CAPÍTULO 2

"I need an

easy friend

I do, with

an ear to lend

I do, think you

 fit this shoe

I do, but you

 have a clue."

Nirvana - About a Girl

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Assim que Wayne parou derrapando onde o irmão havia dito que estava ele saiu correndo da moto, não havia tempo para esperar, em poucos passos ele alcançou seu irmão, mas nada o havia preparado para o que viu, seu irmão no chão com os olhos fechados, sem vida. Wayne adora sangue, o cheiro, a textura e até o gosto, mas até ver o sangue do seu irmão por todo seu corpo e no chão criando uma grande poça, Wayne sentiu enjoo na hora, repúdio total por algo que apreciava, era o sangue do seu irmão.

— Walter! Walter! — Ele se debruça sobre o corpo do irmão sem ação, ele tira vidas, mas adoraria saber como trazê-las de volta. — Walter!

— Merda! Merda! Merda! — Logo atrás chega o Aaron, ele mandou uma mensagem ao Willis e seguiu o Wayne por precaução. Ele estava mais que certo, os problemas são grandes. — Ele está...

— Morto... — Wayne fala em um sussurro, ele deveria chorar, gritar, lamentar, ele sabe que era o que tinha que fazer, mas ele ficou sem emoção, ele simplesmente congelou de dentro para fora.

Emoções nos tornam fracos, e Wayne não deixaria ninguém ver o lado fraco dele, ele não era fraco e jamais seria, sua dor está transpassando o corpo, mas isso não vai o impedir de acabar com a existência do rato maldito, essa dor vai passar, ele irá fazer passar porque ele é Wayne Jenpsen.

— Wayne cara, fale comigo. — Ele ouve e sente o amigo, mas não o responde. — Eu chamei o pessoal.

Wayne apenas levanta todo sujo devido a ter pegado em seu irmão e se afasta sem tirar os olhos do corpo do mesmo, seu irmão que sempre o amou, talvez o único junto dos outros irmãos, uma coisa que o seu pai não lhes tirou foi o amor entre si. Ele só esperava que o irmão tivesse ido depressa, sem dor, enquanto os outros irmãos chegavam e lamentavam a morte de Walter, Wayne se deixou surdo de tudo ao redor, como em uma televisão, ele deixou todo o ambiente no mudo.

Ele não poderia desmoronar, nem hoje e nem nunca, Walter precisava ser vingado, e só pelas mãos de Wayne isso seria realizado, porque agora com a morte de Walter, ele se torna o Prez, ele manda no MC, e sem dúvidas o rato imundo irá pagar por tudo. Rosie assistia à movimentação do seu esconderijo no escuro, ela sabia que precisava falar com esses homens, dar o celular do homem que ela salvou para eles, mas seu medo estava maior e maior, as pessoas nunca lhe fizeram bem, e esses têm cara de malvados.

De súbito uma mão a puxa de onde ela está, se ela tivesse voz ela gritaria, Wayne ouviu uma respiração diferente, ele era bom em caçar e logo achou o que estava respirando, ou quem, mas para ele era apenas um moleque de rua qualquer. Rosie se desesperou e se debateu apenas para levar um empurrão a fazendo cair no chão sem ar, eles são maus, ela só sabe que precisa sair de lá o mais rápido possível.

— O celular dele se foi! — Willis brada para o Wayne que logo soma um mais um.

— Devolva o celular do meu irmão seu bandido fodido! — Ele mirou um soco em Rosie acertando seu rosto por cima do capuz, mesmo com o tecido o impacto foi brutal. — Nem um homem morto vocês respeitam? Fodidos sem escrúpulos!

Rosie gostaria de saber falar agora, um chute bate em sua costela a fazendo chorar de dor, mas ela não sabe como avisar, ela não sabe falar, a não ser que mostre que é uma mulher, ou jogue logo o maldito celular. Com dificuldade ela pega o celular do bolso e joga nos pés de Wayne que para de lhe agredir, ele se abaixa e pega o celular em mãos, ele olha para o aparelho, a última coisa que o irmão tocou ainda vivo tem até resquícios de sangue.

— Você vai morrer agora seu fodido! — Rosie não tinha uma vida boa, mas não queria perdê-la.

Quando o viu sacando a arma ela tirou o capuz revelando seu rosto, estava sujo e molhado das lágrimas, ela sentia muita dor que estava difícil de respirar, mas se manteve firme, ela só balançava a cabeça dizendo não em um pedido silencioso.

— Uma mulher? — É como se tivessem dado um soco em Wayne, ele jamais maltratou uma mulher, jamais perdoou o pai por fazer isso com a sua mãe e jamais faria isso com uma.

— Foda-se Wayne! O que você fez? — Willis corre para o lado da garota que se encolhe assustada. — Calma, não vamos te machucar.

— Eu pensava que era um moleque de rua. — Ainda surpreso ele lembra do celular. — Mas ela ainda é uma ladra, ela estava com o celular!

— Já perguntou a ela o porquê? Se fosse um roubo ela não teria ficado aqui esperando alguém pegá-la. — Willis sempre foi bondoso, ele herdou o gênio doce da mãe, claro, ainda é um motoqueiro com seu jeito de ser, mas é doce muita das vezes.

— Não, por que eu deveria? A fodida deveria ter dito de uma vez, ficou aí apanhando calada caralho, não tive culpa. — Fala irritado pelo fato de ter batido em uma mulher.

— Wayne. — Willis suspira. — Eu sei que está tudo mal, muito mal, agora com o Walter... Assim.

— Não porra, você não sabe, ele me ligou e eu não cheguei a tempo! Caralho! Ele sempre cuidou de nós, fez de tudo para estar lá e eu não cheguei na porra a tempo! — Wayne grita tão alto que Rosie soluça chorando, ela está assustada, mais assustada que no dia em que quase foi estuprada.

— Está assustando a cadela irmão. — Willis entende sua dor, sempre vai entender. — Wilf está trazendo o Wyatt e o Wylie, vá vê-los, precisamos cuidar do... Enterro. — Doeu tanto para Willis falar a palavra quanto ouvi-la sair dos seus lábios.

Wayne não disse nada, apenas se afastou, conforme seus irmãos iam chegando e vendo o que aconteceu, mais ele se fechava dentro de si, da sua dor, do seu rancor e da sua sede de vingança. 

— Ouça, o Wayne não machuca mulheres, eu juro, ele realmente pensou ser um moleque. — Rosie assentiu sabendo disso, ela se parecia mesmo. — Certo, agora me diga o que você fazia com o celular do nosso irmão?

Rosie odiava tanto não pode falar, explicar tudo, era nessas horas que ela se sentia um lixo. O único jeito era dizer do seu modo que era imprestável até para falar, com o dedo apontou para a boca e balançou a cabeça em negativa.

— Você está tentando me mostrar que não fala? — Se isso for mesmo o que ele pensa que é, o problema será maior, a única pessoa que pode saber mais do que aconteceu não fala.

Rosie assenti freneticamente, ela abre a boca uma vez, outra e outra até que deixa cair os ombros, nada saiu e Willis entendeu.

— Sinto muito, mas você vai precisar vir conosco. — Estava bom demais para ser verdade, claro que as coisas iam ficar feias.

Como tudo dela a mesma se levantou e saiu correndo, suas costelas doíam tanto que parecia que alguém estava arrancando uma a uma, mas ela não podia parar, para ela, eles com certeza lhe farão mal e lhe matarão. Porém uma muralha a impediu de seguir lhe derrubando no chão lhe fazendo fazer uma careta de dor, algo estava muito errado, provável ter quebrado um osso.

— Onde pensa que vai cadela? Não antes de explicar as coisas. — Wayne cruza os braços na sua direção.

— Você não vai fugir, não até esclarecer algumas coisas, mesmo não falando, daremos um jeito de descobrir. — Willis vem ao encontro deles.

— Precisamos ir, a polícia vai aparecer se ficarmos. — Aaron aparece ao lado dos dois. — Já temos o Prez no carro. — Falar isso doeu mais que um tiro, e não foi só Aaron que sentiu.

— Leve a cadela. — Wayne sai sem mais delongas, sobe na sua moto e acelera.

Ele precisava da adrenalina, do vento em seu rosto, dá sensação de estar voando, a realidade vem a cada minuto, seu irmão morreu, isso não tem volta, muitas coisas podem mudar, mas a morte é uma das que não podem. Wilf dirigia enquanto Willis estava ao lado da Rosie lhe vigiando, Aaron no banco da frente, o silêncio era quase cortante, chorar não era o mais comum entre os motoqueiros, então sempre que podem seguram o choro, Willis sabia que todos presentes tinham respeito pelo Prez e perdê-lo doía.

Rosie chorava silenciosamente, não só pela dor, mas também por não saber o que irá lhe acontecer, assim que o carro para ela vê um enorme portão com muros altos, o complexo MC dos Hell's Angels, Wilf sai seguido por Aaron e Willis que abre a porta e puxa a Rosie. Ela faz uma careta de dor que Willis não percebeu, seus outros irmãos de clube saem já sabendo o que aconteceu, o luto é nítido, o enterro será no complexo como de costume e entregar a alma ao barqueiro.

— Vou te deixar em um quarto por enquanto, só até resolvermos tudo. — Willis engole em seco.

— Sinto muito irmão. — Fala um após o outro ao ver Willis passar, ele notou que Wayne ainda não chegou, o que já era para ter acontecido.

— Fique aqui e não faça nada, se tentar sair será pior, lá fora eles só irão te ver como um pedaço de boceta para foder. — Rosie estremece mas assente. — Você não fala mesmo? Não é só teatro?

Rosie nega frenética, ela não sabe falar, nunca soube e nunca saberá, ele não pode pensar ser fingimento, não será nada bom se ele pensar.

— Certo. — Willis passa as mãos no cabelo, ele sabe que ela é a única que viu o Walter ainda vivo e pode saber quem o matou. Mas como arrancar informações de uma mulher que não fala? — Só fique aqui. — Willis sai e tranca a porta.

Rosie não podia fazer nada além de assentir, ela olha ao redor e suspira, o quarto é simples, uma cama, uma porta que presume ser o banheiro, escrivaninha e um pequeno espelho, não parece ser um quarto utilizado por alguém para morar. Ela sente uma pontada nas costelas e resolve ver o estrago, assim que olha se assusta, um grande roxo está enfeitando seu corpo, isso machucou feio, tanto quanto as surras da sua mãe.

Ela corre para o banheiro e o susto só aumenta quando ela vê o olho começando a ficar roxo, ela se aflige, não está nem há um dia com esses homens e já está toda machucada, maldita hora em que ela quis ajudar alguém, deveria ter ficado no seu canto, o cara morreu de todo modo, e ela provavelmente seria a próxima. Lá fora Wayne chega no complexo já com vários irmãos do MC, e logo chegará mais e mais dos clubes das outras cidades, afinal o Prez morreu, todos têm que dar o devido respeito.

— Wayne, precisamos conversar, igreja agora. — Willis já chega ditando ordens deixando Wayne com dor de cabeça.

— Eu não vou sentar na cadeira dele, nem hoje e nem nunca. — Jamais será o Prez que Walter foi, ele seria até o último dia das suas vidas, era assim que era para ser.

— Não precisa irmão, sabemos que não, sabemos também que não quer o substituir, mas as regras... — O interrompo.

— Foda-se a regras! Merda! Era para ele estar aqui nesse caralho! Bebendo e fodendo bocetas no clube porra! — A fúria quando vinha era difícil de controlar, e nesse momento Wayne se sentia perdido na fúria que nascia mais e mais dentro de si.

— Deixa sair. — Para Wayne, Willis só pode pensar que ele é um fodido maricas.

— Vou deixar sair a porra da minha bala no caralho no rato sujo, vou pegá-lo Willis, anote essas palavras, vou pegá-lo e foder a vida dele, tão duro que ele vai querer voltar para o útero da fodida puta que pariu aquele bastardo imundo. — Nesse momento Willis sabia que essas palavras não eram vãs, e sim uma promessa.

— Vem, estão nos esperando. — Willis sabia que nada podia fazer a não ser assentir, até porque agora Wayne era o novo Prez.

Enquanto Rosie estava com dor e tentando a todo custo encontrar uma forma de fugir, os Hell's Angels estavam se reunindo para decidir as novas funções agora com a mudança drástica inesperada. Wayne ouvia tudo que seus irmãos diziam, a raiva, revolta e principalmente a sede de justiça, mas ele só pensava em uma coisa, na cadela que ele achou no beco, o medo dela era arrebatador, ele gostava de causar medo.

Ver a respiração acelerada, o suor escorrendo, o coração batendo a mil, ele adorava causar isso nas pessoas, e saber que ele deixou ela assim o excitava ainda mais, não maltrata de mulheres, mas o medo era tão atraente quanto matar.

Tradução do trecho da música:

"Eu preciso de uma amiga fácil

Eu preciso, que seja boa para ouvir

Eu acho, que você se encaixa

Eu preciso, mas você já sabe."

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