Eu a vi chegar, estava olhando pela janela do quarto e escondido atrás da escura persiana. Ela é muito mais bonita do que eu imaginava, percebi o modo como Fabiano olhava para Lana. Talvez, tenha sido um grande erro escolhê-la para vir.
De novo essa sensação estúpida de estar cometendo um grande erro. Pelo corredor, eu ouvi os passos de Alberto e dela, e a pergunta que fez.— Esse é o Leon?— Não, esse é Denner Versalles. O pai dele! — Alberto respondeu para Lana.— Era um homem muito bonito.A dor me invadiu o peito ao ouvir aquela frase, ela é como as outras. Vai abominar estar em meus braços, o toque rugoso da minha pele dilacerada pelo fogo vai causar a ela horror. Mas vou mostrar quem dá as ordens, mesmo que odeie estar comigo, o dinheiro fará com que ela sempre esteja à minha disposição. Essa felicidade que ela ostenta irá embora em pouco tempo.Sentei-me em frente ao notebook para admirar o espetáculo, mas Ofélia bateu na porta e fechei a tela.— O que quer, Ofélia? — Perguntei irritado.— Apenas saber se você irá jantar com a moça e com o doutor Alberto?— Não, diga a ele que deve comer e depois vir ao meu escritório.— E a garota?— Não quero vê-la, pelo menos, não hoje. Deve estar cansada e eu preciso dela bem disposta. — Ofélia não gostava nada da ideia de ter uma mulher em casa, que não fosse a serpente da Carla.— Eu só quero deixar bem claro que não vou aceitar as ordens dessa garota de programa, assim como nunca aceitei das outras.— Não tenho intenção de dar a ela uma posição de comando dentro dessa casa, mas você não se esqueça do seu lugar!— Claro que não, menino Leon, sou fiel a você e sua família e não será agora que irei falhar.Fui para o escritório e lá permaneci esperando que Alberto finalmente entrasse por aquela porta.— Desculpe-me pela demora, Leon, achei que quisesse conhecer Lana ainda hoje.— Não! Deixe-a onde está. Como foi no Brasil?— Tudo vai muito bem, eu trouxe os relatórios da empresa. Seu irmão, Osvaldo, parece estar mantendo tudo sob controle. — Sempre que Alberto cita o nome desse bastardo, sinto minha boca secar. Ele e seu sempre nos odiamos, é fruto de um relacionamento que meu pai teve antes de conhecer minha mãe, é um bastardo e ter que dividir com ele a empresa que era da minha família é um grande fardo.— Não se refira mais a ele como meu irmão! Deixe os relatórios sobre a mesa, e Lana?— Está assustada e sei que muito ansiosa para conhecê-lo.Sorri com ironia.— Essa ansiedade vai passar em breve, me disse por telefone que ela mora em uma casa humilde no Tocantins.— Sim, Leon, não sei se tomei uma decisão acertada trazendo-a para cá.— E por que essa dúvida agora doutor Alberto?— Todas as outras eram profissionais, ela não.— Pode não ter ganho a vida com isso, mas está aqui porque assinou um contrato alugando o próprio corpo para mim!— Mas ela tem um forte motivo para isso, Leon.— Parece que ela tem um jeito especial de encantar os homens.— Não da forma que está imaginando, ela me fez prometer que a levaria para casa se não se adaptasse à vida aqui.Eu sorri ainda mais forte.— Não sorria Leon, Lana está com medo e peço que seja delicado com ela.— Desde que respeite tudo o que está no contrato, acho que nós dois não teremos problemas!— Falando nisso, assine aqui. — Alberto colocou sobre a mesa vários outros papéis.Assinei o contrato e agora tudo estava firmado, verifiquei rapidamente os documentos que ele me passou e os exames dela.— Como você disse, ela está saudável. O senhor já pode ir agora e até mais ver. — O cumprimentei com um aperto de mão.— Vou me despedir dela, com o adiantamento que mandou comprei um celular para ela. Essa foi uma das condições que Lana impôs para aceitar vir.— Não devia ter feito isso Alberto, não quero que ela saia fazendo imagens da minha casa!— Lana não vai fazer isso, só quer poder falar comigo e com a família no Brasil.Eu não gostei nada de saber que ele havia tomado essa decisão pelas minhas costas, mas tudo o que me incomoda eu trato de retirar do meu caminho. Essa proteção excessiva do doutor Alberto com ela deixa-me incomodado, ela deve mesmo me achar um monstro.Mais tarde, Ofélia trouxe o meu jantar. Comi e fiquei até tarde lendo, acabei cochilando. Acordei, olhei o horário no relógio de parede 23:31, me levantei e não sei por qual motivo, fui tomado por uma vontade de passar pelo quarto dela. Andei pelo corredor de quartos, parei na frente da porta, encostei meu ouvido contra a madeira, mas tudo estava tranquilo.— Senhor Leon? — Fui surpreendido por uma voz doce, mas eu não podia olhar para ela, eu estava sem minha máscara. Saí bem rapidamente e voltei para o meu quarto.[...]
Ofélia serviu o jantar para Leon, e ele não quis ver a moça naquela noite. Ele estava estranho com ela, parecia estar com medo de confrontá-la de frente. Apesar de sua situação, quando contratava os serviços dessas mulheres, ele as tratava como coisas inferiores, não temia, e se impunha o tempo inteiro.
Ela desceu as escadas, as outras empregadas estavam servindo o doutor Alberto e Lana.
— O menino Leon deixou bem claro que a moça deveria fazer suas refeições na cozinha.
— Mas eu estou aqui e pedi que ela me fizesse companhia. Se não concorda, vá até lá e discuta isso com Leon. — Alberto respondeu de maneira ríspida. Ele sabia que Ofélia não levaria um problema como esse para ele, pois Leon ficaria furioso.
— Desculpe-me, senhora. Se preferir, eu posso levar meu prato até a cozinha. — Doutor Alberto segurou na mão de Lana e a impediu de levantar-se.
— Fique e termine de comer. — Alberto disse a ela, e os dois continuaram comendo.
Lana não parecia ser uma mulher como as outras que estiveram ali, pelo menos, não parecia ser do tipo arrogante e autoritária. Ela estava faminta e bocejava o tempo todo.
Eles terminaram de comer, e Lana já sabia o caminho para seu quarto. Ela olhava a casa com uma expressão de curiosidade.
— De qual estado você é? — Ela estava olhando as pinturas pela sala e virou-se para Ofélia.
— Sou do Tocantins, de Palmas, para ser mais precisa, dona Ofélia. O doutor Alberto me disse que o senhor Leon prefere ter funcionários brasileiros.
— Sim, ele se sente mais à vontade. Acho que isso o faz se lembrar de parte da infância e adolescência, quando viveu no país.
— Ele nunca sai dessa casa?
Ofélia se virou de costas e suspirou. Falar sobre a tristeza e o isolamento de Leon sempre doía nela.
— Se realmente quiser compreender Leon, primeiro terá que ter paciência, menina. Ele sofreu e sofre muito, quer fugir do mundo, e para isso, transformou essa casa em um refúgio. Você vai aos poucos entender o que estou dizendo, só te aconselho a não se deixar contagiar pelo vazio desse lugar.
— Espero que a senhora e eu possamos nos tornar amigas. Minha mãe está em uma difícil situação agora.
Ela desarmou Ofélia, sua humildade parecia sincera. Até a deixou triste ver que Lana estaria exposta a todos os ataques de fúria e revolta de Leon.
— Desculpe-me pelo que eu disse sobre o jantar e sim, podemos ser amigas. Se precisar de alguma coisa, estou à disposição!
Ofélia voltou para a cozinha. Carla talvez não seja a melhor opção para curar o coração de Leon. Essa moça tem doçura no olhar, e ela esperava que Lana conseguisse abrandar o coração dele.