Trenta

Victoria não se reconhecia mais. Mesmo enxergando seu rosto no reflexo do espelho do retrovisor, não conseguia se ver na imagem, ainda que nítida, que seus olhos focavam curiosos a todo momento.

Ela encostou sua cabeça no banco de couro bege, e abriu a janela, sentindo o vento tocar seu rosto, secando a lágrima que escorria em seu olho esquerdo. Mesmo a limpando discretamente, ela insistia em estar lá, a lembrando da tristeza instaurada dentro de si. A lembrando do seu coração danificado, e do rombo interno que parecia nunca sarar.

Estava vazia, completamente oca, e após muito tempo se sentindo assim, nosso cérebro passa a buscar maneiras de preencher esse vazio. Às vezes com ações benéficas e positivas, outras vezes com ações impulsivas e irresponsáveis.

Ela não sabia exatamente quando havia começado a ser tão inconsequente, mas entendia que sua vida, no cenário atual, não exigia muita cautela. Não tinha mais sua família para fazer parte, havia deixado a faculdade, e agora, havia se
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