Nesse suspense você vai conhecer a descolada adolescente Amélia Ross. Órfã, foi deixada na porta de um abrigo para moradores de rua em Baltimore, onde cresceu e aprendeu como sobreviver em meio à pobreza, drogas e prostituição. Quando sua melhor amiga Olga se envolve com um traficante, Amélia decide focar em si mesma e consegue começar uma faculdade, onde conhece Josh. Josh aparentemente tem a vida perfeita. Filho de pais ricos, é um ótimo atleta de beisebol e com um futuro promissor. Mas em casa, há alguns esqueletos no armário, um acontecimento em particular que definiu sua família em antes e depois. Quando Olga desaparece, Amélia se envolve em um mistério que se transforma num desafio pessoal, quando suspeita que o prédio ao lado tem algo a ver com isso.
Ler maisDomingo, 14 de março de 2018.
4h11 – Gilmor Homes, Sandtown
Baltimore, EUA.
Eu podia ouvir o barulho da chuva fraca do lado de fora. Ela batia contra a janela de um jeito melancólico. Olhei a hora no celular ao lado da cama e vi que passava das quatro da manhã, mas alguma coisa me mantinha acordada. A sensação de saudade de algo que nunca chegou a ser meu. Não sabia o que era, mas aquilo me perturbava havia semanas, como se me preparasse para alguma coisa que estava por vir. A antecipação de um vazio futuro.
Espreguicei na cama, me esticando o máximo que consegui. Olhando para o vidro sem cortina, a sombra das gotas de chuva que desciam pela janela era hipnotizante. Eu seria capaz de passar horas encarando aquilo sem me cansar. Olhei novamente para o celular. Quatro e meia. Sentei na cama, colocando os pés no chão frio, e me levantei, tentando não cambalear de cansaço, enquanto tentava ir em direção ao banheiro.
Coloquei a mão na maçaneta, parei em frente à porta e pressionei a testa contra ela, fechando os olhos. Isso estava acabando comigo. Eu só precisava de uma boa noite de sono. Só isso. Abri a porta. Em frente a pia, observei minha imagem refletida no espelho. O rosto tinha olheiras, e o cabelo escuro estava desgrenhado. Suspirei me apoiando no balcão da pia e encarando a mim mesma mais de perto. Minha pele é clara, branca demais, os olhos verdes, mas opacos. Minha expressão é cansada. Cansada não: exausta.
Tinha certeza de que não conseguiria voltar a dormir. Nunca conseguia; minhas noites tinham se reduzido a duas horas de sono no máximo, e muitas outras rolando na cama sem conseguir fechar os olhos. Suspirei, abri a torneira e lavei o rosto com água fria. Os vestígios de rímel ao redor dos olhos apenas acentuavam ainda mais minhas olheiras. Encarei-me no espelho, enquanto a água escurecida pela maquiagem ia embora pelo ralo.
Queria poder lavar também o enjoo que eu estava sentindo. Noites de festas e bebidas realmente não eram sinônimos de “bem-estar”, mas fazer o quê? Era desse jeito que eu conseguia me distrair, fugir um pouco da minha vida chata e entediante. Que se resumia em estudar o dia todo e depois fazer o que me dava na telha. Podia ser uma festa ou uma volta na rua com os meus “amigos”.
Agora eu estava me preparando para entrar no banho, sentindo a cabeça latejar por causa da quantidade de álcool que eu tinha ingerido. Minha boca tinha um gosto metálico horrível, e eu queria muito vomitar. Já tinha me acostumado à essa sensação. A bebida me fazia esquecer, por alguns momentos, quem eu era, e eu precisava disso. O álcool dá essa ilusão de liberdade, mas depois do efeito entorpecente, a realidade volta a nos atingir, nos devastando por completo, e somos obrigados a encará-la novamente.
Sentei-me no piso frio do banheiro, sentindo o jato de água quente bater com força contra as minhas costas. Abracei os joelhos, suspirando. Como é que eu ia começar mais esse dia? Era como se eu estivesse perdida, num modo automático quase permanente, agindo como todos achavam que deveria, mantendo as aparências, correndo atrás do que seria o meu sonho e lutando para chegar lá, mesmo que tivesse que passar por cima de qualquer um para alcançá-lo.
São sete e quinze da manhã, faz frio aqui fora, mas está tão lindo assim, com esse céu nublado, cinza escuro. Sem vestígios do sol. Estou acordada há algumas horas, sentada no meio fio em frente ao prédio ao lado. Não consigo dormir. Não durmo há dias. Odeio isso, odeio insônia mais que tudo na vida; ficar ali deitada, o cérebro funcionando, os pensamentos gritando. Sinto o corpo todo coçar e tenho vontade de esfregar a pele até sangrar.
Quero fugir. Quero pegar a estrada, viajar sem rumo. Queria explorar a Europa como mochileira, ou percorrer toda a costa do Pacífico nos Estados Unidos. Talvez, se eu tivesse feito tudo isso, não teria acabado aqui, sem saber o que fazer. Ou, talvez, se tivesse feito tudo isso, teria acabado exatamente aqui e estaria satisfeita. Mas não fiz tudo isso, claro, porque a mulher que seria minha mãe me abandonou, e estou sozinha no mundo desde então.
Sinto falta do que nunca tive. Sinto falta deles todos os dias. Dos meus pais. Mais do que qualquer coisa, acho. É o grande vazio na minha vida, no meio da minha alma. Ou talvez isso tenha sido só o começo. Não sei. Não sei nem se isso tudo tem mesmo a ver com o fato de eu ser órfã, ou se tem a ver com tudo o que aconteceu depois, e com tudo o que aconteceu desde então.
Preciso encontrar um jeito de me fazer feliz, tenho de parar de procurar a felicidade em outros lugares. É verdade, eu faço isso, sei que faço, e de repente estou vivendo o momento e simplesmente penso: foda-se, a vida é curta.
Quarta-feira, 03 de outubro de 2018. 7h45 – Universidade de BaltimoreBaltimore – EUA.“Foi horrível acordar hoje de manhã.Não que os cobertores pesassem muito,mas era como se eu estivesse enterrada.”Diário de Olga.Na manhã seguinte, sinto-me exausta. Estou sem energia e prestes a cair no choro a qualquer momento. Meus olhos estão vermelhos e inchados. Minha pele parece estranha no meu corpo. Quase como se estivesse apertada demais e precisasse ser arrancada. Durante anos eu me concentrei em matar aula, e hoje eu lutei para conseguir vir, mesmo com esse estado de espírito. O que há de errado comigo?
Josh se aproxima e eu me afasto. Algumas dores não devem ser compartilhadas. Eu fui a idiota que acreditou no Mike. Fui eu que sinceramente pensei que era especial o bastante para ser amada.— Ele se aproveitou de você. — Josh fala. Um sentimento de raiva se agita na voz dele. — Isso não te faz uma vagabunda, isso faz dele um babaca.Ele não está entendendo.— Eu bebo. Eu fumo maconha. Eu já usei outras drogas. Antes de você me conhecer, eu ficava chapada o tempo todo e transei com outros caras. Não sou o tipo de garota com quem você quer ter um relacionamento. Você não está enxergando quem eu sou de verdade.— Sei que você abriu mão da oportunidade de se drogar no sábado, quando Jake te deu aquela droga. Sei que você anda mais na linha do que a maioria dos alunos da faculdade. Eu não sei quem você fingia ser
Espio pelo canto e meus joelhos fraquejam. Meus dedos se enfiam na parede de tijolos para me impedir de cair, quando vejo dois guardas carregando um saco preto para o furgão.Aquilo era um corpo? O furgão branco sai pela porta dos fundos, que se abre automaticamente. Com meu canivete na mão, corro a distância que falta até a porta de trás antes que ela se feche. Consigo entrar, e meu corpo está formigando de ansiedade.Eu não deveria estar aqui. Entro na primeira sala que vejo. Ligo a lanterna do meu celular, mantendo-a baixa, longe das janelas. O lugar tem meias-paredes para dividir os cômodos, mas sem portas. Há uma mesa encostada, com materiais de pintura organizados em recipientes, alinhados em uma fileira perfeitamente reta. O lugar i
Segunda, 01 de outubro de 2018. 07h16 – Universidade de Baltimore, Baltimore – EUA. Antes da primeira aula, vou comprar um café e, quando saio, encontro Josh me esperando com um sorriso no rosto. — Como você está? — Josh pergunta. — Um desastre, na verdade.— Amélia, você dormiu um pouco desde sábado? Comeu alguma coisa?Ele faz uma pausa e me encara, como se estivesse esperando que eu pensasse no que está dizendo. E a verdade é que eu não tenho dormido muito. Mal comi. Mas como posso comer quando Olga está morta? Como posso dormir quando quem quer que tenha feito isso com ela, est&a
Sábado, 29 de setembro de 2018. 21h11 – Chesapeake Av. - FairfieldBaltimore – EUA.Amélia Lâmpadas marcam o caminho por um corredor comprido, que termina em uma escada. Subimos até o próximo andar. Sinto o coração bater nas orelhas, nas têmporas e na garganta. Josh aperta minha mão. — Estou preocupado, Amélia. Você não devia estar aqui. — Não devia mesmo — respondo-o. Há duas garotas em pé ao meu lado: uma alta e magra e outra mais baixa, com delineador azul. A garota alta segu
Sinto-me enjoada. Jonas continua: — Eu, generosamente, permiti esses luxos pra ele, porque eu sei que os objetivos dele se alinham com os meus. Eu sei o que ele quer, e eu sei que ele é capaz de alcançar. — Sua mandíbula endurece enquanto me encara. — Então é isso o que vai acontecer: você vai terminar esse relacionamento com o meu filho. Você não vai mais vê-lo, você não vai manter a amizade com ele. Você não vai entrar em contato com ele. Entendeu? — Ou o quê? — sussurro, porque eu preciso ouvi-lo dizer isso. — Sem treinos, roupas, carro, casa e comida. É isso que você quer para ele, Amélia?&
Último capítulo