Estela curvou os lábios num sorriso sarcástico.
A dor na perna latejava, mas ela se arrastou com toda a força que tinha em direção à saída.
Não acreditava mais em nenhuma palavra de Lorenzo. Se quisesse sobreviver, teria que sair por conta própria.
Ao chegar no andar de baixo, viu que as chamas já haviam tomado quase tudo.
Lorenzo abria passagem entre os escombros. Quando viu Estela se aproximando, sua expressão mudou.
— Eu disse pra você esperar!
Mas aquele não era o momento de discutir.
Ele ia ajudar Helena a sair dali quando ouviu o grito:
— Cuidado!
O grito veio de Helena.
O teto, queimado pelo fogo, começou a ceder. Uma viga em chamas despencou direto na direção de Estela.
— Estela! — Lorenzo gritou, tentando correr até ela.
Mas, num piscar de olhos, outra viga se desprendeu — desta vez, caindo sobre Helena.
No limite entre dois destinos, Lorenzo se virou e correu de volta, protegendo Helena com o corpo.
A madeira em chamas caiu nas costas dele. Um som abafado de dor escapou de sua garganta.
Ao mesmo tempo, outra viga atingiu as costas de Estela.
A dor a deixou atordoada. Mas, entre a fumaça e as chamas, ela ainda conseguiu ver os bombeiros invadindo a casa.
Lorenzo continuava abraçando Helena, protegendo-a com o corpo como se ela fosse tudo que importava.
Estela sorriu, amarga.
Nesta vida, Lorenzo fez a mesma escolha da anterior.
...
Quando Estrela acordou, estava no hospital.
Diante dela, Lorenzo, já tratado e com os ferimentos enfaixados.
Ao vê-la despertar, ele falou, com o rosto tenso:
— Falei com os médicos. Os ferimentos não foram graves. Já trataram os cortes. Não vai atrapalhar o casamento de hoje.
Estela ficou em silêncio.
Era inacreditável. Mesmo depois de tudo, Lorenzo ainda achava que ela queria se casar com ele.
Ela não se deu ao trabalho de explicar. Levantou-se da cama.
— Quero ter alta.
Era o dia da partida do Projeto Artemis. E ela não podia se atrasar.
Lorenzo, por sua vez, achou que era pressa para chegar ao casamento.
Soltou um suspiro de alívio, satisfeito por dentro.
Ele pensou: "Estela estava só fazendo charme. No fundo, ela mal podia esperar pra se casar comigo."
Sem entender aquele sentimento estranho que se agitava em seu peito, Lorenzo fechou a cara para esconder.
— Vou para o local da cerimônia. Quando estiver pronta, vá direto pra lá.
Assim que ele saiu, Estela chamou o motorista.
— Senhorita, é pro local do casamento?
— Não. — Disse sem hesitar. — Aeroporto.
Com as malas prontas, seguiu para o terminal, onde se encontraria com o professor Adriano.
No caminho, o celular começou a apitar com notificações.
[Estela, cadê você? Por que ainda não chegou no local do casamento?]
[Se não começar a se maquiar agora, vai atrasar tudo! Você ainda quer se casar ou não?!]
[Estela, tô te dando mais dez minutos. Chega aqui agora.]
Por fim, veio a ligação.
Mas Estela nem olhou a tela. Desligou o aparelho, tirou o chip e o jogou no lixo antes de embarcar.
Adeus, Lorenzo.
Nesta vida, eu só vivia por mim mesma.