Angel de Oliveira, uma jovem dançarina, desfruta das alegrias que sua vida lhe proporciona: mora numa bela casa num bairro nobre em Londres tem uma família extremamente bem sucedida financeiramente e unida, além de namorar o artista teen do momento, Gabriel O’Connor. Poderia considerar sua vida perfeita, se não fosse pelo fato de sua mãe supostamente odiar seu namorado. Contudo, Angel nunca deu importância ao que sua mãe pensava, uma vez que acredita que seu amor por Biel supera qualquer implicância. Além disso, prezam a honestidade como base do seu relacionamento. No entanto, tudo o que ela sempre acreditou parece ruir quando descobre estar prometida em casamento ao filho do sócio de seu pai, o mesmo cara por quem sua irmã é apaixonada. Seria possível ser obrigada a se casar por puro interesse financeiro de seu pai? Biel sempre foi seu porto seguro e a protegeu da coisa que mais a amedrontava: tempestades e verdades. Assim, Angel enfrenta a maior tempestade de sua vida: contar a verdade a Gabriel e arriscar ser deixada pelo amor da sua vida ou tentar se livrar do contrato sozinha, continuar com seu porto seguro, mas ganhar uma consciência pesada. Ela precisa se decidir, porém deveria ter aprendido com seus pais que segredos podem mudar uma pessoa.
Leer más“Há muito tempo atrás, alguém me disse que há uma calmaria antes da tempestade. Eu não me importo com o que digam. Com você, qualquer tempestade se acalma. Sinto sua falta, preciso de você aqui comigo. Parecíamos ser feitos um para o outro, mas tivemos que nos separar. Eu espero que não se esqueça de mim, porque a chuva continua caindo lá fora.”
SetembroOlho para o meu próprio reflexo pelo espelho. Max coloca alguns alfinetes nas costas do meu vestido e mordo o lábio. O vermelho escarlate contrasta com a minha pele branca e meus cabelos escuros e não consigo conter o grande sorriso que se forma em meus lábios.Minhas mãos tremem de entusiasmo e as junto numa tentativa de disfarçar a ansiedade.— Como você se sente? — ele me pergunta, segurando a minha mão, e dou uma volta em torno de mim mesma. A saia do vestido roda.— Poderosa — é a primeira coisa que me vem à mente. — Maravilhosa — acrescento e me viro, observando o vestido de todos os ângulos. Os olhos de Max irradiam orgulho e felicidade. — Você acha que o Gabriel vai gostar?— Ele seria louco se não gostasse! Aposto que não conseguirá prestar atenção em qualquer outra coisa que não seja você — Max tem um sorriso divertido no rosto.Olho para o espelho novamente só para ter certeza das palavras de Max. Ele tem razão. Ele tem que ter razão. O vestido é tomara-que-caia e marca a minha cintura, num típico modelo Mullet mais curto na frente e que arrasta no chão na parte de trás. Uma real obra de arte.— Max, as festas de final de ano da empresa do papai valem a pena só pelos seus vestidos! — admito sorridente.Ele ri.— Obrigado, Angel.Max é um dos melhores estilistas que conheço em toda Grã-Bretanha. É amigo da minha mãe desde sempre, provavelmente, e só costura vestidos maravilhosos. Todos os anos, volto a seu ateliê para fazer um vestido de tirar o fôlego para a confraternização de final de ano da empresa do meu pai.— Posso ver o da Junia? — pergunto curiosamente.— Claro — ele me guia por inúmeros vestidos e manequins.Seguro o vestido para que arraste o menos possível no chão. Não quero estragá-lo antes mesmo de pronto.— Que cor a Gen escolheu?— Rosa — Max vai para ao lado de um manequim coberto por um lenço de seda e o puxa, revelando o belo vestido rosa pink.— Uau! — é tudo o que consigo dizer. — Ela ficará espetacular nele.Já posso imaginar minha irmã do meio com esse vestido: sua silhueta destacada, a fenda frontal desde a coxa, o charme dos saltos. Sem dúvida alguma, Junia atrairá olhares por onde passar. Além disso, ela sempre teve o enorme talento de deixar qualquer cara que ela desejasse em suas mãos. Talento muito bem aproveitado por sinal, talvez pela beleza natural dos cabelos ruivos e olhos verdes ou pelo seu carisma nato.— Ela quis algo surpreendente — Max explica o modelo do vestido e não tira os olhos do manequim.— Com certeza é surpreendente! — concordo. — Minha irmãzinha está virando uma mulher! — faço beicinho. — Papai vai ter um enfarte quando a vir assim, igual fez comigo — rio.— E sua mãe também. Os vestidos da Viviana são sempre mais conservadores — ele acrescenta.Minha mãe.De repente, lembro-me de que minha mãe está me esperando, e a família toda, para o chá da tarde. Se eu chegar atrasada de novo, ela cortará minha cabeça. Mamãe é uma completa viciada em momentos que reúnem a família, principalmente as refeições, o que implica em me infernizar por chegar atrasada e ser “negligente”.— Max, eu preciso ir! — seguro seu braço, beirando o desespero, e ele ri.— O chá, não é? — assinto. — Deixe-me ajudar com o vestido.Troco-me rapidamente e saio correndo do ateliê.— Obrigada, Max! — agradeço antes de entrar em meu carro.— Imagine, garota! — ele sorri e voo para casa.Um suspiro de alívio escapa pelos meus lábios assim que vejo o enorme portão do condomínio onde vivo. O Margaret’s Palace tem casas enormes e distantes umas das outras. As pessoas que moram aqui têm muitos bens. Isso é um fato. No entanto, não quer dizer que necessariamente são esnobes. Conheço empresários, donos de grandes franquias e butiques, pessoas do meio artístico, médicos e doutores renomados, juízes e advogados e boa parte é muito gentil.Particularmente, evito dizer que moro aqui e que sou filha dos meus pais, pois a maioria das pessoas cria uma imagem errada da minha pessoa. David Oliveira, meu pai, é um inglês de família abastada, dono de uma franquia enorme cujos produtos variam de cosméticos, a roupas, lingeries, sapato e acessório. Minha mãe, Viviana Oliveira, é uma bailarina francesa charmosa, com uma determinação quase tão forte quanto o ruivo de seu cabelo. Juntos, conciliaram as obrigações empresariais com as familiares e cuidam de suas três filhas, Angel, Junia e Cristina, da melhor forma possível.Tenho uma família bem-sucedida, tanto materialmente como emocionalmente. É verdade. Mas os conflitos são inevitáveis, principalmente pelo fato de minha mãe desaprovar completamente o meu namoro com Gabriel simplesmente por ele ser Gabriel O’Connor, um cantor mundialmente conhecido cuja febre teen continua em seu auge. Segundo ela, não se pode depositar muita confiança nesse tipo de pessoa, o que é ridículo, porque ela também fez parte desse mundo artístico por anos a fio, e que eu vou sair machucada desse relacionamento. Contudo, deixei de me importar com esse tipo de comentário há um bom tempo e mamãe tem que engolir meu namoro já por quase três anos.Corro para alcançar a enorme porta de entrada de casa e passo pelo hall, subindo as escadas o mais rápido que consigo e já me preparando para ouvir um discurso infindável sobre meu atraso de minutos.— Boa tarde! — sorrio para todos, jogando-me no sofá ao lado de Gen. Cris, com seus inocentes seis anos, brinca próxima à mesa de centro e minha mãe me encara.— Boa noite, Angel — ela diz simplesmente.— Boa tarde, Angel — papai me deseja, fazendo-me sorrir.Enquanto meus pais conversam sobre qualquer coisa, eu e Junia sussurramos sobre nossos vestidos e como estamos ansiosas para usá-los.— Como se você não fosse se aproveitar de ninguém naquele vestido — provoco e minha irmã revira os olhos, mas sorri exatamente como mamãe acabou de fazer para meu pai. É surpreendente a semelhança das duas: mesmo sorriso, olhos e cabelo.— E como está seu vestido, Angel? — minha mãe pergunta, tomando um gole do seu chá.— Maravilhoso, mãe! Só falta ajustar alguns... — meu celular começa a tocar e tenho vontade de me afundar no sofá por ter me esquecido de silenciar o aparelho. — Desculpe — peço e vejo o nome do meu namorado brilhando no ecrã. Minha mãe vai me matar, mas preciso atender. — Com licença. Eu já volto.Todos os olhares estão sobre mim, incluindo o de Peyton, nossa empregada a quem amo. Ela deixa a bandeja com mais docinhos na mesa e volta para a cozinha. Sigo-a, tentando abafar o ringtone por pressionar o celular contra a minha coxa.— Oi, amor — atendo e mordo o lábio. Tento espionar a reação dos meus pais, mas a tarefa é um pouco difícil por conta da posição que estão em relação a mim.— Oi, bebê — percebo que seu entusiasmo se esvai aos poucos e posso visualizar seu sorriso se transformar em uma sobrancelha arqueada. — Está tudo bem?— Está, sim. Eu só cheguei atrasada para o chá. De novo — coço a nuca.— Que britânico da sua parte chegar atrasada! — Biel brinca. — É melhor você voltar para lá...— Desculpe! — imploro, arrastando as sílabas da palavra. — Ligo mais tarde. Eu juro!— Não precisa se desculpar, boneca — meu peito se aperta e tenho vontade de atravessar o celular só para estar ao seu lado. — Estou com saudade. Amo você.— Eu também estou — aperto o celular com mais força. — Eu amo muito você. Até mais tarde.— Até.Desligo o aparelho por completo, evitando mais distrações, e volto para o sofá.— Desculpe — peço e me sirvo do chá fumegando na chaleira. Penso em voltar a falar do vestido, mas meu pai decide mudar de assunto sem o meu consentimento.— Quem era? — enrijeço e busco o seu olhar, sentindo o clima de um debate se formando. Por um segundo, cogito a ideia de fingir que não era ninguém importante, mas não é verdade.— O Gabriel — respondo rapidamente e tomo um gole do chá para não ter que responder mais nada. Minha mãe revira os olhos exageradamente e resmunga, Gen olha para mim, quase me condenando por ter falado a verdade e perturbado a paz em família, e os lábios do meu pai se contraem.— Tinha que ser... — mamãe pestaneja.— Mãe! Ele está nos Estados Unidos! O fuso-horário é diferente! — defendo meu namorado.— Não podia m****r mensagem e precisava atrapalhar o momento que temos para conversar? — ela continua. Bufo e reviro os olhos, sabendo que não existe a possibilidade de ganhar essa discussão.— Ok, né? O importante é que estamos todos aqui — papai tenta amenizar a situação e começa a perguntar sobre como eu e Junia pretendemos passar nossos aniversários no mês que vem, visto que ela nasceu exatamente um dia antes do meu aniversário de dois anos.Deixo o vagão assim que para na próxima estação e sinto mais pessoas me observarem. Não é algo muito comum ver uma mulher vestida de noiva com o rosto inchado de tanto chorar andando de trem. Eu também olharia.Com calma, saio do terminal e o sol primaveril me toca. A leve brisa faz meu vestido dançar e enche não só meus pulmões, mas meu corpo inteiro de esperança. Ver todas aquelas pessoas caminhando, sozinhas ou acompanhadas, sorrindo tranquilamente ou com pressa, faz meu peito se encher de emoção novamente.Apenas sigo pelas ruas, sem rumo definido, andando devagar para os saltos não me machucarem mais meus dedos.Pressa para quê? Não vou me casar.Esse pensamento me faz rir um pouco.É estranho pensar que, a essa hora, eu já estaria casada, presa a alguém contra a minha vontade. Mais estranho ainda é pensar
Espirro um pouco do perfume na folha, a fim de ficar com o meu cheiro. Bato a caneta na mesa, pensando no que escrever, então divido a folha ao meio, frustrada por não conseguir pensar em nada. Acabo escrevendo nas duas partes:“Desculpe por tudo. Espero que um dia você possa me perdoar.– M”O primeiro bilhete passo por baixo da porta do quarto de Junia. O outro precisarei ir um pouco mais longe para entregá-lo.Eu poderia ter escrito tantas coisas, tentar me justificar, fingir que está tudo bem, mas pedir perdão é a única coisa que vale a pena escrever.Perdão.É tudo o que eu preciso....Puxo o freio de mão em frente à imponente casa. É muito difícil ver qualquer coisa lá dentro por conta do grande portão e dos muros. Preciso tomar coragem pela milioné
– Por que o primeiro não contou?– Por uma junção de fatores, como: primeiro, eu devia ter uns quinze anos, coisa de criança. Segundo, foi escondido, porque meu pai não acha que uma pessoa com quinze anos seja responsável o suficiente para namorar sério. Terceiro, durou três semanas. Quarto, eu nem estava tão apaixonada assim e, quinto, ele se assumiu gay dois meses depois – dou de ombros, mas o loiro gargalha. – É sério. E nós ainda nos víamos muito na academia. Constrangedor. Não contou. Gabriel foi meu único namorado.– Tudo bem. Acho que tenho uma história parecida na minha conta.Não percebo o tempo passar nem fico contando a quantidade de bebidas que tomo. Nesse período, descubro coisas das quais eu nem imaginava sobre Guilherme, como: ele adora uísque, viajar e quer conhecer o Japão um dia. S&oa
– Indo. O César parece bem, eu não e não sei sobre o Guilherme – limpa a garganta.– Vocês não estão se falando mais? – quero saber. Sei muito bem como é deixar de conversar com a pessoa que você mais quer falar, no entanto sei também que Junia não tem raiva de Guilherme e vice-versa, o que é um ponto positivo.– Não – ela morde o lábio. – Eu não ligo para ele, ele não liga para mim. Acho que vai ser mais fácil assim.Dessa vez, quem respira fundo sou eu.– Junia – ela estremece ao me ouvir chamá-la pelo nome. – Por que você terminou com o Guilherme?Sei que a resposta é óbvia, mas não consigo aceitar que ela se entregou assim. Tínhamos uma chance.– Por você – ela responde. Fixo meu olhar no seu opaco. – Não posso
Por alguma razão, o término entre minha irmã e Guilherme acabou doendo mais em mim do que achei que doeria. Talvez seja o fato de que agora não exista mais esperança.Junia disse que terminou com o Guilherme por minha causa. Talvez seja essa a questão do problema.A culpa é minha. Eu deveria ajudá-la, não causar preocupação. Isso dói fisicamente: perdi meu noivo, minha liberdade e estou perdendo minha irmã aos poucos.O vestido branco cai perfeitamente em meu corpo, feito só para mim. Fico apenas olhando para meu reflexo no espelho, mas não vejo nada além de uma garota triste com um vestido lindo.Não me lembro da última vez que sorri.Deixei de comparar minha situação com a justiça, pois não há nada justo aqui. Não consigo nem me imaginar assinando a folha do casamento ao lado de Guilherme. Q
– As chaves da sua casa. Acho que concordamos que não preciso mais delas – por incrível que pareça, minha voz se mantém estável.Fixo meu olhar no seu rosto, mas Biel não diz nada. Confesso que tenho vontade de provocá-lo sobre a garota da noite passada, contudo o bom senso me faz segurar a língua.Ao abrir o portão da casa, Gabriel olha para mim, enquanto o motor realiza seu trabalho de abrir o portão.Esse motor nunca foi tão devagar.Quando ele finalmente desliga o carro, abro a porta sem que tenha dito nada.– Obrigada – agradeço a carona e por ter me ajudado com Junia. – Se você não tivesse me ajudado, eu provavelmente teria entrado em desespero e atrapalhado tudo.– Não foi nada – ele sorri de canto. – Ainda bem que ela e o bebê estão bem.– É... – mordo o l&aac
Último capítulo