Capítulo 11

“O olho é a lâmpada do corpo. se teu olho é bom, todo o teu corpo se encherá de luz. Mas se ele é mau, todo teu corpo se encherá de escuridão. Se a luz que há em ti está apagada, imensa é a escuridão.”Jesus Cristo.Aquele sonho não saiu de minha cabeça, o dia todo. Minha mãe foi uma figura extremamente importante, tanto em minha vida, como em minhas decisões. O fato de eu ser um padre, hoje, havia sido, em grande parte, por influência dela. Vê-la tentando me arrastar túmulo abaixo... Qual o real motivo daquele estranho sonho, que me pareceu tão real...? Eram tantas as minhas dúvidas, quanto a tudo o que ocorria, que já não sabia mais em quê minha mente devia se fixar: se em minha mãe; na exumação de Castañeda, que faríamos, de forma oculta, naquela n

Capítulo 12

“Quando iniciamos a vida, cada um de nós recebe um bloco de mármore e as ferramentas necessárias para convertê-lo em escultura. Podemos arrastá-lo intacto, a vida toda; podemos reduzi-lo a cascalho ou podemos dar-lhe uma forma gloriosa.”Richard BachEntre cochilos, olhos arregalados e os sustos que me despertavam, o dia clareou. Levantei-me antes de Enoch e Madalena. Preparei um café forte e os deixei dormindo.Fui para a Catedral, celebrar a primeira Missa do dia. Assim que subo ao altar, percebo a Igreja lotada por peregrinos, anjos, demônios e, nos últimos bancos, Lilith e Ariel, sentadas. Lilith tinha um véu negro cobrindo a face, que, naquele dia, não estava tão formosa; e Ariel, tinha um véu branco, que deixava transparecer uma espécie de luz azulada, que ofuscava a sua feição delicada.Naquela manh&atil

Capítulo 13

Capítulo 14

“Ignorante não é aquele sem instrução, é aquele que não conhece a si próprio.”KrisnamurtiA igreja estava lotada. Não, que nas outras missas não estivesse cheia; mas acredito que os comentários a respeito do que eu havia feito na anterior, causou certa curiosidade. Ouvi um burburinho, ao subir no altar apenas com o colarinho clerical, sem a tradicional batina. Usava apenas uma calça jeans, uma camisa branca de mangas curtas; afinal, estava um tanto quente, para o horário; e o colarinho clerical, que indicava que eu era o padre.Pedi aos fiéis que fechassem seus olhos. Começaríamos a Missa conversando com Deus. Sem cerimônias, sem os ritos habituais, apenas cada um de nós e Deus.Depois de alguns minutos, assim que acabei minha conversa com Deus, onde pedi que me guiasse por aquele claustro e me

Capítulo 15

"Não espere por uma crise, para descobrir o que é importante em sua vida."PlatãoAdormeci. Meu corpo estava exausto, e minha mente, ainda mais.Acordei com batidas na porta de meu quarto. Eram seis horas da manhã. Havia dormido bem mais que o habitual. Costumava levantar-me às três e meia, todos os dias. A Missa só seria celebrada às seis da tarde, e isso permitiu que eu repousasse sem o compromisso matinal martelando a minha cabeça. Levantei-me a fui atender às batidas, que se repetiam insistentemente. Abri a porta e, pela fresta, pude ver Madalena, um tanto inquieta. Fiz sinal com a mão, para que ela entrasse e sentasse, enquanto eu realizava minha higiene matinal. Enquanto lavava meu rosto e escovava meus dentes, senti um cheiro bom, de café fresco, tomando conta do ambiente. Isso me remeteu a uma saudade de algo que nunca mais havia tido, depois que sa&iacut

Capítulo 16

"Projetistas fazem canais, arqueiros airam flechas, artífices modelam a madeira e o barro, o homem sábio modela a si mesmo".Buda Gautama Sakyamuni.Sem uma boa desculpa para colocar alguém em meu lugar, não seria assim, tão simples, sair de Compostela. Apesar de haverem mais padres no Santuário, o responsável pelas missas principais, era eu. Alegar problemas familiares seria uma boa ideia. Meu pai e mãe já haviam partido, mas ainda tinha meus irmãos e sobrinhos.Redigi uma carta para a arquidiocese, explicando minha ausência durante a próxima semana. Aguardaria a resposta e o nome do padre que me substituiria. Enquanto aguardava, procuramos estudar ao máximo todas as possibilidades com as quais poderíamos nos deparar. Iríamos os três: Madalena, Enoch e eu. A essa altura, já estava a par de todos os detalhes.A Ilha

Capítulo 17

"O que Deus quer são nossos corações, e não as cerimônias, já que com elas, a fé NELE perece. Se queremos buscar a Deus, devemos buscá-lo dentro de nós mesmos, pois fora de nós, jamais o encontraremos".ParacelsoDeveríamos nos apressar. Tínhamos apenas mais alguns dias, antes que eu voltasse ao meu posto de Pároco de Compostela.No mesmo dia, providenciamos as passagens de volta, mas desta vez, nossodestino era Sevilla. Madalena estava bem calada, quase não dirigia a palavra a mim. Eu não tinha certeza dos sentimentos que ela represava, por trás daquele silêncio sepulcral, mas temia. Procurei respeitar ao máximo seu momento de introspecção, pedindo a Deus que, se fosse de Sua vontade, Madalena recobrasse a razão e me visse apenas como um padre; mas, mais do que a ela, esse pedido se remetia a

Capítulo 18

“Não sou sempre flor. Às vezes espinho me define tão melhor. Mas só espeto os dedos de quem acha que me tem nas mãos.”Clarice LispectorAinda restavam três dias para minha volta à Compostela, onde retomaria o sacerdócio. Precisávamos agir rapidamente.Já há duas noites não dormíamos. Parecíamos zumbis.Lutávamos para que nossos olhos se mantivessem abertos. Precisávamos decifrar aquele Códex! Todas as vezes que olhava para o horizonte, via a luta mais acirrada e cada vez mais próxima do plano terreno. Anjos e demônios pareciam cada vez mais vorazes, cada qual em sua convicção cega de estar fazendo o melhor para as almas, que eram praticamente rasgadas ao meio... É quase impossível imaginar algo etéreo sendo dilacerado, mas era exatamente isso o que estava aconte