Essa acusação veio do nada. Marília suspirou, cansada.
— Eu nem cheguei perto da cozinha o dia todo. Como poderia ter colocado algo na comida da Srta. Dália?
Clarisse cruzou os braços, lançando-lhe um olhar de escárnio.
— Só porque você não entrou na cozinha, não quer dizer que não tenha mandado alguém fazer isso por você.
Ela riu, satisfeita consigo mesma.
— Hoje de manhã, vi você e a Juli cochichando no jardim. Agindo de forma suspeita… E agora, veja só! Dália passa mal logo depois do almoço. Muito conveniente, não acha?
— Deus do céu! — Juli ergueu as mãos, desesperada. — Eu jamais faria uma coisa dessas! Sou apenas uma empregada, por que eu me arriscaria envenenando alguém?
— Então, o que estavam tramando no jardim? — Clarisse insistiu, impiedosa.
Juli hesitou, lançando um olhar nervoso para Marília.
Como poderia repetir o que conversaram naquela manhã, bem na frente de Gabriel e Dália?
O silêncio foi suficiente para condená-las.
— Peguei vocês! — Clarisse exclamou, triunfante. — Dália, quer que eu chame a polícia? Envenenar comida é quase a mesma coisa que tentativa de homicídio!
Dália soltou um gemido fraco e agarrou a mão de Gabriel, os olhos marejados de lágrimas.
— Gabi… está doendo tanto… Eu vou morrer? Eu tenho medo…
Gabriel não pensou duas vezes.
Levantou-a nos braços e saiu apressado em direção à porta.
— Preparem o carro! Vamos para o hospital agora!
Antes de sair, lançou um último olhar para Marília.
— Quando eu voltar, resolvemos isso.
O olhar gélido dele não deixava dúvidas. Para Gabriel, ela já era culpada.
Assim que saíram, Juli desabou.
— Meu Deus… O que eu faço?! Eu juro que não fiz nada!
As lágrimas escorriam pelo rosto enrugado.
— Eu só queria ganhar meu dinheiro honestamente! Não quero ser presa!
Marília sabia.
Juli não tinha colocado nada na comida.
Mas foi ela quem cozinhou.
E se não apontasse um culpado, Gabriel jamais a deixaria em paz.
— Quando ele voltar… — Marília disse calmamente. — Diga que fui eu.
— O quê?! — Juli arregalou os olhos. — Não! Senhora, não podemos admitir algo que não fizemos!
Marília riu, sem humor.
Já havia entendido tudo.
Não importava se confessasse ou não.
Gabriel já tinha decidido que era culpada.
Se o final era inevitável, que ao menos pudesse poupar Juli.
— Apenas diga o que eu pedi. — Sua voz soou firme. — Confie em mim. Eu sei o que estou fazendo.
Foram longas horas no hospital.
Quando Gabriel e Dália finalmente voltaram, já era de madrugada.
E Gabriel voltou furioso.
— Você é realmente esperta, não é? — sua voz saiu fria como gelo. — Sabia que Dália é alérgica a amendoim, então triturou amendoins e colocou no mingau dela.
Seus olhos ardiam de raiva.
— Se eu não a tivesse levado ao hospital a tempo, ela poderia ter morrido!
Ele jogou um olhar para Juli.
— Ela já confessou. Disse que foi você quem mandou.
Seu olhar escuro perfurou Marília.
— Agora quero ouvir da sua boca. Por que fez isso?!
Marília se virou lentamente para Dália.
Ela parecia frágil, deitada na cama, com o rosto pálido e os lábios trêmulos.
— Marília… — Sua voz saiu baixa, hesitante. — Eu não acredito que você faria algo assim… Deve haver uma razão, não é?
Ótima atuação.
Marília sorriu.
Olhou diretamente nos olhos de Dália.
E, sem desviar o olhar, respondeu com calma:
— Obrigada pela confiança, Srta. Dália.
Fez uma pausa.
Então, sem mudar a expressão, completou:
— Eu realmente não fiz isso.
O silêncio pesou.
Dália piscou, surpresa.
— Eu não sei por que Juli me acusou. Mas há uma solução simples para isso.
Marília virou-se para Gabriel, sua voz serena, sem hesitação.
— Chame a polícia. Se quer justiça, então vamos fazer direito. — Ela sorriu. — Eu não sou confiável, não é? Mas a polícia pode investigar.