Cordas Rompidas
Cordas Rompidas
Por: Rafaela Guimarães
Capítulo 1

“Deixe-me abraçá-lo Pela última vez É a última chance de sentir de novo Mas você me machucou Agora eu não posso sentir nada.”

(BrokenStrings – James Morrison)

∞Relicários de Saudade

1

Lizzie

A vida perfeita com certeza era a minha. A garota mais bonita da escola, com amigos verdadeiros e um namorado perfeito. Na verdade, mais que perfeito. Apesar de todas essas vantagens, não era uma pessoa que se sentia superior às outras, pelo contrário, todos me adoravam e de certa forma, me idolatravam. Era uma ótima aluna – até com méritos – e era da equipe de ginástica, mas isso tudo agora era somente um sonho, já que essa realidade fora tirada de mim.

Há mais ou menos dois anos, eu, Brad (meu namorado), Kimmy, Johnny e Rachel estávamos voltando de carro da festa de formatura e nenhum de nós havia bebido, já que era tarde da noite. Rachel estava no banco de trás comigo, junto de Brad. Éramos melhores amigas. Não me lembro muito o que aconteceu, só sei que um carro bateu no nosso e apaguei por

alguns minutos. A única lembrança viva eram os barulhos da sirene e pessoas falando, consegui abrir meus olhos e percebi o quanto estava imóvel e apertada com Rachel e Brad.

- Brady, minha perna tá doendo! Ai, tá doendo muito! – ele estava imóvel e seu rosto e peito sangravam muito. – Brad? – o sacudi, sem resposta. – Brad, não faz isso comigo, acorda!

Ali foi minha morte. A única diferença é que hoje eu ando e respiro, mas quem eu amava fora embora e me levou tudo, inclusive minha vida.

Foram quase três meses no hospital para cuidar do coágulo que tive no pulmão e minha fratura na perna - que quase perdi. Eu não tinha mais nada. Meus amigos, meu namorado... Queria poder desistir, morrer junto com eles, mas quando pensava nisso, minha mãe vinha e falava que eu tive muita sorte em ter sobrevivido ao acidente, coisa que queria que não tivesse acontecido. Mas infelizmente, nada do que eu pudesse pensar, voltaria até aquele dia. Nada que

eu sentisse, traria de volta todos aqueles que eu amava, nada.

Estava no segundo período de minha faculdade de jornalismo e depois que saí de minha cidade, me isolei. Falava com meus pais poucas vezes por semana e me entreguei definitivamente à leitura, estudo e música. Não saía mais, mesmo tendo um monte de festas, e me dei ao direito de não fazer verdadeiras amizades, já que os amigos que eu tive nunca seriam substituídos. Às vezes tinha vontade de sair um pouco do meu “casulo”, mas cada vez que lembrava o rosto do meu Brad, percebia que nunca me apaixonaria dessa forma por homem nenhum – e eu também não queria isso. Nosso amor era lindo, coisa de cinema. Lembrar dele ainda me doía o peito, principalmente quando encarava a parede de minha “casa” com inúmeras fotos minhas, dele e dos meus amigos quando eram vivos. O bom era que eu podia sofrer livremente sozinha. Aqui, os dormitórios eram espécies de casas; um quarto com duas camas, sala, cozinha e banheiro e, felizmente, não tinha ninguém para

ocupar a outra vaga e acabei deixando tudo do meu jeito. Colei fotos nas paredes, juntei as camas de solteiro, coloquei um sofá com abajur na sala, junto de um pequeno som e na cozinha, só um fogão, micro-ondas e armário. Era o necessário para mim.

A noite se iniciou e por mais uma vez, fiquei lendo um livro na sala. Amanhã seria sábado e, por incrível que pareça, os finais de semana eram os piores dias para mim. Pelo menos de segunda à sexta, eu ia para a faculdade. Agora, minha solidão tinha hora marcada para acabar. Heather, a responsável pela distribuição de dormitórios me disse que uma garota foi transferida de faculdade e ficaria comigo. Vamos esperar para ver. Desliguei o abajur, coloquei meu livro na mesa e fui para o quarto.

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