Roman Dark Angel
Roman Dark Angel
Por: Enola Claire
Capítulo 1

LOS ANGELES

Caminhei com a bolsa a tiracolo suspirando com as pernas cansadas. Há mais de semanas busco trabalho nas movimentadas ruas de Los Angeles. Estou formada em enfermagem e depois de terminar o estágio e viver boa parte voltada a minha mãe que faleceu há um ano, sinto agora mais do que nunca que devo seguir a profissão.

Venho de uma família simples criada no interior do Texas e sou a filha mais nova de quatro irmãos. Três homens que seguiram seu destino. Dois casaram e um, chamado Donald preferiu colocar uma mochila nas costas e viajar o mundo.

Eu gostaria de ser como eles ás vezes. Não ter medo de nada, não se apegar e viver uma vida longe da civilização, em lugares distintos, ás vezes perigosos com o único propósito de encontrar heranças perdidas, fósseis e o que mais ele puder contribuir a arqueologia.

No entanto, sobrou para mim a difícil missão de ficar ao lado de mamãe, e com essa tarefa me senti impulsionada a seguir o caminho da enfermagem. Posso dizer, que dei esse orgulho a ela que muito incentivou-me.

Um pouco antes de chegar até meu pequeno apartamento, o celular toca. Atendo a chamada ouvindo meu pai.

—Alô? Quero saber como anda a mais bela de todas as garotas. —Ele diz entusiasmado.

—Você sempre com exageros, não é pai?

—Eu sei o que digo, e nunca duvide do elogio de um pai. Por onde anda?

—Buscando trabalho.

—Ainda ás caças?

—Sim, como o senhor próprio diz, está como buscar uma agulha no palheiro.

—Filha, —ele lamenta— Relaxe um pouco. Porque não vem me visitar? Irei fazer um churrasco hoje à noite.

— Você está me convidando para ouvir a gritaria dos seus amigos futebolistas?

Ele solta uma risadinha fina.

—Ah, você entendeu. Sei que somos um bando de cuecas, viciados em jogos e cerveja, mas há de concordar que somos os melhores.

Gosto muito do bom humor de meu pai, mas definitivamente vê-lo em meio a trupe de seus amigos bêbados não é a minha praia.

—Não corte os pulsos agora. —adverte, vendo que meu silêncio é por não querer magoá-lo.

—Tudo bem, pai, — acabo por sorrir—mas, prefiro ficar em casa. Não se preocupe, irei relaxar.

—Está ótimo. Me ligue se precisar de alguma coisa. Até logo.

Me despeço e desligo a ligação. Hoje é o momento light dele após terminar seu expediente. Ele é motorista de Limusines. Tenho orgulho de sua luta diária o amor pelo trabalho que ele tem, porém não quero abusar de sua generosidade. Moro sozinha e ele pagou meu aluguel a última vez, ajudou com as despesas básicas e está sempre perguntando se preciso de algo. Pobre papai, quem realmente devia ajudá-lo sou eu.

Ao chegar ao apartamento, deixo o casaco sobre o aparador e os sapatos pelo caminho. O jornal está sobre a mesa e vasculho novamente a sessão de anúncios para emprego. Um deles minúsculo chama-me atenção:

Precisa-se de enfermeira, paga-se bem, com experiência e que durma no emprego.

É sério o que está acontecendo? Hoje é meu dia de sorte. O telefone está logo abaixo, não diz mais nada. Com entusiasmo nem penso duas vezes, tomo o celular e disco o número.

—Alô?

—Alô—a resposta de uma voz feminina vem imediatamente. Na verdade, de uma senhora. —Pois não, no que posso ajudá-la?

—Bom, eu vi o anúncio de vocês. Precisam de uma enfermeira?

—Oh, sim. Estamos com uma moça em fase experimental, mas ao que tudo indica ela não ficará. Você tem referências?

—Tenho. —menti. Eu apenas tenho meu estágio, mas não vou desistir.

—Ótimo. Poderia passar aqui às catorze horas?

—Claro. — Um sorriso brota meu rosto. —Pode me passar o endereço?

—Sim.

Ela diz o lugar, falo meu nome e com o telefone no ombro busco um bloco de papel e anoto.

—Obrigada. —Digo e desligo a chamada.

O endereço fica em Beverly Hills, um dos bairros mais ricos da cidade. Algumas celebridades moram por aqui, e até me aventuro a sonhar que o anúncio é de um ator de cinema ou músico.

Já nem lembro qual foi a última vez que estive aqui. Não foi para comprar ou visitar alguém, as lojas finas e caras, jamais caberiam algo no meu bolso. Tudo aqui é bonito, milionário e chique, o que me faz crer que o anunciante deve ter muito dinheiro.

Depois do ônibus me deixar a uma quadra do lugar indicado, atravesso a rua e viro a esquina. Alguns minutos de caminhada e uma mansão é vista à minha frente, tão estupenda que fico a analisando uns minutos. O bairro é tranquilo com demais casas no mesmo estilo, seguido de jardins limpos e bem cuidados. Subo um lance de escadas e toco a campainha, tímida e com uma inquietação nada favorável. Serei entrevistada e se eu não souber o que dizer, e não passar confiança, é certo, posso perder a vaga.

Ao abrir a porta me deparo com um senhora de talvez sessenta anos, face pálida, olhos azuis, esguia num uniforme negro elegante. Ela está impecável. Seu penteado bem feito garante nenhum fio sair do lugar e as pérolas que brilham do brinco em suas orelhas, cintilam, mostrando serem joias.

—Como vai? —Diz cortesmente.

—Eu marquei hora para a vaga de enfermeira. Sou Angelina.

—Ah, sim. Eu me chamo Joanne—Ela sorri e gesticula para eu entrar —Venha comigo, por favor.

A sigo por um corredor batendo meus sapatos sobre o assoalho, observando a mobília clássica e deslumbrante. Há quadros renascentistas, obras que parecem ser originais de Boticelli. Um quadro na parede salta-me os olhos.

Anjo caído de Alexandre Cabanel.

Pisco as pálpebras repetidas vezes e sou surpreendida quando minha bolsa b**e em cheio num vaso de porcelana sobre o aparador e faz barulho.

—Me desculpe—falo vermelha, quando o rosto da senhora vira-se surpreendido.

Ela não diz nada, apenas olha-me por baixo e seguimos caminho chegando a uma enorme sala de mobília maravilhosa, com mais quadros, objetos valiosos e poltronas a estilo Luís XV em veludo vermelho. Poderia jurar que os detalhes que envolvem as guardas são de ouro maciço e começo a me xingar mentalmente por meu deslumbre.

—Aguarde uns instantes, por favor, senhor Mikhailovitch fará sua entrevista.

—Obrigada. -respondo com um sorriso fino vendo ela sumir de meu campo de visão.

Mika...tento formular o nome mentalmente. O que ele é, russo? Não respondo concentrando-me na vista pela janela. Ah! m*****a ansiedade! E bato o pé no chão como a tentar afugentar os pensamentos duvidosos e inseguros.

Decido abrir a bolsa e verificar a maquiagem. No meio de minha bagunça encontro um pequeno espelho e acho o batom. Deslizo sobre os meus lábios e nessa hora ouço resmungos. Alguém fala alto e não parece nada amigável. Há poucos metros, vejo a porta de outra sala entreaberta, e movimentos de uma pessoa. Como se um impulso me jogasse para frente, inclino a cabeça e não sendo o suficiente, acabo por levantar e fico a alguns passos da porta.

—Ora, mas você tem problemas de audição seu idiota? É claro que ela não está recuperada e nem vai. É mais possível um camelo passar por uma agulha que isso acontecer.

Do outro lado, atrás de uma escrivaninha de carvalho, à frente de uma extensa estante de livros, um homem de aparência distinta e elegante, está em pé falando ao telefone. Ele tem cabelos loiros, pele clara e lábios arredondados volumosos. A estatura elevada pode me deixar quase uma anã perto dele. Usa camisa escura, onde revela uma parte de suas tatuagens até o pescoço. Um ápice de surpresa, faz meu coração bater tão forte que quase sinto faltar o ar. Minhas pernas tremem, e não consigo movê-las. Ele senta e um estouro se ouve pela batida violenta de sua mão sobre a escrivaninha fazendo-me tremer de susto.

—Eu já sei tudo isso que está dizendo seu imbecil!!—Ele desliga o telefone, o jogando bruscamente sobre a mesa, e deixa seu rosto cair sobre as mãos onde passa a chorar copiosamente, deixando-me estarrecida. Dou dois passos para trás sobre o ímpeto de sair, antes que ele veja e simplesmente fico de coração partido ao presenciar seu pranto como de uma criança.

E, inesperadamente seu rosto se levanta dando de frente com o meu o que faz tremer mais ainda.

—Me perdoe. —tento desculpar-me, buscando do fundo minhas entranhas algo mais plausível para dizer.

Ele se ergue abrindo a porta e para a minha frente. Sinto o ar faltar dos pulmões. Como uma fera prestes a atacar-me, ele está possuído de raiva. Dou passos titubeantes, para trás, pensando em correr dele, e da visão endurecida de seu rosto, que com mais clareza, causa-me impacto. Não quero demonstrar, mas pela forma como me encara, fria e desafiadora, não está muito paciencioso. Os minutos antes são a revelação que algo o tirou do sério, algo preocupante que ainda vejo um fio de tristeza cintilar no azul cinza de seus olhos.

Os olhos que nunca esqueci.

—Mas o que significa isso? Quem é você? —Brada com olhos vermelhos.

—Eu não queria...eu...

—Você estava me espionando?

—Não! Eu...cheguei agora a pouco...estou...

Inesperadamente, ouço passos e alguém entra. É a mesma senhora que me atendeu, Joanne. Creio que ela deve ser a governanta, pois traz uma bandeja entre as mãos. —Com licença. Trouxe água...—ela diz e para, ao ver nós dois.

—Joanne, como pode deixar essa garota invadir minha sala?

Eu arqueio uma sobrancelha sem me conter:

—Eu não invadi sua sala.

—Perdão, senhor ela estava aguardando a entrevista para a vaga de enfermagem.

—Exatamente. —Concordo com um suspiro, vendo seu olhar febril de ira de mim até ela.

—Nós deixe a sós Joanne. —pede, e ela sai imediatamente.

Arrependida pela situação, sinto vontade de desaparecer. Eu devia era dar o fora. Então, compreendo que meu ato deplorável conseguiu essa saia justa e seja lá, o que esteja acontecendo na vida desse homem, ele deve estar muito infeliz.

—Pode por favor se sentar. –Ordena, com voz de comando mais parecendo um general de guerra.

Sento-me à sua frente na cadeira polida com estofado acetinado e violáceo. Nossos olhares se encontram fixamente. Há resquícios de lágrimas em suas orbes profundas e sinto uma onda de tristeza invadir meu peito.

—A senhorita é enfermeira formada?

—Sim. —afirmo.

—Eu preciso de alguém que cuide minha mãe a noite. Ela sofre de uma grave doença degenerativa, sem chances de cura. A senhorita tem disponibilidade?

—Sim, tenho.

—Hum...—resmunga, juntando as sobrancelhas. —Pode começar agora?

Era estranho ele nem sequer pedir as referências e querer meus serviços tão rápido. Ainda mais depois de ter pego eu a espioná-lo. Meus olhos saltam com o que ouvi.

—O senhor, não vai querer ver...

—Não. —interrompe com zanga no olhar. —Eu quero ver como você se sai. Tenho dinheiro para contratar muitas enfermeiras, e se não der certo outra vai servir.

—Bem...eu posso começar. —respondo contrafeita, um tanto picada por sua arrogância vendo ele analisar-me friamente.

—Ótimo. —diz sem emoção. Pedirei para que Joanne lhe passe algumas informações.

Ainda tentando reformular tudo em minha cabeça, não ouso levantar. O choque de estar diante dele, me deixa muda tanto, como sua postura severa.

—A senhora, quer que eu traga um café, ou quem sabe ligue a tv? —ele diz, mas há ironia em sua voz o que me deixa assustada e abro a boca para dizer, porém sou interrompida estupidamente. —Pode sair!

Sua ordem grave e amarga, me deixa mais atrapalhada. Céus! Onde mesmo vim parar? Levanto da cadeira, lábios colados completamente desajeitada e derrubo a bolsa que por uma azar, estava aberta ao meu colo. Tudo que há dentro cai no chão.

— Droga. —falo, e abaixo para juntar.

—Já vi que estou diante de uma idiota —reclama sem paciência —A minha falta de sorte é digna de um prêmio. —E resmunga mais algumas palavras que não entendo.

Minhas bochechas queimam, e o coração b**e tão forte que o sinto nos ouvidos. Consigo recolher tudo rápido ficando em pé, disposta a sumir de suas vistas.

Ele me olha incrédulo, uma ruga desenha sua testa. Com olhar carregado de uma fúria que o deixa com expressão consternada, vem em minha direção e toma meu cotovelo com brutalidade.

—Quer saber, saia da minha frente!

Com força, sem que eu possa dizer nada, me j**a para fora da sala, fechando a porta com um estrondo.

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