Rosalie atravessou a sala e encontrou-a vazia.
Olhou para o relógio em seu pulso, não era tão tarde então subiu as escadas para ver seus filhos.
Quando a mulher chegou no último degrau, quase caiu para trás ao ouvir os gritos de Angelika.
Rosalie sentiu seu coração batendo descompassado, suas pernas tremeram e ela escorregou ao virar o corredor.
Seu primeiro pensamento para os gritos de Angelika era que alguém havia invadido a casa e a estava machucando.
Rosalie se levantou e continuou correndo, sentindo-se a beira do colapso.
Quando Rosalie chegou no foco dos gritos, descobriu que era em seu quarto.
E ficou chocada com a cena que viu.
Bastien estava com diversos sacos de roupas jogados no chão, enquanto Angelika tentava acertá-lo, aos prantos.
Rosalie ainda sentia que seu coração estava batendo rápido demais, contudo, se aproximou da cena.
Apenas uma olhada rápida e ela percebeu que todas aquelas roupas pertenceram a Duncan...
Ela olhou para seu filho mais novo, seu rosto era muito parecido com o de Duncan quando era jovem, quando seus olhares se encontraram ele não conseguiu sustentá-lo por muito tempo.
— Mãe! Ele está tentando se livrar de tudo que foi do meu pai!
Ela conseguiu sentir toda a dor daquelas palavras, viu nos olhos de sua filha o sofrimento.
Angelika se recusava a deixar que Bastien se livrasse das roupas que pertenceram ao seu pai.
A garota estava com o rosto vermelho, e os olhos inchados de tanto chorar, seus cabelos castanhos caindo ao seu redor.
— Não pode deixar... Não deixe... — Implorou Angelika, sua voz cada vez mais fraca.
Bastien estava parado atrás dela, olhando para sua irmã.
Havia dor em seus olhos verdes, uma dor que Rosalie podia perfeitamente compreender.
A mulher se aproximou de sua primogênita e a puxou para um abraço.
Ela envolveu Angelika e a segurou em seus braços e sussurrou palavras suaves em sua orelha, mesmo quando Angelika tentou se desvencilhar e acusar Bastien ela a segurou mais firme.
Até que a garota percebesse que não havia outra opção, se envolver por sua mãe.
Angelika entrou em combustão, tendo uma enorme crise de choro e perdeu as forças nos braços de Rosalie.
Lentamente a garota foi se deixando cair, até que ambas permaneceram no chão de joelhos.
Rosalie não se permitiu chorar, apenas consolou sua filha.
Mas sua dor era a mesma.
— Eu sinto a falta dele... — Murmurou Angelika, sua voz estava embargada.
Rosalie assentiu, enquanto continuava a segurá-la, apoiando seu rosto contra seu coração.
A consolando como se fosse uma menina, porque ela sempre seria sua menina.
Quando a viúva levantou seu olhar para Bastien, viu com tristeza que ele chorava em silêncio recostado na parede.
Ela levantou uma mão, a oferecendo a ele.
Bastien a olhou, seus olhos eram um céu enevoado.
Ele era apenas um adolescente, mesmo seu físico não demonstrando isso.
Bastien se aproximou e se ajoelhou cedendo aquele momento, os três se abraçaram por um longo tempo.
E compartilharam sua dor, ao menos naqueles minutos.
Mais tarde naquela noite, Rosalie devolveu todos os pertences de Duncan para seu lugar, e pensou na atitude de Bastien.
" Eu vejo a senhora se enrolando em tudo que foi dele, vejo vocês duas fazerem isso"
Ela se lembrou das palavras dele, e de como isso o machucava.
Da dor em cada palavra.
Rosalie olhou para si mesma, estava vestindo uma das camisas favoritas de Duncan.
Ela inspirou, e percebeu que ainda tinha seu cheiro...
Ainda não estou pronta, pensou.
Aquilo doía em seu coração.
Mas não conseguia se livrar de nada de Duncan.
Ela estava torturando a si mesma, sabia disso.
Mas não podia evitar. Ainda não.
Ela respirou fundo e tentou distrair sua mente com o trabalho, decidida a provar a todos que duvidavam dela.
Rosalie caminhou até alguns livros sobre gestão de empresas, e começou a ler.
Ficou lendo sobre estratégias de vendas, administração, por horas seguidas.
Estudando sobre o mercado de peças de carros.
Quando finalmente resolveu fazer uma pausa, ela checou seus e-mails, na esperança de ver alguma novidade da investigação sobre a explosão.
Sabia que a morte de Duncan não havia sido um simples acidente, não podia ser.
Rosalie se encaminhou para o telefone, e ligou para o investigador responsável pelo caso.
Minutos depois ela bateu o telefone, com as palavras "Nenhuma informação nova" engasgada em sua garganta.
Ela se deitou na cama, e apenas um pensamento rodou por toda noite em sua mente.
Investigaria por conta própria.
Minutos depois enquanto esses pensamentos martelavam em sua cabeça o telefone tocou, a mulher atendeu e disse "Alô".
Não houve resposta do outro lado, apenas uma respiração.
De alguma forma, sem saber a razão, Rosalie se viu chorando em silêncio.