Entrei em casa tentando me manter calma, as coisas não iam se resolver do dia para a noite. Papai não ia deixar de me odiar e simplesmente voltar a confiar em mim, eu precisava merecer tudo outra vez.Se eu tivesse voltado para a cidade e ficado com minha mãe quando ela ficou doente nada disso estaria acontecendo. Ao menos ela entendeu o porquê eu precisava ficar longe e me perdoou, eu só não entendia porque meu pai não podia fazer o mesmo.A casa estava escura, com as cortinas ainda fechadas, e o cheiro de bebida ainda estava impregnado naquele lugar.— É isso! — falei determinada, eu ia fazer uma bela faxina e deixar a luz entrar naquelas paredes. Isso me manteria ocupada e mostraria para o meu velho que eu não iria desistir, não estava indo embora tão cedo.Encarei aquele sofá iluminado por minhas lembranças e pela luz do sol, que finalmente atravessavam as janelas. Se eu pudesse me esquecer de todas elas, apagar cada uma daquelas memórias, do mesmo jeito como um simples fechar
Corri o mais rápido que pude daquele lugar, eu tinha sido estúpida o suficiente para ter ido até ali, isso era bem feito pra mim.Mesmo com a distância consegui ver a semelhança deles, o mesmo tom de cabelo e o rosto redondo de Carla. Filho da mãe desgraçado!— Emy? — Ouvi os gritos. — Emily! — Virei bem a tempo de ver que Bete corria pelo estacionamento em minha direção. — Não acredito que é você sua grande vaca. Onde se meteu e porque não veio me ver? — ela gritou mesmo sem me alcançar.— Quando você chegou aqui? — consegui falar antes que nossos corpos se chocassem. Depois de Bianca ela era a única com quem ainda tinha contato nessa cidade. — Porque não me contou que tinha voltado?— Você não foi a primeira a me falar da sua vinda para cá também. E voltar pra cidade não é a novidade mais legal para sair por aí espalhando.— Vai por mim, eu sei. O que fez com seu cabelo? — Encarei as madeixas que antes eram constantemente pintadas de ruivo natural agora no seu tom real de loiro
ANOS ATRÁS— AI MEU DEUS! — Bete gritou pela milésima vez. — Não acredito que você dormiu com Marcos.— Fala baixo sua maluca. E não, eu não dormi com ele... — Apesar de eu não querer contar tudo isso para ela na escola, a ansiedade foi maior do que minha força de vontade.— No sentido literal da palavra sim, aconteceu. — ela sussurrou, atingindo um tom dramático.— Nós passamos a noite juntos, só isso — sussurrei. Não queria que todos na escola ficassem sabendo, não porque me envergonhasse do que tinha feito, mas sim as porque garotas que ficavam com Marcos ganhavam um "alvo" para garotos. Era incrível como todos os outros caras simplesmente passavam a enxergar a garota depois disso. No fundo eu queria gritar para todos que havíamos passado a noite juntos. — Ele me beijou, me abraçou... foi incrível.— Ok, ok apaixonadinha, vai com calma Emy. Sabe que Marcos não é do tipo que namora, não vá começar a criar esperanças, não quero que você se machuque. Por mais que ele seja gato, n
Quando cheguei em casa só queria ficar dentro do carro para sempre, até criar raízes ali, ou até que meus pensamentos cessassem. Mas eu tinha uma faxina inacabada para terminas, um sofá destruído para jogar fora e um pai doente para cuidar.Me arrastei sem ânimo para dentro e a imagem que encontrei me fez congelar no lugar, meu pai estava sentado no sofá de trapos assistindo televisão, milagrosamente parecia sóbrio, mas eu duvidava muito que isso fosse de verdade.— Imaginei que ainda estivesse por aqui, fiz o jantar. — ele disse, sem tirar os olhos da tela para me ver.— O senhor está se sentindo melhor? — perguntei esperançosa, se ele finalmente estivesse sóbrio poderíamos ter a conversa que estava adiando, com sorte poderíamos sair da cidade ainda esse fim de semana. — Podemos conversar agora?— Primeiro você vai comer, não quero mais ninguém morrendo por aqui. — ele murmurou, ainda focado na televisão que passava algo sobre a vida das formigas, com certeza meu pai não estava p
ANOS ATRÁSFazia dois meses que eu e Marcos ficávamos escondidos pelos cantos. Ninguém além de seu amigo Carlos, Bete e Bi sabiam o que estávamos fazendo. Eles que nos davam cobertura.Apesar de passar a maior parte do tempo juntos, às vezes saíamos sozinhos para manter a faixada. Não queríamos os comentários rondando a cidade de novo, especialmente Marcos, ele insistia que não queria chamar a atenção.— Você vai comigo na festa da Amanda. Vocês duas vão. — Bete disse incisiva, enquanto escolhia uma roupa.Ela já tinha jogado mais roupas para fora do guarda-roupa, do que eu poderia contar.— Não mesmo, sem chance. — Bi resmungou. — Eu tenho prova amanhã e já passei o sábado no lago com vocês, preciso estudar essa noite.— Posso ajudar você se qui...— Nem pensar Emily! Isso é uma estratégia para fugir de mim e correr para o Marcos! — ela rosnou como a leoa que era, já decidindo o que iria acontecer essa noite.— Ele vai estar fora da cidade hoje, então não viaje. Se quer que e
Não sei a que horas peguei no sono, depois de entrar na banheira e ficar mergulhada até o nariz por horas, fui para a cama e me joguei nela. Eu queria acabar com aquele pesadelo, não podia pensar pois não queria procurar soluções ou motivos que justificassem Marcos ter sido um cretino comigo. Se o fizesse poderia acabar entendendo e o perdoando.Era isso o que meses de terapia tinham me feito enxergar, aparentemente eu não queria quebrar o elo com Marcos, eu precisava odiá-lo, ou do contrário nada me ligaria a ele.— Já chega! — gritei comigo. — Não preciso de elo nenhum, meu ódio por ele não é infundado. — repeti, encarando o teto.Joguei as cobertas para o lado decidida a mostrar para meu pai que não desistiria dele. Já tinha perdido minha mãe, não o perderia também.Enquanto descia as escadas barulhos vindo do jardim me chamaram a atenção. Seria um milagre meu pai ter acordado sóbrio e com pique suficiente de cuidar do jardim à essa hora. Se fosse isso me dizia que ele estava melho
ANOS ATRÁSNo dia seguinte quase não consegui encarar Bete e Carlos, mas eles pareciam realmente alheios a qualquer outra coisa que não fossem eles.Os beijos e toques eram com tanta intimidade que eu me perguntava se eles já não tinham ficado antes. Marcos era tão cuidadoso ao me tocar, sempre esperando minha reação antes de continuar, já os nossos amigos pareciam se conhecer há anos, tocando o corpo um do outro com intimidade.— Vocês dois estão planejando se soltar em alguma hora? Preciso levar as meninas pra casa. — Marcos foi o primeiro a falar desde que tínhamos começado a tomar café.— Minha mãe acha que estou na casa da Bete, e os pais dela estão fora da cidade, acho que podemos ficar mais um pouco. — murmurei, me sentando hesitante no colo dele.— Tem certeza? — Seu toque em meu rosto foi tão leve e breve que quase pareceu não existir. — Não quero que se meta em problemas...— Sim, ela tem certeza cavalheiro. — Bete rosnou, interrompendo-o e se sentando finalmente. Até ela ti
Tinha mandado uma mensagem para Bi e pedi para que mandasse Carlos voltar o mais rápido possível a cidade. Claro que essa parte Bete não sabia, ela já tinha problemas de mais para lidar no momento. Nosso combinado foi que eu apenas o procuraria e marcaria um encontro entre os dois, e estaria lá para dar apoio dando certo ou não a conversa.— Espero que ele não demore, se levar mais alguns meses não conseguirei esconder a barriga. — Bete estava distraída sentada na cadeira branca de balanço, aquela cadeira era mais velha do que nós duas.Sua barriga estava dando uma leve volta, quase não se notava, especialmente com as roupas folgadas que ela usava agora.— Não vejo a hora de ser titia. Você e Fernando me dando sobrinhos de uma vez só. — Era muita felicidade, mesmo sabendo que dificilmente eu a veria se ela continuasse morando aqui, e eu torcia para que ela e Carlos se entendessem.— Vamos lá Emily, sua vez de dizer o que te tirou da cama tão cedo. Porque fugiu de casa? — pergunto