2. Pelo visto não tem medo de levar um tiro.

– Quem era aquela? – questiono com curiosidade enquanto desço as escadas. Assim que a linda mulher saiu do estabelecimento, todas as portas foram fechadas e eu posso finalmente me relevar.

Eu estava no andar de cima o tempo inteiro assistindo a cena interessante que se desenrolou entre o Sr. Peev e a senhorita. Se bem que eu não tenho certeza se devo chamá-la de senhorita.

– Rayna Petrova, uma acompanhante. Ao que parece, o Sr. Peev queria usufruir mais do que havia pagado se é que o senhor me entende. Trabalha na Agency B. – meu guarda de confiança, Jeong, me esclarece. Dou um sorrisinho sacana ao perceber do que ele está falando. Ele sempre sabe de tudo, não importa o que seja, assim que pergunto ele sempre tem a resposta na ponta de sua língua e é por isso que é meu braço direito e está ao meu lado em cada passo dado.

Então quer dizer que o maldito não tem dinheiro para me pagar, mas tem dinheiro para acompanhantes? Bem que ele mereceu aquela rasteira, o verme idoso.

– Percebi pelo desenrolar da conversa – aponto enquanto observo os meus homens levando um muito cabisbaixo sr. Peev e me aproximo. Levanto a mão e os meus empregados entendem o recado, pois param e o colocam no chão novamente. Com o meu sapato, cutuco a coxa do velho e sorrio para seu rosto carrancudo – Ei, Sr. Peev. Como vai? Ou devo chamá-lo de Senhor Pervertido a partir de hoje?

– Você armou com ela não é? Aquela puta barata se vende por qualquer um que der mais dinheiro, eu sempre soube disso – o velho está praticamente cuspindo de raiva na minha direção, mas não me incomodo com as suas palavras e apenas rio. Ainda bem que ela não está mais aqui, pelo que percebi, ela não é do tipo que aceita xingamentos gratuitos e revida os ataques.

– Aquilo? Foi tudo um grande mal entendido. Eu não armei com ela, você sabe muito bem que eu não preciso desse tipo de coisa. O que aconteceu hoje foi tudo por sua causa, talvez se você não tivesse tentado passá-la para trás como me passou ela tivesse te ajudado a fugir – digo inocentemente e ele mostra os dentes para mim como um cachorro prestes a atacar. – Agora, que tal uma estadia em minhas adoráveis acomodações? Tenho certeza que vai dar um jeito de me pagar.

Olho para o segurança e meu sorriso se vai, a postura fria tomando conta de mim novamente.

– Leve – ordeno dando as costas para o Sr. Peev.

– Não! Me dê mais tempo, prometo que vou te pagar com juros – ele grita as minhas costas enquanto é arrastado, mas eu não me viro para ouvir sua proposta.

Eu que dou as cartas aqui, não ele.

Desde o momento em que ele pisou os pés nesse estabelecimento, eu sabia da presença dele e estava disposto a capturá-lo. Ele me deve e tem fugido de sua dívida, mas ele deveria saber que não há como fugir de mim. Eu o caçaria até num buraco de formigas se possível, só para pegar o que é meu por direito. De certa forma, eu sabia, lá no meu íntimo que ele me daria trabalho quando emprestei dinheiro a ele, mas eu sempre estou disposto a me surpreender. Não foi o caso com ele.

Eu sabia que ele tinha uma mesa reservada, mas não sabia que ele viria acompanhado. Quando ele subiu para o quarto, eu fui logo atrás com o plano de acabar com sua diversão na hora mais divertida, mas nem tive a oportunidade. Cinco minutos depois de ter entrado, a garota saiu e ele foi logo atrás.

Como sou tido a diversões e fofocas, decidi observar o desenrolar da cena e não me arrependo. Ele teria fugido se não fosse a rasteira dela, e que rasteira! Ela parece ter muita prática no assunto, além de ser obstinada.

– O que devemos fazer com ele? – Jeong pergunta.

– Que tal decidirmos enquanto tomamos um drinque? – proponho, animado. Eu sempre estou animado para um drink.

– Nikola! Tenho certeza que seu pai desaprovaria tal feito.

– Não me chame de Nikola, fica parecendo um velho quando faz isso. E sério que meu pai desaprovaria? Você acabou de me convencer! Vamos beber, por minha conta! – a simples menção de desaprovar meu pai é como música para os meus ouvidos.

Meu pai, Teodor Vladislav é o maior filho da puta que eu já conheci e eu o odeio. Sem mais. Minha missão de vida é fazê-lo infeliz e até agora estou obtendo muito êxito. Não consigo tirar o sorriso do meu rosto quando ele está bravo comigo.

– Senhor, perdoe-me a intromissão, sei que posso levar um tiro pela minha insolência, mas…

– Se sabe que pode levar um tiro – corto Jeong e o olho ameaçadoramente –, não acha que seria melhor não dizer?

– Senhor, acho que deveria ouvir o seu pai. Ele está ficando velho e está quase na hora de assumir seu lugar de Don. Não acha que seria prudente ser um pouco mais… contido?

– Defina contido.

– Obedecer as ordens dele, sair menos, pensar um pouco antes de…

– Pelo visto não tem mesmo medo de levar um tiro.

– Não se eu achar que isso vai te beneficiar. Pode atirar em mim se acha que não tenho razão – consigo ver em seus olhos a ousadia cintilando, mas em vez de achar ruim, sorrio.

Jeong Tate é meu amigo desde que eu me entendo por gente. Aprendemos a matar juntos, a usar a arma e a lutar. Não me lembro de uma vida onde ele não está ao meu lado e acima de chefe e subordinado, somos amigos, o que significa que ele tem permissão para me falar umas verdades as vezes.

– Você tem razão, mas me recuso a mudar. Quando ele morrer, prometo que farei uma mudança e se isso não acontecer e eu morrer, Viktor assumirá no meu lugar. É o máximo que pode acontecer.

Agora, será que podemos pular toda essa conversa chata? Tudo que eu quero é uma mulher no meu colo e uma garrafa na minha mão então vamos, siga-me.

Assoviando, caminho até a porta e depois de algum tempo, ouço passos derrotados atrás de mim.

Ele não tem opção a não ser me seguir.

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