Capítulo 4
POV de Isadora

No dia em que Cassian pediu Alessia em casamento, eu escorreguei e fraturei o tornozelo.

Alessia não perdeu a chance. Entrou no meu quarto de hospital como se o hospital fosse a passarela dela, exibindo o anel de noivado como se tivesse poderes mágicos.

— Meu Deus, Isadora. — Ela ofegou ao ver minha perna engessada. — Isso parece horrível. É sério? Você vai… se recuperar totalmente?

— É só uma fratura. — Murmurei. — Não é uma tragédia.

Ela piscou, com lágrimas de crocodilo nos olhos.

— Foi por nossa causa? Nosso noivado te abalou tanto assim? Eu… me sinto tão culpada… — E então, como se tivesse ensaiado. — Espera, estou recebendo uma ligação.

Saiu esvoaçante, deixando no ar seu perfume e veneno.

Cassian entrou um momento depois, com a expressão amarga, como se tivesse engolido um limão.

— Você tinha que encontrar um jeito de roubar a cena, né? Logo no dia do nosso noivado.

— Não. Eu escorreguei. Só isso. — Respondi com calma. — Já te disse. Eu não gosto mais de você. Nem naquela época. Nem agora.

Mas Cassian não acreditou. Seu maxilar travou. Os olhos se estreitaram.

— Izzy. — Disse ele num tom sombrio, a voz baixa, ameaçadora, envolta numa calma falsa. — Sugiro que arranje um namorado de verdade e pare de se meter na nossa vida. Não nos incomode mais.

— Eu já tenho um. — Disse, erguendo o queixo. — E ele é incrível, obrigada por perguntar.

— Não precisa mentir. Não tem como você ter encontrado alguém tão rápido.

Antes que eu pudesse retrucar, Alessia voltou à sala como se estivesse pisando numa passarela.

— O que é todo esse sussurro? — Perguntou.

— Ela disse que agora tem um namorado. — Cassian falou, passando um braço ao redor da cintura dela, como se precisasse lembrar algo a si. — Você acredita nisso, amor?

Alessia me olhou, os olhos brilhando de superioridade.

— Um namorado, Izzy? Sério? — A voz dela transbordava condescendência açucarada. — Olha, eu entendo. Você deve estar incomodada com nosso noivado. Mas mentir sobre ter um namorado…

Cassian completou com um sorriso paternalista:

— Eu te vejo como uma irmãzinha, sabia? Cuidaria de você. Só... não minta e não se coloque entre mim e Alessia.

E então, sem esperarem minha resposta, saíram da sala como se tivessem vencido alguma coisa.

Arrogantes. Tão arrogantes.

...

O detalhe é: não estava mentindo.

Meus olhos se voltaram para o vaso de rosas carmim na janela, pétalas densas, aveludadas, e claramente caras.

Eram dele. Do meu namorado.

Acontece que o destino tem um senso de humor perverso.

Porque o homem com quem tive uma noite única no Ruby, aquele cujo rosto eu mal enxerguei sob as luzes pulsantes e o nevoeiro de champanhe, era ninguém menos que Kai Drenner.

O mesmo Kai Drenner que meus pais tinham me arranjado para conhecer.

O homem sobre quem todos em Manhattan sussurravam. O chefe da máfia na costa. Herdeiro de um império de armas. Silenciosamente assustador. Inacreditavelmente sexy.

Quando entrei no café para nossa “apresentação formal”, soube no instante em que o vi. E pelo jeito como os lábios dele se curvaram, ele também soube.

Senti meu rosto pegar fogo.

Ele se inclinou, a voz provocativa:

— Tímida agora? Você não parecia tão tímida naquela noite.

— Achei que você era só... um cara muito gato que trabalhava lá. — Admiti.

Ele deu de ombros:

— Eu trabalho lá. Só nunca disse que não era o dono. Você não perguntou.

Justo.

Ele me observou por um instante e murmurou:

— Se não fosse comigo... quem teria tido a sorte de te ter naquela noite?

— Nenhum. — Respondi, encontrando seu olhar. — Nem todo homem consegue chamar minha atenção.

Aquele sorriso, aquele sorriso perigoso, se espalhou no rosto dele.

— Seja minha namorada, Isadora. Deixa eu cuidar de você.

E eu disse sim.

E foi por isso que fraturei o tornozelo. Perdi um degrau no meu encontro com Kai.

...

Assim que saí do hospital, comecei a passar mais tempo com Kai. Jantares. Passeios de carro. Beijos que me faziam esquecer de respirar.

Chegar tarde em casa virou rotina. E eu gostava assim.

Mas numa noite, ao voltar para casa, ainda brilhando depois de um jantar romântico num terraço em SoHo, encontrei Cassian no sofá da sala. Braços cruzados. Mandíbula rígida.

— Onde você estava? — Ele perguntou, a voz tensa.

Pisquei.

— Não sabia que eu tinha toque de recolher.

— Já é meia-noite. — Ele disparou. — Você mora sob este teto. Talvez devesse agir como tal.

Tirei o casaco, passando por ele:

— Você não é meu pai, Cassian. Por que se importa?

Tentei passar novamente, mas ele bloqueou meu caminho, o olhar fixo no meu pescoço, agudo, possessivo, incandescente.

Então ele falou, baixo e perigoso:

— Isso é... uma marca de beijo?

Parei. Girei um pouco o corpo, vislumbrando no espelho do corredor, uma mancha vermelha ousada logo abaixo da clavícula.

Kai. Claro.

Encarei Cassian diretamente:

— É. Meu namorado deixou. E daí?

Eu não devia nada a ele. Nem explicações, nem permissão.

Um rubor subiu pelas maçãs do rosto de Cassian.

Sem dizer mais nada, passei por ele e entrei no meu quarto, o clique suave da porta selando ele do lado de fora e eu, do lado de dentro.

...

Nos dias seguintes, a paz voltou à casa.

Ou assim parecia.

Até que, numa manhã, enquanto saía do meu quarto, ainda meio dormindo, indo atrás de café, Cassian apareceu.

Sem aviso, sem bom dia. Só raiva.

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