Capítulo 2 – Nós de novo

Sofia

Chego a casa e vou direto para o chuveiro, deixo que a água domine o meu corpo enquanto eu me permito sentir as sensações que o exercício causa em meu corpo. Gosto de me exercitar, pois me ajuda a gastar energias que sempre se acumulam e também me esqueço de problemas que não consigo mudar.

Desligo o chuveiro e pego a toalha, permito que sua maciez deslize por minha pele, quando já estou seca pego meu hidratante que possui um cheio delicioso de morango com pimenta e começo a passar sob minha pele. Gosto dessa sensação, principalmente por sentir a suavidade.

Saio do banheiro enrolada na toalha e vou para o quarto separo a roupa que vou vestir e encaro a cama decepcionada. Humberto ainda esta lá, parece que nunca vai trabalhar ver a forma como nos trata me destrói um pouco todos os dias.

Coloco um vestido preto acima do joelho e com decote profundo nas costas. Ele possui manga cumprida e na frente é mais discreto. Visto minha meia calça fio 80 e coloco um sapato de salto fino, não gosto muito de maquiagem, então faço apenas o básico e suficiente.

Faço um coque, afinal para a minha profissão prefiro algo que demonstre mais seriedade. Meu cabelo é longo e na cor vermelho marsala, eu realmente amo esta cor. Quando pintei me senti insegura por conta do trabalho, mas isso logo passou.

Quando finalmente estou pronta, abro a janela e permito que a claridade invada o quarto, preciso mesmo acordar o Humberto ou ele se atrasa de novo.

— Fecha isso Sofia. – Reclama enfurecido.

— Você vai se atrasar para o trabalho. – Informo irritada.

— Eu estou com sono. – Resmunga abrindo os olhos.

— Sinto muito, mas avisei que ficaria assim se não parasse de ver televisão até tarde. – Lembro-o.

— De novo essa história? Você só sabe reclamar. – Diz levantando.

— Não estou reclamando, apenas avisando. – Ressalto e começo a sair do quarto.

Vou para a cozinha e lavo a louça que ele deixou aqui da noite anterior, é sempre a mesma coisa e isso me deixa cada vez mais exausta.

— Mais que droga. – Grita batendo a porta.

— O que houve? – Indago já imaginando do que se trata.

— Não encontro uma camisa decente para ir trabalhar. – Explica alterado.

— Eu avisei ontem que deveria estender a roupa quando chegasse, por que não fez isso? – Questiono indo até o quarto.

— Eu estava cansado. – Murmura.

— De novo? Você trabalha quatro horas a menos do que eu e cansa mais, não compreendo isso. – Falo pegando uma camisa no guarda-roupa e entregando a ele.

— Não importa. Para onde vai? – Indaga quando me vê saindo do quanto.

— Vou terminar de lavar a louça que você deixou na pia. – Informo e saio.

Não quero ser dramática, mas essas “briguinhas” diárias me esgotam. Termino de lavar as coisas e despeço-me dele. Ele não quis um beijo nos lábios, ele nunca quer, então sai apressada.

Entro em meu carro e sigo para o trabalho, na maioria das vezes eu tomo café no trabalho, principalmente por que não consigo ter um dia tranquilo em casa. Assim que chego à empresa vou direto para o refeitório, fico feliz quando vejo Eric em uma das mesas, pego meu café e sento com ele.

— Bom dia Sofia. – Diz animado.

— Bom dia Eric, que milagre vê-lo por aqui. – Comento e em seguida mordo o meu delicioso pão.

— Hoje a Hanna não fez café. – Explica sorrindo.

— Você deveria ter feito. – Falo e mostro a língua, ele começa a gargalhar.

— Ela saiu cedo, não achei interessante tomar café sozinho, então vim pra cá. – Justifica e eu sorrio.

Acho linda a relação deles. Hanna e Eric são casados há quase dez anos, mas sempre parece que acabaram de se conhecer devido ao carinho e a paixão que demonstram ter um pelo outro.

Ás vezes quando converso com eles, fico imaginando por que eu não mereço um amor assim. Não tenho inveja deles, ao contrário, sinto-me sempre feliz por eles, mas não sei onde errei em meu relacionamento.

— Aqui dificilmente ficaria sem companhia. – Brinco.

— E você não quis tomar café em casa? – Indaga.

— Eu tive que organizar umas coisas, se fosse tomar café lá chegaria atrasada. – Minto e ele sorri para mim.

— Eu a conheço Sofia, estava arrumando as bagunças do Humberto de novo? – Questiona e eu o encaro, paro de comer e me acomodo na cadeira, preparando-me.

— Eu estava cuidando da minha casa. – Digo séria.

— Não se engana tanto Sofia sei como as coisas lá funcionam. – Comenta e toma um pouco de café.

— Não é isso, não estou tentando enganar a mim mesma, é só que...

— Você não sabe o que fazer. – Afirma completando minha frase assinto com a cabeça.

— Estou confusa. – Confesso.

— Sofia, você é uma promotora. Investiga casos que sempre são solucionados e não consegue administrar uma união que deveria apenas lhe trazer felicidade? Esta na hora de começar a analisar isso melhor. – Diz encarando-me.

Sinto-o um tanto ríspido, mas não sou sensível a ponto de permitir que isso me chateie de alguma forma, afinal ele esta correto.

— Sei que esta certo, mas não encontrei ainda motivos coerentes que me façam terminar um casamento, acho que deveria acontecer algo mais sério para colocar um ponto final. – Afirmo em minha defesa, mas sei que falhei miseravelmente.

Ele me encara com um sorriso debochado nos lábios e sei que esta rindo de mim, por dentro e por fora.

— É isso que diz a si mesma para superar sua covardia? O que falta acontecer? Você descobrir que ele a traiu? Não compreendo Sofia, mas saiba que quando descobrir o que precisa eu estarei ao seu lado. – Diz e eu sorrio em agradecimento.

Volto a tomar o meu café em silêncio, ele se despede e sai da mesa deixando-me sozinha. Sei que esta certo, mas não encontro à força necessária para mudar minha realidade, sinto-me um completo fracasso.

Mas agora tudo deve mudar, estou no trabalho e serei uma excelente profissional, pois os meus problemas pessoais acabaram de morrer. Vou para a minha sala e começo a analisar alguns casos, são complexos, contudo eu posso lidar com eles.

Estou analisando uma situação onde algumas pessoas invadiram um terreno que possui proprietário e não querem sair, além disso, acusam o dono de assédio e agressão, fiquei confusa quando o óbvio não é tão claro e talvez o patenteado tenho um pouco de culpa, mas nada que justifique a invasão.

Após algumas horas em que me perco na investigação começo a sentir um cansaço que desconheço, levanto da cadeira coloco uma música para tocar em tom baixo e sento-me na poltrona.

Lembro-me do meu antigo supervisor algumas coisas que ele me disse eu nunca esqueci, é algo que quero sempre levar para minha vida.

“... Sofi, quando achar que o seu julgamento vai traí-la por excesso pare um pouco e de um luxo a sua mente de não pensar em exatamente nada por pelo menos vinte minutos.”

Ainda posso ouvi-lo e é com essa propriedade que relaxo e ignoro tudo o que esta ao meu redor. Não penso em nada e permito que os meus olhos se fechem e fiquem assim até que eu sinta-me forte para retornar.

— Vem Sofia, falei com o Humberto que você gosta dele e disse que iam se encontrar. – Exclama Elisa.

— Por que fez isso Elis? Eu não sei se realmente gosto dele, tenho apenas 15 anos. – Falo confusa.

Ela segura minha mão e caminhamos pelo gramado de sua casa, ela parece animada, mas eu não me sinto assim.

— Você vai gostar dele, eu sempre quis que você namorasse o meu irmão. – Afirma e continuamos caminhando.

O cenário muda drasticamente. Uma nuvem negra toma conta de tudo ao redor, a Elis some e eu já estou mais velha, não sei como isso aconteceu, sinto o medo tomar conta de mim conforme a areia movediça surge puxando-me para baixo.

— Elis. Elis ajude-me. – Grito desesperada.

Vejo-a ao longe, mas não consigo reconhecê-la sua imagem esta borrada, ela se aproxima e se afasta várias vezes como se voasse, quando finalmente para vejo apenas seus olhos em todo aquele borrão.

— Sofia. – Chama.

— Elis, não me deixe afundar. – Imploro sentindo as lágrimas fugindo dos meus olhos.

— Acorde Sofia, esta tudo sob controle. Só você pode se salvar. – Afirma e desaparece.”

Acordo sentindo-me desesperada. Minha garganta esta seca e o me corpo suado, não sei onde eu estive, mas isso foi muito real, não pode ser apenas um sonho. Respiro fundo e levanto, bebo um pouco de água e olho o relógio. Passaram-se apenas quinze minutos, mas para mim parece uma eternidade.

Volto para a poltrona, porém não fecho os olhos, não quero sonhar com isso novamente. Uso meus últimos minutos para acalmar a minha respiração e retornar ao trabalho com o pensamento limpo, mesmo sabendo que isso agora será impossível.

Recordo-me de Elisa e sinto um aperto no peito, eu a amava muito, ela era minha melhor amiga, não consigo aceitar que o que houve com ela foi comum, não compreendo por que ela achou que não tinha outro jeito.

Retorno ao trabalho e consigo analisar com mais clareza os casos que estou averiguando, perto do horário de almoço começo a arrumar minha bolsa, em seguida vou para o refeitório e encontro Eric novamente.

Por mais que me sinta feliz com as horas que se vão, quando penso em voltar para casa desejo que elas parem de se partir, mas não sei exatamente o que quero e ver Elisa fez com que eu me lembrasse da promessa que fiz a ela, mas não sei se realmente terei oportunidade de cumprir.

Morre

Capítulos gratis disponibles en la App >

Capítulos relacionados

Último capítulo