Capítulo 10

Conto para Brenda o que aconteceu na entrada do fórum e a descarada gargalha alto chamando a atenção de metade das pessoas que passam ao nosso lado.

-Cala boca sua infeliz, está querendo levar uns esporros de Rogério, você sabe que ele odeia quando ficamos papeando nos cantos do fórum. –Repreendo e ela balança os ombros.

-Espero que o nariz dele fique roxo. –Ela volta a rir apoiando a mão na barriga.

-Amiga, coitado, no fundo eu fiquei com dó, porque ele parecia realmente estar arrependido. –Confesso e não sei se estava sendo idiota por ficar com dó ou não.

-Larga a mão de ser palhaça Helena. –Ela diz brava apontando o dedo no meu nariz e eu faço uma careta encolhendo os ombros.

-Ele merecia muito mais do que um quase soco no nariz, você devia ter acertado as bolas dele por tudo que ele falou. –Ela ralha me fazendo suspirar.

-Você tem razão, mas ele realmente parecia arrependido amiga. –Vejo ela torcer o nariz.

-Não quero entrar nesse assunto agora, ainda estou com raiva dele, vamos logo almoçar antes que Rogério começo a ligar atrás de nós e talvez com a barriga cheia você cria juízo nessa cabeça.

-Mas não estou falando nada, só disse que talvez eu deva ouvir o que ele tem a dizer.

-Na verdade, que opções nós temos né? Acabamos envolvidas nessa loucura, acho que o melhor a se fazer é ouvir ele. –Ela sede soltando o ar com força. –Não é como se ele fosse tentar algo contra você, ele tem uma imagem a zelar, é rico e precisa manter as aparências.

-É verdade. –Solto frustrada, mas bem no fundinho queria que ele fosse meu par, ele é lindo e aquele corpo sarado não sai da minha cabeça. –Mas a única encrencada sou eu, você só está nos bastidores.

-Para de ser mal-agradecida Lena, eu sofro junto com você e fico feliz também. –Ela resmunga chateada.

-Aí amiga eu sei, estou tão confusa, agora ele veio dizendo que quer ser padrinho.

-Espera. –Ela quase grita me parando abruptamente. –Essa parte você não contou, vamos recapitular essa história direito.

-Ele disse que quer me acompanhar, mas isso é errado, ele me odeia e já deixou isso claro várias vezes.

-Quem se importa Helena? Para esfregar aquele Zeus na cara de André o cara pode nunca mais querer olhar para você desde que faça o serviço bem feito. –Ela ri maligna e eu nego com a cabeça.

-Você estava falando agora mesmo para mim não ser idiota. –Falo indignada.

-Isso era antes de saber que ele aceitou ser padrinho, você não vai recusar a oferta, até porque não tem ninguém melhor, engole esse orgulho e vai atrás do bofe querida, você vai esfregar esse deus grego na cara no André, vai sambar e sapatear em cima dele rebolando e quicando até o chão.

-Para que só de pensar minha coluna dói. –Faço uma careta e Brenda ri alta.

-Pior, quando vão inventar uma prótese de coluna? Alo, estamos em dois mil e vinte, os carros voadores foram adiados para daqui uns cinquenta anos. –Ela revira os olhos. –Mas estou falando sério Lena, tente aceitar a proposta, você não tem opção melhor mesmo, pelo menos o Magoga é bonito e rico. –Ela pisca rindo. –E vai que Deus está do seu lado e ele se apaixona por você.

-Para Brenda, nem me venha com esse papo absurdo, nunca que ele vai se apaixonar por mim. Ele me odeia, só está se sentindo mal e quer fazer algo para aliviar a culpa de ter sido um idiota. Apesar de que toda a culpa é do irmão dele que inventou toda essa história, mas foi ele quem disse todos aqueles absurdos. Para falar a verdade sua louca, nem eu sei mais o que é certo e errado, só deixa rolar. –Dou de ombros.

-“Deixa a vida me levar, vida leva eu. Deixa a vida me levar, vida leva eu. Sou feliz e agradeço por tudo que Deus me deu” –Ela canta e b**e na mão como se tocasse um pandeiro me fazendo rir.

-Pelo amor de Cristo, você desenterra cada uma. -Nego com a cabeça puxando ela ao ver nosso Uber estacionar em frente ao fórum, meu carro ainda estava no concerto e sabe Deus quando aquele bendito vidro chegaria para que pudessem fazer a troca. 

Seguimos para o restaurante da Dona Filo, pois ela era nosso paraíso pessoal e acabamos embalando em uma longa conversa até finalmente termos que voltar para trabalho.

A tarde passou rápido e com muito trabalho e a único coisa que almejo é chegar em minha casa e tomar um demorado e relaxante banho para relaxar os ombros.

***

Hoje minha maravilhosa amiga não vem para minha casa, pois de acordo com ela tinha um encontro. Nem mesmo falo nada, conheço bem Brenda e quando ela está com seus rolos nem adianta questionar.

Ela é uma menina meiga que ama curtir a vida da sua maneira e desde que ela esteja feliz eu também estarei.

O banho foi algo realmente relaxante e que aliviou a tensão em meus ombros, pego o meu balde de pipoca e me deito no sofá escolhendo um filme de romance.

Vira e mexe observo meu celular para ver se não tinha mensagens, mas a quem eu queria enganar, estava esperando mensagens de Jonathan e ele provavelmente não mandaria mais nenhum se eu não respondesse as anteriores, porém não queria dar o braço a torcer e iniciar uma conversa, então apenas bloqueio o celular e volto a prestar atenção no meu filme.

O filme era interessante, muito bom para falar a verdade, mas o cansaço do dia a dia estava cobrando seus efeitos e quando vejo me pego cochilando entre uma cena ou outra, a única coisa que me desperta é o vibrar insistente do celular perdido próximo a minha bunda.

Perdida seguro o aparelho e atendo sabendo que só poderia ser Brenda ou minha mãe, pois ninguém mais me ligaria uma hora daquelas.

-Alo Brenda? Você está bem? Aconteceu alguma coisa? Você disse que ia sair hoje porque está me ligando? –Pergunto de uma vez.

-Hum, desculpa ligar tão tarde, mas sai agora da empresa e você não responde minhas mensagens. –Aquela voz grossa que faz os pelos do meu corpo se arrepiarem soa do outro lado da linha me assustando e fazendo meu coração saltar acelerado com o susto.

-Jonathan? –Questiono surpresa e retirando o celular da orelha para olhar o número.

Mas que que droga, praguejo me arrumando no sofá.

-Sim, você está ocupada? –Ele pergunta incerto.

-Não, é que eu achei que fosse minha amiga. Desculpa. –Encolho os ombros envergonhada mesmo sabendo que ele não poderia ver.

-Desculpe ligar tão tarde, como eu disse você não respondeu as mensagens e gostaria de te convidar para um jantar amanhã...

-Um jantar? –Quase grito o cortando, mas no último momento controlo meu tom.

-Para discutirmos sobre o casamento. –Percebo que sua abaixa um tom, talvez pelo constrangimento do assunto.

-Já disse que não precisa se preocupar com isso. –Falo com sinceridade. –Acho que estava ficando louca quando cogitei essa possibilidade. –Acabo rindo sem graça. –Não precisa se sentir obrigado ou algo do tipo.

-Por favor, permita que eu lhe acompanhe, li suas mensagens destinada ao meu irmão e percebi que seu único interesse era de fato um acompanhante. Desculpe se te julguei mal, sei que fui meio carrasco, mas tem certas coisas que não conseguimos esquecer ou ignorar. Eric me repreendeu de todas as formas e disse que sou um completo babaca e bom, talvez ele esteja tão errado. –Ouço ele suspirar e algo me diz que o fardo que ele carrega talvez seja tão pesado quanto o meu, afinal, não posso julga-lo sem ao menos conhece-lo, cada um de nós carregamos nossas dores a nossa maneira.

-Tudo bem Jonathan, todos nós estamos propensos a errar, somos humanos, isso é naturalmente nosso. Não se preocupe quanto a isso, eu agradeço a sua ajuda e aceito o jantar para conversarmos sobre o casamento com uma única condição. –Falo por fim.

-Qual? –Questiona.

-Que aceite o dinheiro imposto por seu irmão, você está me acompanhando e o mínimo que poderia fazer é lhe pagar...

-Não quero o seu dinheiro Helena. –Ele me corta. –Não me leve a mal, mas eu não preciso dele e não estou fazendo isso por você, estou fazendo por mim também.

-Por você? –Questiono incerta.

-A mais de quatro anos não tenho um dia de folga ou sei o que é ter um encontro, não que isso seja um encontro. –Ele corrige o mal-entendido. –Não pense coisas erradas por favor. –Acabo rindo e ouço uma suave risada do outro lado da linha. –Volto ao que eu dizia, quero viver essa nova experiência e tirar meu foco da empresa. –Diz por fim.

-Compreendo, mas só aceito se aceitar o dinheiro. –Falo por fim, não queria explorar ninguém e o único jeito era pagando pelo fato dele me acompanhar, sem contar que até me sentiria melhor.

Ouço um suspirar do outro lado da linha e ele demora um pouco a responder.

-Você não vai desistir dessa ideia correto? –Pergunta.

-Não. –Afirmo.

-Se você deseja assim, tudo bem então, mas até o dia 27 tentarei te convencer do contrário.

-Tudo bem, é um direito seu tentar. –Acabo rindo e balançando a cabeça.

-Então, até amanhã Helena. –Ele se despede.

-Até amanhã senhor J. –Acabo sorrindo por apelida-lo.

-Já não é mais um mistério né? –Ele pergunta rindo baixo. –Você é engraçada, a muito tempo não tenho uma conversa leve como essa, obrigado senhorita H, espero que envie seu endereço por mensagem e te adianto que será um dos meus motoristas que irá busca-la por volta das nove horas da noite, desculpe ser tão tarde, mas a empresa sempre atrasa meus planos, não quero marcar mais cedo e deixa-la esperando. –Se explica e acho sua atitude e sinceridade bonito, pelo menos ele não estava tentando mentir sobre quem era.

-Não tem problema nenhum, até mais senhor J, enviarei o endereço por mensagem. –Nós despedimos naquele clima leve e engraçado.

Suspiro alto e jogo o celular para o lado surpresa com o rumo das coisas, nunca esperei que isso fosse acontecer, mas estou mais do que assustada e de certa forma feliz, pois Jonathan sabe ser gentil quando quer.

Um estranho tremor de alegria percorre meu interior e sei bem o que aquele calafrio desnecessário e conveniente significava.

-Não Helena, você não vai se apaixonar por ele sua trouxa iludida. –Falo para mim mesmo batendo as mãos no rosto e balançando a cabeça para dispersar aqueles pensamentos desnecessários.

É somente um mês, vai passar rápido e não será um problema tê-lo ao meu lado algumas vezes, apenas para estudarmos um ao outro e concluirmos nossos planos.

Que dizer, meus planos, de esfregar o deus grego na cara de André, me pego rindo sozinha e precisava urgentemente conversar com Brenda e contar o que aconteceu, pois, nossa loucura de certa forma chegou a algum lugar, bem maluco, mas chegou. 

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