Capitulo 4: A batalha em Mannon e o chamado do mago

         À frente da briga iam Ângelus e Anatole, de longe avistaram uma nuvem de fumaça que denunciavam um acampamento próximo, pararam a tropa e deram ordens para ficarem onde estavam. Anatole chamou Eric Ventrue um vampiro sinistro, alto e bastante truculento que há muito tempo havia ingressado na Hell Army e que tinha confiança extrema pelos líderes, este recebeu a missão de batedor.

         Saiu com mais dois vampiros para checar do que se tratava a coluna de fumaça que se destacava no céu do deserto iluminado pela lua. O grupo aproximou-se de duas dunas de areia, ouvindo vozes altas e exasperadas desmontaram a uma distância e se dirigiram para o local, chegando às dunas viram uma comitiva de mercadores escravagistas humanos, esses estavam cruzando o deserto para vender suas mercadorias na cidade de Abrapur a noroeste de Mannon. Na condição que estavam era a salvação os camelos lhes facilitariam a locomoção dos feridos, o carregamento incógnito, poderia ser aproveitável, e o mais importante, o sangue humano seria a salvação para os vampiros mais novos e para os feridos.

         Os vampiros avançaram furtivos por trás das dunas os homens ao redor da fogueira, conversavam em voz alta distraídos e bêbados, por conta disso não deram atenção aos latidos dos cachorros que eles mesmos colocaram como guardas, as carroças e carruagens estavam a certa distância e protegia os mercadores, em outro canto os escravos presos uns aos outros por correntes ligadas a coleiras e algemas de ferro, estavam sentados ou deitados do jeito que podiam pois os grilhões os deixavam muito perto uns dos outro não dando muita opção de espaço, suas roupas estavam em frangalhos e mal cobriam seus corpos a maioria não tinham botas e seus pés estavam cheios de feridas resultado da longa caminhada nas areias escaldantes do deserto, Ventrue observou os prisioneiros, mulheres jovens para os prostíbulos, crianças para o trabalho nas casas ou palacetes e até cocheiras, homens jovens para os serviços braçais mais pesados, as mulheres tentavam acalentar as crianças e os homens estavam parados com seus olhares distantes pois já sabiam que não haveria mais uma vida para eles, eram na maioria de nações diferentes, raptados em cada lugar em que os mercadores passaram e tiveram oportunidade de atacar fugindo logo depois antes que alguém desse falta do rapto, certamente com ajuda de outros que a esta altura deveriam estar caçando mais mercadoria nos países ao redor do deserto, ao pensar nisto a fúria cresceu na mente de Ventrue e o ataque foi rápido, de um salto Eric decepou o maior dos humanos os outros apavorados ante a presença do vampiro, tentaram correr mas foram abatidos a flechadas que se cravaram em suas costas matando-os quase instantaneamente, Ventrue aproximou-se dos assustados escravos que se encolheram ao ver a figura do enorme vampiro, ergueu seu machado acima da cabeça levando desespero aos prisioneiros desceu-o contra a corrente estraçalhando-a com o golpe, os ex-escravos olharam para ele confusos então ele apontou na direção norte pois sabia que havia um oásis ali que os forneceria água e caça para se abastecerem e poder sair do deserto, os homens entenderam e ajudaram as mulheres, agradeceram timidamente o que era compreensível pois já não se sentiam humanos depois de tal provação os vampiros recolheram toda a alimentação que havia assim como a água e deram a eles pois não lhes prestava para nada e os mandaram partir. Os camelos e o sangue humano foram os melhores prêmios do saque. Com o sangue humano restauraram suas energias e puderam salvar muito dos enfermos, pois o sangue dos homens dava a energia mística e acelerava extraordinariamente o processo de cura, estavam com sorte até o momento, além de ajudar no transporte dos feridos os camelos também ajudariam no transporte dos espólios ganhos na guerra, entre armas, armaduras e guardas répteis ainda a serem domados que eram transportados em enormes carroças com grades de aço e que deveriam pesar uma tonelada, as mercadorias dos vendedores porém não os ajudaram muito, na maioria roupas, panelas, brinquedos e retalhos mas o saque valeu a pena, agora se recuperariam bem mais rápido.

        Vedan, vampiro de aparência jovial, muito pálido, com os cabelos ondulados compridos abaixo dos ombros, e de uma cordialidade extrema e um sorriso sempre gravado no rosto sentaram-se ao lado de Xavier que estava afastado dos outros, Vedan trazia duas cuias e estendeu uma a Xavier, esse relutou em aceitar porém Vedan abrindo um largo sorriso olhou-o nos olhos e disse:

         -- Sei que está triste pelos mortos, bobeira, os humanos fariam o mesmo conosco ou com eles mesmos. Você precisa dessa bebida, pois como eu, é um vampiro, ou acha que sangue de boi é a mesma coisa? Se continuar a recusar o sangue humano não evoluira. Beba logo!

       E estendeu novamente a cuia para Xavier, este, desta vez aceitou ensaiando um sorriso azedo.

         --Olhe só como mulheres continuam mulheres mesmo depois da

vampirização!                                          

       Apontou para frente onde estavam as mercadorias sem serventia, Xavier olhou e viu Sartrana, Ira e outras duas vampiras revirando um monte de roupas conversando desvairadamente, e sorrindo como crianças em um monte de brinquedos. Desta vez, Xavier riu com gosto não só pela graça do momento, mas porque ao ver aquelas guerreiras mortíferas se divertindo com coisas tão fúteis para a situação atual deles como qualquer mulher mortal, também lhe veio o passado de volta de quando era humano e de mulheres sorrindo, copiosamente e provando vestidos. Seus pensamentos foram interrompidos pelo cordial porém esperto Vedan.

         -- Ela é linda, não?

         -- Ela quem?

         -- Não se faça de besta. A ruiva com cara de bonequinha, não se engane viu, ela é capaz de matar um homem ou vampiro enforcado com as suas próprias tripas só por diversão! Eu tenho observado você desde que esta conosco. Esta foi minha missão, não me leve a mal. Notei como você olha para Ira!

         --Está vendo errado, eu não sou o cara mais romântico do mundo. Não enche cara não to aqui querendo arrumar companhia feminina, estou aqui pelo mesmo motivo que você, GUERRA.

         Neste momento Vedan mudou bruscamente seu semblante brincalhão e encarando Xavier colocou no rosto uma feição séria então disse:

         -- Posso gostar de brincar mas não sou palhaço. Você sabe ai dentro que tem algo entre vocês; Algo nela que te atrai que te chama. Porém, ela não confia em quase ninguém. Cara eu não estou ligando se vocês vão se casar ou se matar se é que isto tem diferença eu só acho estranho que o medalhão que ela guarda com tanto afinco seja exatamente igual ao seu e é mais interessante ainda que os dois juntos formem um só, e que só sabemos desse medalhão em pergaminhos antigos. Poderia me explicar como conseguiu esta relíquia?

         -- Como sabe do meu medalhão?

         -- Ah, eu só sei.

         Falando isso, Vedan virou sua cuia levantou-se e saiu andando, quando tinha se distanciado do vampiro disse-lhe:

         -- Está no lugar certo! Só não está pensando de maneira correta as respostas virão quando menos esperar!

         Dobrou o corpo em uma cordial saudação e falou.

         -- Se precisar conversar procure-me.

         Xavier observou o vampiro se distanciar e pensou: “Esse cara sabe muito e demonstra que sabe!” levantou-se e resolveu caminhar um pouco pois era um grande amante da noite, que o fascinava observou na vastidão do deserto um aglomerado de rochas sua silhueta parecia com um grande homem de pedra saindo da areia amarelada decidiu ir para lá não era muito longe do acampamento, ao chegar perto das rochas notou que não estava sozinho sacando sua espada esgueirou-se sorrateiramente pela base da estrutura rochosa, virou-se bruscamente pronto para desferir um golpe se preciso mas não foi pois encontrou Sartrana também de espada em punho, a vampira de expressão sagaz trazia agora uma expressão séria onde Xavier pode observar um leve tom de tristeza, quase que escondido estava sentada em uma rocha mais baixa, recolocou a espada na bainha e voltou a sentar sem nada a dizer Xavier ainda de espada na mão iniciou uma conversa:

         -- Desculpe tomei-te por uma estranha.

         -- Ainda somos estranhos.

         -- Ah é, é verdade. Também gosta da escuridão como eu?

         -- Só quero um pouco de distancia do acampamento.

         -- Eu tinha me esquecido de te agradecer, obrigado!

         -- Por que?

         -- Ora, você me salvou é o máximo que posso fazer!

         Ficaram um breve momento calados então de repente Xavier disse:

         -- Só uma pergunta, por que você se importou comigo?

         -- Não me importei, apenas acudi um ferido como faria com qualquer um.

         -- Um guerreiro estranho em tempos de guerra, com tantos outros soldados feridos para cuidar? Não sei há algo estranho!

         -- Pelo jeito é difícil mentir para você, mas se eu te contar os meus motivos estarei te contando o que não contei nem para meus mais leais companheiros, como poderia confiar tanto em você?

         -- Eu realmente não sei, mas se é sobre mim o assunto eu é quem mais mereço saber, não concorda?

         --Bem, aconteceu algum tempo depois de eu me reunir a meus atuais companheiros, eu fui transformada com eles mas sai em uma jornada de auto conhecimento e experiência, em uma destas jornadas eu conheci um vampiro, ele era fora do comum, devia ser um ser muito antigo pois me ensinou muito com um único pedido, que eu aprendesse mais jamais perguntasse, ele me ensinou artes de combate que eu nunca imaginei existir, contou me de historias de terras que eu nem sonhava existir ou ter existido, passei exatos seis meses com ele, ele me tirou do estado de vitimismo e torpor que me encontrava, curou minhas feridas da alma e do corpo, me elevou de uma vampira recém transformada a uma guerreira equilibrada, foi meu mestre, um dia ele me disse que eu estava pronta e que deveria partir e nunca mais procura-lo, eu questionei, chorei, implorei para segui-lo, mas ele me disse que nossos caminhos se dividiam, e que eu agora tinha uma missão,que este era o preço, me resignei então e ele me disse, que em algum tempo no futuro eu encontraria uma guerreira vampira e um jovem guerreiro vampiro, que eu saberia quem eles eram por conta dos medalhões, este que você carrega e Ira também!

         -- Que medalhão?

         -- Não seja cínico, fui eu quem cuidou de você e ao tirar o que restou de sua armadura encontrei o medalhão em um compartimento do lado de dentro da parte que protege o peito, um medalhão de ouro com um dragão rodeando uma jóia Preta.

         Xavier não teve o que dizer quando ouviu sobre o medalhão, Sartrana, notando que acertará o ponto fraco do vampiro o soube usá-lo.

         -- Notei outro detalhe no medalhão, o desenho representa um clã, há muito extinto, onde o conseguiu?

         -- Foi a muito tempo porém, não sei te dizer porque o guardo não significa nada para mim eu não saberia explicar!

         -- Tudo bem se não quiser falar, mas o que sei é que meu destino e dos meus companheiros estão ligado aqueles que carregam estes medalhões, e deve ser por isso que você e Ira estão todo cheios de gracinha!

         --Ora, você e aquele tal de Vedan devem estar de gozação com a minha cara!                                                                     

         --Se conheceu Vedan devia agradecer minha discrição!

         --Está certo, vamos ver no que isto da! Mas diga você e Anatole...

         --ISTO EU NÃO VOU TE FALAR! QUE OUSADIA!

         Xavier riu com a brincadeira e a reação de Sartrana que riu também, ficaram ali parados e quietos, sentados nas pedras passou-se exatos vinte minutos quando Xavier escutou passos se aproximando, levantou-se e viu Anatole a sua frente, esse o olhou com desdém e se dirigiu a Sartrana.

         -- Estamos levantando acampamento temos que aproveitar a noite marchando e não conversando.

         E virou as costas de volta ao acampamento. Xavier dirigiu-lhe a palavra:

         --Hei, comandante, já estou cheio de ser tratado como um moleque que acabou de desmamar, eu também sou um general, quero saber para onde estou indo e logo!

         --Você não é um convidado aqui, você não fala somente escuta e obedece, devia ser tratado como um prisioneiro, só está andando por aí por que Sartrana depois Ira e Vedan intercederam por isto, por mim colocava você na jaula junto com as feras!

         --Falando com você me parece que já estou falando com uma fera, não vou mais tolerar seus insultos! 

         --Como ousa? Você não tem a mínima ideia de quem eu sou!

         Desferiu um golpe que poderia partir Xavier ao meio, esse desviou como se esperasse o ataque, girou e sacou sua espada, pulou para frente pronto para enfrentar o adversário que de pronto, também se adiantou e projetou sua espada contra a do inimigo em um golpe circular o adversário defendeu porém a força de Anatole era muito superior a de Xavier e o impacto das espadas o jogou ao chão, nesse momento Sartrana se colocou entre os dois e apartou a briga.

         -- Parem a guerra é contra os lycans e não contra nós.

         -- Desde quando ele é nós? Porque o defende?

         -- Eu tenho meus motivos.

         Nesse momento Xavier falou:

         --Comandante Anatole, não quis questionar sua autoridade ou ofendê-lo, mas tenho minha honra a zelar também e como você não admito ser insultado, já lutei muitas guerra no meu país, sou irmão de rei e senhor das armas de meu país, venci muitos inimigos e muitas guerras e levei liberdade e dignidade para meu povo, entendo que se preocupe com seus companheiros, mas eu tenho um povo e uma família me esperando e me preocupo com eles também, quero que me reconheça como um indivíduo nem superior nem inferior, o que peço para você é pouco, apenas a dignidade que um guerreiro destina a outro!       

      E saiu, deixando os dois sozinhos. Chegando ao acampamento, Xavier avistou Ângelus e perguntou:

         --No que posso ajudar?

         Ângelus o fitou e disse:

         -- Pois bem se quer ajudar Ira está tendo problemas com os guardas répteis, eles estão agitados e não obedecem às ordens deve saber que não é fácil lidar com monstros como eles. Vá ajudá-la.

         -- Onde está?

         -- Logo ali depois das carroças.

         Xavier se dirigiu ao local no entanto não queria se encontrar com Ira tão cedo, desde a primeira vez que a vira teve uma sensação estranha ela mexerá em algo que estava adormecido há décadas em sua alma, aproximou-se e viu a vampira com um bastão de madeira na qual na ponta havia um forte laço de couro que se prendia ao pescoço da fera para conduzi-lo a entrar na grande gaiola,construída com grades de aço maciço e com espaços mínimos entre elas, parou a distância como que repelidos com ímpetos de voltar atrás, porém ficou paralisado ali observando- a luz da lua em contraste com seus cabelos ruivos e sua pele pálida a deixava exuberante,de uma feminilidade rara ,tinha o corpo esguio que o enfeitiçava de maneira que não podia desviar o olhar, pensou.Decidiu se aproximar e ajudá-la no serviço,chegou perto dela e disse.

         -- Me mandaram para ajudá-la, qual o problema?

         Ela olhou-o por um breve momento então disse.

         -- Os guardas estão agitados,precisamos colocá-los na gaiola pois não podemos cansá-los caminhando,temos que economizar as suas energias caso precisemos deles!

         -- Eles estão alimentados?

         -- Sim

         -- Eu consegui colocar os outros mas este diabólico está se recusando a ser conduzido, ouvi falar que você já lutou com um desses, porque não o coloca em seu lugar?

         Sem pensar Xavier se aproximou do grande lagarto e em um bote rápido agarrou a boca do monstro e colocando todas as suas forças jogou-o para dentro da gaiola, Ira o olhou e disse:

         -- Dessa maneira eu já teria feito.

         -- Por isso ele ainda não tinha entrado na gaiola.

         -- Você é meio doido!

         -- Desculpe minha falta de tato mas da ultima vez que encontrei com um desses não estava em condições de enfrentá-lo e descobri que não é sensato brincar com ele!

         -- Tudo bem você se recupera rápido.

         -- Melhor quando tenho ajuda!

         -- Eu não fiz nada, foi graças à teimosia da Sartrana por mim você ainda estava no mesmo lugar!

         -- Me abandonaria para morrer?

         -- Com certeza não sei quem você é.

         -- Pode conhecer agora.

         -- Não tenho tempo.

         E saiu em direção a carroça dos feridos tinha que se distanciar do vampiro pois como ele sentia algo forte mas não queria se apegar a nada.

         Logo estavam prontos para retomar a marcha, tanto Ângelus quanto Anatole estavam preocupados não poderiam encontrar os Devoradores duas batalhas aleatórias não seria bom para o clã, perderam muitos soldados na última batalha e os únicos em condição de combate seriam os comandantes como Sartrana, Ira, Létus e Eric Ventrue, os demais permaneceram cuidando da fortaleza contra um eventual ataque inimigo. Apesar de terem vencido demorariam para reparar as perdas de tantos soldados, seguiram a marcha antes mandando dois batedores à frente para se certificarem da segurança do caminho. Marcharam banhados pela escuridão da noite por mais três horas, sabiam que logo chegaria o dia porém decidiram continuar, os dois generais sabiam que os devoradores não atacariam durante o dia pois não era seu estilo, dividiu o restante das poções entre seus mais fortes guerreiros e tiveram que arriscar pois teriam que cobrir uma área grande do caminho e agora com os camelôs adiantariam e muito a locomoção cobririam mais terreno em menos tempo. Deram a poção também para Xavier, pois era uma espada a mais prosseguiram dia á fora no vazio do deserto sob o sol escaldante esta por sua vez a viagem mais difícil das que já haviam feito.

         Estavam exaustos quando chegou á noite, essa lhes devolveu parcialmente a energia trazendo-lhes a forma vampirica novamente, decidiram marchar até a meia noite, pois já tinham coberto a maior parte do caminho devido à rota que seguiram que os levara não pelo meio do deserto mas pela lateral em linha reta. Pararam a meia noite para beberem a reserva de sangue bovino que ainda lhes restava e assim recuperarem o máximo de energia possível estavam perto agora e bem mais animados, acenderam uma fogueira, pois o fogo lhes esquentava a alma, mas Xavier não se sentia bem, assim como Ângelus e Anatole algo no ar os incomodava havia um clima de perigo e os batedores já deveriam ter regressado, o sinistro Eric Ventrue também ficou alerta ao notar tanto os cavalos e camelos quanto os répteis agitados como se pressentissem algum predador maior a espreita.

         O primeiro a entender de onde vinha o perigo foi Anatole, que sem explicação levantou e começou a gritar ordens:

         -- Todos em guarda! Defendam os feridos! Preparem os guardas e entrem em formação de combate.

         Todos levantaram de súbito sabiam que não podiam duvidar das atitudes do experiente general. Ângelus interpelou-o perguntando:

         -- Que houve? Indique-nos onde estão?

         Anatole sacou a espada e disse:

         -- Ao nosso redor nos cercaram.

         Assim que disse isso de todos os lados ao redor do acampamento dezenas de lupinos levantaram de baixo da areia, eles usavam essa estratégia cavavam trincheiras e enterravam seus soldados que se locomoviam por debaixo da areia então cercavam facilmente o inimigo sem serem detectados, pois se informavam antes da localização das vítimas, podendo fazer armadilhas o mais perto possível do local apropriado para eles acamparem. Os lupinos permaneceram parados, eram na sua maioria fortes e portavam grandes cimitarras, usavam turbantes que mal lhes cobria os focinhos de lobos rosnavam ferozmente para os vampiros.

         De trás de uma duna de areia saiu montado em um grande camelo um lobisomem enorme o turbante deixava a mostra apenas os olhos mostrando uma cicatriz grande em cima do olho esquerdo e pendia no seu cinturão de prata enorme machado que deveria pesar mais do que qualquer um dos vampiros poderia agüentar nas condições que se encontravam do lado do líder outro lupino de vestimentas iguais um pouco menor, porém com um machado semelhante. O grande lycan que de fato era o comandante do destacamento se dirigiu a Anatole e disse com voz grossa que mais parecia um rosnado:

         -- Somos a primeira tropa do grande clã dos Devoradores os senhores deste deserto como ousam invadir nosso território?

         -- Voltamos de uma batalha, precisamos da rota para chegarmos às nossas terras, não somos seus inimigos!

         -- Todos os vampiros são nossos inimigos! Conheço sua reputação general Anatole e a respeito, eu Mezoth braço direito do grande imperador Zolrath dos Devoradores tenho uma proposta generosa para fazer há você e seu companheiro Ângelus.

         -- Deixem os espólios de sua batalha assim como os camelos, os cavalos, os répteis, as armas e armaduras e também os feridos para saciar nossa fome noturna e as vampiras para saciar nossa sede durante o dia, depois peguem seus guerreiros que puderem andar e corram como o Diabo.

         Falando isso abriu uma enorme gargalhada e foi acompanhado pelos seus subordinados em uníssono. Mezoth era temido onde seu nome chegava porém estava acostumado a inimigos submissos ou outros que não fossem a HELL ARMY.

         Os vampiros se entreolharam e sem exitar gritaram também em uníssono então agruparam-se no meio dos inimigos. O primeiro ataque quem desferiu foi justamente Anatole, jogou-se na direção do lycan acertando as pernas dianteiras do camelo que caiu para frente jogando o guerreiro de cara na areia, os lupinos atacaram de imediato porém a primeira fileira caiu por terra com uma reação violenta da tropa de vampiros, furiosos os inimigos atacaram com toda a força.

        Mezoth levantou-se e rosnando partiu contra Anatole girando o grande machado, o adversário desviou com maestria e agilidade jogando-se para o lado do inimigo notou um soldado se atirando para golpeá-lo com uma espada desviou-se do golpe e o adversário passou por ele que desferiu um chute nas costas do lican fazendo ele cair descontrolado para frente acertando a espada na face de Mezoth, este furioso esmagou a cabeça de seu próprio soldado com uma pisada em seguida jogou a cabeça dos batedores em cima de Anatole.

         A batalha seguiu violenta, Sartrana e Ira defendendo os feridos mostravam o verdadeiro poder dos vampiros, a quantidade de corpos ao redor da carroça mostrava a superioridade das guerreiras, suas espadas dançavam entre as espadas dos inimigos aleijando ou matando instantaneamente os adversários que a esta altura já não as viam mais como prazer diurno e recuavam ante os seus golpes.

         Létus e Eric Ventrue levavam a morte aos lupinos, quando cercados pelos inimigos postaram-se costa-a-costa e formaram uma máquina de combate invencível, giravam entre os lupinos e os inimigos caíam decepados ou dilacerados ao redor deles, em certo momento um lupino mais forte agarrou no pulso de Létus e arrancou-lhe a espada da mão, além de separá-lo de Ventrue com um puxão, ao ver o vampiro desarmado o lycan ergueu a cabeça e riu certo da vitória, esse foi seu erro, Létus acertou-lhe um soco no pescoço que esfacelou a garganta, esse tombou na areia vomitando sangue e se debatendo sem poder respirar, Ventrue pouco cordial arrancou com um golpe de espada o focinho de um lycan que tentou espetá-lo com uma lança o lupino tombou para trás se contorcendo e esguichando sangue do que restou do seu focinho.

         Xavier e Ângelus lutavam com os soldados a frente, Ângelus se surpreendeu com a disposição do guerreiro desconhecido, esse com uma corrida rápida abriu o abdômen de dois adversários seguindo em frente arrancou a perna do próximo e parou sua corrida atravessando o estômago de outro inimigo. Ângelus por sua vez arrastou na areia uma pesada espada ,com um impulso pulou erguendo-a dilacerou de baixo para cima um troncudo lupino na descida do golpe mirou outro inimigo a sua frente que ergueu a espada para defender o golpe que estraçalhou a arma arrancando o braço do lycan junto e parou com a ponta na areia, outro lupino deu-lhe um abraço antes que pudesse levantar a espada mas recebeu uma cabeçada que lhe estraçalhou o focinho este largou o vampiro que com um movimento rápido cravou seu punhal de prata por baixo da mandíbula fincando-o até a empunhadura, tomou a espada do adversário vencido e fincou-a no flanco de outro inimigo que se atirará contra ele em seguida partiu contra outros dois.

        Xavier entrou em confronto com outro lupino que tinha certa maestria com a espada esse sorriu ao notar que seu aprendizado na arte da espada era superior e disse-lhe:

         -- Sua espada é ridícula, veja como a minha desliza com leveza ante seus golpes desajeitados.

         Xavier então, respondeu:

         -- É, sua arte é realmente superior vejamos como se sai contra a arte da guerra suja!

         E dando um golpe violento na base da espada dele deu uma pisada no pé do espadachim que perdeu o equilíbrio, então o vampiro desceu com toda a sua força a espada ao lado do pescoço do inimigo essa lhe rasgou até o pulmão esquerdo ergueu a cabeça mas não teve tempo para escapar com um golpe lateral Xavier fez sua cabeça saltar na areia, o enorme lupino que vestia trajes igual a Mozoth atravessou o campo correndo em uma velocidade que não condizia com seu tamanho, agarrou Xavier em um abraço esmagador e saiu carregando-o em direção as carroças, jogou-o contra a carroça de armas, Alaaya uma das vampiras que estavam mais a distância foi ao seu socorro mas antes de se aproximar, esticando o braço o lycan agarrou sua cabeça e a esmagou no chão, outro jovem vampiro atacou o lupino com uma lança, o inimigo agarrou a lança e empurrou-a de volta fazendo o cabo atravessar o peito do vampiro, Xavier atordoado viu o lycan pegar com sua mão enorme pela cabeça o último dos três soldados que o viera ajudar o pobre soldado se debateu em vão, Xavier gritou:

         -- Espere, a sua luta é comigo venha e me enfrente!

         O lycan gritou:

         -- Eu não caio nos seus truques.

         E em seguida esmagou com a mão a cabeça do soldado. As vistas de Xavier o tempo paralisou, nesse momento sentiu seu coração acelerar como á muito tempo não sentia, o ódio subiu-lhe a cabeça pegou duas espadas entre os restos da carroça e partiu contra o lycan.

         Do outro lado Anatole fatiava aos poucos o chefe da tropa, Mezoth subestimou-o e achou que teria vantagem com seu tamanho, após jogar a cabeça dos batedores vampiros assassinados para Anatole na intenção de desconcentra-lo esse não se deixou distrair, ergueu-se em uma velocidade que Mezoth não esperava, o lupino girou o machado em sua direção ele desviou passando do lado do lycan lhe rasgou a panturrilha e no movimento seguinte da espada perfurou seu abdômen, Mezoth urrou de ódio e dor e novamente fez o giro mortal de seu machado, Anatole deu um salto para trás escapando por milímetros do machado assassino, Mezoth sentindo o corte na panturrilha esquerda perdeu o equilíbrio quando se recompôs Anatole já terminava um giro que era para cortar sua cabeça ao meio, porém o lycan teve tempo de afastá-la para trás e o golpe abriu-lhe uma ferida que lhe cegou o olho direito descendo e rasgando a carne arrebentou a lateral de seu focinho estourando a mandíbula e fazendo dentes e estilhaços de ossos espalharem-se no chão.

         Sartrana e Ira eliminaram grande quantidade dos inimigos que agora jaziam à frente delas imóveis, correram em direção a grande gaiola para soltar os guardas quando sentiram um tremor na areia, em seguida um rosnado gutural ressoou no deserto, de súbito apareceram duas terríveis gárgulas de pedra, bestas monstruosas que em tamanho davam três dos guardas répteis, ao comando do lupino que as soltará uma partiu contra os feridos a outra para a gaiola onde estavam Sartrana e Ira. Sartrana com um golpe que partiu sua espada arrebentou os cadeados, os répteis se precipitaram para cima da gárgula, este porém se mostrou superior e mordendo o pescoço do primeiro arrancou sua cabeça, os outros dois atacaram um grudou também o pescoço da besta o outro lhe mordeu as costas arrancando um grande pedaço de carne, Sartrana e Ira ficaram cercadas entre o combate das feras.

         A pouca distância outro monstro atacou ferozmente as carroças dos feridos estraçalhando e pisoteando os indefesos, abocanhava os que tentavam fugir, em pouco tempo restou apenas a fera e destroços das carroças misturados a pedaços do que eram corpos, Ângelus, Létus e Ventrue tentaram chegar a tempo mas foram atrapalhados pelo lupino que soltou as gárgulas com mais outros quatro soldados, Ventrue no mesmo ritmo que veio correndo travou a espada de um e estocou o peito do inimigo fazendo a espada atravessá-lo, não teve tempo de tirar a espada e recebeu um corte transversal nas costas seu agressor foi decapitado por Ângelus antes de desferir o golpe mortal, Létus entrou em combate com o lycan que soltará as feras, de início quando as duas espadas se cruzaram o lupino achou que ganharia pois com o baque Létus se desequilibrou e foi para trás, o inimigo fez um rasgo profundo na perna do vampiro e tentou se gabar, porém o vampiro foi para frente e revidou com sucessíveis e furiosos golpes contra a espada dele, esse não conseguiu segurar a arma que foi arrancada de sua mão em seguida Létus degolou-o com tanta brutalidade que o sangue espirrou em seu rosto e a cabeça do inimigo pendurou-se para trás antes do corpo cair, Ângelus ajudava Ventrue a levantar quando foi jogado ao chão pelo lupino que restava esse cravou suas mandíbulas no ombro do vampiro mas de repente sentiu duas mão em seu queixo colocando a perna nas costas do lupino Ventrue arrancou sua cabeça com as mãos e jogou-a na gárgula para chamar sua atenção, funcionou o monstro saiu em disparada na direção dos três guerreiros, eles se entreolharam e Létus disse:

         -- Meus bons amigos que fique aqui registrado, se eu não sobreviver eu culpo o Ventrue e unicamente ele pela minha segunda morte!

         Levantaram e correram de encontro ao monstro, esse investiu furioso, o grupo dividiu-se para lados opostos, Ângelus de passagem enterrou a espada na lateral do monstro e abriu um grande rasgo em toda a extensão de seu grande corpo, Létus parou em frente ao monstro o distraindo enquanto Ventrue desferiu um golpe no pescoço que fez grande estrago mas não o suficiente para pará-lo, no entanto deu tempo para Létus desferir um golpe na cabeça do monstro, Ângelus deu um pulo e montou nas costas da criatura a fim de fincar a espada na nuca onde certamente a mataria, mas não conseguia se equilibrar pois a fera se debatia muito, ao notar a empreitada do companheiro, Létus desferiu um golpe com a espada na cabeça da fera, esta avançou furiosa com a boca aberta para estraçalhar o vampiro ele então segurou a enorme boca do monstro com todas as suas forças, o que não seria suficiente, quando não agüentava mais Ventrue encostou-se do seu lado e agarrando a boca do monstro ajudou-o a segurá-lo dando tempo suficiente para Ângelus desferir o golpe mortal cravando com toda sua força a espada na nuca do monstro que cambaleou e tombou morto, os três vampiros caíram exaustos na areia tentando recuperar o fôlego.

         Sartrana e Ira cercadas pela batalha das feras só puderam assistir, os répteis atacavam ininterruptamente o adversário ferindo-o e o fazendo perder sangue, mas não foi o suficiente, a gárgula abocanhou um dos répteis no meio do seu corpo, sacudiu-o como um cão faz com um gato e o atirou longe já morto, o outro foi pisoteado não restando muito de seu corpo, a fera meio atordoada virou-se para as vampiras e com a boca arreganhada foi na direção delas, havia um grande pontalete afiado como uma estaca no chão e Ira teve uma idéia, agarrou o pontalete que devia ter uns quatro metros, mirou a boca da fera que agora corria em sua direção, Sartrana entendeu a idéia da vampira e a ajudou a segurar a madeira a fera se jogou contra elas que enfiaram a ponta da estaca na boca do monstro a arma improvisada cravou-se dentro do monstro porém, como esperado não foi o suficiente, a fera empurrou com todas as forças a lança e as vampiras que recuaram até a grande gaiola, quando estavam perto o suficiente baixaram a ponta que seguravam e prenderam-na rapidamente contra a grande roda de ferro na gaiola, com o impulso da fera a ponta da lança varou a cabeça matando instantaneamente o monstro, mas com o impacto a roda da pesadíssima gaiola foi arrancada e ela caiu na direção das exaustas vampiras, Sartrana empurrou Ira para longe pulou logo depois mas a grande gaiola ainda atingiu sua perna prendendo-a e quebrando-a imediatamente, Ira levantou-se e correu ao seu auxílio mas não tinha força para levantar a gaiola.

         A pouca distancia dali, Xavier atirou-se furiosamente contra o grande lycan a sua frente, este fez o mesmo sacando o grande machado que girou e desceu com selvageria contra o vampiro, mas Xavier pulou por cima dele acertando um golpe de espada em cada ombro do lycan caiu atrás dele cruzou as espadas e fez um grande ferimento em “X” nas costas do adversário, este rosnou de dor e virou-se girando a grande arma novamente, Xavier abaixou-se pegou impulso pulou e arrancou a mão armada do inimigo com uma espada e com a outra fez um grande corte de baixo para cima no peito do inimigo, que se ajoelhou vitima da dor e da hemorragia, Xavier aproximou-se para desferir o golpe fatal, então notou tardiamente que o lycan havia se armado com uma clava que estava presa  em seu cinturão embaixo da túnica que usava, rapidamente o lobisomem se levantou não dando tempo para o vampiro se desviar desferiu um golpe no peito que jogou Xavier longe o lycan olhou para o corpo imóvel do vampiro levantou-se com dificuldade e ia se dirigir para terminar o serviço, mas a visão das duas vampiras o fez mudar de idéia, então disse a Xavier:

         -- Você foi o único que me feriu até hoje! Pois bem, vou matar as duas vampiras e pagará se culpando por não ter me matado antes!

         Não estava longe e se dirigiu a elas, Ira estava distraída tentando ajudar Sartrana por isto não notou a aproximação do inimigo, Ângelus, Ventrue e Létus tentaram chegar a tempo, mas estavam feridos e exaustos.

         A distância a batalha entre Anatole e Mezoth se saia com vantagem total do vampiro, este, porém viu de longe a cena se desvencilhou do adversário e correu campo afora porém Mezoth o alcançou e o derrubou, levantou o machado e desceu-o Anatole girou no chão e o machado por pouco não o partiu ao meio, com um movimento rápido Anatole levantou pisou no cabo do machado e desceu a espada no peito de Mazoth acertou com a ponta da espada abrindo o osso central da caixa torácica , mas isso não foi o suficiente para matar o inimigo, Mazoth tentou reerguer o machado Anatole sentindo que iria perder Sartrana se perdesse mais tempo enfiou suas duas mãos na ferida feita por ele no peito do adversário agarrou os ossos com as mãos cruzadas encaixou os pés no abdômen de Mazoth em um movimento rápido, retesou os músculos e puxou com todas as suas forças estourando o tórax do lupino que caiu para trás com seus últimos espasmos de vida, Anatole levantou-se e correu em direção a Sartrana, Ira e o outro lupino, porém estavam muito longe e seu coração acelerou com a certeza de não chegar a tempo.

         Ira só avistou a aproximação do lupino quando já era muito tarde, esse desferiu um golpe que acertou sua cabeça a pancada não foi fatal, mas acabou arremessando-a desacordada a uma pequena distância, Sartrana olhou para cima e viu o lupino com a clava na mão tentou alcançar uma espada, mas a perna presa não lhe dava espaço, o lobisomem sorriu e disse:

         -- Você pagará pelos meus irmãos mortos!

         Ergueu a clava e antes de descê-la ouviu alguém gritar:

         -- SUA LUTA É COMIGO!!!

         Virou-se e só teve tempo de ver o brilho da lamina, o machado acertou em cheio o topo de sua cabeça com o peso de Xavier que pulara para desferir o golpe somado com o peso da arma o lobisomem foi partido desde o topo da cabeça o machado desceu separando costelas rasgando órgãos até separar a bacia em duas, partindo assim o inimigo em dois. Xavier e Sartrana foram banhados de sangue dos pés a cabeça o tranco para desferir tal golpe com o machado do próprio lupino foi tão grande que o ombro esquerdo de Xavier deslocou, ficando em um ângulo muito desproporcional ao ombro direito. Sartrana olhou para o rosto do vampiro, esse ergueu os olhos que nesse momento eram vermelhos e destilavam ódio e loucura nunca visto antes pela vampira, ele ergueu o machado furiosamente para a noite dando um grande grito de guerra e logo depois baixou a cabeça para Sartrana já com uma expressão normal e exausta. Ângelus, Létus e Ventrue chegaram neste momento seguidos por Anatole, levantaram a pesada gaiola e tiraram Sartrana que tinha uma fratura exposta na parte inferior da perna direita, Xavier só agora sentiu as costelas que quebraram-se de novo, mesmo assim correu para onde estava Ira desacordada, ajoelhou perto da vampira e observou que estava apenas desmaiada mesmo ferida a vampira lhe parecia ainda mais linda e como se estivesse dormindo apesar do sangue que lhe sujava o rosto e o resto do corpo, pegou-a no colo e a levou para junto dos outros.

        Encontrou no caminho Ventrue que via ajuda-los, desceram e chegaram ao local onde seus companheiros cuidavam de Sartrana, esta ao ver Xavier trazendo a vampira olhou para Anatole e perguntou:

       --Ele ainda lhe parece um inimigo?

       Anatole olhou-a e levantou em seguida, Xavier colocou Ira deitada ao lado de Sartrana e ajoelhou ao lado dela para avaliar seu estado, Sartrana colocou a mão em seu braço e disse:

       --Não se preocupe eu e Ângelus cuidamos dela ela ficará bem tem alguém que quer falar com você! Ela apontou para Anatole que estava a certa distância, Xavier olhou para ele e depois para Sartrana e perguntou:

       --E você esta bem?

       --Estou sim, só preciso de tempo!

       Por fim ele olhou para Ira, Sartrana lhe falou:

       --Anatole não é mal indivíduo, ele só está sob pressão afinal perdemos muitos companheiros na nossa empreitada contra nossos rivais, e agora os nossos últimos soldados também morreram contra os malditos Devoradores, olha eu garanto que Ira ficará bem, converse com ele, verá que se entenderão muito bem!

       Ele virou-se e andou na direção de Anatole, este antes da aproximação do vampiro estendeu a mão em sua direção e falou sem mudar o semblante sério que carregava no rosto:

       --Eu te tratei mal por não te conhecer, errei e assumo meu erro, não espero que entenda, mas temi por minha família! Hoje você lutou honrosamente, e salvou duas pessoas insubstituíveis para nosso clã! Devo desculpas a você e agora estou em débito!

       --Vamos esquecer estes detalhes, vocês também me salvaram, logo não há divida nenhuma entre nós, e faz tempo que não entro em uma boa briga!

       Apertaram as mãos e daquele momento em diante tornar-se-iam grandes amigos, viraram-se para os outros e Anatole falou á todos:

       --Irmãos de espada, que honrosamente defendem o grande e milenar pais de Venariun, recebam Xavier dos Hassel`s que conquistou seu direito de ser um novo membro da família Hell Arme!

       Os guerreiros levantaram suas espadas e gritaram saldando o novo membro de suas fileiras, depois um por um foram o cumprimentar o guerreiro Hassel, Ângelus parou na sua frente e falou:

       --Tenho que admitir que você realmente me surpreendeu, tem uma agilidade acima do comum, é realmente um grande guerreiro obrigado por salvar nossa estimada Sartrana e quando chegar a nossa fortaleza quero que me ensine como partir um lycan ao meio!    

       --Todo bem, contanto que me ensine como matar um gárgula de pedra!

       --Há, é fácil você só precisa ter a mão um Eric Ventrue e um Létus, Bem vindo a Hell Arme!

       Létus aproximou-se, apertou sua mão e falou:

       --Eu sabia que era você assim que o vi, sua capacidade e determinação é superior a de todos os outros que eu encontrei e esta começando a entrar no caminho que o levará a descobertas que nunca sonhou saber, aceita o desafio?

        Xavier olhou para o estranho vampiro e respondeu:

       --Você me deve muitas explicações!

       --Tudo ao seu tempo meu caro, você terá todas as respostas que necessita em breve, eu te garanto!

       Em seguida Eric Ventrue caminhou em sua direção estendeu sua mão e apertou fortemente a de Xavier e sem falar nada afastou-se! Ventrue desde que entrara para a Hell Arme nunca pronunciara palavra alguma, era sério e taciturno, não gostava de companhias e só se aproximava de Létus talvez por que este era exatamente o contrario do grande vampiro que tinha gosto por um enorme machado, usava uma mascara que lhe cobria metade do rosto presa acima do nariz até o pescoço, a primeira vista sua aparência parecia pouco comum, a pele era muito branca, de uma palidez cadavérica o que contrastava com seus grandes cabelos negros, era mais alto que todos os presentes, e fisicamente muito mais forte, sempre mostrava grande disposição para a guerra entregando-se de corpo e alma para o combate.

       Depois da improvisada cerimônia de aceitação do novo guerreiro pararão para amenizar suas novas condições, olharam ao redor e observaram desolados o local do combate, os corpos dos lupinos e do restante de seus soldados estirados cobriam a areia do deserto amarelo agora tingido de vermelho pela grande quantidade de sangue derramado, no meio do fúnebre local se destacavam os enormes corpos das monstruosas gárgulas e puderam até sentir uma ponta de orgulho que rapidamente foi por água a baixo ao avistarem o que restou dos feridos, quase nada a não ser carne moída e ossos esfacelados pelas patas assassinas do monstro, um gosto amargo preencheu suas bocas pois tiveram tanto zelo para cuidar mas não puderam defender, o silencio reinou supremo e a vitória lhes pareceu menos doce que de costume.

       Xavier olhou para Ira que estava recobrando a consciência, virou-se na direção contrária e dirigiu-se ao local onde estava os corpos de seu adversário lupino Alaaya e os outros dois soldados que tentaram ajudá-lo sem ao menos conhecê-lo, recolheu seus corpos um a um e juntou-os em fileira, Ângelus, Anatole, Létus e Ventrue ajudaram-no a enrolar os corpos com as lonas de couro das carroças, depois se encaminharam aos destroços e recolheram toda a madeira que puderam e juntaram aos restos das carroças dos feridos improvisando uma pira para os rituais de cremação, Sartrana e Ira ainda sem condições para ajudar acompanhavam disfarçando umas lágrima que de vez em quando brilhavam em seus rostos, Ventrue e Létus depositaram os dois primeiros corpos na pira que ficou grande o suficiente para acomodar todos os soldados caídos, Xavier pegou no colo o corpo de Alaaya, olhou para os outros dois como querendo levá-los todos ao mesmo tempo em seus braços para entregá-los ao seu descanso final, contentou-se em levá-los cada um por vez mas Ângelus e Anatole vieram e pegando os outros dois corpos o ajudaram na fatídica missão, colocaram-nos junto a vários outros na pira Ângelus acendeu uma tocha e olhou por um momento para seus companheiros, Ventrue se afastou e abrigou-se nas trevas, ficou observando o ritual em cima de uma pedra a distância ao mesmo tempo em que vigiava os arredores por precaução.

       Ângelus olhou para Xavier e ofereceu a tocha falando:

       --Nossos costumes em Venariun é cremar os guerreiros caídos e é uma honra para cada um Venariano que a pira seja acesa por um guerreiro nobre e corajoso, você conquistou hoje seu direito no fogo da batalha então peço-lhe que o faça, mas se não for de seu agrado por conta de seus costumes não a necessidade de fazê-lo!

       --Os costumes de nossos povos são parecidos, também usamos as chamas para enviar os nossos a morada dos mortos, mas eu já fiz isto mais vezes do que posso contar e se estou me unindo a vocês agora que não seja no primeiro dia eu a acender uma pira funerária, acho que eles deveriam ter a honra de serem cremados pelo seu líder!

       Ângelus olhou para ele e acenou afirmativamente com a cabeça, olhou mais a frente e viu Anatole indo na direção de Ira e Sartrana então notou que ele mesmo teria que levar a cerimônia à frente, Xavier já se afastava a certa distância onde havia uma pedra baixa na qual se sentou, Então Ângelus aproximou-se da pira, mas antes de acender a primeira parte parou a tocha e falou para todos:

       Irmãos de espada da família Hell Arme, nos últimos dias perdemos inestimáveis amigos que lutaram por nos, por nossa família, por nosso pais e pelo nosso clã; Que seus sacrifícios acendam nosso espírito guerreiro e nos guie na batalha sempre colhendo vitórias não importando a supremacia do inimigo e que cada vitória traga a paz e o conforto aos nossos irmãos caídos, que o nome de tão valentes guerreiros jamais sejam esquecidos ou ignorados, em cada exercito inimigo que enfrentarmos que seus sacrifícios nos tragam força e determinação para que nunca nos dobremos diante a espada inimiga e em homenagem a eles nunca nos renderemos e enquanto um único Hell estiver em pé o solo provara o sangue dos nossos adversários, jamais nos rendendo há inimigo algum!

       Xavier observava as chamas com sua peculiar admiração inexplicável pelo poder do fogo, no fundo se amaldiçoava, pois se não tivesse se descuidado na batalha poderia ter evitado a morte dos três soldados, deveria ter tido mais cautela e não subestimar o inimigo, seu orgulho doía mais que as costelas quebradas ou o ombro deslocado, ouvia as palavras de Ângelus distante parecia que neste momento só havia as chamas a sua frente.

       Ira de longe o observava levantou-se meio atordoada e começou a andar em sua direção,Sartrana tentou impedi-la, pois achava que ela ainda não estava em condições de ficar se movendo visto que o golpe na sua cabeça poderia ter algum efeito retardado, mas Anatole aproximou-se e falou:

       --Deixe-a ir Sartrana, ela sabe o que faz e acho que os dois tem muito o que falar agora precisamos cuidar de você para que chegue inteira em casa!

       Ira caminhou até o local onde estava Xavier e sentou ao seu lado ficou um tempo em silêncio depois falou sem olhar para ele:

       --Sinto sua dor, não imagino por que, mas eu sinto, olhe pense bem você não teve culpa, guerreiros é o que somos é o nosso caminho nossa escolha como foi a deles morreram em batalha, todos os guerreiros morrem em batalha, de uma forma ou de outra um dia será nossa vez; Agora venha vamos cuidar dos seus ferimentos ainda temos que sair deste deserto maldito e você devera estar em condições!

       --Espere vamos assistir ao resto do ritual é o mínimo que podemos fazer por eles!

       Ira que já havia se levantado voltou a sentar do lado dele e os dois em silêncio assistiram os corpos serem consumidos pelas chamas que rapidamente tomaram por completo a pira que de certa forma lhes deu um pouco de consolo pois a maior vontade de um guerreiro de Venariun era ter seu sacrifício reconhecido pelos seus aliados, ter seu corpo purificado pelas chamas com respeito e reconhecimento de seus semelhantes, um guerreiro desonrado não teria tal privilégio; As brasas ainda ardiam no pouco que restou da pira agora reduzida quase que totalmente a cinzas quando Ira levou a mão ao ombro dele e notou estar deslocado falou com um tom sério na voz:

       --A cerimônia está quase no fim, vamos cuidar desses ferimentos para que sarem logo, você pode vir por bem ou eu posso te arrastar!

       --E você faria isto?

       A resposta de Ira foi rápida e sem o menor aviso, agarrou na mão dele e puxou com tanta força que o ombro voltou para o lugar com um estalo seco e alto, ele soltou um grito abafado e caiu para trás falando:

       --Já que você pede com tanta delicadeza eu vou!

       Levantou e seguiu a vampira até o local onde estava Sartrana e Anatole que ao vê lo falou:

       --Vejo que Ira conseguiu quebrar sua teimosia, você não sabe o quanto ela é persuasiva!

       Com a mão no ombro ele respondeu:

       --É acho que sei sim!

       Ira voltou trazendo algumas tiras de pano sentou do lado dele e falou para tirar a armadura e quando ele o fez  sentiu o real efeito do golpe que recebera do inimigo, a armadura estava amassada e por conta disto pressionou seu peito mantendo no lugar os ossos das costelas que estavam fraturados, ao removê-la foi tomado por uma grande dor que vinha de todo o seu tórax, que agora sem a pressão da armadura os ossos quebrados deslocaram-se, jogou a armadora de lado e curvou o corpo sem fôlego nem para gritar, Ira enfaixou seu tórax colocando antes as costelas no lugar o que foi um tanto desconfortável, olhou para ele sorrindo e falou:

       --Pronto, logo você está novo!

       Xavier olhou para ela disfarçando a dor ensaiou um sorriso cínico e falou:

       --Agora tenho certeza de que não me deixaria morrer, é muito mais interessante torturar primeiro!

       --Não seja chorão vai, foram só uns apertões de leve!

       Ângelus aproximou-se neste momento e pediu a atenção de todos:

       --Temos um problema, estamos a pé todos os camelos e cavalos foram mortos ou fugiram, estamos próximo do fim do deserto, mas ainda temos uma longa viagem pela frente atravessando o país de Mirionth para chegarmos ao nosso território e não podemos chamar a atenção nossa atual aparência faria isto a distância, os miriontanos são um povo muito pobre e com certeza não perderiam a chance de ganhar um bom dinheiro dos Devoradores em troca de informações sobre nosso paradeiro, contando-se que em pouco tempo eles descubram o ocorrido a sua guarnição e logo enviem mensageiros pondo nossa cabeça a prêmio, a notícia não demoraria a chegar até aqui, e na pior das hipóteses se formos reconhecidos como autoridades estrangeiras não quero nem pensar nas conseqüências diplomáticas que podem dar um apoio maciço aos Devoradores da parte de outros clãs lupinos, isto poderia dar uma razão e apoio para eles declararem guerra contra Venariun.

       --Se o problema é aparência nos temos à solução!

       --Sartrana tem razão, falou Ira.

       As duas se dirigiram há um baú que estava jogado de lado e abrindo-o mostrou aos seus companheiros as roupas que eram transportadas pelos mercadores então Sartrana falou:

       --Só precisamos encontrar um lugar para tomarmos um banho e com essas roupas nos disfarçamos de humanos normais.

       --Ótima idéia, então vamos nos apressar antes que outra tropa venha atrás destes cães, não estamos em condições para outra batalha! Falou Anatole apoiado pelos demais.

       Improvisaram uma maca para transportar Sartrana e enfrentaram uma árdua caminhada até a saída do deserto que por sua vez lhes concedeu tempo suficiente para curar a perna da vampira assim como os ferimentos de seus companheiros; Chegaram a uma cidade de Mirionth pouco antes do sol nascer, graças ao poder vampiro que lhes concedia agilidade e força sobre humana fizeram o grande trajeto rapidamente o que nenhum humano poderia fazer não era difícil para eles apesar do cansaço e das feridas agora totalmente curadas, logo na divisa do deserto com a degradante cidade avistaram uma taberna que estava fechada por ser  muito cedo, era o lugar ideal  para se disfarçarem comprar cavalos e carruagens afinal tinham muito ouro dos espólios dos inimigos derrotados, dos lupinos assim como dos escravagistas.

       Létus falou para os demais:

       --Deixem isso comigo, negociar é uma arte que conheço desde pequeno!

       Afastou-se dos outros que ficaram um pouco distantes, bateu na porta e um velho com poucos cabelos na cabeça cego do olho esquerdo e desdentado abriu uma pequena portinhola e encarou o visitante, então Létus falou:

       --Caro senhor, somos viajantes que tiveram o infortúnio de encontrar com ladrões que nos roubaram provisões e transporte, precisamos de um lugar para um bom banho e também para adquirir cavalos e carruagens para uma longa viagem, o senhor obviamente um comerciante honesto e cordial poderia nos ajudar a seguirmos nosso caminho?

       --E esta armadura? Você me parece encrenca!

       --Bem não posso culpar-lhe por desconfiar da minha pessoa na atual condição e aparência, mas creio que os bandidos de sua cidade não sejam muito espertos e não saibam roubar realmente o que tem valor, creio que isto possa lhe fazer esquecer esses detalhes não! Sacudiu uma grande bolsa de ouro na frente do taberneiro que sorriu mostrando uns poucos dentes de ouro e com um brilho de cobiça nos olhos falou abrindo a porta:

       --Claro senhor, pode trazer seus amigos e entrem em minha humilde estalagem!

       --Obrigado bom anfitrião, não nos demoraremos!

       Três horas se passaram e estavam prontos os trajes normais transformaram os guerreiros vampiros em outras pessoas, pareciam nobres cavaleiros dos reinos mais civilizados a não ser no caso de Eric Ventrue que precisou usar uma grande túnica, pois não havia roupas para seu tamanho avantajado, mas a túnica lhe caiu bem tinha um grande capuz que cobria a cabeça e parte do rosto dando-lhe a aparência de um dos muitos magos que viajavam através de rotas que passavam por este país, Létus se aproximou de Xavier e falou:

       --Um bom banho faz milagre veja só, conseguimos transformar um bárbaro coberto de sangue e areia carregando um machado na mão em um nobre lorde da corte de Minawar!

       --Há, muito engraçado! E você esta parecendo um principezinho mimado que eu dei uma boa lição há certo tempo atrás, você precisava ver o verme molhou as calças!

       --Não importa a roupa que usem bárbaros são sempre bárbaros! Mas acho que essa pose de durão não dura nada depois que você olhar para trás e ver quem vem vindo!

       Xavier olhou para trás e viu Ira descendo a escada que levava ao aposento onde ela e Sartrana ocupavam, ficou disfarçadamente boquiaberto com a imagem que viu a sua frente achava nunca ter visto mulher mais bonita em toda a sua vida ou morte, ela usava um grande vestido claro e uma bela tiara de brilhantes na cabeça que lhe prendia os cabelos, ele se aproximou e falou:

       --Imagem mais bela estes olhos não poderiam ver!

       --Obrigado nobre cavaleiro! Talvez esta bela dama possa te fazer uma massagem nos ombros, te garanto que será algo que você jamais se esquecerá!

       Ele colocou a mão no ombro e falou:

       --Bem eu prefiro contemplar a sua beleza a certa distância, seria lucro se eu permanecer com meus braços no lugar!

       Ela sorriu e o saiu puxando pelo braço para junto dos outros na sala principal não queria ficar sozinha com ele, ainda não.

       Estavam todos juntos na sala de espera e Sartrana chegara a espantar a todos principalmente Anatole, estava realmente transformada sem a habitual trança que usava, seus cabelos negros soltos passavam de sua cintura e usava um vestido cinza escuro com detalhes brancos que deixava sua aparência ainda mais radiante, se andasse assim pelo seu país com certeza não seria reconhecida nem pelos soldados que comandava, parecia mais uma rainha pela peculiar altivez que era seu traço marcante. O velho entrou no aposento e falou aos vampiros:

       --Os cavalos e as carruagens estão à disposição para a partida dos senhores, se me permitem dizer vocês estão irreconhecíveis os trajes caíram-lhes muito bem!

       Létus aproximou-se dele e falou sacudindo a bolsa com o ouro:

       --Nem uma palavra sobre nossa breve estadia aqui combinado meu amigo!

       --Senhor por esta quantidade de ouro eu não abriria minha boca nem para salvar minha mãe!

       Létus sorriu e jogou a bolsa para o velho que a agarrou no ar abriu pegou uma moeda e mordeu depois de averiguar ser ouro mesmo abriu um largo sorriso satisfeito; Partiram imediatamente as carruagens eram confortáveis e espaçosas tendo até leitos separados para que os ocupantes pudessem descansar com mais conforto durante o trajeto que seria demorado, pois apesar de um país pobre Mirionth era grande e somente chegariam a Venariun no final do dia seguinte, aproveitaram o trajeto para repor as energias sem incômodos contrataram condutores experientes que seriam pagos com uma soma de ouro que lhes cobririam um mês de trabalho assim garantindo o silêncio deles e uma trajetória que evitaria o inoportuno encontro com as incômodas autoridades locais.

       --Xavier não conseguiu dormir sentou-se ao lado da janela e começou a olhar a cidade, esta tinha algumas grandes construções perdidas em meio a um mar de choupanas humildes no centro destacava-se o grande castelo de pedra construído pelo já falecido rei Thoran que se tornara muito famoso por fazer do país Mirionth o mais poderoso de sua época, mas tal poder somente durou durante seu reinado, os descendentes de sua linhagem tornaram-se fracos e logo viraram presa da vingança de Zolrath, os devoradores atacaram o país com fúria e dominou-o em um rápido combate violento, destruíram e saquearam cada cidade que passaram até chegar ao grande palácio e assassinar toda a família real e dos nobres que constituíam a casta regente do país, não pouparam ninguém que tivesse ligação ou pudesse carregar em suas veias o sangue de Thoran e para acentuar sua vingança Zolrath abandonou o país nas mão de indivíduos gananciosos e inescrupulosos que sugavam a riqueza do país e repassava para outras nações interessadas acumulando riquezas e transformando a outrora poderosa nação em um estado pobre e subserviente, os impostos eram exorbitantes levando os pobres aldeões e camponeses a um estado de miséria total sendo que os que podiam trabalhar ainda o faziam em um regime praticamente de escravidão enquanto alguns poucos beneficiados enriqueciam descaradamente e praticavam todo os tipos de injustiças e barbáries contra o povo que a esta altura já serviam como gado para os facínoras de Zolrath, que por sua vez resolveu não viver no país reconquistado por lhe trazer as amargas lembranças de quando seu pai perdera o trono para Thoran, por conta de sua própria incompetência, voltou para o deserto e colocou no poder sob sua supervisão humanos escolhidos a dedo para impor a humilhação total ao povo que apoiou Thoran, esta era a vingança de Zolrath impiedosa até o limite máximo da crueldade.

       Xavier observava a cidade desolada e triste, depois de passaram por uma grande curva saíram em uma avenida e mal entraram na cidade principal ao redor do palácio foram surpreendidos por uma grande multidão de pedintes, pessoas esqueléticas se amontoavam ao redor das carruagens dificultando a passagem, podiam se ver crianças, velhos, mulheres com bebes no colo ou sem, jovens de varias idades, muitas pessoas, pisavam umas nas outras e olhavam para o passageiro com olhos lacrimosos ou vazios fundos e negros pareciam mais zumbis, defuntos ambulantes tentando conseguir um pedaço de pão para aplacar mesmo que por instantes a fome voraz que os consumia, nestas circunstancias era fácil ver crianças, velhos e outros mais fracos serem pisoteados e morrerem ali mesmo, Xavier já vira muitos povos miseráveis em sua longa vida como general Hassel mas não de maneira tão absurda e cruel, ficou sem saber o que fazer pois estava totalmente fora de seu mundo, os países ao sul de Hilmond depois das montanhas dos Dragonitas não eram sua área e desde Constancius nunca tiveram muito contato com eles a não ser por uma analise melhor de seus informantes lidas em relatos, mas ver aquilo era muito pior do que poderia imaginar, pegou sua bolsa onde guardava ouro e despejou pela janela a multidão de pessoas atracaram-se para pegar as moedas, ao ver esta cena ele baixou a cabeça entristecido pela desgraça deste povo e o que não conseguia compreender era como os humanos conseguiam tratar seus próprios semelhantes desta forma covarde em troca de poder e ouro vindo de um déspota sanguinário e insano, ainda estava perdido em suas reflexões quando ouviu uma voz familiar, ergueu a cabeça olhou na direção da voz e viu Létus que sorrindo lhe perguntou:

       --Gostou da cidade?

       --Para um cemitério é bom! A propósito você ainda me deve algumas explicações!

       --Você é impulsivo, não tem paciência! Quer saber o que eu sei de você além dos talismãs?

       --Se possível tudo!

       --Bem vamos ver se você se lembra disto! Xavier não prove da loucura, a maldição é a herança do primeiro dragão, quando o dragão de sangue se unir ao dragão negro os deuses volverão seus olhos para nós dia e noite serão um só, os dois subjugarão o primeiro então saberão quem vocês realmente são!

       Desta vez o vampiro realmente surpreendeu Xavier, estas eram as palavras que ouvira de Constancius no delírio da transformação e isto já fazia vinte e cinco anos era até bizarro para ele um indivíduo que ele mal conhecia repetir aquela frase com tanta segurança e exatidão, olhou para fora na tentativa de aliviar a mente e entender a situação, mas imediatamente sua atenção foi presa por uma figura que o fitava no meio de uma multidão de pessoas esqueléticas, um velho vestido com uma túnica marrom escuro barbas brancas longas que alcançava o peito, totalmente calvo e carregava pendurado ao pescoço por uma corrente grossa uma grande jóia negra brilhante no centro de uma armação de pedra, acompanhou seu olhar que não desviavam do dele por nem um segundo parecia chamá-lo desviou o olhar por um breve momento e quando voltou a erguer a cabeça o velho havia desaparecido como se nunca estivesse ali, Létus então falou:

       --Está confuso não? Você não tem idéia do que está para acontecer, os medalhões que você e Ira carregam acreditando que são meros enfeites são na verdade a chave para um poder além de nossa compreensão! O velho que você acabou de ver chama-se Elijah e é o único que pode dar as explicações que você procura neste momento, estou aqui para levar vocês dois até ele então peço que venham comigo, as respostas logo virão e garanto que é de interesse dos dois e de toda Aaron!

       --Você parece me conhecer muito bem como sabe tanto?

       --Ora eu sou um guia, tenho que saber afinal te procuro há muito tempo, fui designado a encontrar os guardiões dos talismãs, há cinco anos encontrei Ira, e tentei convencê-la a ma ajudar a achar você porém você já deve conhecer a teimosia de ferro da garota e falar que eu queria encontrar um cara para ela não ajudou muito, mesmo em cinco anos de esforços, então o destino colocou você aqui e é aqui que estamos.

       --Isto é uma grande besteira se quer tanto este medalhão velho pode ficar com ele não me serve de nada mesmo e não estou interessado em maldições e outras lorotas!

       --Bem pelo que ouvi falar de você não esperava que se acovardar-se sabendo que é uma situação importante, o que verônica pensaria disto?

       A reação de Xavier foi imediata e surpreendente esticou o braço e agarrou Létus pelo pescoço chocando-o contra a o banco falou demonstrando grande raiva:

       --Não sei como sabe tanto sobre mim, mas nunca mais tente usar o nome dela para me provocar, ela era uma pessoa única para mim não vou permitir que a use em seus joguinhos!

       Létus segurou seu braço, mas não conseguiu se soltar então falou na tentativa de acalmá-lo e ao mesmo tempo satisfeito em saber de seu ponto fraco:

       --Calma ai camarada, não seja tão nervosinho você está estragando meus trajes de festa, olha desculpe por tocar na ferida mas pense bem, eu não estaria atrás de você por cinco anos se não fosse séria a situação e Ira pode confirmar minha história, não julgue minhas ações antes de saber a verdade certo! Olha cara todos os que você amou estão mais perto do que imagina Constancius, Madeleine, sua mãe Catarina e até seu pai Lionel; E afinal não vai adiantar fugir quer você queira quer não já está envolvido e é parte indispensável!

       Xavier o soltou e voltou a pensar então Létus que notou ter conseguido seu intuito continuou falando:

       --Você vê toda esta desgraça? Esta gente mais morta que viva, nossa maldição ou a dos lupinos? Tudo isto está ligado pelos mesmos fatos que o levam a sua missão, você é uma das peças e de qualquer forma foi escolhido pelo destino e contra ele nada pode fazer! Vou deixar você em paz para pensar e também porque estou morrendo de sono, mas lembre-se a escolha é sua!

       Abriu a pequena porta de trás da carruagem e entrou em um dos compartimentos apertados que tinha uma pequena cama fechou a porta e deixou Xavier sozinho com seus próprios pensamentos afinal o esperto vampiro sabia que havia completado sua missão tinha achado e convencido o guerreiro a lutar. Xavier ficou perdido em pensamentos que lhe quebravam a cabeça, não dera muita importância às misteriosas palavras que ouvira no delírio da transformação agora vinte e cinco anos depois Létus que ele mal conhecia as repetia exatamente como ouvira aquela época, e o medalhão nunca poderia imaginar que fosse algum tipo de chave e chave de que o vampiro relutara para lhe falar seu objetivo afinal e agora à imagem do mago só serviu para aumentar suas dúvidas e deixá-lo mais interessado no assunto afinal se o procuravam com tanto afinco o assunto poderia ser sério, lembrou se da primeira vez que viu Ira e da estranha sensação que sentira desde o começo, era como se já a conhecesse há muitos anos, mas nunca tinha visto a guerreira ruiva, de qualquer forma era melhor esperar e ver onde tudo isto ia dar decidiu afastar esses pensamentos da cabeça, pois de nada adiantaria ficar remoendo-os esperaria e agiria na hora certa, fechou a janela e deitou-se em sua pequena cama entregando-se ao sono logo em seguida.

       A viagem foi lenta levaram dois dias para chegar a Venariun, mas como o programado chegaram no começo da noite Xavier foi acordado por Sartrana que disse:

       --Acorde meu amigo, estamos em casa bem vindo ao nosso lar!

       Ele levantou ainda sonolento e observou a cidade a sua frente que era muito diferente da sinistra cidade anterior, esta tinha vida pessoas enchiam as ruas não esqueléticas e famintas como em Mirionth, mais alegres e ativas ocupadas em seus afazeres diários, vendedores, lavadeiras, ferreiros, agricultores já saindo da feira que acontecia durante o dia, crianças correndo e gritando enfim, um lugar normal onde os cidadãos comuns podiam ter uma vida razoavelmente livre algo pouco comum neste mundo de guerras quase irreal comparado a muitos lugares por onde Xavier já haviam passado e conhecido geralmente destruídos por guerras étnicas ou pela ambição desmedida de seus líderes, depois de uma rápida volta pela cidade chegaram finalmente ao seu destino a fortaleza da Hell Arme uma estrutura enorme e bem elaborada de aparência gótica enfeitada por grandes estátuas de gárgulas em seus pilares principais e parapeitos, havia também belas esculturas de anjos e demônios em batalha e várias outras criaturas da vasta mitologia de Aaron que enfeitavam toda a sua fachada que apesar de tão sinistra não representava perigo algum aos habitantes do país, pois o governo vampiro que ali dominavam respeitavam seu povo e por eles lutavam mantendo a ordem e a segurança de todos.

       Foram recebidos por uma comitiva liderada por Seirus primeiro tenente da Hell, assim que Ângelus e Anatole desceram das carruagens e se aproximaram ele saudou-os com uma continência e depois os abraçou como a dois irmãos, assim recebeu Sartrana, Ira, Létus e Eric Ventrue olhou por um tempo para Xavier depois para os outro e perguntou:

       --Onde está a tropa? Quem é este?

       Ângelus respondeu para o surpreso vampiro:

       --Da tropa só restaram nós, este é Xavier e a partir de agora faz parte do clã ele conquistou este direito na espada em nossa defesa!

       Seirus olhou para o guerreiro como se o analisasse estendeu a mão e falou:

       --Se você ajudou meus amigos a voltarem eu só posso lhe agradecer e dar as boas vindas a Hell Arme!

        Anatole com sua voz firme falou dirigindo-se a grande portaria:

       --Bem, voltamos de uma viagem árdua vamos entrar e descansar Seirus reúna o conselho amanhã no cair da noite quero passar os relatórios da nosso batalha, contar os dados de baixas dos soldados, saber notícias das tropas do Inood e enfim tudo o que é preciso para reverter as perdas na batalha contra os Devoradores!

       --Vocês lutaram contra os Devoradores?

       --Sim amigo fomos emboscados por eles no deserto de Mannon perdemos os feridos e o restante do exército, e só não perdemos Sartrana e Ira por causa de Xavier que por sua vez foi resgatado por Sartrana na montanha dos Dragonitas!

       Entraram na fortaleza e vários outros vieram receber os guerreiros Xavier foi apresentado para todos que o aceitaram como um deles, Anatole falou para Sartrana:

       --Você poderia acomodar nosso novo membro?

       --Sim, deixe isto por minha conta.

       --AcompanheSartrana ela mostrará seu quarto fique à vontade depois que resolvermos alguns problemas conversaremos sobre seu clã e os inimigos que o atacaram, por hora descanse e recupere as energias.

       --Obrigado creio que um descanso seja realmente necessário.

       Anatole virou-se e saiu em direção a uma grande escada que levava ao andar de cima, todos os outros já haviam se dispersado estavam exaustos e queriam recuperar as energias afinal mesmo a longa viagem não os restabeleceu totalmente por conta do percurso desgastante, Sartrana olhou para Xavier e falou:

       --Me acompanhe, tenho um bom quarto para você.

       Xavier estava admirado com o interior do castelo Varias estatuas  espalhavam-se das paredes até os tetos e pilastras, criaturas celestiais, guerreiros e guerreiras, demônios e deuses assim como criaturas mitológicas da vasta  cultura de Aaron, a primeira parte constituía-se de uma grande sala  de teto abobado todo de vidro e estrutura de madeira, chão todo coberto por enorme tapete vermelho e duas grandes escadas que subiam para a direita e esquerda circundando uma grande parede circular e sumindo atrás dela levando ao andar de cima, subiram a escada da esquerda e saíram em extensos e largos corredores que estendiam-se em várias direções onde inúmeros corredores menores espalhavam-se iluminados por tochas nas paredes presas por suportes de metal, no final do corredor principal uma grande janela de vidro dava visão há uma grande árvore antiga já quase morta de onde só podiam-se ver galhos sem folhas e ressecados dando um certo tom sinistro na imagem que de fato combinava com a aparência gótica do ambiente, Sartrana guiou-o pelo sinistro corredor parou em frente a uma porta e falou:

       --Você pode ficar aqui e obrigada por me ajudar no deserto!

       --Acho que estamos quites, e como esta a perna?

       --Esta nova e posso notar que as suas costelas também.

       --Guerreiros vividos não caem facilmente, posso te fazer uma pergunta?

       --Disponha!

       --O que você sabe sobre o medalhão de Ira?

      --Bem nada de diferente, sei que era do mestre dela nada de anormal ele deu para ela quando a antiga fortaleza onde ela foi treinada acabou sendo destruída pelos inimigos, ela o guarda de recordação, mas agora que você tocou no assunto é que eu parei para reparar, é estranho que o seu medalhão se pareça tanto com o dela não acha? Não havia visto outro medalhão como este em nenhum outro lugar, afinal ele é o símbolo de Lucius um dos poucos vampiros de segundo grau aqueles que foram transformados pelos ancestrais há quase dois mil anos, Ira não falou quem era realmente seu mestre Lucius e onde conseguiu o medalhão que lhe deu, respeitamos sua vontade, mas encontrar mais alguém com outro e no mesmo clã me faz ter mais certeza de que não há coincidência! Mas o que sei é o que te contei! Você imagina algum motivo?

       --Estou tão curioso quanto você! E Létus?

       --Létus está há anos conosco e sempre foi leal ao clã lutou inúmeras batalhas ao nosso lado e é um bom amigo, mas pouco sabemos acerca do passado dele, veio há nós procurando Ira ela aceitou falar com ele mas nenhum dos dois revelou o assunto tratado, ela nos pediu que aceitássemos ele no clã  e assim foi feito, de início a contra gosto ele permaneceu mas com o passar do tempo ele provou seu valor então virou um  dos nossos! Por que? Tá com ciúmes?

        --Eu! Ciúmes! Jamais, não tenho nada com isto mal a conheço e por mim ela se entende com quem quiser!

       --A e porque ficou tão agitado? Você pode até enganar nossos amigos, mas não pode enganar uma mulher e seus olhos falam tudo sabia!

       --Bom saber que você lê olhos, tomarei mais cuidado com você!

       --Só é não deixar transparecer e não babar quando a ver!

       --Obrigado pela dica, está certo, tomarei mais cuidado!

       Sartrana sorriu e falou:

       --Isto poderia ajudar se ela já não tivesse notado, mas não se incomode com isso, ela também parece mudada depois que você apareceu!

       --Olha não estou interessado em romance com ninguém, estou aqui por conta do destino e por mim fico bem quietinho até entender o que aconteceu e tomar uma atitude!

       --Está bem, mas se foi o destino que te colocou aqui então vamos esperar para ver como ele se desdobra!

       --Obrigado por tudo que tem feito por mim!

       --Isto não é nada, agora você é da família e cuidamos uns dos outros!

       Sartrana virou as costas e voltou pelo corredor de onde vieram, à imagem dela perdeu-se na escuridão da curva que levava a escadaria, ele entrou no quarto e o observou por um momento, era grande, quatro tochas clareavam uma cama no centro do lado uma pequena mesa e um grande armário encostado em uma parede a esquerda para guardar as armas e armadura tudo o que ele precisava em um cômodo, em outra parede havia uma grande janela que dava vista a floresta ao lado da fortaleza, duas portas de madeira instaladas dos lados dela serviam para proteger da luz do dia que lhes trazia grande incômodo, tirou a roupa que detestava, foi ao banheiro onde encontrou água e uma banheira tomou um banho demorado e no armário encontrou roupas mais leves para dormir vestiu-as e deitou entregando-se rapidamente ao sono.

       Ouviu alguém chamando-o não era uma voz conhecida então abriu os olhos e notou não estar mais no quarto, pelo contrário estava em meio há uma densa neblina observou e pode distinguir algumas árvores e arbustos logo podia sentir a terra sob seus pés então teve certeza de estar em uma floresta, esperou os olhos acostumarem-se melhor olhou novamente ao redor e custou a acreditar, conhecia a montanha a sua frente estava na floresta ao redor da Montanha dos Dragonitas, ainda estava tentando absorver o choque quando uma voz se fez ouvir na sua cabeça:

       --Xavier Hessel eu o trouxe aqui para lhe dar as respostas das quais tanto anseia!

       --Quem é você? Saia da minha cabeça e apareça!

       --Você precisa me escutar seu irmão está ligado há uma criatura que não pode voltar a esta realidade, Ykarus é o escolhido por um mal milenar você e a jovem que também está aqui foram os escolhidos para serem os guardiões da única salvação contra a catástrofe que se anuncia, precisa acreditar nestas palavras!

       --Jovem! Que jovem?

       Assim que ele perguntou isto avistou uma silhueta no meio da neblina se aproximou e encontrou Ira tão perdida quanto ele, ela se assombrou ao vê lo e perguntou:

       --Xavier que está acontecendo? Onde estamos?

       --Bem parece ser a Montanha dos Dragonitas só não me pergunta como viemos parar aqui!

       --Não se preocupem jovens estou aqui para esclarecê-los acerca de tudo!

       --Você poderia ter nos trazido com vestes normais, estou com roupas de cama!

       --É mesmo garota, só agora reparei isso, você fica muito bem com esses decotes sabia!

       --Tire esses olhos grandes de cima de mim seu abusado!

       --Desculpe foi só um elogio!

       --SILÊNCIO! Não os trouxe aqui para nos preocuparmos com nossas vestes! Há uma criatura milenar prestes a regressar a este plano, vocês dois e os clãs aos quais pertencem estão ligados pelo tempo e destino, são os guardiões dos medalhões que guardam o único poder capaz de deter aquele que é o ódio e a morte para este mundo, somente com o poder concedido a Rowan e Satine o monstro pode ser subjugado, apenas os deuses podem deter Pendragon ! Dar-lhes-ei uma visão do destino deste mundo caso não ajudem a detê-lo!

       Assim que o mago falou isto às vegetações ao redor do local onde estavam começaram a mudar e em pouco tempo estava morto tudo o que tinha vida ali, uma imagem terrível se abriu diante dos olhos dos dois vampiros o mundo estava em chamas das suas civilizações nada restavam a não ser cinzas e destroços, corpos carbonizados ou estraçalhados espalhavam-se por todas as partes, restos de vampiros, lobisomens, humanos e tudo o que era animal, encima de uma montanha de ossos sentado em um trono feito com crânios uma criatura assistia com grande frieza os exércitos de gárgulas, uma mistura de homem com répteis dotados de asas que dizimavam tudo o que estava em seu caminho, Xavier olhou mais atenciosamente para a criatura e a reconheceu era o mesmo ser que virá no delírio da transformação a anos atrás a imagem desapareceu e o mago voltou a falar:

       --Venham a minha fortaleza, pois temos muito a conversar e o tempo é escasso!

       --Mas como podemos encontrá-la?

       --Létus os trará até aqui guerreira esta é a missão dele, vocês acordarão agora, mas se lembrarão perfeitamente de tudo!

       As imagens do sonho foram desaparecendo aos poucos, acordaram em seus quartos ambos sentaram na lateral da cama e começaram a remoer as lembranças do estranho sonho, tinham que saber se era real ou apenas um sonho qualquer dirigiram-se quase que simultaneamente a porta e deram de cara no corredor então não tiveram mais dúvidas.

       --Então você também teve o mesmo sonho?

       --Sim Xavier aquilo foi mais que um sonho, Létus me falou algo sobre isto assim que nos conhecemos, mas não dei importância a ele, achei que era meio louco.

       --Então porque pediu para que ficasse?

       --Ele me pediu e além do mais que mal um louco faria a mim?

       --Faz sentido! Xavier falou isto escondendo um certo tom de contentamento sem entender ao certo porque, afinal o interesse dele pela vampira era novidade pois depois de Verônica não sentirá nada por mais ninguém e mesmo as mulheres ou vampiras que se envolveu nos últimos tempos foram apenas aventuras sem maiores interesses e facilmente esquecidas, mas esta guerreira ruiva era diferente ela havia tocado algo dentro dele que  estava trancado a muito.

       --O que você acha que devemos fazer agora?

       --Acho melhor falar com Létus se vocês confiam nele e o mago afirma que é o guia, e se as imagens que ele mostrou forem reais não posso me omitir afinal eu já vi certa vez em um delírio a criatura que ele chamou de Pendragon , meus instintos de guerreiro me dizem para acreditar!

       --Também já vi aquela coisa em pesadelos, mas nunca imaginei algo assim!

       Xavier olhou para ela e notou que o medalhão estava pendurado em seu pescoço por uma corrente um pouco grossa, era parecido com o seu diferenciando apenas em três coisas era mais fino, o dragão circulava o lado esquerdo e a jóia no meio em vez de negra era vermelho sangue, então ele pediu para olhar mais de perto, a peça ela o pegou na mão e estendeu para ele a corrente era pequena e acabaram ficando tão próximos que podiam sentir a respiração um do outro e uma grande atração surgiu tão forte que não conseguiram desviar seus olhos, sem pronunciar mais palavra alguma os rostos foram ficando mais próximos como se um atraísse o outro se beijaram levemente e quando notaram estavam abraçados ela agarrou-se no seu pescoço e ele a segurou pela cintura e quando iam se entregar há um beijo mais provocante ouviram alguém batendo palmas e rindo escandalosamente acabando com o clima dos dois, olharam em direção ao barulho e viram Létus sorrindo sentado no batente da janela no final do corredor.

       --Desculpem crianças, espero não estar atrapalhando nada de importante!

       Sem tirar os olhos dos dela Xavier falou:

       --Deixa-me matar ele só um pouquinho!

       --Ainda não! Precisamos dele esqueceu?

       --Se os dois já terminaram com esta linda cena de ternura devo presumir que temos um encontro amanhã! E sabe Ira você devia usar mais vezes esta roupa de dormir, o decote é soberbo!

       --Ora seu!

       Ira entrou para seu quarto batendo a porta Létus olhou para Xavier e perguntou provocativamente:

       --Eu falei algo errado? Você consegue entender estas mulheres?

       --Está você me paga verme eu te dou o troco!

       Falou Xavier e entrou para seu quarto escutando a risada de Létus ao fechar a porta.

       Três horas depois Xavier encontrava-se com Ira na abóbada principal ele trajava armadura preta que ostentava o brasão da Hell Arme no peito semelhante à usada pelos quatro líderes do clã e havia sido presente de Anatole, para provar sua gratidão ao vampiro, a armadura em questão cobria todo seu corpo contando com um elmo que deixava à vista apenas olhos, nariz e boca, Ira vestia uma semelhante que somente diferenciava pelo formato que delineava seu corpo esguio feminino, Létus que não gostava de tons escuros encontrou-os com sua habitual armadura metálica e falou-lhes:

       --Temos que falar com os outros!

       --Eu já pedi uma reunião, logo entramos na sala do conselho! Falou Ira.

       Esperaram por mais alguns minutos e as portas da grande sala de reuniões se abriram, os comandantes saíram um a um então Sartrana apareceu acenou para eles pedindo para que entrassem, Xavier observava o ambiente, era muito bem decorada com armaduras antigas e armas assim como muitos quadros e mais estátuas, na parede do fundo havia um enorme brasão da Hell feito em aço acima de uma grande mesa usada para as reuniões do conselho, nas cadeiras centrais estavam Ângelus, Anatole e Sartrana, Ângelus iniciou falando:

       --Ira nos pediu para despachar vocês três a uma viagem misteriosa, Vocês têm toda a liberdade de ir e vir quando bem desejarem, porém como são parte de nossa família  achamos que deveríamos saber do que se trata ou no mínimo para onde vão não como uma obrigação mais por respeito a nossa amizade!

       --Não saberíamos explicar-lhes nem se tentássemos, mas temos que atender á um chamado pessoalmente, não nos agrada deixar o clã neste momento, mas é a única forma de termos respostas.

       Anatole tomou a palavra:

     --Então Ira porque não divide este problema conosco? Queremos ajudar!

     --Esta viagem é somente um encontro para esclarecimentos, garanto que por hora não haverá perigo de fato, precisaremos de vocês depois de tudo explicado mas posso garantir serão os primeiros a saber na hora certa!

       Ao ouvir estas palavras de Létus, Sartrana levantou-se e falou:

      --Não podemos impedir que partam, mas seria de suma importância nos falar qual o destino que os aguardam assim poderemos ir atrás de vocês caso algo aconteça que os impeçam de regressar!

      Létus se adiantou e voltou a falar sem demora:

      --Estamos voltando para a Montanha dos Dragonitas mais precisamente para a parte norte dela onde os picos são mais elevados, lá nos encontraremos com Elijah o velho mago que guarda grande parte dos pergaminhos milenares dos Dragonitas.

       Ângelus levantou e falou:

      --Mas pelo que se sabe deste mago ele desapareceu muito antes do milenar Lucius, como pode vocês encontrar ele?

       --Temos que descobrir isso, desculpe-me por separá-los, mas precisamos fazer isto juntos!

       --Não devem culpar Xavier, eu fui mandado aqui para levar tanto ele como Ira a presença do mago, não tenho tempo para explicar agora, mas preparem-se vocês logo saberão de tudo, pois os fatos que me levou há isto envolve todos nós!

       Anatole levantou para acabar de vez com o impasse e falou pelos três;

       --Podem partir, são livres, mas advirto se não tivermos notícias de vocês em dez dias irei eu mesmo procurá-los e mago nenhum escapará da minha vingança!

       Sartrana e Ângelus apoiaram-no falando também:

       --O mesmo podem esperar de nossa parte!

       Létus balançou a cabeça afirmativamente e falou:

       --Eu os trarei de volta, prometo-lhes!

       Curvou o corpo em uma saudação levantou e se dirigiu á saída seguido por Xavier e Ira, Sartrana saiu da mesa e se dirigiu a vampira olhou-a nos olhos e a abraçou como se fosse uma filha e falou;

       --Cuide-se e cuide desses dois cabeças duras!

       --Pode deixar, se causarem problemas nocauteio os dois!

       Ira terminando de falar e sorriu para a amiga, virou-se em direção da saída.

       Fora da fortaleza os cavalos já estavam prontos para a viagem, ao chegar onde estavam os animais Létus estranhou a cena que viu, pois em vez de três montarias havia quatro, sentiu uma mão pousar pesadamente em seu ombro olhou para trás e viu Eric Ventrue com sua máscara cobrindo metade do rosto e armadura cinza escuro perguntou para o amigo:

       --Aonde vai grandão?

       Como sempre não obteve a resposta de forma normal, ele somente colocou o restante de suas provisões em um cavalo, seu grande machado de guerra ao lado da cela depois ficou parado fitando a estrada que iriam tomar, Létus sabia que não adiantava tentar impedir Ventrue, este tinha opinião forte e quando decidia fazer algo nada o detinha, ele porem não era um idiota abitolado muito pelo contrario sua inteligência surpreendia e mais ainda o raciocínio para a batalha que era invejável por muitos guerreiros.

       Xavier Havia ido buscar mais uma espada por precaução na volta encontrou-se com Sartrana no corredor, ela o chamou de canto e falou:

       --Xavier, quero te pedir algo!

       --Fique à vontade!

       --Traga Ira de volta sim, você sabe que ela é como se fosse meu próprio sangue entende?

       --Posso compreender não se preocupe não estamos indo para uma batalha voltaremos todos!

       --Prometa!!!

       Ele não teve tanta certeza para responder a este pedido, na verdade não tinha certeza de nada tinha que descobrir tudo e ansiava por isto afinal o mago falara de seu irmão e se Ykarus estava envolvido nisso ele também teria que estar então falou o que veio em sua mente no momento:

       --Posso te prometer que farei o possível para que nada aconteça com ela mesmo que o sacrifício seja demasiado grande eu trarei a ruiva de volta está bem?

       Falou com tanta sinceridade que Sartrana acalmou-se e o abraçou desejando boa sorte. Logo depois estavam os quatro viajantes prontos para a jornada, Xavier encostou do lado de Ira e perguntou:

       --Você acredita mesmo nas palavras do mago?

       --Bem parece algo insólito, mas só saberemos se formos até ele, e você?

       --Bem ele me fez lembrar de coisas que somente eu sabia, então vamos descobrir até onde isto vai.

       --Certo faremos isso juntos caso estivermos indo para uma emboscada vamos fazer o possível para sairmos juntos também!

       --Não deixarei nada acontecer com você!

       --Fala como se eu precisasse de proteção, não se preocupe guerreiro Hassel se ficar em apuros é só gritar por socorro que eu te salvo! Apesar de você ser um abusado agora é mais um dos nossos!

       Ao falar isso ela fez seu cavalo andar e afastou-se dele que falou para ele mesmo:

       --Que garota mais enfezada!

       Partiram de imediato, o caminho era longo, mas não precisariam ir por Mannon o deserto escaldante ficava ao leste enquanto o ponto mais alto da montanha era na direção contrária oeste isto era bom pois a esta altura os Devoradores já teriam encontrado os corpos dos lycans mortos por eles e o perigo de ataque era certeza, porém o caminho que iam fazer também não era totalmente livre de perigos, apesar de haver uma probabilidade grande de ser menos provável que houvesse tal perigo, ainda teriam que atravessar o bosque dos guols e se as histórias acerca dessa região fossem verdadeiras então teriam problemas de sobra diziam os velhos viajantes que a sinistra e pantanosa região era amaldiçoada a muitos anos, não se sabia muito sobre o local mas fato era que poucos foram os que entraram e saíram de lá e se saiu alguém em sã consciência nunca foi encontrado para explicar o que acontecia depois do nevoeiro homens, vampiros ou lobisomens todos sucumbiam aos perigos do território desconhecido, recebeu o nome de bosque dos guols porque os que não resistiam a ele viravam zumbis sem vontade própria vagando a esmo.

      

           

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