/4/ Anabella Vieira

  Anabella

Abro os olhos com camille me chamando

- Anabella, acorda - sua voz denunciava calma, e seu hálito vinho.

E após verificar o local olhar de um lado para o outro e saber que eu estou no quarto, levo meu corpo ao abraço de Camille, não me importei se existe ou não intimidade porque assim como no sonho eu encontrei segurança no calor de tal ato.

Ela não parece se importar, suas mãos passeiam pelas minhas costas sobre o tecido fino que me cobre em um vai e vem lento, muito lento que se der continuidade seria capaz de adormecer de novo. Meu rosto esta entre a curva de seu pescoço e o único perfume que sou capaz de inalar é o de sua pele. Seu cheiro é doce, me trazendo junto com as carícias relaxamento.

Agradeço mentalmente por estar segura, a frequência de meus sonhos, melhor dizer, pesadelos tem me deixado em estado de pura agonia. Sei que nada há de me acontecer, estou longe fisicamente do meu pai por anos, porem ele sempre está presente quando adormeço. As vezes me pego questionando em como ele deve estar, será que ainda bebe de uma maneira descontrolada? Será que ainda vai no AA? Será que existe outra mulher ocupando o lugar de mamãe em seu coração?. Ao mesmo tempo em que essas perguntas frequentes me visita, eu a dispenso, o que ele faz agora não me importa. Família cuida, protege, ele fez tudo menos isso! Talvez um dia quando eu estiver curada de todas as feridas que ele deixou em meu corpo, talvez quando eu me olhar no espelho e não sentir mais nada, eu o procure.

Sinto o ar frio bater em meu corpo, então, só agora percebo que Camille não está mais no quarto e eu estou deitada na cama de solteiro com metade da manta na minha barriga, puxo o tecido grosso até meu rosto e divago em como esta mulher pode ser, pisamos o mesmo solo, não chegue perto demais, não toque, evite conversas desnecessárias, seja direto, talvez esse seja um dos motivos de trabalharmos bem em equipe, para ela, e comigo só o essencial basta.

Sua defesa disfarçada em ser carranca dura, eu entendo, ela por ser muito mais velha que eu, deve ter bagagens emocionais pesando suas costas, ou melhor, seu psicológico.

A vida tem dessas, triste realidade em que vivemos, estamos presos em nós mesmos, ao mesmo tempo que temos a chave para solucionar problemas, somos vítimas de fatalidades cruéis, e para melhor nos defender pegamos a chave que tranca nossa capacidade de bater de frente com nossos monstros, fazendo então ele crescer cada dia mais, até agir por nós mesmos, tirando nossa voz.

Eu entendo, eu alimento esse amigo há anos.

Tenho em mente que não conseguirei dormir, meu celular está descarregado, preciso m****r uma mensagem para Mônica, ela deve estar muito preocupada comigo. E se eu não me comunicar com ela, irá passar por aquela cabeça que fui para a casa de Diogo.

Ando pelos cômodos desconhecidos por mim. Minhas maos estão geladas, no pé sinto o piso frio, não sou fã de chinelos. Meu celular parece querer cair de minhas mãos, tamanha a tremedeira, dando fim ao meu silencioso percuso, estou na sala e vejo Camille sentada em uma poltrona frente a sacada, junto à mulher, pousa sobre seus lábios o vermelho sangue do vinho, que aos meus olhos ela ama apreciar. Após o líquido descer sua garganta abaixo, ela encara a taça e estala os dedos em seguida. Um som tão baixo, porem me assustou fazendo atenção dela se voltar a mim.

- Precisa de algo? - sua voz é rouca, e toda cena presenciada fez ter um ar sexy sobre ela.

- Preciso de um carregador, se não for incômodo - vejo sua calma para levantar, não existe pressa. Porem se eu não m****r um sinal de vida para minha amiga, sou uma mulher morta.

Será que Camille esta bebendo desde quando chegamos? Não pode ser, não há nenhum sinal de embriaguez.

- Veja se este serve para seu celular - a voz dela soou pelo ambiente silêncio me dando outro susto.

- Pego o carregador e sumo de suas vistas, no quarto plugo o carregador no aparelho e aguardo. Em dois minutos ele liga, terei de esperar ate conseguir mexer e ter carga suficiente para que possa mexer.

Estou com fome, o que faço? Encaro Camille novamente, ou espero amanhecer? Não posso esperar, meu humor é como m****r as pessoas para o inferno só de ida se eu não me alimento.

Meus olhos estão se adaptando ao que vê, essa deve ser a quarta vez que passo por esse corredor largo e vivo de quadros, ela tem bom gosto.

A sala agora esta vazia, se eu abrir sua geladeira será de má educação? Mamãe dizia "quando estiver na casa de alguém e quiser algo, peça. Mas nunca saia abrindo as portas na casa dos outros. Seja educada" droga, irei voltar para o quarto, no raiar do dia agradeço minha chefe e vou embora.

- Posso ajudar em mais alguma coisa? - de onde essa mulher saiu, que susto.

- Ajudaria se não me desse susto sempre que aparece - merda, ela arqueou a sombracelha, eu faço isso quando estou contrariada. Será que exagerei? - desculpa, não quis parecer ríspida. 

- Tudo bem - falou com um micro sorriso - está com fome ? - a mulher até lê mente.

Faço aceno positivo com a cabeça, e vou em sua direção, Camille esta escorada em uma bancada de mármore claro, de perto vejo que é uma cozinha americana, interessante. Olho ao redor e sento em um banco alto, apoiando meu cotovelo na pedra gelada, o silêncio entre nós parece ser o único meio de comunicação, visto que palavras para nossa personalidade nada sociável não é necessária. 

Seus olhos azuis me encaram por breves segundos, em seguida ouço seus dedos raspando um de encontro ao outro, para então ir em direção a geladeira e retirar uma pizza. 

Por essa eu não esperava, afinal ela é uma chefe de cozinha"

Parecendo ler meus pensamentos, ou minha expressão facial, ela declara:

- Nem todo chefe faz o mesmo trabalho em casa - disse levando o prato com uma fatia bem generosa ao microondas.

- Eu não me importaria de faze-lo - digo sincera, adoro panelas ao fogo.

- Cozinha? - acho que é a primeira vez na noite que não vejo uma mulher de face indecifrável.

- Sim! Tenho como hobbie preferido.

- Na sua ficha você não colocou nada a respeito - diz retirando a pizza do microondas e o vapor subindo toma conta de nossas narinas. Ela me entrega o prato junto os talheres.

- Não quero essa profissão! - afirmo pensando que começarei tarde demais na área escolhida.

- Entendo. - disse antes de levar um pedaço de pizza gelada a boca. Eu não conseguiria.

No quarto depois de ouvir milhões de reclamações de Mônica, ela relaxa ao saber que estou na casa da minha chefe, essa informação era para faze-la ter outro surto, mas milagrosamente ela se aquietou. E me pediu para entregar o barraco para seu Joaquim, e voltar a morar com ela ate conseguir outro apê que seja confortável e que não inunda de água. Penso por algum momento, eu de fato não aguento morar lá.

- Amiga pensa comigo, você vai ter a noite sem minha maravilhosa presença, e o dia tambem porque você vai começar a estudar. Não iremos nos atrapalhar.

- Não sei Moni, irei pensar e depois te falo a respeito.

- Pensa com carinho, me ter como amiga e ainda morar comigo é privilégio para poucos - falou convencida.

- Quando Deus te criou ele só liberou seu ego né, falou que com ele o resto seria moleza. - digo e ouço sua gargalhada.

- Deus é generoso, viu a beleza que eu tenho? E meu corpo, é de dar inveja.

- Moni, você esta terrível - falo sorrindo, com ela não há tempo ruim.

- Só verdades! Amiga preciso ir, chamado de roubo agora, beijos, e não esquece da minha proposta.

- Cuidado! Beijo.

Deito no colchão macio e fecho os olhos, viro para o lado direito colocando meu braço debaixo do travesseiro, levanto a perna direita até a barriga, me sentindo cheia e confortável nessa posição, adormeço pensando no inspira, prende, solta.

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