JOSH
Admirando o belo arranha-céu, caminho até a entrada do prédio, tomo o elevador até o vigésimo andar e aguardo os números vermelhos passarem até alcançar o meu andar de destino, dirijo-me até a mesa da secretária me apresentando e informando o motivo da minha presença.
Como sei que cheguei muito cedo, aguardo ansiosamente até ser atendido.
O barulho das portas do elevador se abrindo chamam a minha atenção quando este traz a pessoa a qual espero.
-Bom dia, Josh. Está me esperando há muito tempo?
-Bom dia, John. Não, na verdadefaz só alguns minutos que cheguei.
-Certo, então vamos para minha sala. Senhorita Calaham, providencie dois cafés para nós, por favor.
-Ok, senhor Mackenzie.
Entramos na sala e nos acomodamos, Mackenzie em sua cadeira e eu em outra, de frente para sua mesa.
-Então, Josh, a que devo a honra de sua visita? Na verdade, devo confessar que me deixou bastante intrigado o seu telefonema ontem marcando um horário comigo. Ainda mais aqui em meu escritório, em Washington, longe o bastante de Boston.
-Bem, John, vou ser direto. Eu estou com planos de expandir ainda mais o escritório e me dei conta de que não tínhamos uma filial aqui em Washington, então pensei em fazer uma pesquisa de campo, para sondar o ambiente, e nada melhor do que pedir sua ajuda para isso. –Apoio as costas no encosto da cadeira tentando relaxar para passar veracidade ao que estou dizendo.
-Compreendo. Em que parte da cidade você está interessado em abrir a filial?
-Por enquanto, John, estava pensando se você poderia me alugar uma das salas deste andar para que eu me instale e faça uma pesquisa de campo junto com meus colaboradores, afim de localizar um lugar apropriado. Se não for incomodo, é claro.
-Não será incomodo algum, filho. Considere-se instalado já. –Sorrio pela sua consideração.
-Obrigado, John.
-Não tem o que agradecer, filho, seu pai foi um grande amigo e um homem sem igual. Não me conformo por ele ter morrido tão cedo. Mas assim é a vida, não é? Só temos que nos conformar.
-Verdade. Meu pai era um homem honrado e digno. –Menos com sua única filha, penso comigo mesmo. Apesar de eu também não ter sido digno com ela.
-Josh, você poderia se alojar na sala em frente a de Alycia, que está vazia, na verdade pedirei a ela que te receba e fique à sua disposição para o que você precisar. Sei que vocês se deram muito bem ao trabalhar juntos e tenho certeza de que ela não se importará em te ajudar. O que me diz? –Não posso acreditar em minha sorte! Pensei que teria que suar muito para convencê-lo a deixar Alycia a minha disposição, mas a vida está me dando a oportunidade de bandeja.
-Eu adoraria. Ela foi uma excelente parceira no caso de Thompson. Não sabia que ela tinha sido transferida para a filial de Washington. –Minto descaradamente, pois assim que tive a informação do paradeiro dela arquitetei esse plano para me aproximar da minha abelhinha novamente, afim de reconquistá-la.
-Depois da vitória brilhante de vocês, Eliott e eu decidimos transferi-la para cá, pois estávamos precisando de alguém para ficar no lugar do antigo diretor do setor de criminalística que estava deixando muito a desejar.
-Entendo.
-Então, o que acha de depois que tomarmos nosso café eu o levar até a sala em que você ficará além de irmos até a sala da Alycia? –Oferece.
-Acho perfeito, John. –Por mim iríamos agora mesmo atrás da minha abelhinha, mas obrigo-me a ter paciência para ir com calma, pois sei que no momento Alycia não quer me ver e muito menos trabalhar comigo, porém sei que ela não fará nenhuma desfeita comigo por se tratar de um pedido direto do seu chefe.
***
A sala é ampla e arejada, mas na verdade eu não dou a mínima para a sala ou para qualquer outra coisa a não ser ela, minha mulher. Tudo o que quero agora é encontrá-la, saber como ela está e se a dor e o ódio que vi em seus olhos a última vez em que nos encontramos arrefeceram um pouco. Mata-me saber que fui eu quem a fez sofrer e que causei tanto mal a ela.
Não consigo me concentrar na conversa de John, mas me esforço ao máximo para transparecer interesse e não demonstrar minha ansiedade.
-Então, o que achou da sala, filho? – Ele vira-se em minha direção após falar das várias qualidades do ambiente, incluindo a localização do prédio.
-É perfeita, John. Quando poderei me instalar?
-Quando você quiser, Josh. Mas primeiro vamos à sala de Alycia para comunicá-la sobre sua estadia aqui em Washington e em nosso escritório. Tenho certeza de que ela ficará contente em trabalhar com você novamente. –Já eu não tenho tanta certeza disso, meu amigo,penso.
Como John havia mencionado, a sala realmente ficava bem em frente a de Alycia, ambas separadas apenas pelo corredor e uma porta de vidro, onde se encontrava o hall de entrada para a recepção do escritório de Alycia, aonde se encontrava sua secretária estabelecida em uma mesa. O ambiente é bastante aconchegante, com paredes claras e um sofá de canto e revistas para quem estivesse esperando pudesse folheá-las para passar o tempo.
Cruzamos o corredor e John abriu a porta de vidro no mesmo instante em que a porta da sala de Alycia é aberta também.
E é então que a vejo novamente, minha abelhinha.
Finalmente posso enxergar um pouco da luz que ela levou de mim no momento em que partiu da minha vida.
Bebo sua imagem com sofreguidão e felicidade.
Mas o encantamento é quebrado no momento em que um homem a segue para fora de sua sala, ambos sorrindo, então ele diz algo que a faz enrubescer da mesma maneira que eu fazia quando a elogiava, meu sangue ferve de raiva e de ciúmes, louco para quebrar a cara do filho da puta que está dando em cima da minha mulher. Minha!
Com muito custo controlo minha fúria para não colocar tudo a perder, mas devo confessar que é muito difícil vê-la sendo assediada e não poder fazer nada.
-Alycia é muito assediada pelos clientes e pelos advogados do escritório também, mas quem pode culpá-los, não é? – John comenta me deixando mais possesso ainda, porque nunca me senti tão possessivo por mulher alguma, mas Alycia, sem dúvidas, é meu calcanhar de Aquiles. –Se eu tivesse trinta anos a menos e não fosse apaixonado pela minha bela esposa, tentaria a sorte com ela também. –Ele comenta, piscando em minha direção, me fazendo quase explodir de tanto ódio.
Após terminarmos de cruzar a porta e adentrar a recepção consigo ouvir o fim da conversa entre Alycia e seu possível cliente.
-Então até nosso almoço de amanhã, senhorita Hernández. –O sujeito, todo galante, se abaixa e beija o topo da mão da minha mulher.
Calma, Josh, calma. Precisamos recuar um pouco para ganhar terreno. Lembre-se disso, repito mentalmente no intuito de não esmurrar a cara do sujeitinho por estar dando em cima da minha mulher.
-Até mais, sr. Smith. –Ela reponde toda solícita, aumentando a minha fúria.
Como ela estava de costas para nós, não havia percebido nossa presença ainda, mas ao girar o corpo para se encaminhar até a mesa de sua secretária, o sorriso em seu rosto morre na mesma hora, assim que seu olhar cruza com o meu.
Vejo a dor, o ódio e vários outros sentimentos passar por seu olhar, porém é tão rápido que para uma pessoa que não a conhece não perceberia, mas eu conheço cada olhar, cada sorriso, cada gesto e cada cantinho de seu corpo para não notar que ali, diante de mim, não está mais a minha abelhinha e sim alguém distante e frio. E a culpa me corrói mais uma vez.
-Alycia, filha. Desculpe interromper seu trabalho, mas gostaria de falar um minuto com você.
-O senhor nunca interrompe, sr. Mackenzie. –Ela responde com um sorriso polido no rosto e vira-se para sua secretária logo em seguida.
-Helen, segure minhas ligações enquanto falo com senhor Mackenzie e, por favor, coloque na agenda de amanhã um almoço de negócios com o senhor Harry Smith.
-Claro, doutora. Algo mais?
-Traga também uns cafés para nós, por favor.
-Vamos para minha sala, senhores. Sigam-me, por favor. – Nós a seguimos até sua sala e sentamos,John e eu, nas cadeiras em frente à sua mesa após ela sentar em sua cadeira.
-Em que posso ajudá-lo, senhor Mackenzie? –Alycia em momento algum olha em minha direção, fazendo com que me sinta um nada, mas desde o início sabia que não iria ser fácil e não está sendo, concluo.
-Filha, queria lhe pedir um favor. –John começa e vejo dúvida passar pelo rosto dela, mas na mesma hora disfarça.
-Se estiver ao meu alcance, considere feito, John.
-Alycia, Josh está querendo expandir as filiais de seu escritório e escolheu Washington DC como a nova sede de seu mais novo escritório, portanto veio a mim pedir auxílio e um lugar para se estabelecer temporariamente até comprar o local para estabelecer seu novo escritório. Como estamos com essa sala aqui em frente desocupada, eu a aluguei para ele e como vocês trabalharam muito bem juntos no caso de Thompson, queria que você o auxiliasse no que ele precisar. –Meu foco o tempo todo permanece nela, durante todo o relato de John, Alycia não esboçou nenhum tipo de sentimento a não ser no momento em que ele pede para que ela me auxilie, aí eu vi desgosto passar pelo seu rosto, mas ela se recompôs imediatamente, vestindo a máscara de frieza novamente.
-Como quiser,John. Farei tudo o que estiver ao meu alcance para ajudar meu colega a se estabelecer de maneira tranquila.
-Obrigada pela gentileza, Alycia. –Falo, querendo ter sua atenção ao menos um minutinho. Mas me arrependo, imediatamente, no momento em que seu olhar se dirige ao meu.
-Não precisa me agradecer, sr. Kent. Apenas devolverei o favor que me fez quando estávamos trabalhando no caso de Thompson, quando eu ainda não tinha a malícia e nem a esperteza do mundo, o senhor me ajudou a me tornar o que sou hoje:implacável. –Não sei se John percebeu o tom cortante que ela usou comigo, ou se percebeu disfarçou bastante. Mas com a indireta que ela acaba de me dar vejo que a batalha está apenas começando.
-Bem, como já está tudo resolvido, vamos deixá-la trabalhar, filha. –Levanto da cadeira acompanhando John.
-Quando o senhor pretende começar a trabalhar, sr. Kent? –Fala, levantando-se também.
-Amanhã mesmo pretendo me estabelecer na sala em frente, senhorita Hernández.
-Ok. Então até amanhã, sr. Kent.
-Até amanhã, senhorita. –Estendo minha mão em despedida. Ela hesita um pouco, mas acaba aceitando o contato. A velha eletricidade percorre meu corpo ao encostarmos as mãos. Não sei se ela sente essa energia também, porém cessa rapidamente o contato, se despede de John e assim saímos porta a fora.