Marrento
— Sim, senhor! O Jordan irá levá-lo para a empresa e ficará lhe aguardando até a hora que precisar voltar — informa prontamente.
— Ótimo! — rosno e caminho para a porta.
— Aqui, Senhor! — Ele diz me fazendo parar e encaro a pasta de papel grosso estendida em minha direção.
— O que é isso?
— São alguns documentos que precisa ler no caminho. O senhor terá uma reunião de início com os funcionários. É algo que precisa ser feito, senhor! — bufo.
— Eu preciso de uma secretária que me ajude a organizar essas coisas — retruco.
— Sim, Senhor! Vou providenciar uma.
— Faça isso, Danilo! — digo e saio de casa.
***
Nunca pensei que vida de empresário fosse para mim. Nem mesmo no submundo cheguei a ser dono de algo. Contudo, estou gostando dessa sensação, mas por outro lado estou a horas trancado no escritório e perdido em meus próprios pensamentos. Eles estão preenchidos com uma única imagem: Jasmine, quando eu deveria estar atento a reunião com os sócios executivos da minha empresa. Penso em como ela estaria agora ou no que estaria fazendo. E enquanto eles falam, e falam, e falam, eu pego o meu celular largado em cima da minha mesa e começo a digitar sem parar. Simplesmente deixo o meu coração falar mais alto.
… Como pode ser tão difícil esquecer o primeiro amor? Juro que essa é a minha luta de todos os dias, princesa. Aqueles dois tiros que não conseguiram me matar, mas você consegue me matar um pouco a cada dia. Entendo que não me ame. Entendo que nunca será minha e aceito que nunca será. Eu só quero que seja feliz com as suas escolhas, Jasmine e eu tentarei ser feliz com as minhas. Entretanto, eu te amo! Isso é um fato e com certeza jamais deixarei de te amar. Isso quer dizer que não haverá lugar para outra mulher dentro de mim. Eu te amei, e pode não ter sido da maneira certa, mas como você mesma viu eu sou capaz de dar a minha própria vida em troca da sua. Não se preocupe, essa será a minha última mensagem para você. Eu não sou perfeito, Jasmine. Talvez eu seja só um delinquente mesmo, embora no meio da minha escuridão você me permitiu sentir a sua luz e esse sentimento tão forte que me arrasa por dentro, que me fere e me machuca de uma forma que me pego desejando ter morrido naquela mesma tarde. Adeus, minha doce Jasmine! Amo você!
C.
Olho para a mensagem por longos minutos. O nome Jasmine no cantinho da tela parece brilhar intensamente. Esse será o meu último contato com ela. Penso e o meu indicador inicia uma guerra entre apertar ou não o maldito botão do enter. Com uma respiração profunda o aperto. Pronto, lá foi o meu adeus para ela. Suspiro e em seguida ligo o meu modo empresário foda.
— Senhores, o meu nome é Alex Fox e eu sou o novo sócio majoritário e atual presidente dessa empresa. Andei estudando os progressos e as vendas, e notei que os números estão muito baixos e caindo gradativamente. O senhor Walter, não é? — Aponto para o homem loiro e alto sentado do meu lado direito.
— Sim, senhor!
— Sim, senhor Fox! — exijo. Ele franze a testa e se ajeita em cima da cadeira.
— Desculpe! Sim, senhor Fox!
— Vejo que é chefe da contabilidade dessa empresa há alguns anos. — Ele confirma com a cabeça. — Pode me explicar por que nesses últimos anos esses números nunca subiram nos gráficos, senhor Walter? — Ele engole em seco.
— É por causa da crise no país, senhor e alguns fatores de vendas, eu acho. — Arqueio as sobrancelhas. O homem me parece um tanto nervoso.
— Eu acho, senhor Walter? — questiono duramente. — Definitivamente não era essa a resposta que eu gostaria ouvir de um profissional — rebato implacável. Ele volta a se ajeitra em sua cadeira e mexe em sua gravata.
— Senhor Fox, eu…
— Está demitido, senhor Walter! — rosno impetuoso, o encarando firmemente e sem hesitar.
— O que disse?
— Eu disse que o senhor está demitido. Eu quero pessoas determinadas a alavancar a minha empresa trabalhando para mim e não pessoas conformadas com a situação do país. Infelizmente o senhor não se encaixa no novo perfil da Car Whash. E, está dispensado, por favor, já pode se retirar dessa reunião! — Os olhares cheios de surpresas balançam de mim para o funcionário. O homem endurece a sua face, se levanta da cadeira carregando a sua dignidade consigo, ajeita o seu terno no seu corpo e sai pisando firme, passando pela porta logo em seguida. Implacável. Foi isso que aprendi ao longo dos meus anos de vida no mercado negro e infelizmente praticamente metade dos chefes dos setores foram demitidos nessa manhã por suas incompetências e respostas dadas sem o menor sentido. Solange, uma garota que nomeei como minha secretária ficou encarregada de trazer novos currículos para preencher esses novos cargos.
O dia passou rápido demais e confesso que estou adorando o meu novo emprego. Mega CEO das empresas Car Whash. O manda chuva, o dono da porra toda e o melhor, sem me sentir mal por isso e sem praticar o mal a ninguém. À noite organizo alguns papéis dentro de uma pasta e saio da minha sala. Lá embaixo encontro Jordan me aguardando e o caminho para casa é feito todo em silêncio. No entanto, não gostei disso porque a minha mente ficou povoada de pensamentos que eu não queria ter. E lá estava ela de novo. A garota que me destruiu por dentro. Lembro-me de vê-la sair de casa toda todas as manhãs arrumada e pronta para ir ao colégio. Essa visão sempre me fez sorrir. Era a minha dosagem matinal de luz em meio as minhas trevas. Contudo, o meu sorriso desaparece porque junto com essa lembrança a vejo entrar no carro do filhinho de papai todas as manhãs. Suspiro. Ela nunca me amou e para piorar eu nunca soube como me aproximar e conquistá-la de verdade. Talvez eu não tenha nascido para isso realmente. Amar e ser amado. Eu fui criado para ser sozinho, para viver sozinho, sempre sozinho. Bufo contrariado com esses pensamentos. Mas devo confessar, eu daria tudo o que tenho só para tê-la aqui comigo agora. O carro para em frente a mansão de condomínio fechado e imediatamente observo as suas luzes acesas deixando a fachada da casa graciosamente iluminada devido as paredes de vidros que a noite ficam transparentes. Puxo mais uma respiração profunda e dessa vez fecho os olhos brevemente para apreciar a paz que me envolve agora. Saio do carro e adentro a casa elegante, e confortável em seguida. E sigo direto para as escadas. Preciso de um banho relaxante e de uma boa refeição, só então retomarei o meu trabalho aqui de casa mesmo. Minutos depois abro a porta do quarto principal e paro bem na entrada, fitando a garota estranha fuçando dentro do meu closet.
Mas o quê? Por algum motivo o meu sangue ferve e eu não consigo evitar a minha explosão.
— QUE PORRA VOCÊ ESTÁ FAZENDO AQUI NO MEU QUARTO?! — berro tão alto quanto deveria e assustada ela praticamente pula para fora do armário. A garota fica imediatamente pálida. Ela balbucia várias vezes, mas nada sai da sua boca. Entretanto, mantenho os meus olhos intimidantes o tempo todo em cima dela. Fabiana parece curiosa e amedrontada. Mas a merda do seu silêncio está me incomodando. — FALA LOGO, CARALHO! — Volto a gritar, mas ao invés de respostas ela estremece ainda mais.
— Des-desculpe, se-senhor A-Alex! — Ela gagueja as palavras. No entanto. dou dois passos firmes em sua direção, mas ela recua. Isso não me faz papar e continuo a dar passos, porém, ela continua a recuar até as suas costas bater contra a porta do closet e ela fica sem saída.
— Eu quero saber o que você está fazendo aqui no meu quarto? — ranjo baixo e entre dentes, porém, sem tirar os meus olhos dos seus.
— Do-Dona A-Anita — gagueja quase sufocando em suas palavras me deixando confuso. — E-Ela me pediu para organizar a-algumas co-coisas. — Atrevo-me a chegar ainda mais perto da menina. O seu cheiro. Esse cheiro é envolvente demais. Engulo em seco e me perco na escuridão dos seus olhos assustados. Um bichinho acuado. Penso outra vez.
Sem conseguir frear os meus pensamentos, ergo uma mão calmamente e toco na ponta do seu queixo. Fabi volta a estremecer apenas com esse toque e começa a chorar baixinho em seguida. Confuso, franzo o cenho. Eu não consigo entender porque ela tem tanto medo de mim assim. Teimoso, aproximo o meu rosto do seu lentamente e sinto um desejo insano de beijar a sua boca. — Se afaste de mim! — Ela pede áspera, mas consigo sentir que está cheia de medo e, droga, eu consigo sentir um leve tremular em sua voz. Volto a engolir em seco, mas continuo com o meu ataque. — Não me toque, por favor! — Fabiana suplica com um fio de voz. E Deus, tem tanto desespero na sua voz. Forço-me a me afastar só um pouco, ergo as minhas mãos, porém, ela sai correndo feito uma desesperada para fora do cômodo.
Que porra foi isso? Me pergunto atordoado.
MarrentoÉ quase meia-noite e ainda estou acordado, trabalhando com afinco no meu Macbook, avaliando algumas propostas na minha caixa de e-mails e ainda preciso analisar alguns documentos para o dia seguinte. Confesso que estou começando a gostar dessa minha vida de empresário. Ela mantém a minha mente ocupada por muito tempo e não sobra espaço para lamentar o meu passado, e quando termino, o cansaço cobra o seu preço e eu sempre durmo como uma pedra até o dia seguinte. Estranhamente o meu antigo celular começa a tocar dentro de uma das gavetas do criado mudo e curioso o pego para olhar o número desconhecido, e faço isso por algum tempo. Penso em ignorar essa ligação, e trinco o maxilar me perguntando por que mantenho esse guardo esse maldito aparelho comigo. Essa foi única coisa que restou do meu passado obscuro. Nesse minúsculo chip tem centenas de contatos de provedores do melhor material que o submundo pode oferecer, sem falar nos milhares de nomes de compradores, viciados no pó e
MarrentoUma semana…Tenho fome, muita fome e sede também, mas não quero pedir nada para ele. Me sinto fraco e o calor do galpão é quase insuportável. Quero a minha mãe, quero o meu pai e tenho vontade de chorar. Por que eles não me matam logo?— Como ele está hoje? — Cicatriz pergunta adentrando o local sujo e semiescuro.— Ainda não cedeu, Cicatriz. O garoto é valente!— Ele é um idiota, isso sim! Não vai me vencer e sabe disso.— O que quer que eu faça?— Desamarre-o, dê comida e água, e depois leve-o para o topo — ordenou e saiu em seguida. O homem mal-encarado me olhou com um sorriso maldoso e debochado. Não sei o que significa ir para o topo, mas sinto que nada de bom vem por aí. Ele põe um pedaço de pão e um copo de leite na minha frente e a visão chega a me dar água na boca. Como tudo feito um animal faminto sem ao menos lavar as minhas mãos e sem nenhuma educação como me ensinaram, a final já faz dois dias que não como nada. E quando termino sou forçado a sair do galpão. A l
MarrentoCom certeza ele não faria. Penso me forçando a parar a corrida porque realmente está difícil de respirar. Então me sento em um banco de concreto e imediatamente sinto a minha cabeça girar em círculos. Agacho-me e tento recobrar o meu fôlego gradualmente. Isso é o inferno. Ele está morto, porra e mesmo assim eu não consigo viver! Que grande filho da puta! Até quando vai me perseguir? Até quando pretende me assombrar? Meneio a cabeça fazendo não e, agitado sacudo os cabelos molhados de suor. Você não tem mais poder sobre mim, seu desgraçado! Rosno mentalmente e ergo a cabeça para encarar o céu já claro. Preciso voltar para casa. Penso enquanto aguardo a minha respiração volta ao normal. Minutos depois, resolvo voltar todo o trajeto andando e levo um pouco mais de uma hora para chegar em casa. Assim que entro vou direto para o meu quarto, tomo um banho demorado e finalmente sinto o meu corpo relaxar.— Bom dia, senhor Alex! — Fabiana fala adentrando o escritório da minha casa. T
MarrentoBonita, dedicada, determinada e levemente selvagem. Essa é a imagem que eu tenho da minha assistente pessoal. Contudo, é como se ela estivesse em todo o lugar dessa casa e ao mesmo tempo, sempre atenta a tudo. Pela manhã encontro sempre a minha agenda atualizada. Eventos, lembretes de reuniões, horários de almoço comerciais, tudo sincronizado com as atividades do escritório, pois está sempre em contato com a minha secretária na empresa. Por esse motivo, acabo descobrindo que nem sempre preciso estar lá realmente e que posso resolver algumas coisas aqui de casa mesmo. Hoje é sexta-feira e eu só tenho uma reunião na parte da tarde. De alguma forma isso não está me incomodando, pelo contrário, me sinto leve. Me pergunto se os meus demônios resolveram me dá uma trégua? Eu realmente espero que sim. Vou até à cozinha o único cômodo da casa onde eu sei que posso encontrar as únicas mulheres que preenchem o meu dia e com um sorriso largo adentro saudando-as com um bom dia. Eu sei, pa
MarrentoJá estamos na metade da dança quando resolvo erguer a minha cabeça para fitar seus olhos escuros e imediatamente arrebatado por eles. Fabiana tem uma beleza singular, que prende e que me cativa, e sem perceber me inclino fitando os seus lábios até enfim, tocá-los com os meus. Um toque, apenas um leve toque e parece tudo girou, ficando de ponta cabeça. Deus, o que estou fazendo? Me pergunto no mesmo instante que aprofundo um pouco o beijo. Eu deveria recuar, me afastar dela, mas isso é... tão bom! Penso, apertando ainda mais a sua cintura e aprofundo ainda mais o nosso beijo. Meu coração dispara enlouquecido quando sinto o seu sabor no meu paladar. E droga, a sua boca é tão macia e... tão doce! Fabiana está levemente ofegante. Contudo, ela para o beijo bruscamente, fazendo-me encaro os olhos assustados. Ela engole em seco e para a dança. Na verdade, é como se tudo estivesse realmente parado agora e apenas os seus olhos me fitam em um julgamento brutal. O que fiz e errado agora
Marrento— Garçom, mais uma por favor! — peço sentindo a minha voz enrolar.— Pra você já chega, meu jovem, está na hora de ir para casa. — Rio debochado. Sério? Ele está ditando a porra do meu tempo?— Eu estou pagando, caralho e quero mais uma bebida! — rosno irritado. Levanto-me com dificuldade do banco alto e encaro o homem de perto. Ele faz um gesto com o olhar para os seguranças em pé na porta e segundos depois estou sendo arrastado para fora do estabelecimento, e jogado como o lixo que sou na calçada. Solto alguns xingamentos e me levanto cambaleante. E mesmo sentindo a minha cabeça girar, subo na moto e logo escuto o ronco do motor. Destino. Uma vez me falaram sobre ele. É algo predestinado. Você nasceu para aquilo e não tem como escapar dele. Eu nasci para ser um homem mal, para trazer o medo e espalhar o terror. A final, eu sou o Marrento a porra de um delinquente. Sou e sempre serei a porra de um traficante e um assassino. Não importa a droga do carro luxuoso na minha garag
MarrentoNo dia seguinte abro os olhos sentindo uma dor de cabeça infernal e me dou conta de que ainda estou deitado no tapete que fica perto da cama e em meio aos destroços de móveis e de vidros que quebrei durante a madrugada. Levanto-me devagar, me sento e me encosto na lateral da cama, esfregando o meu rosto e deslizo as mãos pelos cabelos em seguida. Lembro-me da noite passada, do evento de gala, do pequeno beijo roubado, a revelação de Fabiana e a bebedeira. O que eu fiz? Puta que pariu, o que eu fiz?! Levanto-me do chão com dificuldade e vou para o banheiro, tomo um banho frio e demorado, muito demorado. Por fim, visto uma roupa casual, calço chinelos de dedo e saio do quarto. Na cozinha encontro Anita e Fabiana, e inevitavelmente fito a garota que tem o olhar baixo e fixo em suas próprias mãos.— Bom dia, Senhor Alex! — Anita diz com sua costumeira animação.— Bom dia! — digo seco demais. Meus olhos ainda estão fixos na garota sentada no banco alto. — Como foi a festa ontem?
MarrentoAlguns dias…— Bom dia, senhor presidente! Acabamos de fazer a contagem dos veículos que serão exportados essa semana. Gostaria de verificá-los agora? — Fábio Stefano, um dos dirigentes de exportação da empresa pergunta entrando na minha sala.— Claro! Reúna o pessoal no pátio, por favor! Eu quero ter certeza de que estará tudo certo.— Claro, Senhor Fox!— E, Fábio?— Sim?— Não aceito imprevistos ou qualquer tipo de atrasos. Avise que cabeças irão rolar se isso acontecer. — O rapaz engole sutilmente em seco, mas assente e sai.Mandar é a melhor parte dessa minha nova vida. Dessa vez eu não sinto o medo apenas o domino e a sensação é incrível. Aqui não sou a porra de um pau-mandado, eu ordeno e eles obedecem com um diferencial, ninguém sai machucado de verdade. Respiro fundo quando a lembrança de um certo bichinho do mato invade a minha mente. Perceber que Fabiana melhorou bastante depois da nossa última conversa é satisfatório. Ela ainda não confia em mim e isso é um fato q