Machado de Assis
TRINTA ANOS DEPOIS, Jamie estava novamente naquele lugar que um dia lhe causou tanta dor, jamais imaginou que voltaria ali, mas era o último desejo de seu pai ser enterrado no mesmo lugar que deixara de viver quando sua mãe sumiu, mesmo que o corpo dela não estivesse ali, seu pai sabia de alguma forma que era a coisa certa a se fazer, enterrá-lo ao lado da lápide que ele levantou depois do inexplicável sumiço da mulher dos seus sonhos...
A mulher mais linda que já existiu, a mulher que permeou os sonhos mais profundos de Donovan...
E ali estava ele para cumprir a promessa que fez ao seu pai, de enterrá-lo junto à mulher que amava.
Suas vidas devem ter sido incríveis...
Jamie sabia no seu mais íntimo que seu pai jamais foi o mesmo depois que ela desapareceu dos seus sonhos, mas ficou ao lado dele todo esse tempo, ensinando-o a música, ensinando-o a parte boa da vida que é amar...
Amar o que se faz, amar com quem se faz e acima de tudo, amar em retribuição tudo o que fizerem por você...
Jamie ajoelhou-se em frente ao túmulo, dos seus pais agora, e limpou a foto de sua mãe, foto desgastada pela ação do tempo, mas mesmo assim dava para ver a beleza imortalizada dela e por um breve instante percebeu que seu pai fora o homem mais feliz da face da terra, pois era fácil amar uma mulher como a sua mãe, lindíssima, com um talento único, e acima de tudo, alguém que se fez um sonho a ser vivido.
DONOVAN JAMAIS TOMOU outra mulher nos braços depois que a conheceu no mundo real, fora fiel à Cíntia até seus últimos instantes de vida, preso a uma cadeira de rodas em um sanatório, todos sabiam que apesar de estar louco, deveria ser o mais lúcido dos homens, porém Jamie também sentia que seu pai havia morrido naquele momento em que sua mãe desapareceu.
JAMIE OLHOU PARA O LADO, viu uma senhora idosa chorando em frente ao túmulo de seus pais.
Que engraçado... quem será ela? – Pensou Jamie desconfiado.
Ele jamais havia visto aquela senhora em toda a sua vida, mas sentia que a conhecia de algum lugar, apesar do brilho apagado de seus olhos, a dor profunda fazia com que tivessem algo em comum, afinal...Todo ser humano é exatamente igual quando sente dor...
Aparentava ter sido em outra vida de uma beleza arrebatadora.
JAMIE CHEGOU PERTO DELA e quando ia tocar em seu ombro ela disse:
–– Você deve ser Jamie, estou certa?
–– Como sabe? – Perguntou ele perplexo. Pensou consigo mesmo:
Quem será essa mulher que até mesmo me conhece?
Ela chegou bem perto dele, acariciou gentilmente seu rosto, e sorriu.
Tudo era tão irreal quanto um sonho, mas, de repente...
Esse sorriso... Não pode ser... simplesmente não pode ser...
Um frio gutural rompeu pela sua espinha dorsal do jovem Jamie e fez até a sua alma se arrepiar, ele olhou para a mulher e olhou o túmulo à sua frente sem acreditar no que estava acontecendo.
É impossível... – pensou desesperado.
–– Você... é...
Disse ela a última coisa que poderia ouvir na vida.
–– Isso mesmo, mas... não se assuste, filho... sou Cíntia Donnaville, sua mãe...