Capítulo Três

Não havia sido um sonho.

Bom, fora o detalhe óbvio de que tudo havia sido mesmo um sonho, sua realidade naquele lugar continuava a mesma.

Assim que Laura abriu os olhos, sentindo-os arder com o primeiro contato do dia com a claridade, imaginou-se em seu antigo quarto e logo pensou em colocar um biquíni, jogar um vestido por cima, arrumar a bolsa com alguns itens críticos e ir para a praia.

Estava precisando pegar um pouco de cor e embora nunca ficasse bronzeada ao menos aquilo diminuiria sua palidez mórbida.

Sua semelhança com um defunto a irritava, mas como boa parte das coisas a irritava, não seria interessante entrar nessa discussão.

E então, os olhos cinzentos encontraram aquela nova disposição de móveis, tornando sua mente uma confusão. Poderia estar ainda sonhando, porque tudo estava pintado de acordo com o que vinha insistindo há tempos, mas...

Quem mudou seu quarto durante a noite? Ele até parecia menor...

Aquilo a frente era a porta de um banheiro?

Finalmente sentiu a posição de seu corpo, levando alguns segundos a mais para entende-la.

Estava de bruços, a face voltada para a decoração do quarto apoiada no travesseiro até a altura das maçãs do rosto, a deixando em um ângulo esquisito em que suas bochechas amassadas cobriam o olho do lado que estava contra a cama. Sentia os lábios repuxados e secos indicando que dormira com a boca aberta, o que a fez se perguntar momentaneamente se havia babado.

Bom, teve um sonho tão intenso que poderia muito bem ser isso, mas o úmido que sentia poderia também ser das lágrimas que derramara durante a noite.

Ou não.

Teve a sensação esmagadora de que havia tido um ataque de ansiedade, mas sabia que aquilo vinha do sonho confuso que sondou sua mente durante a noite.

A perna do lado que seu rosto estava virado se flexionava para cima, mantendo seu joelho e a ponta do pé fora do cobertor, o que a fez encolher os dedos assim que percebeu o frio em sua pele. O braço desse mesmo lado também estava flexionado, mas em uma posição esquisita que sugeria que a garota havia tentado inconscientemente retardar o despertar ocultando o rosto da luz do sol o melhor que podia.

O outro lado estava esticado e levemente dormente, mas só.

Aos poucos sua mente reconhecia estar em outra realidade muito fora da que estava acostumada, recebendo como primeira mensagem a percepção de que não poderia ir para a praia como planejado e duvidou que ao menos pudesse usar o vestido que esteve planejando com tanto afinco trajar antes mesmo de se flagrar acordada.

Que droga, não estava mais em casa e sim naquela merda de lugar que teria que chamar de lar para agradar seus pais.

Se virou totalmente de bruços, enterrando o rosto no travesseiro, o corpo sendo sustentado pelos cotovelos para não se sufocar.

Gemeu em frustração, praticamente gritando para aproveitar o abafado do travesseiro.

Por que não paravam de se mudar?! Estavam muito bem em sua antiga cidade, que nem era tão grande assim.

Não sabia dizer se chorou em algum momento, mas se sentiu soluçar duas ou três vezes antes de respirar fundo e erguer o rosto, fazendo uma ronda pelo quarto novamente apenas para se certificar que aquilo era mesmo real.

Sentou-se de uma vez, um tanto torta por estar ligeiramente em cima de suas pernas, os cabelos embaraçados como um ninho de passarinho caindo sobre seu rosto emburrado e amassado a fazendo parecer alguma personagem de filme de terror.

Se ergueu e arrastou o corpo cansado e dolorido até o banheiro, se olhando no espelho apenas por costume antes de se organizar o bastante até estar apresentável para só então procurar o que vestir.

Olhou para a janela e a luz que invadia seu quarto era forte, o que deu a ela esperanças de um dia mais ensolarado, portanto, se colocou no primeiro short e na primeira blusa confortáveis que encontrou, o que rendeu alguma bagunça ao quarto já não tão arrumado.

— Bom dia, Laur — Clara cumprimentou a filha mais velha, que sequer forçou um sorriso enquanto arrastava os pés e se servia de café da manhã ao lado dos irmãos sonolentos.

Aquele era o único momento em que os dois davam uma trégua nas brigas e Laura desejava constantemente que Edward e Beatrice se mantivessem sonolentos para sempre, mas sabia que possivelmente os dois voltariam para seus quartos após o café e dormiriam novamente até estarem despertos o suficiente para iniciarem seus dias do modo mais irritante possível.

— Bom dia, mamãe — ela finalmente murmurou, suspirando.

Foi uma refeição silenciosa de início ao fim.

Laura procurou pelo sol assim que terminou seu café da manhã, mas os raios solares naquele lado do planeta eram tão gelados que chegavam a ser praticamente inúteis.

A grama estava verde, as folhas nas árvores ainda mais, os insetos zumbiam a sua volta como uma comemoração por ter aparecido e o vento estava completamente frio.

Ela podia imaginar que aquela paisagem a noite seria exatamente como viu em seu sono e a medida em que suas mãos coçaram para que corresse e pegasse sua câmera, seu rosto se contorceu em uma careta com as lembranças de um sonho que não acabou realmente bem.

Suspirou, enfiando as mãos nos bolsos do short enquanto mirava o céu limpo de nuvens com sua maior expressão decepcionada. Era uma paisagem que remetia a sol escaldante e praia, mas era uma propaganda enganosa de primeira qualidade.

Sua pele se arrepiou e seu corpo tremeu ligeiramente com o clima frio desanimador que destruía qualquer fio de esperança sobre aquele lugar que Laura nutria em algum canto obscuro de sua mente.

Pelo visto teria que viver empacotada. Que saco!

Adeus shorts, adeus vestidos, adeus blusas de alcinha, adeus biquínis.

E dessa vez Laura sentiu vontade de chorar, os olhos ardendo não pela luz e força inexistente daquela porcaria de sol, mas pelas lágrimas de dor e mágoa que queriam cair de seus olhos.

Suspirou, baixou o rosto para mirar os próprios pés arroxeados de frio em seus chinelos e trabalhou a respiração para a sensação de sufocamento e dor provenientes da vontade de chorar irem embora.

Endireitou a postura.

Já que não havia calor, era melhor voltar para a casa com aquecimento ligado e se descongelar daquela aventura matinal dolorosa.

— Hey! — ouviu a voz feminina e passos arrastados de modo relaxado se aproximando descontraidamente — garota nova!

Laura se virou, sua típica expressão entediada reinando em seu rosto.

É sério que teria que interagir socialmente naquele momento? Esperava que fosse levar um pouco mais de tempo. Na pior das hipóteses, algumas semanas. Na melhor, nunca.

Quem se aproximava era uma jovem negra um tanto mais alta e bem encorpada demais para sua aparente adolescência. Ela aparentava estar animada em vê-la, seus dentes brancos mais calorosos que o maldito sol, sua pele escura brilhando com a luz pálida de forma que Laura se lembrou de sentir inveja de sua cor.

Ela era tão linda!

Linda e extremamente confiante em seus shorts jeans, blusa que parecia ser de alças finas e tecido leve abaixo de uma blusa de frio que aparentemente estava ali mais para combinar com a roupa do que qualquer coisa, ou seja, além de estar sentindo o clima estúpido como se fosse agradável, era estilosa e feliz.

Laura queria odiá-la, mas estava um pouco zonza com sua presença e impressionada. Talvez com um leve pânico de seu lado que se interessava por garotas, mas não iria entrar naquela parte porque estava irritada demais com toda a situação a envolvendo.

— Sou Zuri Johnson — a garota a cumprimentou, levando a mão em uma continência animada — moro na casa ao lado.

Apontou para a direção de sua casa com o polegar, mas Laura não se deu ao trabalho de olhar, ainda a admirando.

— Sou Laura. Laura Ortiz — mais amarga impossível, acrescentou mentalmente.

— Legal — Zuri disse, nunca tirando o sorriso irritante do rosto, mas mantendo uma distância considerável.

Por que diabos ela tinha que ser tão bonita e alegre?

Nem mesmo seus cabelos pareciam ter dias ruins. Enquanto o de Laura havia amanhecido grudento e amassado, o de Zuri brilhava em um castanho perfeito de cachos fechados e finos perfeitos e comprimento perfeitamente mediano.

— Olha, eu tenho namorada, viu — a garota comentou, rindo e deixando Laura completamente constrangida.

Não havia percebido que a encarava por tanto tempo assim e que estava tão óbvio seu encantamento, mas que culpa tinha se ela era perfeita?

Parecia esculpida, pensada em cada detalhe como uma pintura.

— Desculpe — murmurou, ainda envergonhada.

Zuri deu de ombros, no entanto.

— Relaxe, branquela — brincou — você parece meio decepcionada.

— Eu estou completamente decepcionada — Laura resmungou, fazendo uma careta de desgosto e tristeza — esse lugar é horrível. Eu já sabia que era horrível, mas é pior do que imaginei e olha que não imaginei coisas nada boas.

Zuri franziu o cenho, prendendo os polegares no tecido feito para posicionar o cinto na roupa e olhando em volta como se procurasse onde estava o defeito da casa.

Bom, para ela, parecia estar em perfeitas condições.

Para Laura, era uma merda. Zuri não via como aquele lugar era horrível somente por estar acostumada.

— Qual é o problema? — ela perguntou — não insulte sua nova casa, esse lugar é muito legal.

— Aqui é frio, cheio de mato, insetos e umidade — Laura se queixou, mal humorada — eu quero voltar para a praia!

A outra riu, negando com a cabeça.

Qual era a graça? Por que ela estava rindo?

Ok, Zuri percebia ali o quanto a nova vizinha era louca. Praias não passavam de faixas de areia e água gelada espancando violentamente os seres humanos que eram idiotas demais para se aproximar.

Era masoquismo gostar de ir à praia. O mar era um monstro faminto que sugava os loucos que se aproximavam tentando devorá-los. Era uma armadilha perfeita. A água batia, deixando-os confusos enquanto os enterrava na areia, depois puxava-os para seus domínios e os mastigava com suas ondas.

Fora o incômodo da areia entrando em todos os orifícios de modo que era quase impossível se livrar dessa praga.

E ainda por cima deixava o cabelo uma merda.

— Olha, garota, nós até temos uma praia, mas não é uma boa ideia se jogar no mar — avisou, bem humorada — quanto ao frio, hoje está agradável. Você se acostuma, sério.

— Eu duvido muito — Laura bufou, revirando os olhos.

Zuri riu baixo, negando com a cabeça.

Que garota bizarra, essa Laura.

— Você é sempre mal humorada assim? — perguntou e estava achando tanta graça disso de um jeito adorável que Laura esboçou um sorriso.

— Apenas noventa e nove vírgula nove por cento do tempo — falou, sorrindo torto para a garota, que riu baixo e sacudiu a cabeça negativamente.

Aquilo parecia ser um hábito estranho de Zuri.

E Laura estava ferrada.

— Ótimo, minha namorada vai amar encher seu saco — disse Zuri com certa felicidade estranha.

Quando Davine e Martina se juntassem, a garota iria enlouquecer.

Não é que as duas fossem más pessoas, elas eram incríveis, mas ambas eram uma praga e podiam causar uma bela devastação no juízo das pessoas por onde passassem, e ainda contaminavam quem estivesse por perto.

Zuri se lembrava da vez em que ela e as amigas, sob o comando das duas, passaram pasta de dente nas cadeiras dos professores. A coisa preguenta parecia um gel, então parecia simplesmente que haviam limpado a madeira como em toda manhã.

O resultado foi maravilhoso. Um bando de professor correndo com as mãos nas bundas azuis fazendo algazarra pelos corredores espalhando pasta pelo próprio corpo ao tentar limpar o grude das mãos e os alunos correndo de seus lugares para ver a movimentação dos professores atormentados.

Claro, elas não faziam isso exatamente de graça, a rebelião tinha sido em resposta a uma reprimenda da época, mas foi divertido de qualquer forma.

Zuri riu inconscientemente só em lembrar do momento.

Laura ergueu as sobrancelhas para ela, se recostando na coluna que sustentava a varanda sem retirar as mãos dos bolsos.

Garota maluca.

— E o que faz você achar que eu vou chegar perto de alguém que vai encher meu saco? — perguntou com certo ar de deboche.

Zuri deu de ombros, nunca perdendo o bom humor.

— Você é novata, portanto, não tem com quem andar e eu te achei primeiro, logo, você é minha Laura Oratez — disse em obviedade, mas rindo ao não conseguir pronunciar seu sobrenome — e se está comigo, está também com meu pessoal.

Mania feia das pessoas de pensar que era preciso conviver em sociedade. De que adiantaria se aproximar de alguém? Essa droga de lugar não melhoraria do mesmo jeito.

— E se eu te disser que prefiro continuar sozinha? — perguntou, a desafiando com o olhar.

No entanto, Zuri jamais a encarava, mantendo-se distraída com a paisagem a volta das duas. Aquilo não era novidade para Laura, raramente mantinham contato visual e os que o faziam ficava incomodamente a encarando como se fosse parte de outro mundo.

Nunca viram ninguém com olhos cinza na vida?

Ok, era raro, mas não tanto. Uma busca rápida e pronto, encontraria os mesmos olhos em outras caras.

— Bom, isso é o que vamos ver — Zuri disse, soltando um riso macio e baixo antes de ser voltar para Laura e finalmente encará-la, a examinando — minha nossa...

O final foi mais para si mesma.

Zuri sentia-se empalidecer, como se estivesse diante de uma assombração ou como se tivesse acabado de perceber que estava diante da rainha da Inglaterra.

Laura não era nenhuma das duas opções, mas estava muito próxima da primeira, principalmente sob aquela luz pálida da cidade fria, que a deixava com a pele com um aspecto doentio.

Ela franziu o cenho para a expressão aparvalhada da garota.

Zuri teria se sentido constrangida em encará-la, mas convivia com gente muito mais descarada.

E não tinha como reagir de modo diferente. A garota tão pálida a sua frente tinha o rosto bem expressivo perfeitamente moldado pelos cabelos escuros e continha uma sarda ou outra e seus olhos... puta merda, seus olhos congelavam sua alma, refletindo seu humor azedo.

Eram verdes.

Não. Eram azuis.

Oh, não, eram brancos. Isso era possível?

Eram cinza?

Oh, droga, eles eram lindos!

E Zuri se sentia terrivelmente intimidada, a ponto de querer se encolher e pedir desculpas. Laura parecia ter, sei lá, a lua nos olhos, mesmo que ainda fosse dia.

Algo ali refletia o céu. Refletia as plantas. Refletia o chão. Refletia o vazio dentro dela.

— Acho que vou entrar, está realmente frio — Laura resmungou, suspirando.

Zuri assentiu, ainda se sentindo estranha com a presença marcante da garota. Era tão confiante, mas olhando para ela se sentiu tão...

No chinelo dela. Não sabia em que sentido, mas aquela garota poderia lhe dar um soco na cara numa boa.

Certo, Zuri, volte para o planeta Terra.

— Você se acostuma com o tempo — acrescentou rapidamente — de verdade.

— Uh... claro, ok — Laura murmurou, um tanto confusa.

— E aqui não é mesmo ruim, você vai ver.

— Ok — Laura respondeu após um momento, ponderando sobre o que dizer.

— Nos vemos segunda — ela disse.

— Nos vemos — falou, se aproximando da porta.

— Vai querer carona? — perguntou Zuri, mas Laura negou com a cabeça.

— Meu pai deve levar a mim e meus irmão, mas obrigada.

— Oh, você tem irmãos... — balbuciou.

— Sim — confirmou, franzindo o cenho e desconfiança ao não entender o motivo de aquela louca estar tão interessada nisso.

— É que eu não tenho irmãos — explicou.

Laura assentiu, demonstrando que havia entendido.

— Eu sou a mais velha e então tem o Ed e a Bea — disse, encolhendo os ombros ao se notar tão indiferente em relação aos irmãos, mas continuou ao ver o interesse tão grande de Zuri — em geral não passamos muito tempo juntos.

— Entendo — Zuri deu de ombros — minha namorada tem quatro irmãos, só em conviver com os dela sei que ficaria o mais longe possível se tivesse algum.

— Quatro irmãos? — perguntou Laura, as sobrancelhas se erguendo enquanto se perguntava se aquela era o tipo de cidade pequena superpopulosa por famílias terem muitos filhos.

— Sim, também acho muita gente, mas aparentemente os pais dela não, já que estão pensando em ter outro bebê.

— Uau... — balbuciou.

— Sim — concordou Zuri — é cômico como em meu grupo só tem pessoa exótica. Veja eu, como exemplo. Minha mãe me deu o nome Zuri Autumn. Eu não reclamo tanto porque o significado é bonito, mas vamos admitir que é um tanto exótico.

— Oh... hm... acho que entendo, meus pais na rua pronunciam meu nome americanamente, mas em casa sempre me chamam da forma latina — deu de ombros.

— E como é a forma latina? — perguntou e Laura o pronunciou — oh, bonito.

— Obrigada, eu acho.

— Também temos uma amiga latina, a Tina. Talvez vocês se deem bem — falou.

— Uh, certo... — Laura disse porque não queria simplesmente repetir que não queria conhecer ninguém.

As duas se olharam, não sabendo muito bem o que dizer, então Zuri encolheu os ombros e murmurou:

— Ok, então.

— Ok — Laura murmurou de volta.

— Ok — Zuri deu de ombros antes de se virar para voltar para casa — tchau!

— Tchau — disse de volta, entrando, finalmente, em casa, onde a mãe a esperava praticamente aos saltos — o que foi dessa vez?

Clara revirou os olhos para a pergunta ácida, mas ignorou.

— Meu neném fez a primeira amizade! — comemorou, a puxando para um abraço apertado e beijando suas bochechas por cima do cabelo que a cobria — estou tão orgulhosa! Eu disse que esse lugar ia ser bom para você...

No fundo, o que Clara pensava era sobre como Laura tinha tanto cabelo, já que estava praticamente o devorando.

— Mamãe, pare com isso! — Laura resmungou, tentando se soltar de seus braços — falando assim até parece que eu não tinha amigos.

— Mas você não tinha mesmo — Clara a lembrou, a soltando e rindo de sua expressão indignada.

— Mãe! — a adolescente protestou, lançando a ela um olhar feio que a fizera rir novamente.

— O que? É a verdade. Você é muito chata, minha filha.

As bochechas de Laura se cobriram de vermelho.

— Depois se pergunta por que diabos nunca te dou presentes no dia das mães dizendo que é a melhor mãe do mundo...

Clara riu, seu ânimo jamais a abandonando.

— Não ganho porque você é chata, meu bem.

— Não ganha porque não sou mentirosa — Laura a corrigiu, porém, dessa vez ria.

Clara a puxou para seus braços novamente e beijou sua testa, a acariciando entre os cabelos volumosos.

Estava tão aliviada!

Laura estava parecendo realmente abatida com a viagem e não suportava ver sua menina daquela forma. Ainda mais quando ela não deixava que a consolasse.

Era devastador ter três filhos na adolescência. Era como viver em um terreno minado, onde tinha que tomar cuidado e traçar estratégias para cada passo que dava ou algo explodiria.

E quando algo explodia, sempre parecia levar algum pedaço de si embora.

Sua Laura estava infeliz, sabia disso, sentia na pele, mas agora parecia ter alguma chance de adaptação ao lugar.

Ela sempre foi a que mais sofreu com as mudanças constantes, sabia que nem acreditava quando prometeram ficar de vez naquela cidade, que provavelmente agora estava desejando partir o mais rápido possível.

Ia passar.

— De qualquer forma, estou feliz por você — disse para a filha — ela parece uma boa menina.

Laura assentiu, fechando os olhos para curtir o carinho da mãe porque ela realmente gostava de colo.

— Sim, ela parece — Laura murmurou com um suspiro pesaroso.

Clara riu do mal humor da filha, a soltando e negando com a cabeça.

— Você é terrível, Laura Isabelle — atestou amorosamente, arrancando mais um sorriso da jovem.

Laura observou as expressões aliviadas da mãe, se sentindo culpada mais uma vez por suas rugas de preocupação.

Era visível todo seu alívio, por isso não queria mencionar que ainda se sentia completamente infeliz, não importava quantas garotas boas aparecessem em sua vida querendo alguma amizade.

Ela sempre acabava sozinha em algum lugar desconhecido sem amizade alguma tendo que começar tudo de novo.

— Eu também te amo, mamãe.

— Eu sei — Clara disse, derretida por ter usado a forma doce de chama-la — agora suba e arrume o quarto. Não sei como aquilo conseguiu se tornar uma zona de guerra em vinte e quatro horas...

Deu um tapinha em sua bunda e a deixou, resmungando a caminho da cozinha enquanto Laura sorria um tanto boba.

Subiu, vendo como os irmãos já estavam se adaptando e se acomodando. A porta do quarto de Edward já tinha adesivos de avisos de “não entre” e outras coisas bobas. Beatrice, no quarto em frente ao dela estava olhando em um conflito interno suas bonecas e ela sabia o que se passava em sua mente.

— Coloque todas na prateleira e se alguém perguntar, diga que coleciona — Laura deu a dica antes de entrar no próprio quarto, se jogando na cama e considerando a coisa toda sobre estar naquele lugar, o alívio da mãe, os irmãos se adaptando, as promessas.

E Zuri surgia realmente parecendo querer se aproximar, mas Laura, apesar de nutrir um desejo secreto por ter uma vida igual a qualquer outra garota, não estava tão disposta assim a se permitir.

Estava tão cansada de começar as coisas, que se manter isolada era algo que a deixava o mais próxima possível de uma estabilidade que não queria romper.

Laura respirou fundo, se sentindo invadida por saudades e expectativas de todos os lados e uma ansiedade ameaçando estraçalhar seu peito. Mas ela não colocaria aquilo para fora, apesar de todos a volta dela sentirem como se exalasse dor e tristeza.

Precisava ter calma.

Respirou fundo. Traçou roteiros para se manter sozinha em sua bolha escura de raiva e tristeza.

Tudo ficaria bem, ou o mais próximo possível disso.

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