Um mentiroso chamado Tyler

Relato de Allie Edwards - Um mentiroso chamado Tyler

  

   Às vezes as coisas são ótimas, por isso amo a realidade criada por celulares. Eles te permitem falar o que pensa para alguém sem que ela te dê uns tapas de imediato.

   Eu comecei a escrever esses relatos porque sou incapaz de falar o que penso em voz alta, mas se está escrito e ninguém vai ler. Que todo mundo se dane!

  Eu não estou aqui para falar do meu hobbie secreto, estou aqui para falar do Tyler.

  O maravilhoso...

  Perfeito...

  Completamente ridículo e mentiroso.

  Tyler Cornelius Mindar.

   Meus encontros com Tyler foram maravilhosos. Só tivemos um e metade do tempo, sorrimos com histórias do passado.

  Eu esperei ele me enviar mensagem na primeira semana, mas isso vagamente aconteceu, nossas conversas não eram mais como as do píer, ele havia voltado a ser o mesmo maníaco sexual de sempre.

   Esse tipo de comportamento obsessivo é um sinal de que devemos cair fora, mas eu não caí, em menos de duas semanas eu estava na praça de alimentação do shopping saboreando um delicioso hambúrguer quando ele chegou.

  - Espero não estar atrasado. – Tyler comenta com um sorriso, a blusa social azul destacando sua imagem com um toque de elegância.

  - Não muito. – Respondi ansiosa. – Vamos.

  Tyler havia tentado me convencer a transar com ele por dias, a cada conversa ele narrava as coisas que faria comigo como se pudesse encarnar as habilidades de um deus do sexo.

  Na hora de uma conversa sensual esse é o melhor tipo de estímulo que se pode ter para manter o tesão ativo. Mas na hora H, toda aquela conversa mole se torna um maldito pesadelo.

  No fim de um suave passeio chegamos ao nosso propósito para todo aquele encontro, quando entramos no quarto de hotel o nervosismo tomava conta da minha pele.

  Em toda minha vida eu nunca havia feito sexo de cara com alguém que eu julgaria um estranho, então estar ali com Tyler depois de apenas um encontro era algo completamente novo.

  As coisas se tornaram mais fáceis quando suas mãos ansiosas contornaram minha cintura em movimentos suaves, o arrepio que deveria subir pela minha pele foi embalado pelo nervosismo e eu me sentia mais dormente do que incendiada.

  Mantive na minha mente as palavras dele sobre o que faríamos juntos, sobre como minha pele iria se incendiar em chamas capazes de incinerar o planeta e do doce êxtase que provaríamos no fim.

  Toda essa linguagem deve ter deixado vocês enjoados, por isso vou ser o mais dura e realista possível.

  Definitivamente mais dura que ele.

  Nós mulheres investigamos o fetiche masculino, sejam com cordas e chicotes, laços e rendas ou até com meias coloridas com pequenos abacaxis.

  A questão é que nos importamos, imaginamos e vivemos o ato em nossas mentes antes mesmo que aconteça. Queremos o êxtase que os livros de romance narram, aqueles com beijos de tirar o fôlego e a conexão de almas que dura uma vida.

  Eu não preciso que você se case comigo depois de uma noite de sexo casual, só me dê a ilusão de que eu sou boa o bastante para que você queira fazer isto.

  Então quando as mãos de Tyler deslizaram pelo meu corpo nu sob um lençol de algodão vagabundo em um motel barato, eu soube que não deveria estar ali nem se me dessem um milhão de dólares.

  A língua dele se movia do jeito certo sobre minhas coxas, me causando um arrepio suave e delicioso, mas ao alcançar meu ponto de prazer o homem doce e sensível foi substituído por um ator pornô de péssima qualidade.

  Aquela maldita língua se moveu sobre mim com a força de uma lixa de unhas, a velocidade era exagerada e em nenhum momento ele se perguntou se aquele era de fato o lugar certo.

  No momento exato que os dedos dele fizeram seu trabalho foi o único momento que eu pude sentir algum prazer, eu foquei meus pensamentos nas suas palavras sensuais e imaginei que aquilo estava acontecendo.

  Em meu âmago, pensei que meus gemidos ajudariam a fazer as coisas de forma correta, mas tudo ficava cada vez pior a cada minuto.

  Eu deveria ter dito que as habilidades dele eram semelhantes ao couro de jacaré batendo nas penas de uma galinha e o resultado era algo sem vida e esfolado.

  Mas eu não conseguia ser cruel, então durante todo o intercurso eu encarnei a Julia Roberts que habitava em mim e deixei ela assumir a situação.

  A pior parte não foi ser virada em todas as posições básicas de forma desajeitada, nem o fato de não sentir literalmente nada durante duas horas de intercurso sexual.

  Mas depois de uma atuação perfeita e vários orgasmos simulados para massagear o ego do homem embaixo de mim, ele não se deu nem ao trabalho de ter um orgasmo e me encarou como se a culpa fosse completamente minha.

   Quando cheguei em casa após ser gentil com ele durante todo o trajeto eu estava completamente assada devido à falta de lubrificação do ato.

  Três dias sem conseguir sentar direito graças a um sexo ruim.

   Eu prometi a mim mesma nunca mais vê-lo.

  Então peço a todos os deuses do sexo por mais homens atenciosos e menos ogros pornográficos, por que simular orgasmos por pena é ainda mais triste que assistir o Titanic num dia de chuva.

Los Angeles, Segunda-Feira.

  Serena lia o artigo na cozinha de Allie aquela manhã com os sorrisos altos e calorosos. O relato protestante sobre o encontro sexual de Allie estava na tela do computador e a loira não parava de sorrir de todo o desastre.

  Ao lado delas, Aria bebericava um café quente esperando as fofocas sobre o texto iniciarem, diante de si havia um pequeno muffin de chocolate à sua espera, doce e adorável com uma nuvem de um dia de verão.

    - Isso aqui está incrível. – Serena bateu suas mãos contra a mesa de madeira sorrindo sem controle. – Podíamos batizá-lo de língua de crocodilo.

   - Ele pode gostar do apelido. – Aria comenta se deliciando com o bolinho. – Você sabe como os homens são esquisitos.

   - Nunca mais.... Acho que vou evitar todos os Tyler dessa cidade a partir de agora. – Allie comentou se servindo dos ovos recém tirados do fogão.

   - Eu tive um encontro esses dias. – Aria comenta atraindo o olhar curioso das duas sobre si. – Falamos sobre o campeonato de vídeo games a maior parte do tempo.

   Serena sacudiu suas mãos de um jeito nervoso no ar. O fato de Aria por si só ter tido um encontro era motivo de festa, visto que a mesma morreria na frente do computador cercada de jogos e livros sangrentos pelo resto da vida.

   - Me diz que foi uma pessoa de verdade dessa vez. – Serena implorou se recordando de quando Aria havia caído num golpe tailandês numa convenção online de MMORPG. – Você quase casou com o Armandinho por uma cidadania japonesa.

   - Armandinho? – Allie pergunta vendo Serena sorri.

  - Eu não sei o nome dele. Qualquer coisa serve.

  - O nome dele era Tatsumi. – Aria se defende. – Ele me deu um pacote de itens raros muito bom.

   As duas mulheres suspiraram diante da ingenuidade de Aria e logo depois o celular de Allie vibrou alertando sobre um novo e-mail.

  Seus olhos encararam a tela surpresos, pois geralmente ele estaria dormindo àquela hora da manhã.

“Allie, seu gato destruiu minha planta mais uma vez. Por favor, prenda esse demônio direito. ”

Gregory, 07:24

“Sinto muito, vou trancá-lo direito na próxima vez. ”

Allie, 07:25

“Você tem demência, Srta. Edwards?”

Gregory, 07:26

  Allie encarou a mensagem sem entender o motivo de tanta hostilidade, Church destruía as plantas do prédio o tempo todo. Se fosse tão importante ela poderia substituir o objeto no fim do dia.

   Uma ideia passou pela sua cabeça e a situação finalmente fez sentido em sua cabeça.

“Não foi um vaso de plantas, não é?”

Allie, 07:30

“Falamos sobre como você vai resolver isso mais tarde. Até lá, mantenha esse animal longe de mim. ”

Gregory, 07:35

- Problemas no paraíso? – Serena perguntou se perguntando se Tyler havia tido a coragem de tentar contato.

- Church destruiu um dos projetos do Greg. – Allie comentou não esperando que Gregory fosse lhe tratar de forma tão hostil.

  Desde que se mudou para o prédio ele havia se tornado o melhor dos vizinhos. Nunca se viam, não puxava conversa desnecessária e fazia o mínimo de barulho possível.

  Sempre se cumprimentaram com gentileza nas raras ocasiões que precisaram se falar, mas aquilo era a gota d’água. Havia vacilado com um dos projetos mais importantes da carreira de Gregory, no qual ele vinha trabalhando a dois dias sem parar.

   Não sabia como Allie poderia ajudá-lo, mas estava mais zangado do que tudo com o ocorrido e precisava se sentir vingado de alguma forma.

  Quando o expediente terminou após uma longa reunião com os representantes do Hospital Memorial Green Day, Gregory se encontrava na sala de seu superior discutindo estratégias para finalizar o desenho da obra que havia sido destruída por Church.

  - Falei com o filho do Sr. Gordon hoje. Acho que ele vai concordar com sua abordagem mais moderna do projeto do hospital. – Alfred comentou observando o modelo 3D da planta em seu computador.

   - É o melhor ideal para o futuro da marca. Muitas empresas têm aderido aos desenhos inovadores, mas o cliente insiste em manter como as outras instalações do país. – Gregory comenta suspirando.

  - Original e Conservador.

  - Chato e sem graça. – Gregory comentou fazendo Alfred sorrir de sua irritação. – Odeio ter que refazer o projeto, pus minha alma nessa estrutura.

   - Tem potencial. – Alfred concorda. – Mas infelizmente temos que dar o que aquele velho quer. Ele tem milhões de dólares a favor da opinião dele.

  - Vou voltar para a mesa então. – Gregory se levanta sem entusiasmo e Alfred o para iniciando um novo assunto.

  - Camille e eu vamos jantar no La Belle Voyage. – Alfred comentou pouco interessado na opinião negativa de Gregory. – O filho do Sr. Gordon costuma frequentar o local, talvez possa falar com ele.

  - É um lugar para casais. Não pega bem se eu for com vocês. – Alfred ri escandalosamente.

  - Que diabos Gregory, arranje uma garota e venha conosco. – Alfred sorri se recordando de como o amigo é reservado. – Não precisa ser um encontro, só não vá sozinho.

   - Posso pensar nisso. – Saindo da sala, Gregory seguiu para o estacionamento determinado a voltar para casa e trabalhar na nova proposta.

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