Capítulo 9

Helena

Passei o domingo na casa dos meus pais e confesso que estava com saudades deles, aproveitei para ajudar meu pai a replantar as roseiras da mamãe e curti cada segundinho que pude dos meus velhos, afinal durante a semana quase não nos vemos.

A segunda já começou alvoroçada com Rogério gritando ordens e passando clientes para cada um de nós. O que é maravilhoso, não vamos reclamar do pão nosso de cada dia.

Uma pequena batida na porta me chama atenção.

-Entre.

-Helena, tem um homem querendo falar com você. -Carolina a recepcionista diz.

-Quem? -Pergunto franzido as sobrancelhas já que não tinha nenhum horário marcado para agora.

-Disse apenas que precisava falar com você. - Ela balança os ombros.

- Você deve perguntar o nome das pessoas antes de vir até nós Carol, assim fica difícil de dispensar ou aceitar.

-E agora o que eu faço? -Pergunta aflita, afinal ela era nova contratada. 

-Mande ele entrar, mas lembre-se de perguntar o nome em uma próxima vez.

-Lembrei, obrigada! -Sussurra fechando a porta.

Não demora muito e outra batida chama minha atenção, ordeno que entre e sinto o chão diante dos meus pés ruir ao ver Jonathan bem a minha frente.

- Você? - Pergunto surpresa e logo a raiva me domina. -O que faz aqui?

-Bom dia senhorita Albuquerque.

- Eu sei que não veio aqui atrás dos meus serviços, não tenho nada para falar com o senhor, por favor se retire. -Peço com educação.

-Poderia me ouvir por um segundo?

- Não, nossa conversa terminou naquele restaurante e se for sobre o atropelamento deixe uma carta ou algo que indique o que você precisa que providenciarei.

Vejo o homem a minha frente suspirar fechando a porta atrás dele.

-Queria me desculpar. O culpado por trás de toda essa história é meu irmão, ele é imprudente em certos momentos, mas estava tentando me ajudar da maneira dele...

O corto com um levantar de mãos.

-Senhor Magoga, o senhor não me deve satisfações, reconheço meus erros e estou lidando com eles a minha maneira. Não precisa se incomodar com nada, não irei entrar com ações contra o senhor pelo dinheiro ou algo assim, afinal sabia dos riscos que era um contrato às cegas. Pode se retirar por favor. -Indico a porta atrás dele.

- Não vai me ouvir? - Ele questiona decepcionado.

- Não há o que ouvir. O mal-entendido já foi esclarecido, se quer saber da verdade lhe direi rapidamente. A pouco mais de dois meses recebi o convite de casamento da minha prima pedindo que eu fosse sua madrinha, mas não tinha um namorado, pois me fechei para o mundo depois da morte do meu noivo e da traição do meu ex-namorado. A verdade é que não queria dar o braço a torcer para o ex que está com a mulher que me traiu e fui em busca de métodos mais fáceis causando esse alarde e constrangimento todo. -Vejo a surpresa estampada em seu rosto ao ouvir o meu resumo simplista.

-É tão importante assim levar um acompanhante a esse casamento. -Pergunta confuso e solto o ar com força.

- Não mais depois de suas palavras. -Falo com calma não querendo ser grossa, mas era impossível. 

Ele permanece em silêncio me encarando como se eu fosse um alienígena e sinceramente não faço ideia do que se passa na cabeça desse homem.

Aperto o ramal da segurança discando para um dos meninos.

-Em que posso ajudar? -Reconheço a voz de Breno assim que ele atende.

-Breno poderia acompanhar o senhor que está em minha sala até a saída por favor? -Peço gentilmente.

-Deixe-me marcar um almoço para que assim possamos conversar com calma, você pagou por isso correto? -O tom de voz se ameniza e ele me observa pensativo.

- Não tem necessidade senhor Magoga, agradeço.

-Quero lhe acompanhar neste casamento Helena.

Arregalo os olhos confusa e completamente perdida. Já não sabia mais o que estava acontecendo ali, muito menos entendia tudo aquilo.

A porta se abre e Breno entra observando a mim e Jonathan.

-Senhor, por aqui. - Ele indica a saída e Jonathan apenas assente seguindo ele.

-Enviarei mensagens. - Diz antes que a porta se feche.

-Mas que grande maluquice, Deus, onde fui me enfiar? -Apoio a mão no rosto sentindo a cabeça latejar.

***

Dois dias se passaram depois do meu encontro com Jonathan no escritório e como ele havia dito me enviou mensagens das quais não respondi.

Como responder?

Estava envergonhada com o carão que eu passei e com suas palavras que apesar de tudo não estavam erradas, mas me magoaram.

E agora do nada ele queria me acompanhar, sinceramente não entendo o que está acontecendo e Brenda, bom, entende menos ainda.

E olha que para deixar minha amiga sem palavras a situação tinha que ser bem trágica.

Jonathan: Helena, você insiste em me ignorar, recusa as minhas ligações, mas já disse que estou disposto a lhe ajudar como forma de desculpas pelo mal entendi causado por Eric e pelas minhas palavras impensadas na hora do nervoso.

Eu não sei o que ele quer e sei que se eu continuar o ignorando vou continuar sem saber, mas caramba o que eu posso fazer?

Ele é um Magoga, ninguém acreditaria quando ouvissem seu sobrenome.

Rio da minha própria desgraça e visualizo outra mensagem antes de guardar o celular dentro da bolsa

Jonathan: Pelo menos passe sua conta para que eu possa lhe devolver o dinheiro.

- Que homem complicado! -Murmuro e quando vou dar o primeiro passo para dentro dos portões do fórum assusto com alguém sussurrando em meu ouvido.

-Pare de me ignorar senhorita....

Solto um grito alto e automaticamente me viro acertando o nariz da pessoa com o punho que geme apoiando a mão no nariz.

-Porra. - Ele se curva.

Apoio a mão no peito enquanto ele pragueja com a mão no nariz.

Ao ver que era Jonathan tenho vontade de correr, mas acabo apoiando a mão em suas costas preocupada.

-Aaahhh... - Ele geme se contorcendo no meio da rua.

-O meu Deus, Jonathan. -Apoio a mão em seu rosto fazendo ele olhar para mim e me preocupo ao ver um pequeno risco de sangue escorrer.

-Sexo frágil é o cacete. - Ele ri desgostoso apertando o nariz.

-Fiz aulas de defesa pessoal e quem em sã consciência chega atrás de uma pessoa assim do nada? - Pergunto segurando sua mão. -Pare de aperta vai piorar.

- Tá doendo.

-Está sangrando. -Afirmo. -Vem.

Seguro sua mão e entro no fórum caminhando até o primeiro banheiro que encontro. O empurro para dentro e fecho a porta atrás de nós o obrigando a se sentar.

-O que está fazendo? -Resmunga com os olhos lacrimejados pela dor.

-Vendo se não está quebrado.

-Como irei te acompanhar com o nariz roxo? -Solta o ar em uma lufada tocando o nariz com calma.

-Ainda está com essa ideia maluca? Já não disse que desisti.

-Ainda não conversamos sobre isso.

-E nem vamos Jonathan. -Pego a toalha de papel molhando a mesma para limpar o sangue que começava a ficar seco.

-Por que é tão resistente comigo Helena? -Seus olhos confusos encaram os meus e opto por não responder encarando mais do que deveria seu rosto.

Jonathan não era totalmente calvo, as entradas de seus cabelos eram livres de qualquer fio, mas as laterais e a parte de trás reservava fio escuros e curtíssimos.

-Ergue a cabeça. -Peço com gentileza e ele faz o que peço.

Com calma apoio minha mão em seu queixo e passo a toalha de papel limpando o sangue escorrido.

Jonathan franze as sobrancelhas em dor fazendo uma careta.

-Você não respondeu minha pergunta. -Insiste.

Jogo o papel pegando outro e repetindo o processo enquanto falo.

-Por que em todas as vezes que nos encontramos você deixou extremamente claro e explícito que não gostava de mim. -Murmuro chateada.

- Não é bem assim...

-É sim Jonathan, ouvi parte de sua conversa com sua mãe antes de fechar a porta e mal havia saído do quarto quando você disse a seu irmão que eu era irritante. -Termino de limpar seu nariz e lavo minhas mãos. -Pronto, acredito que não ficará roxo, sangrou porque pegou de mal jeito.

-Nunca me senti tão otário como você me faz sentir. - Ele confessa e eu ergo as sobrancelhas cruzando os braços.

- Eu te faço sentir? As palavras foram suas não minhas, apenas estou respondendo suas perguntas.

-Você tem razão, me tornei uma pessoa horrível depois da morte do meu pai, mas isso não justifica minhas atitudes. Perdão Helena, te julguei sem te conhecer e te machuquei com palavras, com a minha rudeza e frieza. Você não tem culpa de nada que acontece ou aconteceu em minha vida, não sei se minha aversão a você foi devido o atropelamento que me obrigou a me afastar das empresas quando elas são tudo o que tenho, ainda assim nada que eu faça ou fale justificará minhas atitudes. - Encolhe os ombros.

O encaro por incontáveis segundos tentando enxergar alguma mentira, mas tudo que ele diz parece ser sincero e ele realmente aparenta estar arrependido.

-Tudo bem, não é como se você fosse obrigado a gostar de mim ou algo do tipo. Nossos encontros sempre são bem explosivos e você sempre acaba sangrando. -Faço uma careta e ele ri gemendo logo em seguida.

-Aí. - Apoia a mão no nariz.

-Se lembrará de mim por uns dias. -Encolho os ombros meio sem graça.

-Me lembrei de nunca mais abordar alguém por trás. 

Não consigo conter a risada e ele bufa me fazendo rir mais ainda.

-É meio estranho ter essa conversa dentro de um banheiro. -Sinto minhas bochechas se esquentarem por ter puxado ele para lá na maior naturalidade.

-É compreensível devido aos fatos. -Seus olhos reservam um sutil brilho e um pequeno sorriso charmoso dança em seus lábios.

-É, eu tenho que ir. -Indico a saída atrás de mim. - Estou atrasada. -Me viro para abrir a porta e assim que eu saio escuto ele dizer.

-Responda as mensagens por favor. - Ele coloca as mãos dentro do bolso da calça e eu maneio a cabeça em concordância seguindo o meu caminho.

Jonathan

Permaneço naquele banheiro por mais alguns minutos e os motivos de ficar ali também não sei, mas de certa forma meu coração estava acelerado e eu sinceramente não entendi aquilo.

Parecia um adolescente correndo atrás da patricinha da escola que o desprezava e isso soa extremamente engraçado já que nunca em minha vida fui do tipo que correu atrás.

Na verdade, sou do tipo que. Quer? Quer. Não quer? Tem quem queira.

Mas com Helena as coisas tende a ser diferentes e quando vejo estou agindo impulsivamente e sendo puxado para ela de uma maneira que me assusta. 

Meu celular começa a vibrar no bolso interno do terno e atendo no automático.

-Jonathan Magoga, quem gostaria?

- Senhor Magoga, Ricardo Feitosa está à espera do senhor a dez minutos. -Jéssica diz preocupada, afinal nunca em minha vida havia me atrasado para uma reunião.

-Avise que chegarei o mais breve possível, estou preso em um engarrafamento. -Minto sem um pingo de culpa. -Se for da vontade dele faça uma vídeo chamada que iniciaremos a reunião enquanto não chego ao prédio.

- Sim senhor, avisarei o senhor Feitosa e retornarei com a vídeo chamada de for da vontade dele. -Jéssica se despede desligando logo em seguida e eu trato de voltar para os meus afazeres antes que de alguma forma me arrependa do que estou fazendo.

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