2. Assuntos pendente!

Se Braúlio não fosse um manipulador e mentiroso compulsivo diria que saber da minha viagem não lhe caiu bem pelo tom de voz melancólico ao telefone.

— O que acontece na minha vida, já não te diz respeito, só me deixe em paz por favor — peço deixando claro á magoada que ainda sinto.

— Sua vida ainda me diz respeito porque você é a mulher que eu amo, eu preciso que me perdoes, aquilo não significou nada foi um deslize depois da briga que tivemos eu fiquei mal bebi demais e...., — faz uma pausa. — Nos dê mais uma chance.

Por um segundo deixo de ouvi-lo distraída olhando para um ponto vazio, volto a mim, olho para minha foto na parede, e novamente minha mente vagueia em pensamentos, porque ainda tenho o número de Bráulio gravado, porque ainda lhe dou tempo?

— Meu bem, Niah está aí?

— Escuta aqui, você fez a sua escolha — grito — você fodeu com outra enquanto estava comigo, e, como uma tola ainda fui até você para ouvir suas explicações — faço aspas no ar —, e te encontro transando com uma qualquer no carro, você só piorou sua situação, você é um sujo Bráulio não volte a ligar para mim, e não se preocupe já vou bloquear seu número. Lembre-se, você me machucou primeiro, sempre que sentir minha falta pense nisso, idiota — desligo me sentindo leve, eu precisava fazer isso mais uma vez.

Jogo o telefone na cama, inspiro e expiro duas vezes, ofendi-o, talvez assim ele realmente se conscientiza de que acabou, dificilmente ajo desse jeito, mas não pude evitar eu precisava que ele entendesse que o que ele fez não tem formas de reverter. Sinto a barriga a roncar e caminho para o andar inferior, onde vejo minha mãe de um lado para o outro organizando a mesa de jantar sozinha.

— Mãe deixa que eu te ajudo, a pôr a mesa, cadê meus irmãos? — Questiono assim que percebo a ausência dos dois.

— Sua irmã está tomando o quarto banho hoje, não sei de onde vem essa mania que ela tem de tomar tanto banho, — ironiza mamãe- — E o seu irmão está a caminho, ele avisou que se atrasaria.

— O papai ligou? Sabe quando ele virá?

— Não minha filha, você sabe que para ele se comunicar fica difícil quando está nas sondas, penso que em algumas semanas ele já estará aqui.

— Oi, minha bolinha de gude, — cumprimenta Quezia me dando um abraço por trás.

— Já disse para não me chamar assim —, brado me soltando do seu abraço.

***

Estamos agora todos reunidos sentados à mesa de jantar. Agora é a hora certa para contar sobre a minha decisão, mas estou tão nervosa, minhas mãos começam a suar e, sem perceber fico puxando o lóbulo da orelha enquanto penso numa forma de dar essa notícia.

— Filha o que está te afligindo? — Indaga mamãe ao notar meu nervosismo.

— O quê? — Pergunto surpresa, saindo do devaneio. — Porquê a pergunta? Não tenho nada, está tudo bem!

— Então porque você está puxando sua orelha? Você sempre faz isso quando está preocupada com alguma coisa — diz Quezia

Paro de puxar minha orelha assim que percebo o que estou fazendo, limpo a garganta exageradamente.

— E…. Eu tomei uma decisão, — faço uma breve pausa e, desvio meu olhar para o prato vazio na minha frente.

— Que decisão? Sobre o quê? — Questiona Quezia.

— Deixa ela falar, filha — Ordena mamãe.

— Eu não vou repetir a mesma história, vocês sabem o motivo de eu ter tomado está decisão, e peço que vocês me entendam e por favor não tentem dissuadir-me porque já tenho tudo pronto e…

— Nihara vá direito ao assunto, por favor — pedi meu irmão, aflito, captando nossa atenção.

Pigarreio e assumo uma postura impassível.

— Eu…, — faço uma breve pausa e foco o olha em algum ponto vazio novamente. — Vou me mudar para Alemanha daqui alguns dias, — despejo de uma vez só, os três arregalam os olhos de surpresa olham um para o outro sem dizer nenhuma palavra.

***

O relógio de parede marca quatro da madrugada e, ainda estou aqui lutando contra insônia. A conversa de mais cedo com a minha família ainda paira sobre mim, a reação deles me causa duvidas agora. Não consigo deixa de pensar que posso estar agindo impulsivamente, ou que posso vir a me arrepender depois, que as coisas podem não sair conforme imagino.

Me levanto da cama e desço até a cozinha para beber água, totalmente aérea não reparo onde estou posando o copo e ele acaba caindo ao chão, provocando um barulho estrondoso. Enquanto apanho os cacos, rezo mentalmente para mamãe não ter ouvido, mas minha reza não resulta. Ela já está atrás de mim.

Em silêncio organizamos a bagunça que fiz e, de surpresa ela me abraça sem dizer nada. Segundos depois estamos na sala conversando sobre minha partida. Ela entende que preciso fazer isso.

***

Depois de passar o dia na rua resolvendo os pendes da viagem. Estou dirijo para a casa ao som alto da minha playlist de músicas sobre traição. Por mais incrível que pareça ouvir esse tipo de música me acalma, na verdade até quando estou bem ouço esse tipo de música. Sinto algo vibrar, encosto o carro pego a bolsa do banco de passageiro retiro o telefone que ainda toca, olho para tela é Nilza quem está me ligando. Pondero antes de atender.

— O que você quer?

— Sinto muito a sua falta já faz tanto tempo, eu... — faz uma pausa e a ouço soluçar do outro lado — podemos nos encontrar para conversarmos por favor?

— Está tudo bem, me encontra aqui no kero, na praça de alimentação —sentindo pena dela acabo por aceitar.

Antes de viajar tenho que encerrar mais este assunto, assim recomeçar será mais fácil.

Nilza caminha a passos lentos em minha direção, com o rosto abatido, parece que não tem dormido direito. Meio envergonhada ela obedece ao meu pedido e se senta de frente para mim. Faço sinal ao garçom e peço uma para Coca-Cola para ela e um sumo de lima e uva para mim e duas sandes, faz tempo que não como nada digo quebrando o gelo.

Parecemos duas estranhas introvertidas tentando iniciar uma conversa simples, faço o máximo esforço para não ser grosseira com ela, o seu arrependimento é bem visível.

— Então como você está?

Minha preocupação é realmente genuína, afinal éramos melhores amigas antes de tudo isso acontecer.

— Estou bem, e você como tens andado?

Apenas movo a cabeça em positiva, limpo a garganta exageradamente me jogo na cadeira. Ela percebe minha atitude e começar a falar do assunto que a fez marcar o encontro.

— Você sabe que nunca gostei do Bráulio e, eu nunca disse o porquê — fala com o rosto para baixo. — Na verdade o conheci muito antes daquele dia em que nos apresentaste.

A olho para ela incrédula, sem saber o que dizer, apenas faço sinal para que ela continuar sua explanação.

— Eu o conheci a dois anos numa festa, lembras? Você não pode ir porque estava doente — fiz que sim com a cabeça. — Nós curtimos algumas vezes — faz uma pausa e desvia o seu olhar do meu.

— Você e o Bráulio já namoraram? Porque eu nunca soube disso? — Dou um gole no refrigerante a minha frente e tento digeri o que acabo de ouvi.

— Nunca chegamos a namorar, na verdade quando pensei que a nossa curtição evoluiria para um namoro descobri que não era única — concentro-o. abrindo a boca algumas vezes, mas não digo nada. Estou tentando ouvi-la sem julgamento e questionamentos.

— Depois você acabou piorando da doença, e... — Nilza inclina o rosto para baixo novamente disfarçando as lágrimas e lembra daqueles dias que foram muito difíceis para nós. Ela esteve sempre comigo — algumas semanas após a sua recuperação, você apareceu com o Bráulio dizendo que estavam namorando — ela fala num tom de decepção.

— E ainda assim você não me contou o malandro que ele era porquê? — Indago magoada.

— Tudo aconteceu tão rápido eu paralisei, como podia te contar? Você não acreditaria sem provas, estavas tão apaixonada e por incrível que pareça ele também. Em apenas seis meses de namoro ele te fez apresentação, pedido e pouco tempo depois marcaram a data do casamento.

Suspiro forte lembrando daquele que seria o começo de um casamento de fracasso.

— Agora entendo porque nunca gostou dele.

Dou uma dentada na minha sandes com bastante queijo.

— Mas eu disse para mim mesma: “ fique calma Nilza talvez ele tenha se tornado um bom homem que valoriza as coisas que realmente valem a pena e que finalmente encontrou uma mulher para amar e ser leal”, mas estava enganada —balbucia olhando para as cutículas ressecadas, ela não me vê a franzir o cenho confusa. — Uma semana antes do casamento o vi...

— Naquele momento senti o sangue a ferver e, quando dei por mim, minhas mãos já estavam em volta do seu pescoço. O teria estrangulado aí mesmo, mas me faltou forças e tamanho.

Ela dá um longo gole no seu refrigerante e, dá um arroto violento. Apenas sorrio com sua espontaneidade algo que eu já estava com muitas saudades. Nós temos isso e outras coisas em comum somos bem espontânea nas nossas emoções.

Além de tristeza posso notar agora uma certa vergonha no olhar que desviam dos meus a cada oportunidade para esconder o mar de lágrimas que se formam. Seguro sua mão que está sobre a mesa e a acaricio, agora mal consegue articular uma palavra, me levanto da cadeira e me aproximo abraçando-a por trás em silêncio. Eu posso sentir os olhares curiosos das pessoas em volta em cima de nós, algo sério se passa, mas eu não vou pressioná-la ela vai me contar se quiser.

— Depois daquele dia fui até a casa dele para confrontá-lo de novo, — fala pausadamente tentando controlar o choro —, na verdade obrigá-lo a termina com o noivado e desaparecer das nossas vidas...

Pronto agora estou me afogando em preocupação, não quero pensar no que poderia Bráulio ter feito com ela, porque tenho pavor da resposta. Ele seria capaz de fazer isso?! Meu Deus estava a ponto de me casar com esse homem; abano a cabeça dispersando estes pensamentos, enxugo suas lágrimas com o guardanapo e a abraço forte.

Minha melhor amiga está sofrendo, este tempo todo fui egoísta em pensar somente em na minha dor, e não dei o apoio que ela precisava. Me sinto mal por a manter distante tanto tempo, uma vez num acesso de raiva ela me disse: “esse homem que você diz amar, está nos afastando” ela tinha razão e eu estava até agora permitindo isso.

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