Me dê uma sugestão para o almoço...

                                                                                                          Um jantar árabe

Nada como a palavra como uma fonte de mal-entendidos. Quantas e quantas vezes perguntamos ao nosso interlocutor:

- Por acaso eu estou falando em grego? Ou...

- Eu falo alhos você entende bugalhos! Ou ainda:

- Você não entendeu nada do que eu falei! Frase recorrente nas discussões marido & mulher; pais & filhos; irmão & irmão; amigo & amigo.

E assim vamos convivendo nossos relacionamentos, as mais das vezes, recheados muito mais de desencontros que de encontros.

Viver é uma arte. Como disse John W. Gardner: “A vida é a Arte de desenhar sem a borracha.” E comunicar-se – talvez a maior de todas – é o desenho que não se apaga mais...

Muitos de vocês, meus caros leitores, não sabem, fui professor desta maltratada Língua Portuguesa. Ainda sou; nunca deixarei de ser! Essa é a diferença entre estar professor e Ser Professor. Eu sou! Pois bem, incontáveis vezes, quando corrigindo redações de meus alunos ao longo de minha vida de mestre, risquei algo que não entendia; então, o aluno vinha até mim e protestava:

- Mas professor, eu escrevi isso. O senhor não entendeu. Ao que eu respondia com toda a paciência de Jó:

- Não, meu caro ou minha cara, não! Você quis escrever isso, mas não o fez, não conseguiu. Daí ele ou ela tornava a protestar:

- Professor, é o senhor que não entendeu. Eu quis dizer isso aqui. Repetia com veemência defendendo a tese dele.

E eu, pacientemente, mais uma vez, lhe mostrava que, embora ele ou ela tivesse desejado escrever aquilo que pretendia, não conseguira. Sua intenção tinha sido diferente daquilo que escrevera. Depois de muita argumentação, de vasta explicação à luz da lógica do discurso... somente aí ele ou ela se dava por vencido. Luta árdua esta minha e acredito, de todo mestre da Redação; isso se repetia com frequência e acontece até hoje quando me debruço em uma redação com a difícil e heroica missão de “corrigi-la”.

E não quero abordar, neste momento, a temática de Interpretação de textos... Cruzes! Aí, dói... Como a quantidade e a qualidade da Leitura atualmente estão próximas de zero, criou-se uma multidão de estudantes – também pessoas comuns como nós – que não conseguem simplesmente interpretar uma linha. Não dão conta sequer de entender um simples aviso sobre o isolamento causado pela pandemia, por exemplo. Isso deixo para outra crônica, bem engraçada, lhes prometo. 

Mas por que estou tratando deste assunto em meu Artigo de hoje? Por quê?

Estamos vivendo tempos de uma turbulência jamais vivida pela humanidade. E não falo apenas ou exclusivamente das guerras pelo poder, étnicas, religiosas e política, nem me refiro especialmente à barbárie que atingimos nessa violência desmedida, sem limites a que chegamos, não! Não vou entrar numa seara tão complexa e polêmica de se abordar. Muito menos me aproveitar deste momento tão doloroso e desafiador e, por que não dizer, bastante desconhecido – o dessa pandemia que atravessamos e que nos atravessa a vida com tantas tragédias! Não. Absolutamente não! Vamos amenizar a vida, as nossas vidas. Certo???

Logo, atenho-me à simplicidade (deveria ser simples!) do diálogo entre pessoas. Da comunicação verbal (falada ou escrita) entre nós. De todos os matizes e viés sociais, religiosos, políticos, raciais e étnicos. Sim, deveria ser preservada a singeleza e a amorosidade em nossa comunicação, sobretudo quando conversamos.

Mas não. Frequentemente nos desentendemos e provocamos desencontros em nossos relacionamentos por conta da palavra, ou melhor, das palavras que falamos ou daquelas que ouvimos. Isso sem falar das situações engraçadas que são criadas por conta de mal-entendidos e que nos levam, invariavelmente, ao riso, como a frase título desta minha crônica, não é verdade?

Como sou apologista e praticante do bom humor, acima de tudo porque acredito cegamente que esse é um dos principais fatores da alegria e da felicidade em nós, vamos nos ater a esse aspecto da temática.

Muitas vezes, nossa intenção comunicativa é uma, mas as palavras que proferimos nos levam a outro entendimento por parte de nosso interlocutor e vice-versa, de tal modo, que acontece uma ruptura no diálogo / mensagem, provocando situações hilariantes e muito divertidas, quando não desagradáveis.

E é nesses momentos que testamos nosso bom senso e sabedoria no exercício do viver: a leveza e o bom humor em situações de estresse. Daí por que muitas pessoas são alegres, são felizes, sofrem menos e, claro, contagiam a tudo e a todos à sua volta, transformando a energia do ambiente pela sua simples presença.

Portanto, meus caros amigos, o que importa em nossas convivências não é você, em muitas situações, “trocar alhos por bugalhos”, confundir as coisas atrapalhando – entre aspas – uma conversa, um bate-papo, uma troca de ideias ou até mesmo uma discussão – sobre qualquer coisa – com a esposa, com o marido, com um filho, com uma filha, com um irmão, com uma irmã, com um amigo, com uma amiga, com um colega ou com uma colega de trabalho. Não. O que vale é você fazer uma perfeita rima de “alhos” com “bugalhos” e, nessa harmonia de sons, converter aquele momento em uma gostosa diversão, quem sabe até em uma poesia...

Foi o que aconteceu comigo, ao ouvir o caso de uma grande amiga que, ao pedir uma sugestão “para o almoço” a uma amiga sua de longa data e expert na cozinha, ouviu como inusitada resposta:

- Um jantar árabe!

Ao me contar esse fato, não sabia ela se ria ou se ficava zangada. Então eu lhe disse com todo o meu bom humor e rindo às escâncaras:

- Faça desse jantar o melhor dos almoços!

Até a próxima – se a Divindade e o Universo assim o desejarem.

Gratidão por prestigiarem meus textos com sua habitual leitura.

Em meu apê, nesta madrugada de 30 de julho de 2.020, de um ano pandêmico, mesmo assim abençoado, nesta Del Rei dos Sinos que batem e batem soando sem parar, alegrando quem aqui veio passear nas Gerais das Minas deste Brasil varonil...

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