— Vendi os presentes. Já guardei todas as roupas.
A cada palavra que Diana dizia, o rosto de Ian ficava ainda mais pálido.
— Você está brava comigo, não é? — Perguntou Ian, tentando um sorriso hesitante.
Diana permaneceu em silêncio.
Ian abriu os outros armários e finalmente viu as malas dela, todas arrumadas.
De repente, Ian relaxou e soltou uma risada forçada:
— Ah, claro! Estamos prestes a nos mudar para a casa nova. É bom que você já tenha guardado as roupas, assim fica mais fácil levar tudo. E os presentes, bem, se você vendeu, não tem problema. Vou te comprar coisas melhores. Aqueles já estavam velhos mesmo.
Ian segurou a mão de Diana com cuidado, sua voz ficando mais grave, carregada de uma falsa culpa:
— Amor, me desculpa. Eu não sei como pude ser tão estúpido, tão descuidado a ponto de te machucar.
Diana olhou para ele, mas não sentiu absolutamente nada. Nem raiva, nem tristeza. Apenas um vazio.
Naquela noite, Ian permaneceu ao lado dela, sentado na beira da cama:
— Amor, eu só vou embora depois que você dormir. Não consigo ficar tranquilo te deixando sozinha.
Durante cinco anos, Diana tinha se acostumado a ter Ian ao seu lado. Para mudar isso, Ian precisou de menos de um mês.
Por volta da uma da manhã, Diana finalmente começou a sentir sono.
— Diana? — Chamou Ian, de repente.
Ela abriu os olhos por reflexo e viu o rosto dele iluminado pela luz intermitente do celular. Ele tentava esconder sua impaciência, mas não fazia um bom trabalho. Diana fechou os olhos novamente.
— Amor?
Dessa vez, ela não respondeu. Ian, satisfeito, levantou-se imediatamente. Ele saiu do quarto em silêncio, fechando a porta com cuidado, como se estivesse aliviado.
— Não fica brava, já estou indo. Vou ficar com você. — Murmurou ele suavemente.
A porta se fechou.
Diana, ainda deitada, se lembrou de algo do passado. No quarto ano de namoro, ela havia sofrido um acidente de carro e quebrado a perna. Ian deixou tudo de lado para cuidar dela, passando noites em claro.
Quando Diana insistia para que ele descansasse, Ian sempre dizia:
— Tenho medo de que você sinta dor e eu não esteja aqui para te ajudar.
Agora, era o mesmo Ian. Mas ele sequer conseguia passar um minuto a mais com ela sem parecer incomodado. E o mais irônico? Diana já não precisava mais dele.
Na manhã seguinte, a chuva fina tomava conta do céu.
Quando Diana saiu do quarto, viu Ian vindo em sua direção. Seu cabelo e a maior parte de suas roupas estavam encharcados, mas ele segurava, protegido contra o peito, um saco de papel.
— Ainda bem que não molhou. Comprei naquela padaria que você mais gosta. Vim correndo para não esfriar.
Ele entregou o pacote a Diana. O sanduíche estava quente ao toque, e Diana, sentindo fome, aceitou sem dizer nada.
Ian foi até a cozinha e voltou com duas bebidas. Para Diana, ele trouxe um copo de leite quente. Para Maia, uma xícara de café.
Maia, sentada do outro lado da mesa, enviou uma foto para Diana.
A foto mostrava Maia sob a chuva, iluminada por um poste de luz. A sombrinha de Ian estava inclinada inteiramente para ela, protegendo-a da chuva. Sua capa preta cobria Maia da cabeça aos pés. No canto da imagem, podia-se ver a fachada da padaria favorita de Diana.
Diana levantou os olhos e viu Maia sorrindo para ela com a xícara de café nas mãos:
— O sanduíche está bom?
Ian já havia feito aquele trajeto de ida e volta por duas horas centenas de vezes para buscar o café da manhã de Diana durante esses anos. Mas, dessa vez, ele tinha ido por Maia. Diana era apenas um "bônus".
Diana terminou a última mordida do sanduíche e respondeu com indiferença:
— Está ótimo.
O sorriso de Maia ficou menos radiante.
Diana tomou todo o leite de um gole.
Nos dois dias seguintes, Ian parecia ter renovado o interesse por Diana. Ele acordava cedo para buscar o café da manhã, fazia todas as refeições com ela e cuidava de cada detalhe. Mas, em todas essas demonstrações de atenção, havia sempre um toque de prioridade para Maia.
No celular de Diana, mais algumas fotos foram enviadas.
Faltavam cinco dias para o casamento.
Naquela tarde, Diana recebeu uma mensagem de Ian:
[Amor, consegui tirar o dia de folga. Quando eu voltar, vamos sair juntos para tirar as fotos do casamento, tá?]
Diana abriu o calendário de contagem regressiva. A data do ensaio fotográfico estava marcada com destaque. Era algo que ela antes aguardava ansiosamente, mas agora tinha completamente esquecido.
Ela pegou uma caneta e riscou mais um dia no calendário. Diana já sabia. Ela não queria o casamento. Também não queria as fotos.
Hoje seria o dia de encerrar tudo com Ian.