7º Capitulo – O Fogo

Depois sai da sala, eu devia parar de me preocupar tanto com isso, mas infelizmente aquilo parecia estar me perseguindo.

Quando deitei na cama naquela noite Caled passou o braço sobre mim e me puxou para perto.

-Terra chamando Alicia, o que está acontecendo?

-Estou preocupado que talvez Sophia possa ser a próxima, ela é inteligente, fez 16 anos...

-Faz tempo que ela fez 16 anos, se não me falha a memória daqui dois meses ela vai fazer 17... então precisa se preocupar em mantê-la vida por dois meses e somos capazes de fazer isso.

- Mas e as outras meninas? Quem vai protege-las? E por que estão sendo mortas?

-Não sei, talvez seja mesmo um serial Killer, mas confesso que estou começando a acreditar na sua versão dos fatos.

-Finalmente alguém que está começando a acreditar em mim...

Disse me levantando da cama e caminhando até a janela para fechar as cortinas a luz da lua estava me incomodando.

-Que lua estamos?

Perguntei vagamente para ele.

-Crescente para cheia eu acho, por que?

Fiquei observando a lua, ela estava ficando grande, sua claridade irradiando o quarto, meu corpo tremeu e foi como se eu pudesse ouvir um grito ecoando em minha cabeça, Caled se levantou da cama rápido e me abraçou.

-Algum problema?

-Não sei, tive um mau pressentimento.

-Esquece isso, está se preocupando demais.

Talvez ele tivesse razão, eu estava me preocupando demais, talvez Caliel tivesse razão e eu estivesse imaginando coisas, quem sabe era apenas mais um serial Killer matando menininhas, por que eu deveria me preocupar tanto?

Acordei com o barulho do trovão rasgando o céu em uma forte tempestade, Caled sorriu ao me ver dar um pulo na cama.

- Hadriel, está fazendo um ótimo trabalho.

- Hadriel?

- Ele é o anjo que guarda as portas do vento leste, controla os ventos como ninguém, está causando uma boa tempestade.

- E desde quando uma tempestade é boa?

- Tempestades nascem de pequenos ventos Alicia, e tudo o que o vento traz ele também pode levar, até mesmo os pedidos mais silenciosos.

- Esta filosófico hoje, o que foi, Caliel está te convertendo?

-Não, não ainda. – Disse sorrindo, e me abraçou. – Sua tia está com muitas caraminholas na cabeça, você passou a noite fora e ela está preocupada.

-Tem razão eu deveria ter avisado ela que dormiria aqui, com esses ataques ela deve estar preocupada mesmo.

-Não é bem com os ataques que ela está preocupada...

Olhei para ele vendo aquele sorriso malicioso nascendo no canto da boca, o sorriso que a muito tempo tinha desaparecido, ele não precisou dizer mais nada, eu tinha que conversar com a minha tia.

Caliel entrou em um rompante para dentro do quarto.

-Você estava certa, são demônios, muitos deles...

Olhei atônita como se ainda não tivesse acordada, do que ele estava falando?

-O que?

Caled foi ao encontro dele.

-Não está falando dos assassinatos está?

-Infelizmente sim, Alicia estava certa o tempo inteiro, recebi uma chamada de Lucy ontem, ela também estava desconfiada e resolveu seguir o rastro da van, teve sorte de não ser pega...

- Espera quem é Lucy?

-Isso não importa, o que importa é que algo grande está prestes a dominar a terra, algo talvez grande demais para nós.

-Como assim?

Meu coração estava acelerado, eu não queria ouvir mais, mas minhas pernas insistiam em ficar grudadas ao chão.

-Não sabemos ainda, literalmente pegamos o bonde andando como dizem vocês humanos, precisamos avaliar essa situação por esse lado, não tínhamos cogitado a ideia de ter demônios em meio a isso...

- Mas o que essa tal de Lucy, seja lá quem ela é descobriu?

-Lucy é um anjo rastreador que vive na terra, ela segue os demônios pelo faro, a chamamos pelo codinome para que ela não seja descoberta, ninguém conhece sua verdadeira forma, já que ela vive mudando seu rosto para não ser reconhecida. – Ele fez uma pausa. – Ontem, ela ouviu gritos e seguiu a van negra pela cidade, descobriu o esconderijo deles, mas, chegou um pouco tarde as meninas já haviam sido mortas...

Comecei a chorar ainda presa ao chão, Caled tentou me abraçar, mas eu o afastei, eu precisava sentir aquilo, era minha culpa, Asmodeus tinha sido claro, uma guerra iria começar por minha causa, por que eu tinha convertido Caled, pessoas inocentes estavam morrendo por minha causa.

Caliel me olhou com seus lindos olhos azuis envergonhado das próprias palavras.

-Alicia, eu gostaria de dizer que seus pensamentos estão confusos e que não é exatamente isso, porém eu não posso, eles estão atrás de você, eles têm alguns pertences seus inclusive, Lucy sentiu o seu cheiro em alguns objetos.

-Cale-se Caliel!

Gritou Caled, pela primeira vez erguendo a voz para Caliel, como se não ligasse para a sua superioridade.

-Não vê que isso a machuca? Nada disso é culpa de Alicia, é minha culpa, minha só minha, por que eu fui fraco e me apaixonei pelo anjo mais lindo desse mundo e por que mesmo antes disso eu já repudiava a minha vida nesse mundo, eu, fui eu que fiz tudo isso, eu que escolhi amar acima de qualquer coisa... – Ele segurou minhas mãos e me olhou. – Eu prometo Alicia, que vamos sair dessa, não importa se eles são 10,20,100 ou até mesmo 1000, nada vai te atingir.

Nessa hora uma risada ecoou por dentro do quarto, pude sentir as vidraças vibrarem com seu eco.

-Que lindo... emocionante, mas tão mentiroso. – Asmodeus surgiu diante de nossos olhos com um sorriso no rosto. – Acha mesmo que consegue matar 1000 de nós? E se formos mais? Ainda assim conseguiria?

Caled avançou para cima dele, porém Caliel o segurou.

-Ele não está realmente aqui Caled, não vê é apenas uma imagem, não é real.

Asmodeus sorriu.

-Escute seu anjo Caled ele tem razão, não estou realmente aqui, agora quanto a sua garotinha, não tente defende-la, pois foi ela quem causou tudo isso, se ela não tivesse aparecido aqui nada disso estaria acontecendo, e talvez a tia dela ainda estivesse viva...

-Minha tia?

Olhei pela janela do quarto que dava em direção a casa de minha tia e pude ver a fumaça subindo para o céu, fogo...

-Não! – Gritei e sem pensar saltei pela janela tomando minhas asas, não, minha tia não.... Ninguém encostaria um dedo nela, não nela.

Percebi que Caled me seguia pelo céu e atrás dele vinha Caliel, a fumaça aumentava a medida com que eu me aproximava, desci no chão e entrei na casa protegendo meu nariz com as asas, lá estava ela caída perto da escada.

- Tia!

A abracei com força e a joguei em meus braços, saindo dali segundos antes de tudo explodir, e então voei o mais alto que consegui segurando seu corpo gélido em meus braços, Caliel e Caled tinham ficado para trás, mas pude ouvir quando Caliel o segurou pelos ombros.

-Deixe ela, ela precisa de um tempo para pensar, as duas precisam de um tempo.

Voei, voei alto, talvez alto demais, mas eu não me importava eu só queria fugir daquilo tudo, fugir daquele mundo, ir para um lugar onde minha tia ficaria a salvo.

A deitei na grama macia observando seu corpo estava inteiro, perfeito como sempre havia sido, então por que seus olhos não se abriam? Coloquei minhas mãos em seu peito e tentei puxar para mim tudo aquilo, eu precisava trazê-la de volta, ela tinha que voltar, aquilo não era correto, ela não podia partir, não assim...

Nada, nada parecia fazer com que ela voltasse.

Ao longe Caled e Caliel me observavam.

-Me deixe ir até lá por favor Caliel.

-Não, ela precisa fazer isso sozinha.

-Helena está morta, não, não pode ressuscitar alguém que já morreu, todos os poderes são limitados, mas para a morte, para a morte não tem volta.

-Onde está a sua fé anjo?

Caled observou em silêncio.

Nessa hora senti as mãos quentes de alguém segurando as minhas.

- Alicia, não é?

-Quem é você?

-Me chamo Camael e estou aqui para te ajudar, confia em mim?

-Acho que sim.

-E em você, você confia...

Olhei para minha tia.

-Como isso pode ajudar minha tia se foi meu excesso de confiança que a matou?

-Meu poder só vai ajudar sua tia se confiar em mim, então eu preciso que confie no seu.

Segurei a mão dele com força e juntos pressionamos sobre o peito de minha tia, no começo eu não vi absolutamente nada mudar, mas então ouvi a voz de Camael.

- Confie Alicia, precisa confiar no seu dom, Deus o deu por algum motivo.

Fechei os olhos e então senti a pulsação de minha tia voltar, seu coração estava batendo novamente com força, sem pensar eu a abracei, seus braços circularam a minha volta e tocaram minhas asas.

-Alicia? É você?

Olhei para Camael aflita e então logo não estávamos mais ali.

-Para onde eles foram Caliel?

Perguntou Caled.

-Para onde os humanos vão quando tem uma enfermidade, para o hospital.

- Mas Helena não estava doente, ela estava morta, como isso pode ser possível, Alicia não pode ressuscitar os mortos, ela pode?

-Não, ninguém pode, porém quando dois anjos unem seu poder eles podem conjurar uma força suficiente para mudar o destino.

-Está dizendo que não estava na hora de Helena?

-Camael é um anjo amplificador, tem um dom absoluto, talvez o dom mais perfeito de todos, ele pode amplificar o poder de outro anjo, Alicia pode curar, como poder de Camael esse poder foi dobrado e o amor dela pela tia foi o que salvou Helena, é claro que teve um dedo de Marmaroth que controla o destino e que se comoveu com a cena, mas isso não vem ao caso.

- Mas Helena, Helena viu Alicia em sua forma de anjo, Alicia quebrou uma regra grave, ela vai ser punida?

-Não, era um caso complicado demais, os anjos entenderam isso e enviaram Purah para resolver as coisas, quando Helena acordar no hospital, tudo não vai ter passado de um sonho.

- Purah é o anjo de esquecimento, não é? Ele pode fazer você esquecer qualquer coisa? Até mesmo o amor?

-Todos desconhecemos o poder de Purah, até então tem sido um bom aliado, mas para ser sincero o poder dele, me dá medo, vai muito além de qualquer conhecimento que eu tenha sobre esquecimento, não é apenas um controle da mente, é bem mais que isso, mas por que quer saber?

-Curiosidade.

Helena parecia serena, dormia como se a muito tempo estivesse precisando disso, talvez eu nunca a tivesse visto tão calma, sem querer abaixei a cabeça encostando-a a seu peito, ouvindo as batidas leves de seu coração, eu não podia perde-la e nem ela a mim, as coisas estavam fugindo de meu controle e isso me apavorava.

Caled entrou calmamente e se colocou ao meu lado.

- Caliel disse que o sono dela de agora é um sono de recuperação nada do que conversarmos será ouvido, então se quiser falar algo...

- O que quer que eu diga Caled? Eu estava focada a protege-la, e então resolvi tirar um dia de folga e isso aconteceu, é como se eles soubessem dos meus passos, é como se estivessem me acompanhando, soubessem quando atacar e como...

-Talvez saibam...

-Do que está falando?

-Caliel acha que estamos sendo vigiados.

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