Little River é uma cidade pacata onde nada costuma abalar a rotina comum de seus cidadãos. Isso até que uma onda de inexplicáveis assassinatos começa a tirar o sono da polícia. As evidências nas cenas dos crimes não sugerem algo que possa ter sido feito por um ser humano, mas isso é certo? Poderia mesmo aquela comunidade e sua região estarem sendo vítima de um personagem da mitologia e ficção? [...] Little River é uma cidade pacata onde nada costuma abalar a rotina comum de seus cidadãos. Isso até que uma onda de inexplicáveis assassinatos começa a tirar o sono da polícia. As evidências nas cenas dos crimes não sugerem algo que possa ter sido feito por um ser humano, mas isso é certo? Poderia mesmo aquela comunidade e sua região estarem sendo vítima de um personagem da mitologia e ficção? Enquanto isso, focados em suas próprias vidas e não em detalhes que não lhes interessem os adolescentes do colégio Santa Helena preocupam-se unicamente com o que um adolescente deveria se preocupar, status na escola e companhias para bailes. Diferente dos outros alunos a linda Nathalie Osbourne só quer pensar em suas notas, nos romances que escreve e em melhorar suas habilidades como pianista. Enquanto isso, focados em suas próprias vidas e não em detalhes que não lhes interessem os adolescentes do colégio Santa Helena preocupam-se unicamente com o que um adolescente deveria se preocupar, status na escola e companhias para bailes. Diferente dos outros alunos a linda Nathalie Osbourne só quer pensar em suas notas, nos romances que escreve e em melhorar suas habilidades como pianista.
Ler maisO som do piano enchia os corredores do colégio Santa Helena com sua doce melodia. Havia no ar um sentimento de paz e tranquilidade tão grande que por aqueles breves momentos todos se esqueciam das tragédias pelas quais a cidade vinha sendo notícia nos jornais da mídia local.
A pianista era uma jovem estudante e seu talento para as artes era algo nato. Não apenas referente ao instrumento, mas suas outras habilidades destacavam-se, fosse na pintura ou na escrita. Nathalie Osbourne era uma flor que ainda nem havia desabrochado, mas apenas o botão já causava inveja em todo o jardim.
Seus dedos corriam pelas teclas do velho piano de cauda do salão de música da escola enquanto a mesma mantinha os olhos fechados. Costumava dizer que a música não era algo para ser decorado ou aprendido, mas sim para se sentir. Os grandes músicos de todas as épocas – dizia ela – haviam sentido a música lhes tocar a alma.
Enquanto a jovem tocava, outros três estudantes permaneciam em silêncio na sala a ouvi-la ao mesmo tempo em que admiravam sua beleza. Nathalie tinha a pele clara, quase albina, com a tez rosada nas bochechas. Tinha uma doença de pele muito rara que a impedia de ficar exposta ao sol por muito tempo, uma das razões pela qual sempre estudara à noite e nunca era vista em atividades diurnas. Ao mesmo tempo sua pele lembrava uma daquelas exóticas bonecas de porcelana chinesas impecáveis e isso lhe conferia uma grande lista de admiradores. A cabeleira loira caía por suas costas até quase a altura da cintura e formava ondas brilhantes quando se movia. Havia quem dissesse que ela tinha os cabelos mais sedosos de todas as meninas da escola, mas não tinha ninguém que pudesse dizer que já os havia tocado para confirmar.
Quando a moça terminara de tocar as últimas notas, levara a mão esquerda até a face, suspirando. A mão direita estava em sua coxa e ela ainda mantinha os olhos fechados, como se estivesse em êxtase, ainda envolvida pela música em sua mente. Os olhos abriram-se devagar revelando um par de joias azuis brilhantes. Os três alunos que a ouviam bateram palmas e ela os encarou com um sorriso nos lábios carnudos naturalmente rosados.
—Não exagerem, não foi nada demais – dissera encabulada.
—Como pode dizer isso? – argumentara um garoto que vestia uma touca listrada de preto e branco – Sua música é tão incrível quanto a de qualquer grande músico de qualquer época. Nem dá pra acreditar que essa partitura é de sua autoria. Se eu não a conhecesse diria que para uma pessoa conseguir esse nível de qualidade teria de ter uns trezentos anos de ensaio – concluíra o rapaz sorrindo.
—Nem tanto – Nathalie colocara as duas mãos sobre as coxas e se virara de frente para os outros – Digamos que eu tenho muito tempo livre e gosto de completá-lo com música. Qualquer um consegue se tentar.
—Completá-lo com música e romance – dissera uma jovem ruiva de cabelos curtos – Estou ansiosa para ler os novos capítulos que está escrevendo de Sonhos Perdidos. Aquele romance realmente me emocionou. Nunca vi uma autora mesclar tão bem ficção e poesia como você.
Nathalie suspirara novamente olhando na direção da janela, para a lua cheia que brilhava do lado de fora. Os brincos dourados em forma de cruz que usava completavam com perfeição a bela arte de sua face. Ficara em silêncio por um breve instante e então voltara-se novamente para os amigos.
—Estou com fome. O próximo período vai começar em trinta minutos, ainda temos tempo de fazer uma visita à lanchonete antes de voltarmos para a sala. Pode me ajudar, Cindy?
A garota ruiva se levantara com um sorriso nos lábios enquanto acenava positivamente com a cabeça. Antes que chegasse até a loira, o som agudo e estridente de uma guitarra varrera a sala fazendo com que todos colocassem as mãos em seus ouvidos. Apenas Nathalie não se movera, como se aquela nota sequer tivesse sido ouvida por ela.
—Foi mal! – respondera um garoto com um sorriso desajeitado segurando a guitarra no outro lado da sala – Escapou. Esqueci de checar o volume. Vamos ter ensaio da banda nesse fim de semana, baile na próxima sexta, entendem? Estive esperando até que terminasse de tocar para checar os instrumentos. Quem dera ter metade do seu talento, Nathalie.
Era um garoto de dezessete anos, alto e magro. Tinha cabelos castanhos encaracolados e olhos escuros e era o guitarrista de uma das bandas da escola. Não era o sujeito mais inteligente do colégio, mas era conhecido por suas boas notas e pelo talento com a música.
—Tudo bem – dissera Nathalie sorrindo – não foi nada.
—Vamos indo então? – perguntara a outra garota. A jovem loira concordara sorrindo para a amiga e enquanto a ruiva conduzia a cadeira de rodas para a saída da sala, sua ocupante continuava a observar o rapaz.
O sorriso de Nathalie mascarava a dor em seu coração. Nem tudo naquele jardim eram sentimentos de amor e flores perfumadas.
* * *
A lanchonete do colégio estava lotada e como de costume, as mesas eram ocupadas por diferentes grupos de atividades sociais. Haviam os esportistas, os nerds – grupo do qual Nathalie deveria fazer parte, os preguiçosos, os mais velhos, os riquinhos e as meninas da animação de torcida do time de futebol da casa. A garota sentada com os excluídos era mais inteligente que a maioria dos sujeitos na mesa dos nerds e tinha notas melhores que grande parte dos alunos de toda a escola.
Os excluídos, como gostavam de se chamar, eram um pequeno grupo que argumentavam não se encaixar em nenhum outro e viviam com desculpas para não estarem inclusos em nenhum tipo de atividade. Mesmo assim não tinham preguiça de estudar e suas notas eram aceitáveis, o que lhes deixava fora da mira dos professores e conselhos de classe.
Nathalie folheava um livro de Jorge Amado passando os olhos pelas letras sem realmente se prender à leitura. Pensava em si mesma, em como a maioria deveria imaginar sua vida com ironia, ninguém realmente a conhecia tão bem, não intimamente. Para a moça, havia naquele colégio dois tipos de estudantes, excluindo os amigos dessa lista, claro: os piedosos e os preconceituosos.
Os piedosos estavam sempre prontos a ajudá-la, era como se estar em uma cadeira de rodas a tornasse uma inválida completa. Será que se sentiam melhor ao se colocar sempre em seu caminho procurando saber se ela precisava de alguma coisa? Será que em algum momento se perguntavam como ela se sentia com esse tratamento particular? Certamente não, certamente nenhum deles tinha qualquer intenção de aprofundar-se a saber quem era realmente Nathalie Stheffani Osbourne ou algum deles já teria aparecido na porta de sua casa desde que se mudara para aquela cidade, cerca de um ano antes.
Os preconceituosos eram seu tipo preferido. Pelo fato de viverem a evitando, ela não precisava se preocupar com eles. Sabia que sempre que se aproximava, os mesmos caíam fora. Se fosse na direção de um deles, os mesmos saíam de seu caminho, se fosse ao banheiro, qualquer um que a visse, avisava os outros por SMS ou W******p para saírem a fim de não terem que ajudá-la. De qualquer forma se sentia melhor assim, não precisava da piedade alheia. Não precisava da piedade de ninguém.
Mesmo assim, tinha que se destacar, tinha que ser melhor no que fazia para que os outros não a julgassem incapaz por causa da deficiência. Além disso, gostava de ver como alguns se matavam de estudar para poder acompanhá-la nas notas. Era difícil ser uma flor diferente em um jardim cheio de flores tão iguais, mas não era impossível de ser contornado.
—Olá, podemos conversar? – dissera uma voz grave ao lado da garota, a fazendo levantar os olhos da leitura para ver quem era. Sua surpresa quase a fizera sorrir, mas controlara-se. Era Adrian, o garoto de antes, o guitarrista.
—Claro – respondera a moça – Se não se importar de ser visto falando com o grupo que ninguém quer por perto – sorrira – Os garotos da sua banda tem uma grande reputação entre as meninas. Posso lhe ajudar em algo?
—Não sou o tipo que liga pra reputação…
—Estava apenas brincando, sobre o que gostaria de conversar? – dessa vez o sorriso estampado em sua face era evidente.
Cindy se levantara dizendo que precisava de outro refrigerante, mesmo que os copos de todos na mesa estivessem cheios. A outra garota, uma morena de cabelos longos e olhos verdes se levantara ao mesmo tempo dizendo que a acompanharia. Como o rapaz com a touca listrada não se manifestasse, Cindy o tomara pelo braço, o fazendo se levantar também.
—Venha conosco, Brian, precisamos conversar! – o garoto nem tivera tempo de responder e já estava sendo arrastado pelas duas.
—Parece que seus amigos não queriam fazer parte da conversa… – dissera Adrian, sorrindo parecendo envergonhado.
—Bom, eles… acho que são meio tímidos… você entende – respondera a menina de olhos azuis desviando o olhar com as bochechas mais rosadas que o normal. Tocara um dos brincos com o dedo indicador enquanto tentava evitar que o cabelo lhe cobrisse completamente a orelha sem sucesso – Então, sobre o que quer falar?
—Eu a vi tocando e estive pensando se não aceitaria, qualquer hora dessas, participar de uma música com a banda. Tudo bem que rock é o nosso estilo, a nossa alma, mas podemos ver o que temos em comum. A sua melodia é tocante, pude sentir que você toca com o coração e bem, falando de músico pra músico, adoraria tê-la participando em uma de minhas composições.
—O que acontecerá com Molly? Não há porque não dizer agora.—Por que não pergunta a ela?Adrian olhara para o lado e vira a irmã. Estava há poucos centímetros dele e estava diferente. Usava uma camisola rosa transparente que deixava todos seus detalhes íntimos à mostra. A pele estava clara como leite, diferente do tom corado de sempre. Seus cabelos estavam presos em um rabo de cavalo no alto da cabeça e ela também tinha os olhos vermelhos, como a mulher que ele vira antes ao entrar na casa. Seus olhares se encontraram em choque.—Olá, irmãozinho. Como você está? Não deveria estar confortando mamãe?O rapaz finalmente recuperara o controle de seu corpo, se libertando das amarras mentais de Nathalie e abraçando a irmã. O corpo da menina estava frio como gelo, assim c
Nathalie ponderara alguns segundos.—Você a viu – confirmara a menina – Ela não deveria estar lá. Quando ela apareceu naquele lugar, admito que fiquei surpresa e tentei fazer com que fosse embora logo. Suspeitei que havia nos visto e sabia que isso o deixaria confuso, cheguei a imaginar que viria correndo como fizera antes e para minha surpresa, você foi totalmente indiferente. Sabe que pensei que pudesse ter me enganado e você não tivesse visto nada? Você surpreende mais do que parece, querido.—Onde ela está? – persistira o rapaz.A menina se movera com tamanha velocidade que parecera desaparecer de onde estava para reaparecer na frente do rapaz.—Quando quiser, ela irá aparecer. Ela não é uma prisioneira, não se engane. Molly não foi forçada a me seguir, foi a vontade dela. N
Adrian chegara ao final das escadas e se virando, a vira, o mesmo cabelo, as mesmas roupas. Molly! – gritara enquanto alcançava a menina na corrida. Ao se aproximar e tocar no ombro da garota, a mesma voltou-se para ele.Não era Molly, era uma garota da escola que se chamava Deborah. A altura, o cabelo, o perfil de corpo e as roupas eram realmente semelhantes aos da irmã desaparecida do rapaz, no entanto, não era a mesma. Adrian explicara o ocorrido e a garota entendera imediatamente do que se tratava. Lamentara não poder ajudar e por fim fora uma corrida em vão.No local onde estivera antes, uma pessoa se aproximara para falar com a menina na cadeira de rodas. Nathalie sequer se virara para ver a pessoa.—Você não deveria estar aqui. Não posso ser vista com você – dissera ela – E sabe disso. Tenha paciência.—Preciso de você – resp
Um sujeito muito alto viera recebê-los. Era um senhor que provavelmente já passara de cinquenta verões, tinha um grande bigode branco ao estilo inglês e cabelos apenas dos lados da cabeça, igualmente grisalhos. Vestia-se com um fraque branco, como se estivesse em uma festa e imediatamente estendera a mão direita para cumprimentar Adrian. Seu sotaque e maneiras denunciavam sua naturalidade europeia.—Adrian, meu amigo. Bons ventos o trazem. Meus sentimentos por seu pai, a notícia veio até mim essa manhã com grande pesar. Quem são essas divindades que o acompanham hoje? Devo dizer que deveria trazer tais beldades mais vezes à minha humilde loja.—Senhor Enzo. Obrigado. Ainda estou tentando compreender o que houve essa noite, mas acredito que o melhor nesse momento seja ficar calmo… minha mãe precisará de mim ao seu lado em breve, preciso ser forte. Essas são
Nathalie espreguiçara enquanto o som de toc toc lhe despertava.Abrira os olhos devagar, a luz da manhã entrava pela janela e ela sentia pelo frescor do ar um dia úmido e nublado. Um dia perfeito para um passeio – pensara – caso se inspirasse a sair de casa antes de anoitecer. O som de toc toc voltara com novas batidas na porta, que horas ainda eram afinal de contas? Impaciente para conversas matinais, a menina perguntara quem era. A voz que respondera era masculina e rouca, uma voz que conhecia bem havia anos.—Aquele garoto, Adrian, está à porta. Veio lhe ver – dissera ele.—Jeremy, sabe que não posso me levantar agora. Diga que estou dormindo. Faça com que vá embora e diga que ligarei mais tarde. Ainda são sete horas… – resmungara olhando para os números verdes do relógio no criado mudo.—Eu sei sobre seus horários, senho
Como que levado por um furacão o homem fora levantado ao ar por uma força invisível. O vento soprava com força e o mesmo fora lançado contra uma das paredes do quarto, caindo ao chão em seguida junto de dois quadros e alguns bichinhos de pelúcia da filha.A porta por onde entrara se fechara numa batida estrondosa.Do lado de fora do quarto, após ouvir o barulho, Adrian pela primeira vez contrariando as ordens do pai, saíra da sala e correra em meio à escuridão até o corredor para onde dava o quarto da irmã. Chegando à porta, tentara abrir, mas era impossível, estava emperrada e ele não tinha energia para arrombá-la. O garoto gritava querendo saber como estava o pai, mas suas palavras estavam mudas do lado de dentro do aposento.Antony se ajoelhara no local onde caíra, ainda atordoado, mas consciente. Agora tinha certeza de que havia chega
Último capítulo