"Ando devagar porque já tive pressa..."

          Aproveitando este momentum tão difícil que atravessamos: pandemia, corona vírus, isolamento, bizarrices cometidas pelo nosso Supremo e por políticos do Congresso e de todas as regiões do Brasil, e até mesmo por pessoas comuns como eu e você, tudo isso agravado por tantas incertezas e dúvidas quanto ao futuro, enfim por todos esses problemas que estamos vivendo desde março passado, inspiro-me em Tocando em Frente, de Almir Sater e Renato Teixeira, um dos mais belos e significativos poemas-canção da música brasileira de todos os tempos, para refletir com vocês, meus caros e persistentes leitores desta coluna, sobre algumas questões relevantes de nossas vidas, especialmente agora quando vislumbramos uma nova perspectiva de futuro.

          Com certeza, Almir e Renato foram perfeitos nesses icônicos versos, especialmente, para nós que conseguimos entender a profundidade de suas palavras. Aliás, seria redundante escrever aqui que a letra de sua música é pura poesia e que transcende nosso caminho neste plano da vida e, como testemunhou pessoalmente o violeiro em um programa de televisão, (Viola, Minha Viola, da TV Cultura, em 2012): ele e Renato Teixeira receberam a psicografia dessa música, haja vista a mensagem espiritualista que ela nos passa.

          Pois bem, caro leitor, venho agora falar um pouco sobre os sentimentos que essa frase desperta em mim neste ano de 2020, repleto de passagens e mudanças – assustadoras e, muitas vezes, dolorosas, em nossa história e que – jamais pensei viver. Houve época em minha vida que imaginei a possibilidade de uma 3ª guerra mundial, mas, à medida que a História andava, percebemos que dificilmente isso aconteceria. Contudo, uma pandemia em nível global? Não! Isso nunca passou pela minha cabeça e claro, pela da maioria das pessoas. Jamais!

          Ao pensar e refletir essa icônica frase e nela me inspirar, lembrou-me imediatamente minha fantástica professora de Teoria Literária do Curso de Letras, na Universidade, que trabalhava interpretação de textos literários conosco como nunca vi um professor fazê-lo!

          Ela era tão competente, tão inspiradora que transformava textos os mais insossos possíveis em conteúdos fascinantes e extremamente interessantes. Ela construía, com sua incrível capacidade e imaginação, verdadeiros milagres interpretativos, retirando das palavras suas nuanças mais imprevisíveis e instigantes e a intenção comunicativa do autor mais próxima da sua realidade. Uma viagem literária de alto nível.

          Foi A Professora! Aprendi muito com ela e lhe devo muito do que sei. Seus ensinamentos me levaram a descobrir que as palavras possuem segredos, mistérios insondáveis, os quais muitas vezes, se não mergulharmos no porão de suas nuances, jamais perceberemos qual seu real significado.

          Ah, querida professora, sei que estás “lendo” minhas palavras assim como me vês e me entende, né. Gratidão! Eterna gratidão.

          Bom, como agora me encontro no ciclo de crescimento e da busca pela sabedoria da vida e nessa fase “ando devagar porque já tive pressa”, retomemos nosso tema.

          Certa amiga, muito especial, gauchinha linda, fez o meu Mapa Natal e conversou bastante comigo sobre minha trajetória de vida. Houve um tempo, longo tempo em que eu tinha toda pressa do mundo. Corria mais que corisco – um verdadeiro raio – que na busca de realizar coisas ia atropelando a vida e por ela sendo atropelado.

          E nesse processo, eu era mais faísca do que brasa. Ou seja, passava – não ficava. Fugaz não perene, fui sendo levado pela vida ao invés de conduzi-la. O “The Flash”, de fato. Sou ariano, a propósito.

          Assim somos nós, grande parte dos seres humanos. Como canta magnificamente o Eterno Zeca Pagodinho: “Deixe a vida me levar, vida leva eu...” Nós nos deixamos levar pela vida quando deveríamos fazer o inverso, isto é, nós é que temos que conduzir a vida e não por ela sermos levados! Precisamos ser o autor, diretor, contrarregra, cinegrafista, figurinista e o PROTAGONISTA – de nossa peça na vida desta jornada.

          Já escrevi em outra crônica: “Por que tanta pressa se a beleza está no percurso”? Sim, passamos boa parte de nossas vidas correndo. Correndo atrás de dinheiro, de sucesso profissional, de um carro zero, de um bom emprego, da mulher perfeita ou do homem perfeito, de um novo apê, de férias paradisíacas, de fama e sucesso, de um sítio fantástico, de um celular último modelo, de uma gorda conta bancária, enfim, andamos com toda pressa do mundo lutando por essas coisas anos e anos e elas... Ah, elas ficam todas aqui quando partimos... Mal vamos vestidos quando não somos cremados. E o caixão – este quando fechado ou o forno crematório ao acender – tudo encerram... That’s the end.

          Durante todo o tempo somos levados pela vida na busca do Ter... enquanto o Ser... Ah, este é tão pouco lembrado, esquecido na maior parte de nossas vidas, até. Fica num último plano. Sem importância. Essa dicotomia é que nos torna humanos demais.

          Então, pergunto, para nossa reflexão, neste 2020, em que, confinados, compulsoriamente, vários meses, por esse microscópico e maléfico ente o qual nos atingiu drasticamente em cheio e, em muitos casos, lamentavelmente com a morte, trazendo dor e tristeza, pergunto: se ainda não mudamos totalmente, temos de mudar nossos comportamentos e modo de viver a partir de agora. É imperativo que assim façamos! Habemus de mudar, sim! Vamos mudar pela dor, já que pelo Amor muitos de nós não o fizemos. Vamos???

          “To change or to change? That’s the question”

          Mudar ou mudar? Eis a questão.

          Essa é uma proposta crucial a partir de agora. Ou mudamos ou mudamos. Não há alternativa nem meio termo. E se observarmos atentamente os dois últimos versos da maravilhosa canção tema título deste texto, podemos melhor entender este meu raciocínio.

“Ando devagar

Porque já tive pressa

E levo esse sorriso

Porque já chorei demais

Hoje me sinto mais forte

Mais feliz, quem sabe

Só levo a certeza

De que muito pouco sei

Ou nada sei” [...]

          Portanto é nos momentos mais desafiadores e dolorosos e, quiçá, no crepúsculo de nossas existências que nos sentimos mais fortes, mas com a certeza de pouco ou nada saber.

          Assim, será melhor, mais sensato, sábio e inteligente se mantivermos a calma, a humildade, a prudência e os cuidados com nós mesmos e, por consequência, com o outro – pois Amar é isso. Devo ter empatia para verdadeiramente amar! Confiemos, sobretudo, no Universo – este Ente Maior do qual fazemos parte e na Divindade que é Onipresente, Onipotente e Onisciente.

          Entregue. Confie. Aceite e agradeça.

          Sabedoria é isso...

          Gratidão ao Universo e à Divindade por tudo em minha vida! Em casa de minha namorada Telma, Cuiabá – a Cidade Verde – no dia 24 de outubro de 2020, às 10h28min quando finalizei esta Crônica que entrego a Vocês e ao Universo!

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