Capítulo dois - Planos

— Mas eu não consigo, Miguel, simplesmente não dá — Beatriz disse, se deitando em sua cama com os olhos cheios de lágrimas.

— Eu te entendo, mana — Miguel disse, se deitando ao seu lado e pegando sua mão. — Sei que não foi fácil, mas...

— Não! — ela gritou. — Não me peça para pensar em você! Não tem ideia do que passei aqui com a mamãe e o papai, de como eu via a nossa família ser destruída porque sentíamos a sua falta, de como papai se afundou na bebida e a mamãe dias e dias em cima de uma cama, deprimida — Beatriz se levantou, apontando o dedo para Miguel.

Miguel respirou fundo. A irmã tinha razão, fazer com que ela o ajudasse era pedir muito. Bea odiava Lucas tão ou mais do que ele, mas vendo-a naquele estado de nervos só fez a vontade de se vingar que existia dentro dele aumentar. Deveria fazer tudo para que Lucas pagasse por ter tentado matá-lo, por fazer a sua família passar por tudo aquilo. Ele não estava aqui, mas poderia imaginar a dor que todos sentiram.

— Me desculpe, Bea, não quero te forçar a nada — disse, se sentando na cama. — Eu não estava aqui, mas tenho uma ideia do que passaram.

— Me desculpe, Miguel. Eu quis matar o Lucas quando vi vocês dois próximos..., pensei que conseguiria, mas não dá! Eu o odeio, odeio!

— Eu sei, eu também o odeio. Quando estava na ilha, sem memória, eu vivia pensando se tinha ou não uma família, chorava constantemente porque sentia falta de vocês — contou o rapaz. — Era tão difícil, porque eu sabia o que era o sentimento de saudade, mas eu não sabia de quem eu sentia falta. Todos nós sofremos porque Lucas queria tudo que eu tinha e não pensou duas vezes no mal que faria as pessoas que ele dizia amar — acrescentou Miguel. — E pelo nosso sofrimento, nossa dor, tudo que fez vocês passarem, cada lágrima derramada, pela separação de oito anos que causou, por tudo isso..., é que eu preciso juntar provas e condená-lo! Preciso fazê-lo pagar! — falou com o tom mais pesado, mostrando ressentimento.

— Você, de todos, foi o que sofreu mais.

— Não acho que fui eu que sofri mais, acho que todos têm as cicatrizes desse passado e temos que curá-las da forma que for melhor para nós — falou o rapaz. — No meu caso, é seguir o meu plano, fazer o Lucas enlouquecer e ter provas de que ele tentou me matar — acrescentou. — Compreendo que você não queira, mas eu preciso disso — disse, soltando um suspiro.

Beatriz foi até a cama, onde o irmão estava sentado de pernas cruzadas, deitou a cabeça ali e se pôs a pensar em tudo. Por mais que ela odiasse Lucas, deveria ao menos deixar o caminho livre para o irmão, para que ele se livrasse de toda a dor que causaram nele.

— Eu não sei se consigo conviver com o Lucas — ela disse sincera.

— Não te pediria isso — Miguel passava a mão na cabeça da irmã. — Ele não virá mais à nossa casa, não sem que tenhamos conhecimento.

— Mas e no hospital, como vou fazer? — Beatriz soluçava.

— Acharemos uma solução.

— Está bem.

— Confia em mim.

— Eu confio!

***

Durante o restante da noite e da madrugada, Beatriz ficou acordada com Miguel, fizeram uma sessão de cinema no quarto dela, onde contou mais coisas sobre a sua vida para o irmão e sobre Maicon e Malú.

Miguel ficava mais e mais apaixonado por Malú e mais encantado com o seu filho a cada história, mal via a hora dele se aproximar deles e finalmente viverem o que foi roubado.

— Bea, quero que me ajude com uma coisa — ele tinha um sorriso encantador nos lábios, o que fez Beatriz sorrir na hora.

— Ajuda com a Malú?

— Sim, como soube?

— E só olhar para sua cara de pateta que dá para perceber — ela gargalhou e Miguel jogou uma almofada nela.

— Me respeite, mocinha.

— Ui... que chato! Me diz o que quer, vamos ver se posso te ajudar.

— Quero vê-la e você tem que me ajudar nisso.

— Já me disse isso e já disse que ajudo — deu de ombros, afinal, ela já prometeu isso ao irmão.

— Sim, disse, mas quero fazer algo especial.

Beatriz olhou para o irmão, que sorria sem parar. Quando percebeu o que ele segurava, não se conteve e gritou de pura alegria, pulando na cama como uma criança feliz. Era isso que ela esperava dele, que se resolvesse com Malú e que fossem felizes. Sabia que o amor dos dois era algo destinado a acontecer, que seriam felizes juntos, e apoiava completamente o irmão.

— Quando vai ser? — perguntou, cheia de expectativas.

— Amanhã — Miguel respondeu. — Quero que você peça para levar meu filho na escola com alguma desculpa e que me deixe entrar na casa dela.

— Vai assustá-la assim — comentou a moça.

— Não, não vou, já tenho tudo planejado — retrucou ele, confiante.

— Queria ver o reencontro. — Bea fez bico.

— Eu sei, mas não dá, eu tenho medo de que as coisas não saiam como planejado.

— Bem, duvido que não sairá, Malú te ama demais.

— E eu a ela — Miguel sorriu e guardou o pequeno objeto no bolso.

— Será que um dia vou ter um amor assim? — perguntou com os olhos brilhando.

— Claro que vai, Bea, você é uma mulher incrível, bonita e inteligente. Às vezes é uma ogra, mas o que vale é que tem um bom coração — Miguel disse rindo, mesmo após Bea ter lhe dado um soco no braço. — Aí, doeu — disse passando a mão onde recebeu a agressão.

— Para aprender a não me chamar de ogra — ambos riram.

A noite estava agradável, Miguel assistiu vários filmes, Beatriz já viu todos, mas não se importou em vê-los novamente, afinal, estava com seu irmão e estava sendo uma experiencia diferente, única.

Beatriz acordou com Miguel a cutucando. Ela olhou para o irmão e depois para o relógio, virou o rosto e fechou os olhos para dormir novamente, mas o rapaz não se deu por vencido e começou a cutucá-la novamente.

— São cinco e meia da manhã! Me deixe dormir!

— Não, não se lembra do que vamos fazer hoje? — perguntou cheio de entusiasmo.

— Sim, me lembro muito bem, Miguel — Bea bufou. — Mas estou com sono, meu filho — acrescentou, resmungando.

— Por favor, Bea — insistiu seu irmão. — Se levante dessa cama, se arrume e desça para tomar café.

Beatriz tirou o travesseiro de cima da cabeça e se sentou na cama. Olhou Miguel de cima à baixo e assoviou.

— Você não dormiu?

— Não, estou ansioso — respondeu. — Vamos, ande logo! Tem meia hora para descer, comer algo e sair. Não demore!

— Ok — ela disse ao irmão, se levantando e indo ao banheiro.

Miguel saiu do quarto e foi para a cozinha. Dora já estava à beira do jogão, fazendo um café delicioso. Ele se sentou na bancada da cozinha, pegou um pão de queijo e comeu.

— Menino, por que acordou tão cedo? — ela perguntou, entregando uma xícara de café ao Miguel.

— Vou sair com a Bea. Diga a dona encrenca que não virei almoçar.

— Aonde vão? — perguntou, desconfiada.

— Vamos dar um passeio.

— Estão aprontando, eu sinto isso.

Miguel sorriu e pulou da bancada quando viu que Beatriz entrava na cozinha. Ela terminava de fazer uma trança em seus cabelos. Tomaram um café rápido e saíram. Miguel sentia seu estômago revirar a cada esquina que eles dobravam. Vinte minutos depois estavam parados em frente à casa de Malú. Beatriz olhou para o irmão, que não se aguentava de tanta ansiedade, pegou o telefone e ligou para Malú.

— Malú, bom dia, tudo bem?

— Beatriz?

— Sim, sou eu mesma.

— Tá tudo bem?

— Ah, sim, fique tranquila, só quero saber se posso levar meu sobrinho para a aula hoje.

— Claro, ele sai em quinze minutos.

— Já estou aqui na sua porta.

— Ok, estou descendo para abrir para você. Tchau!

— Está bem! Tchau!

Beatriz desligou o telefone e olhou para Miguel, que sorria.

— Sua arcada dentaria irá pular para fora — zombou ela. — Sorria menos, saia do carro e se esconda ali, atrás da árvore, vou dar um jeito de deixar a porta aberta para que possa entrar.

— Ok.

— Não deixe que Maicon te veja.

— Está bem. Vai logo, por favor.

Beatriz revirou os olhos e saiu do carro, Miguel fez o mesmo, ficando escondido atrás de uma árvore, esperando a irmã sair. Não demorou muito para que ele a visse junto com o filho. O menino estava pulando e feliz. Beatriz olhou para o irmão e sorriu, ela estava feliz em fazer parte daquilo.

Assim que ela saiu com o carro e virou a esquina, Miguel atravessou a rua e entrou na casa de Malú. Ele olhou tudo ao redor e todas as fotos nas paredes em cima do aparador o fizeram sorrir. O rapaz queria muito ter feito parte daquela fase da vida da amada. Então suspirou pesaroso com aquele pensamento.

Não podia voltar no tempo, mas poderia fazer com que a vida deles fosse feliz e se dependesse de Miguel, faria Malú e Maicon as pessoas mais felizes do mundo.

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