Capítulo 4

Quando Évora soltou a verdade de seu passado, seus netos não conseguiram segurar a emoção, nem Anri, pois ela não fazia ideia deste segredo.

—AAAAAh!?— Leno e Anri disseram surpresos.

—Eu escolhi a terra há muitos anos. E finalmente fiquei velha, como se tivesse 65 anos.

—Quantos anos têm?—Leno perguntou curioso.

—Eu tenho 183 anos.

—Oh!—Leno disse admirado.

—Já faz muito tempo que não entro no mar. — Évora contou com saudade dos tempos que podia nadar pra onde queria.

—Quantos anos a sereia vive? —Leno perguntou.

—Em média uns 200 anos!

—Uao! Bem que pensei que fosse imortal.— Leno comentou.

—Não! Apenas demoramos a envelhecer. ― Évora revelou.

—Uao! Verdade!? A senhora parece que ter uns 50 anos.— Leno observou.

—Sim! Bem que hoje devido poluição e pesca predatória, as sereias duram bem menos, nem chegam há 80 anos.

—Que tristeza! —Leno disse.

—Vó! Se for assim, a senhora não é mãe da minha mãe! —Anri entendeu.

—Exato, Anri! Não sou sua avó!― Évora revelou outro segredo.

—O que?!— os dois netos ficaram espantados arregalando os olhos e se olharam como se isso fosse um segredo maior.

—Você não são meus netos, são meus tatata-tara-netos.

—Oh deus!—Os dois disseram surpresos.

—E meu pai? —Anri perguntou.

—Também é meu parente! Oser, seu pai, é descendente do meu filho Edromus que foi pro mar. E Anele e Gilmar são descendentes do meu filho Edonias da terra.

—Como assim?—Leno perguntou atordoado com a revelação.

Évora revelou que teve dois filhos, não revelou o pai, mas os netos não perguntaram quem era o genitor, para não atrapalhar a conversa, eles a deixaram contar os detalhes aos poucos no intuito de saber tudo do passado de Évora. E estes filhos dela tiveram mais filhos e mais filhos até que chegou a Leno e a Anri.

—Tive dois filhos gêmeos: Edonias e Edromus. Quando tinha meus 21 anos.― Évora contou saudosa.

—Ah! Por isso, somos tão ligados!— Anri entendeu sussurrando.

—Um quis ser sereia macho, digo, um tritão do mar; e outro quis morar comigo na terra, pois não podia mais voltar para o mar. Ambos tiveram seus filhos, netos e bisnetos.

—Lembra a sequência da minha genealogia, vovó!? —Leno perguntou

—Sim! Sei bem tanto a sua genealogia como de Anri. Até anotei para não me esquecer.—Évora disse.

Ela foi numa estante abriu um caixinha onde tinha um diário e mostrou uma árvore genealógica.

—Eu tive o Edonias aos 21 anos, Edonias teve aos 23 anos o Tobias, Tobias teve o Matias aos 24 anos, Matias teve o Josias aos 22 anos, Josias teve a Marcela aos 23 anos, Marcela teve a Anele ao 25 anos e o Gilmar aos 26, Gilmar teve o Leno aos 27 anos, e Anele teve Anri aos 29 anos.

—Puxa! Que exatidão!— Leno disse admirado.

—Eu tenho anotado também a linhagem de Oser.—Évora disse.

—Diga, vovó! —Anri pediu.

—Eu tive o Edromus aos 21 anos, Edromus teve aos 26 anos a Fogia, Fogia teve o Erodumos aos 27 anos, Erodumos teve a Codina aos 20 anos, Codina teve a Fotina aos 23 anos, Fotina teve o Oser ao 24 anos, Oser teve a Anri aos 26 anos e soube que ele teve outros cinco filhos machos antes, um em cada ano.

—Sua mãe é boa em fazer menino! —Leno comentou.

—Sim! Todos os anos, mamãe tinha  um filho. Sou a caçula de 6 filhos.—Anri disse.

—Minha ta-tara-neta Marcela teve Anele e Gilmar, mas ela morreu com o esposo num acidente rodoviário, e fiquei cuidando como a mãe deles desde criancinha. Por isso eles me chamavam de “mainha”! —Évora contou. — Depois outra tragédia ocorreu quando morreu também os pais de Leno, num acidente de barco, quando ele tinha 2 anos.

—Puxa! —Anri e Leno disseram surpresos com tanta tragédia.

—Quanta tragédia, avó! —Anri percebeu.

—Sim! É um carma que me persegue, todos os meus descendente na terra morrem cedo demais, nenhum completou 30 anos.

—O que? —Leno perguntou temeroso.

—Calma! Querido neto! Não sofri nenhuma maldição, é que não sei, sempre ocorre alguma coisa pra trazer a morte prematura a esta casa. —Évora contou triste.

—Vó! Fez algo de ruim? —Anri perguntou desconfiada por haver tantas mortes cedo demais, pois isto era igual ao que acontecia com a família dela por parte de pai.

—Nada! Minha netinha! ― Évora disse tentando fugir da conversa.

—Ainda bem!

—Anri, você é tão parecida comigo quando jovem, mas que Marcela, sua verdadeira vovó. —Évora comentou.

—Será que eu tenho alguma coisa de sereia? Ou fada?— Leno questionou.

—Não! Seus descendentes sempre foram humanos comuns, por isso, você, seu pai e avô não sofreram mudança ao entrar na água.

—Que pena!— Leno disse triste.

—Queria ser como eu?— Anri perguntou estranhando.

—Sim! Seria muito legal! Assim poderíamos juntos nadar pelo oceano a fora sem se preocupar com gastos de viagem.—Leno disse animado com a ideia de ser homem-peixe.

—É mesmo!—Anri disse sorridente.

—E eu? Esqueceram-se de mim!?— Évora perguntou desconfiada.

—Oh vozinha, a senhora poderia vim junto! —Leno sugeriu.

—Estou velha e sem prática!

—Ah, vozinha! Se quiser ainda nada até Concha! E poderia ver mamãe.—Anri sugeriu.

—Querida, Anri! Tem mais um detalhe.

—O que?—Anri perguntou desconfiada que poderia ainda ter mais história.

—Como escolhi a terra seca, eu também fiquei proibida de voltar.— Évora contou lamentando.

—E foi? —Anri disse admirada.

—Mesmo que quisesse não poderia voltar para minha cidade. —Évora contou.

—Já faz tantos anos! Será que o Grã-Sentinela se lembra da sua escolha? —Anri perguntou.

—Sim! Pois existe uma lista de quem pode e quem não pode atravessar os portões de Concha.

—Vixe! Que besteira! —Anri disse emburrada.

—Eh, meus netos! Não é tão fácil entrar em Concha!―Évora alertou.

—E tem isto, vó? —Leno perguntou admirado.

—Sim! Não é, Anri? Você sempre diz seu nome na entrada e mostra sua calda!

—Sim! Eu digo quem sou, e quem são meus pais.― Anri confirmou.

—Viu! Meu querido neto, digo, meu tatata-tara-neto.

—Que droga!—Leno disse chateado.

—Agora vamos dormir! — Évora mandou.— Amanhã quero ir na feira da cidade daqui.

—Eu posso ir junto? —Anri perguntou entusiasmada.

—Sim! Mas tome cuidado, querida! O povo daqui é meio desconfiado com pessoas turistas, em especial diferentes.

—Anri não tem nada a temer.—Leno disse exaltado.

—O povo sempre estranha pessoas estrangeiras. E você, Anri, está parecendo uma moça exótica demais, com este seu cabelo verde, esclera vermelha.

—O que faço para ser mais parecido com uma garota da terra?—Anri perguntou.

—Primeiro: Você tem que esconder seu cabelo verde, Anri.

—Como?

—Cortando! —Évora sugeriu.

—Não quero cortar! — Anri disse dando um passo para trás.

—Então amarre assim, com um coque, escondendo esta parte e pondo um lenço.

—Gosto dele solto! —Anri disse com cara fechada.

—Pode pintar! —Évora continuou a sugerir.

—Hein!? Pra sempre?― Anri continuava relutante.

—Tenho ervas que escurece teu cabelo temporariamente, depois de lavar sai a cor rapidinho!

—Ah! É verdade!?― Anri anda duvidava.

—Sim! Eu uso sempre para ficar com cabelos mais escuros.

—Bom truque, vovó! — Anri disse contente.

—Vó, seu cabelo era verde? —Leno perguntou curioso.

—Sim, Leno! Meu cabelo era verde! Agora ficou permanente nesta cor marrom. —Évora respondeu.

― O mais estranho da Anri são os olhos. ― Leno ressaltou apontando.

—Verdade, Leno. Segundo: Os humanos vão estranhar muito os olhos vermelhos de Anri. ― Évora concordou.

—Como faço para mudar?— Anri perguntou.

—Olhe para cima por 10 minutos. Fixe seu olhar no teto, ali!

—Só isto!?

—Sim! O sangue dos olhos vai para outro lugar, e só voltam quando for para o mar.

—Ah! Legal! ― Anri disse surpresa.― Não sabia deste truque.

—Seu verde também vai sumir!― Évora alertou.

—Que? Que cor será?― Anri perguntou preocupada.

—Provavelmente preto!

—Eh!?

—Vixe, vó! Até a íris verde de Anri mudará? —Leno estranhou.

—Sim! —Évora confirmou.

—Que mais, vozinha!? —Anri perguntou temerosa.

—Terceiro: use roupas adequadas como meus vestidos longos. Nada de saias rasgadas quase na virilha, ou este top mostrando seus seios, ou sair sem calcinha como usa às vezes por aqui.

—Oh! Vó! É muito chato estes panos todos me cobrindo!— Anri reclamou.

—Concordo! O mais legal de Anri são suas roupas do mar.—Leno disse se enxerindo.

—Na minha cidade não tem roupas, Leno! Pois a escamas cobrem tudo. Uso roupas somente aqui, de uns panos velhos que vovó me dar.

—Ai é!?Tá reclamando, Anri!?—Évora perguntou chateada.

—Sim! São roupas usadas, fedendo a mofo. —Anri confirmou.

—Pois era muito bonitas na época que usava.— Évora rebateu.

—Vixe! Então é de outro século!— Anri disse e riu.

Leno também riu.

—Veja bem, minha cara sereia adolescente! Você tome jeito! Tu ficas rasgando minhas roupas para deixar mais curta para atiças os homens! —Évora deduziu.

—Eu não?

—Sim! Sabe que roupas curtas demais atraem os olhares masculinos!

—E é? —Anri estranhou ingenuamente.

—Ah vovó! Não reclame de Anri! Ela fica linda de roupa curta e rasgada! Muito sexy!― Leno disse com um sorriso malicioso.

—O que, Leno!? Te comporte! —Évora mandou brava. —Estou percebendo muito assanhamento com sua prima ultimamente.

—E o que usarei?— Anri perguntou.

—Um vestido como este!—Évora respondeu, mostrando seu vestido no pé com cores frias e escuras.

—Shiii! É enorme seu vestido!—Anri estranhou a vestimenta.

—Sim! Assim ninguém vai te incomodar. Será uma mocinha de família e recatada como deve ser.

—Ah! Que besteira! Anri tá linda assim.― Leno retrucou.

― Eu fiquei tão feia. Não quero ir com este pano velho.― Anri reclamou

—Se não for assim, não irá para cidade conosco.—Évora disse determinada.

—Está bem, vozinha! Usarei até véu!—Anri aceitou, pois iria conhecer finalmente a cidade.

—Uhm! Muito bem! Minha netinha! Vão dormir. Não enrole mais!

—Já!?— Leno disse chateado.

—Sim! Iremos bem cedo! Vamos levantar às 4 da manhã.

—Oh droga! É cedo demais! —Leno disse amofinado.

—Leno, não reclame! —Évora mandou.

E os dois foram para suas camas sem reclamar como dois bons filhos.

s filhos.

Capítulos gratis disponibles en la App >

Capítulos relacionados

Último capítulo