Capítulo Dois

Não consegui ir embora. As horas passaram e continuei a observar dormir. Zelando para que Olívia, não tivesse nenhum pesadelo.

Sim, Olívia era o nome dela. Olívia Vause. 

Meu peito ruflava toda vez que eu pensava em seu nome. A felicidade tomava conta de meu coração. 

Eu não sei quantas horas fique ali, observando sua respiração ir e vir. Mas, eu me sentia conectado com aquela garota de poucos anos de vida, se comparado com toda minha existência de dois mil anos. O que eu, havia visto nela, que pudesse ser tão atrativo? Se quer havia visto ela alguma vez, e já estava completamente atormentado por coisas que nunca havia sentido. E isso era insano. 

E mesmo sabendo que era loucura, não consegui ir. 

Quando eram seis horas, ela acordou com o cabelo todo bagunçado, e mesmo sendo assim, diante de meus olhos, ela parecia a criatura mais linda que eu já havia visto. Com a luz da manhã, ela parecia uma pintura. O sol se infiltrava pela janela, levemente quente pelo verão. Sua pele clara, era cremosa e parecia muito macia. Os cabelos brilhantes da cor mais clara de trigo. E ah, os olhos... Seria ela uma prima perdida de um Deus? Não seria possível que aquela garota fosse humana. 

Ainda invisível em meu canto por horas, mas que pareciam até segundos, me movi com ela, mais perto, porém decidi dar a ela seu espaço. Sei que eu parecia mais um fantasma do que um anjo, mas eu queria avaliar o dia a dia dela, para saber como me aproximar. Como tentar ajudá-la. 

Ela saiu das cobertas apenas com um short preto curto e uma camiseta, tentei não olhar para ela e as partes de seu corpo descoberta. 

Meus olhos acompanharam os movimentos dela. Primeiro no quarto, depois ela foi ao banheiro fazer sua higiene pessoal, onde permaneci onde estava, mas ouvi suas atividades e para a cozinha logo depois, para comer. Quando retornou ao quarto, estava vestida com um uniforme, ao que parecia escolar, e jeans. Olivia pegou sua bolsa, parecendo que iria sair. 

Ainda invisível, segui-a. Me movi como um ladrão fantasma e deixei a película de meu escudo muito baixa, se eu estivesse certo, ela saberia que eu estava ali. Algo me dizia que os dons dela iriam muito além do que se imaginava, e agora como protetor dela, era meu dever estar ao seu lado, para enfim conseguir auxilia-la de alguma forma.

Durante todo o período da manhã, como qualquer adolescente, Olivia frequentava o último ano do colégio. Ela ficou calada em seu canto, sem falar e apenas prestando atenção na aula. Mas, seus olhos eram tão profundos, que eu reconhecia cada sentimento que passavam por entre eles. Dor. Medo. Angústia. Alguma pouca alegria, e por fim dor. 

Será que ninguém de seus amigos percebia o quanto ela estava mal? O quanto ela precisava de apoio?

E como se meus pensamento tivessem sidos ouvidos, uma menina pequena e com um corpo desenvolvido, cabelos loiros e olhos marrons do lado dela, cochichou. 

- Você está melhor? – ela perguntou.

- Bem, mais ou menos. Mas, pelo menos essa noite eu consegui dormir melhor. Parecia como se alguém tivesse me zelando em meus sonhos. Foi tão bom. – ela sorriu pela primeira vez, e meu coração bateu mais forte. Finalmente em via um sorriso em seu rosto de anjo.

A amiga dela riu.

- Talvez tenham mandado um anjo da guarda para te proteger. 

As palavras dela me chocaram. Como os humanos poderiam brincar com a verdade, não? Eu anjo, estava ali do lado delas, ouvindo sua conversa de brincadeira, mas que era verdade. 

- Quem sabe... – Olívia sorriu mais uma vez. Percebi que sua amiga a fazia pelo menos algum bem. – Eu tive outro daqueles sonhos reais. – ela disse e um tremor passou por sua voz.

- As visões? – a amiga dela falou mais baixo. 

- Sim. E eu não sei mais o que fazer! – ela exclamou frustrada. – Eu queria saber por que posso ver as coisas, por que eu sou assim. 

Foi então que uma ideia passou por mim. Eu poderia aparecer nos sonhos dela e contar sobre mim. Falar por que ela era especial. 

Realmente estudar ela valia a pena. 

- Você vai ter as repostas que precisa. Só ter paciência. – a amiga dela tocou no braço de Olívia.

Minha protegida pareceu se acalmar por alguns momentos. E de repente um sinal tocou. Olívia arrumou seu material e ela e amiga saíram juntas da sala de aula. 

Caminhei entre os adolescentes e de olho nela. Ela parou perto de uma parede e percebi que um garoto se aproximou. Com minha audição escutei o coração dela, dar um solavanco e seus olhos fingirem bem estar, quando estavam praticamente mortos por dentro. 

- Oi. – ele a cumprimentou.

- Oi. – ela fingiu um falso sorriso. 

E foi assim durante toda a conversa deles, ela fingia estar interessada no que ele falava sobre outra garota, enquanto eu sentia seu peito se afundar cada vez mais. Notei que aquele deveria ser o cara por quem ela estava apaixonada. 

Um sentimento que nunca havia passado por mim, tomou conta de meu peito. E reconheci a raiva. Eu tinha raiva por aquele menino não se dar conta do quanto ela era linda, do quando ela se importava com ele. Senti raiva por que se eu tivesse sido ele eu teria dado todo valor e atenção que ela precisava como eu estava fazendo agora. Mas de um jeito mais íntimo, como um humano faria por sua mulher amada.

O último pensando meu me chocou. Tanto que precisei me afastar de Olívia e seu colega, para que eu pudesse pensar com clareza.

Correndo por todo o gramado fora da escola, alcancei voo e disparei para o céu. O Sol fez minhas asas brancas brilharem como diamantes. Voando a toda e ainda invisível por ser de dia, me direcionei para um pequeno parque que avistei terra abaixo. 

Pousei e sentei em banco. Meu peito subia e descia sem ar. O que estava acontecendo comigo? Por que a raiva e esses pensamentos tão intensos passavam por minha mente? Por que Olívia parecia tão importante e vital para mim, mesmo que eu a tivesse visto apena algumas horas atrás?

Angústia tomou conta de mim e abaixei a cabeça entre as mãos. O pequeno lago a minha frente refletiu minha imagem de desespero. Meu cabelo preto e liso estavam amassados entre minhas mãos, meus olhos azuis cor de oceano estavam vidrados e apenas minhas roupas brancas, camiseta e calça jeans, não mostravam alteração nenhuma.

A presença veio antes que a voz, e me virei abruptamente para encarar meu irmão Castiel. 

- Olá, irmão. – ele disse. 

Castiel vestia roupas iguais as minhas, porém ele tinha cabelos loiros e olhos verdes, só que a mesma pele branca e pálida.

- Oi, Castiel. – respondi automaticamente. Meu cérebro ainda estava a mil.

- Soube que você estava com uma nova protegida... – ele murmurou. – E como estão as coisas? Que dom ela tem?

- As coisas estão mais ou menos. Ela é vidente. 

- Nossa. Dom diferente. – ele disse. – Sabe, senti suas emoções lá de cima. – ele apontou o Reino de Deus. – E posso te dizer que você está em uma bela encrenca.

Suspirei. Era inútil não revelar a ele, que eu estava sentindo coisas intensas por Olívia. Anjos são capazes de sentir emoções. E é ainda mais forte quando são nossos irmãos.

- Eu sei. Mas, não entendo por que estou sentindo tudo isso. Por que ela é tão linda para mim ou por que sinto que devo protegê-la mais do que devo. – fui sincero. – E tudo tão rápido!

Castiel ficou por alguns segundos quieto, parecendo ponderar o que ia dizer. E então olhou fixamente para mim. 

- Isso é amor. 

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