Capítulo I

ALYCYA

            Suas mãos passeiam por meu corpo febril, o prazer que elas me proporcionam estão me levando à loucura, deixando-me pronta para o orgasmo poderoso que se aproxima e tenho certeza de que será um daqueles poderosos, tamanho é meu nível de excitação.

            - Você é linda e minha... somente minha.

            -Sua... Eu sou sua e isso nunca vai mudar meu amor. – Digo em um gemido.

            Ao ouvir meu lamento, ele desce a cabeça até o meio das minhas pernas tomando meu clitóris entre os lábios e sugando-o com pressão exata para que meu corpo todo vibre, causando tremores por todo ele. A sensação é avassaladora.

            - Amor, assim eu vou gozar... – Jogo a cabeça para trás em total deleite.

            É tão bom.

            Ouço risadas ao longe, mas em meu torpor não consigo identificar de onde elas vêm. Na verdade, raciocinar é bastante difícil quando tudo o que meu corpo pede é liberação e asua boca está fazendo maravilhas entre minhas coxas.

            Mais risadas.

            Desta vez consigo identificar vozes de mais pessoas que se juntaram a outra. Tudo para, inclusive os lábios que se encontravam entre minhas pernas.

            -Ridícula! Vejam como ela é ridícula! – A voz, que, outrora dava risadas, exclama fazendo com que saia da minha nuvem de luxúria e abra os olhos.

            Mais risadas.

            - Imbecil! Merece mesmo ser passada para trás.

            Mais risadas.

            Olho na direção das vozes. Meu peito sofre um espasmo ao constatar de quem são as vozes.

            Deles.

            - Burra! Mas é muito idiota mesmo, Alycia. Você me dá pena, sabia? Josh só brincou com você, ele nunca te amou ou vai amar. Sabe por quê? Porque ele ama só a mim e mais ninguém, sua ridícula. Não é, amor? – Kelly joga a cabeça para trás e gargalha abraçada a Josh e a mãe dele.

            Encolho-me.

            - Eu nunca te amei, Alycia. Sequer gostava de transar com você. Tudo que sentia quando te tocava era nojo, asco. –Ele continua rindo, agarrado a Kelly.

            -Não! Parem, por favor! Parem!

            Mais risadas.

            - Tudo o que fiz foi te amar, Josh. – Grito com lágrimas escorrendo por meu rosto.

            - Ridícula!

            Mais risadas.

            - Não!

            Mais risadas.

            - Nãoooooooo!

            Acordo assustada, ofegante e chorando.

            - Foi só um pesadelo. Foi só um pesadelo. –Repito o que tem sido meu mantra para tentar acalmar meu coração, ao acordar de mais um pesadelo.

            Meu peito está apertado e tudo o que consigo fazer é me encolher em um canto e chorar mais e mais. A dor é fremente e não sei se isso um dia vai passar, mas buscarei forças para superar e seguir em frente.

            Não deixarei que me destruam mais do que já o fizeram.

***

            Após a noite horrível, levanto, tomo um banho e sigo para o trabalho sem vontade alguma de comer nada. Ultimamente tem sido um tormento para conseguir me alimentar de manhã, já acordo com o estômago embrulhado e uma dor de cabeça potente. Com certeza são os danos colaterais proporcionado pelas tantas noites sem dormir em decorrência dos pesadelos terríveis.

            Mas, apesar dos danos físicos e emocionais, com minha carreira tem dado tudo certo. Tenho me saído muito bem na chefia do setorde criminalística do escritório de Washington a despeito do que achava o antigo chefe do setor, que foi rebaixado do cargo assim que cheguei, no entanto, não me intimidei e fiz meu trabalho com afinco e, assim, conseguindo a simpatia do senhor Mackenzie que tem sido quase como um pai para mim quando cheguei aqui.

            Ao lembrar do estado emocional no qual cheguei faz com que todo meu corpo arrepie em agonia. Eu só chorava e me lamentava quando estava só, principalmente dentro do meu apartamento novo, que fica a algumas quadras de distância do escritório, no centro de Washington. Ele é totalmente diferente do meu antigo apartamento em Boston, principalmente por causa das inúmeras lembranças que continha nele.O atual é moderno, chique e bem mais espaçoso que o antigo, mas o meu, que consegui alugar assim que fomos expulsas da casa dos Kents, pela bruxa da senhora Kent, porque mamãe estava muito doente e, segundo ela, não queria uma moribunda sob seu teto. Então comecei a trabalhar na lanchonete próxima à faculdade e após dois meses juntando o salário de garçonete consegui, finalmente, nos tirar daquela casa e dar mais um pouco de conforto e sossego para mamãe.

            E foi lá que ela passou seus últimos meses de vida e onde ela deu seu último suspiro, em meus braços. Sofri muito com sua ausência, mas aos poucos me estabilizei e segui em frente com o único intuito de realizar nosso sonho, meu e dela, que era me formar e ser uma advogada. Pena que ela não me pôde ver concretizando esse sonho, mas sei que ela está olhando por mim de onde quer que ela esteja.

            Caminhando pela rua em direção ao escritório, recordo que não é só a lembrança de minha mãe que paira sobre minha antiga casa, mas também a lembrança dos momentos mais felizes que passei em toda minha vida e do quanto achei que era amada em troca.

            Doce ilusão.

            Agora consigo ver com clareza. Eu amei uma fantasia que criei do homem perfeito em minha cabeça. Idolatrei Josh colocando-o em um pedestal como ideal de príncipe, numa fantasia de menina, e que só piorou quando fui dele a primeira vez, chegando ao ápice no momento em que ele me notou como mulher e me perseguiu até conseguir baixar as minhas barreiras e me tomar por completo. Aí foi meu fim.

            Fiquei cega, surda e muda. Só o via na minha frente, pois tudo o que sonhei estava se tornando realidade e, por mais que houvesse sempre aquela vozinha no meu subconsciente me alertando para ter cuidado e me resguardar, não dei ouvidos e fui. Entreguei-me sem reservas e amei, amei aquele homem com loucura, chegando quase a uma obsessão.

            Suspiro e sacudo a cabeça para tentar espantar esses pensamentos da minha mente, pois não adiantará nada continuar remoendo o passado, até porque o passado deve ficar lá: no passado.

            Entro no elevador assim que passo pela entrada do prédio onde fica a filial da Mackenzie & Garret Advogados Associados e, alguns minutos depois, as portas se abrem no andar em que se localiza minha sala.

            -Bom dia, doutora Hernández. –Helen, minha secretária me cumprimenta assim que passo por sua mesa. Ela me acompanha para dentro do escritório com uma xícara de café bem quente em uma mão e seu iPad em outra.

            -Bom dia, Helen. Obrigada. –Agradeço assim que ela deposita o café fumegante em minha frente, na mesa.

            -A senhorita deseja passar a agenda de hoje agora, ou depois de tomar seu café?

            -Me dê um minuto para que consiga tomar o café e uma aspirina para minha dor de cabeça matutina, sim?

            -Você deveria procurar um médico, doutora Hernández, não é normal sentir dor de cabeça todo dia pela manhã. Se me permite dizer.

            -Eu sei que não é normal, mas sei também que essas dores são consequências das noites mal dormidas. Porém, se lhe deixa mais tranquila, marque uma consulta com um neurologista para mim, então.

            -Agora mesmo, doutora. –Ela responde com um sorriso nos lábios já se encaminhando até a porta, porém detenho-a antes que ela saia porta a fora.

            - E Helen?

            -Pois não, doutora?

            -Só mais duas coisas...

            -Pode falar, estou pronta para anotar o que a senhorita desejar.

            -Primeiro: veja se consiga um horário que não interfira em meu horário de trabalho e, segundo; pare de me chamar de senhorita Hernández ou doutora. Já lhe pedi para me chamar de Alycia quando estivermos sozinhas.

            -Está bem,dout... quer dizer, Alycia. –Sorrio com seu constrangimento por meu pedido incomum. Sei muito bem que muitos advogados não gostam de ser tratados pelos funcionários de modo tão impessoal. Só que eu não dou a mínima para essa pompa toda, porque o que faz um advogado ser respeitado não é a maneira como ele se impõe sobre seus empregados, mas sim, sendo meticuloso e sagaz em seu trabalho.

            Beberico meu café no intuito de acalmar o mal-estar estomacal, só que quando o líquido quente chega até o estômago a náusea piora e eu só consigo correr até o banheiro do escritório e colocar todo o jantar de ontem para fora.

            Coloco tudo para fora, até quando não há mais o que expelir, minha barriga tem espasmos fortes se contraindo na tentativa de regurgitar a bile, porque tenho certeza de que não existe mais o que pôr para fora, tendo em vista de que não comi nada no café da manhã.

            Quando a náusea passa, me levanto e vou até a pia escovar os dentes e lavar o rosto para espantar o suor e o cansaço da face.

            Sento em minha cadeira após tentar melhorar um pouco meu aspecto, maldizendo minha atual condição e prometendo a mim mesma me alimentar melhor para não adoecer. Pensando nisso, interfono para minha secretária solicitando que ela me traga um lanche para ver se melhoro um pouco mais.

            Depois de desligar o telefone respiro um pouco tentando me acalmar para dar início ao meu dia de trabalho.

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