoje era aniversário de uma amiga sua, que planejou uma reunião no mesmo horário. Apesar de me sentir frustrado, disse que estava tudo bem, e, ao ser questionado pela minha namorada sobre eu estar chateado, neguei. Inclusive porque não adiantaria nada, de qualquer forma. No fim, eu almocei sozinho novamente e me enfiei em minha sala a tarde inteira. 

Batidas na porta me tiraram do meu pequeno devaneio. Murmurei um “entra” e a figura de Thompson fez-se presente.

—Com licença, Carter. Vim saber se você quer algum auxílio com o caso do Lee Feldmann. Deve ser difícil conseguir formular algo já que é a sua primeira defesa importante. - Ele ofertou e embora eu estivesse agradecido por sua boa vontade em ajudar, senti-me ofendido com o “deve estar difícil”. Não estava fácil, porém, nada que eu não estivesse apto a resolver.

— Obrigado, Thompson. Não será preciso, tenho tudo sob controle por aqui. - Sorri em agradecimento e educadamente recusei.

— Fico à disposição para qualquer eventualidade. - Eu assenti e ele retirou-se sem demora. Fitei os papéis e tornei a lê-los, ignorando a dor de cabeça que insistia em me incomodar.

**

22hrs15 min.

Saí do escritório mais tarde do que planejava. Dirigir com destino à minha casa implorando mentalmente por um banho quente seguido da minha cama, tendo meus ombros rígidos e uma sensação incômoda de peso tomar conta dessa mesma região. 

Embora estivesse esgotado pelo cansaço, grande parte de mim vibrava por ter conseguido pontuar diversos detalhes importantes na tese do caso Feldmann. 

Decidi que marcaria uma reunião com o meu cliente a fim de acertar o que não havia ficado claro nas conversas anteriores, auxiliando-o sobre como deveria se portar dali em diante até o dia da audiência de seu julgamento. Logo que cheguei, estranhei o fato de Bento não vir ao meu encontro como ele normalmente fazia no momento em que eu estacionava o carro, e, procurando pelos arredores da residência, o avistei deitado ao lado de Helena, que estava sentada em um banco de madeira localizado na pequena varanda da modesta casa em que morava com sua mãe. Uma coberta encontrava-se enrolada em seu corpo e também cobria o meu cachorro. Ela lia alguma coisa, passando o marca texto em algumas palavras. Lembrei-me do dia no qual a minha mãe deu a notícia de que as duas se mudariam para cá, ocupando o que antes era apenas um lugar que eu utilizava para as sociais com os meus amigos no início da minha adolescência.

FLASHBACK

Sexta feira à noite geralmente significava uma coisa: As habituais reuniões que ocorriam sempre na casa aos fundos da minha. Bryan, eu e mais alguns amigos do colégio nos juntamos para fazer o que qualquer adolescente fazia: merda nenhuma que prestasse. Nós decidíamos sobre quem iria até a minha casa com objetivo de pegar cerveja – escondido – no bar do meu pai, e, naquele momento, era a minha vez. Eu caminhava sorrateiramente pela sala, até que a minha mãe simplesmente surgiu do nada, quase me matando do coração.

—Onde você está indo, John?- questionou com o seu olhar desconfiado. Eu paralisei ali mesmo e respirei fundo, tentando achar uma desculpa cabível.

—Eu? Ah... Eu estava procurando a Mary. Queria saber se os sanduíches estão prontos.- respondi na maior naturalidade possível, agradecendo pela desculpa repentina que eu acabara de inventar. Minha mãe continuou me fitando intrigada, mas pareceu se convencer. Segurei-me para não soltar um suspiro aliviado.

— Os sanduíches estão na cozinha – frisou. – e a Mary já foi embora. Gostaria de falar sobre isso com você, aliás. Preciso que você tire suas coisas da casa perto da piscina.”

Olhei-a ultrajada, não acreditando no que ela havia acabado de dizer.

— Por quê? Como assim? – questionei mal humorado.

— A Mary está com alguns problemas, então ofereci a casa da piscina para ela e a sua filha morarem. - explicou e isso não diminuiu a minha revolta.

—  E o que eu tenho a ver com isso? Onde eu vou fazer as reuniões com os meus amigos?

—  Não fale assim, John. - repreendeu-me com o tom de voz duro e eu encolhi um pouco os ombros. Quando minha mãe ficava brava era de dar medo em qualquer um e eu imaginei que isso a ajudava muito no seu trabalho. — você e seus amigos podem fazer isso em outro lugar, eu não posso ficar sem cozinheira. Ela tinha vários problemas para resolver e faltava demais, essa foi a única saída, então não quero mais ouvir qualquer relutância da sua parte.” 

Suspirei derrotado, sem ter como argumentar.

—Eu tenho até quando pra esvaziar a casa?

— Até domingo.- assenti desanimado e fui dar a notícia aos garotos.

Naquele final de semana, no domingo, para ser mais exato, conheci Helena. A garota mais nova de semblante envergonhado me encarava com curiosidade e abaixava o olhar vez ou outra, enquanto eu devolvia o olhar, porém, emburrado.

FIM DE FLASHBACK

Balancei a cabeça em negação, quase rindo por meu egoísmo naquela época e agradecendo pela minha mudança de valores. Aproximei-me um pouco até ficar visível para o meu cachorro, que, assim que me avistou, levantou a cabeça com as orelhas arqueadas e começou a balançar o seu rabo energeticamente, porém, não desceu do banco. 

Coloquei as mãos no bolso da minha calça e ergui uma sobrancelha, sem entender.

Eu era dono de um traíra.

— Ei, o que foi? Por que você ficou agitad…- Helena iniciou a fala, mas deixou a frase morrer ao desviar a sua atenção das folhas e acompanhar o olhar do Bento, dando de cara comigo ali.

— Depois de mim, você é a única que ele obedece e é carinhoso desse jeito.- comentei. Ela olhou para o cão que ainda balançava o seu rabo alegremente, porém, agora deitado e relaxado com a cabeça sob suas patas dianteiras.

— Ele é uma ótima companhia.-  acariciou por trás de suas orelhas e sorriu. Eu concordei com a cabeça.

— Bento, vem!- bati a mão em minha perna algumas vezes para chamar sua atenção e fazê-lo vir até mim. Ele olhou para Helena e pulou do banco, andando em minha direção. Às vezes eu achava que esse cachorro começaria a falar. — Boa noite.- eu disse, já virando as costas com Bento ao meu encalço.

— Boa noite! - respondeu com a voz suave.

Entrei em casa e me deparei com a minha mãe na sala, lendo um livro sentada na poltrona em que ficava habitualmente.

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