03

“Mamãe, mesmo com isso, eu estou de castigo. Estou entediada.” Resmungou a menina, tornando a deitar na cama.

“Bom, tem vários livros que você nos fez comprar e ainda não leu. Pode usar seu tempo longe de aparelhos eletrônicos para isso.” Propôs a mais velha, saindo do quarto e deixando a menina resmungando para trás.

~*~

“Eric, você quer passar mais duas semanas sem celular e videogame?” Perguntou Marcela, irritada.

“Não, mãe, por quê?” Respondeu o garoto, desatento.

“Então saia da minha cozinha agora mesmo.” A mulher gritou, assustando os filhos e o marido, que veio correndo da sala.

“O que está acontecendo aqui?” Arfou Mariano, encarando a família.

“Seu filho está destruindo a minha cozinha, Mariano.” Reclamou Marcela, irritada.

“Nós só estávamos fazendo milk-shake, papai.” Garantiu Bina, agarrada no irmão mais velho.

“Hã, com a cozinha toda?” Mariano tentou soar delicado, vendo os ingredientes espalhados por todo o balcão e pia, além de respingado nas paredes. “Eric, Bina, vão se limpar e colocar pijama... Eu termino o milk-shake de vocês.”

“Tá bom.” O mais velho pegou a caçula pela mão, saindo da cozinha de cara fechada.

Mariano suspirou, caminhando até a esposa, que limpava toda a bagunça de forma compulsiva.

“Hey, calma.” Ele segurou sua mão com carinho, a virando de frente para ele. “Não adianta você ficar explosiva, amor... Você parece seu pai nessas horas.”

“Assim você me ofende.” Reclamou a mulher, chateada. “É só... Ele não consegue se controlar, Mariano? Ele é pior do que o Pablo foi!”

“Ele só tem 14 anos, amor... Nós também éramos incontroláveis nessa idade; talvez não tanto quanto ele e os meninos, mas éramos. Você só está chateada porque é sempre o nosso filho quem encabeça as diabruras deles, e você acha que todos os nossos amigos nos odeiam por isso.”

“Como você me conhece bem.” Resmungou ela, recebendo um beijo na testa.

“Talvez nós tenhamos sido um pouco permissivos demais com o Eric quando ele era pequeno, por tudo o que aconteceu na gravidez... Mas tratar ele de forma ríspida, fazer ele se sentir mal, ou gritar com ele por tudo não vai adiantar nada, Marce. Só vai afastar ele de nós, assim como afastava o Pablo do seu pai. E eu tenho certeza de que você não quer isso, certo?” Mariano disse com a voz doce, vendo-a negar. “Vai lá falar com ele enquanto eu arrumo essa bagunça e termino o milk-shake.”

“Mariano, o Eric está de castigo.”

“E vai adiantar dar milk-shake para a Bina e deixar ele sem?” Ele arqueou a sobrancelha.

“Acho que eu já disse isso um milhão de vezes, mas digo de novo: eu não conseguiria passar por nada disso sem você, grandão. Obrigada por ser meu ponto de equilíbrio.” Se esticou na ponta dos pés, dando um selinho no marido.

“As ordens, pequena.”

O quarto de Eric não lembrava mais em nada aquele que os pais tinham montado quando ele nascer. Do original, na verdade, apenas as pelúcias da África, que o pai tinha lhe trazido de presente e que agora estavam em uma prateleira alta, acima da cama. Porém, as paredes agora eram azul-acinzentadas, com pôsteres de basquete e surfe, o arMariano era preto, e quase todas as prateleiras e nichos eram cheias de medalhas e troféus.

E a mãe decorado se corroía por não poder organizar aquele espaço à sua maneira.

“Eric?” Ela empurrou a porta aberta, colocando parte do corpo para dentro. “Posso entrar?”

“A casa é sua, mãe.” Ele deu de ombros, girando a bola de basquete na ponta dos dedos.

“O que eu já falei sobre bola em casa?” Ela bronqueou, vendo-o bufar e deixar o objeto de lado, deitando na cama. A mulher se repreendeu em silêncio e foi até a cama do filho, sentando na beira dela. “Hã...”

“Eu sei que o papai mandou você vir falar comigo, mãe.” Eric continuava encarando o teto.

“Você estava escutando a nossa conversa?”

“Não, eu apenas conheço os meus pais. O papai sempre tenta conversar, você já chega com dez pedras na mão para brigar comigo.” Ele disse simplesmente, tentando não mostrar como isso o chateava.

“Eu... Eu sinto muito por isso, filho, de verdade.” Ela esticou a mão, acariciando os cabelos escuros dele. “Você parece demais com o seu tio, Eric, você sabe... E eu não sei como controlar isso. Digo, você consegue ser ainda mais atentado do que ele...”

“Mãe, você está tentando me pedir desculpas ou me ofender?” Eric sentou, um misto de confuso e indignado.

“Eu estou fazendo o melhor que eu posso, Eric, desde o começo.” Ela garantiu, emocionada. “Não é o tipo de coisa que se deva falar.”

“Eu não sou mais criança, mãe...” O garoto segurou a mão dela. “Talvez se você falar o que você sente, as coisas entre nós fiquem melhores.”

“Desde o momento que eu soube que você existia, eu tenho tentado o meu melhor... E parece que nunca é o bastante. Eu passei semanas sem sair da cama, de tão enjoada que você me deixava, achando que isso era o melhor para você; e então você adoeceu dentro de mim. Eu deixei que me revirassem por dentro, para que você pudesse nascer bem, e mesmo assim você nasceu com o coração irregular. Eu deixei meu trabalho de lado para cuidar de você enquanto você crescia, para te dar atenção e cuidado, e você sempre aprontando e se distanciando de mim. Eu faço tudo o que eu penso que é o melhor para você, e nada dá certo.” Ela desabafou, chateada.

“Você... Você falou isso para o papai?” Perguntou Eric, encarando a parede para que ela não visse que ele chorava.

“Nunca.”

“Acho que eu fui um erro mesmo, né? Uma camisinha vencida ou algo assim.” Ele deu de ombros.

“Não repita isso.” Marcela puxou o rosto do filho, vendo que ele estava prestes a chorar. “Você pode ser tudo, Eric Ashe, menos um erro. Você não foi planejado, isso é verdade, veio em um momento em que nós não esperávamos. Mas nós te amamos tanto, filho, eu te amo tanto... E é por te amar desse jeito que me dói e me chateia isso, a forma como a gente se relaciona.”

“Eu acho que eu podia ser menos peste. Sabe, me comportar mais, tentar obedecer mais você.” Disse o garoto, após um tempo de silêncio.

“E eu posso tentar ser menos mandona.” Concordou a mãe, acariciando o rosto dele. “Me desculpa pela explosão, meu anjo.”

“Não precisa pedir desculpa, mãe.” Ele a abraçou, deitando a cabeça em seu ombro. “Só... Saiba que você faz o bastante, tá bom? Tudo o que você fez por mim, desde antes de eu nascer... Eu te agradeço muito, demais mesmo. Eu sei que você se esforçou para cuidar de mim e me fazer ficar bem, desde o primeiro minuto, e eu agradeço você demais por isso.”’

“Eu faria tudo de novo, sem reclamar... Por você e pela Bina, eu faço tudo.” Prometeu, beijando o rosto dele e curtindo o abraço. “Te amo, meu menininho.”

“Também te amo, mamãe.”

~*~

Maju estava deitada na cama, mais irritada do que nunca. Os pais tinham tirado seu celular, ela odiava ler, e não podia nem ir encontrar as amigas do prédio, como parte do castigo. Aquilo era cárcere privado!

Nita estava ajudando a mãe a fazer o jantar, enquanto o pai estava trabalhando no escritório. Resolveu que iria ver TV, já que isso não estava englobado no castigo.

Quando chegou na sala, Nico estava deitado no sofá, jogando videogame. Foi até o mesmo e o desligou, pegando o controle e caindo no sofá.

“Hey, eu estava jogando.” Protestou o menino, irritado.

“E eu com isso? Eu quero ver TV.” Respondeu sem encarar o irmão, colocando em algum seriado.

“Maju, isso é falta de respeito! Você não podia desligar meu videogame simplesmente, eu estava no meio de uma partida online.”

“Ah, vai caçar o que fazer, moleque. A única coisa que eu posso fazer é ver TV, então eu tenho prioridade.”

“Se não fizesse tanta bagunça, não estaria de castigo.” Nico se levantou, irritado. “Eu estou usando a TV.”

“Nico, vai tomar no cu, vai.” Rosnou a mais velha, empurrando o irmão e o derrubando no chão.

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